Hoje no Público, Vasco Pulido Valente escreve sobre uma velha ganga que não desbota como devia: o marxismo velho e relho que regressa a toque de caixa sempre que se propicia.
VPV faz um pequeno roteiro de memória do que foi essa ganga velha e declara urbi et orbi que "desta vez não tenciono perder um minuto com a costumada vociferação do beatério". Veremos...
Esta ganga velha lembra este velho anúncio a uma ganga nova de 1974, muito procurada por cá e símbolo para a juventude de então. As calças Levi´s de ganga desbotável eram o must do chique burguês, porque mais simbólicas que as espanholas da Lois, mais baratas e de ganga com corte diverso.
A imagem é uma publicidade de página inteira, no República de 29 de Abril de 1974.
A imagem mais aproximada da ganga original, ,vinda dos anos sessenta, era esta que agora se vende nostalgicamente na net.
As lavagens sucessivas davam o toque desejável do uso adequado.
Enquanto por cá esta ganga estava disponível em lojas de consumo corrente, em 1974, importadas e a preços convenientes, noutros lados soviéticos onde a velha ganga marxista tinha chegado de combóio, era difícil de encontrar tal produto desbotável e quem o tinha era privilegiado e andava de avião ou comprava no mercado negro o fruto proibido, a preços de ocasião inflacionada .
Na velha URSS dos anos setenta do século que passou, o sovietismo de Brejnev era modelo a copiar por cá, pela velha ganga de que fala VPV.
O PCP de cá, da ganga fóssil e o PS da ganga ainda com poucas lavagens, mas já desbotada de origem, queriam à viva força aplicar as receitas políticas ( PCP) e económicas (PS) daquela ganga marxista reciclada de restos de tecido original.
Nesse tempo, foi publicado um livro - Os Russos, do jornalista americano ( hence reaccionário e possível fascista) Hedrick Smith- que relatava aspectos pitorescos da realidade moscovita e russa da época.
Algumas páginas do livro falam da ganga das calças para mostrar a velha ganga ideológica que a cerzia. Assim:
O livro, lançado em Portugal em 1978 não teve grande impacto. Em plena ressaca daquela ganga ideológica prestes a embriagar-se outra vez, tornando-se cronicamente dependente de um passado fossilizado, os episódios do livro eram desvalorizados como propaganda anticomunista primária e por isso relegada para a irrelevância.
Porém, se há livro que ateste bem o que era a sociedade que os fósseis queriam e querem ainda impôr por cá, é este.
Se não atente-se nestas páginas sobre os privilégios da velha ganga, num panorama semiótico sobre o sistema real em que se vivia na "pátria do socialismo", muito elogiada por cá, nessa época, a par do vilipêndio permanente do "fassismo" luso e do obscurantismo constante do seu regime que era execrado como o horror a não repetir.
O sistema de castas soviético, por cá sempre negado e atribuido à propaganda anti-comunista era evidente para quem passava por lá. Por cá, nem depois de 1989 se esclareceu esta aberração sociológica aplaudida pelo PCP.
Por outro lado, enquanto a Censura do "fassismo" era propalada como sinal do regime, o sistema soviético era pura e simplesmente ignorado, apesar de superiormente arquitectado no requinte censório.
Como resultado, a juventude russa da época era um mimo à procura de ganga nova. Da antiga nem a memória tinha, por lha terem censurado...
Estas memórias contadas ao povo e lembradas aos fósseis valem pouco. A velha ganga é resistente ao tempo e quanto mais se lava mais encardida fica.
O PCP ainda tem esta ganga e suspeito que ainda está para lavar e durar.