segunda-feira, fevereiro 16, 2015

Salazar e o fantasma do Medo

Falar ou escrever sobre Salazar nos dias de hoje ainda é coisa ingrata porque quem o faz arrisca o insulto ou a irrelevância mediática. E muitas vezes o insulto, o vilipêndio soez de "fascista", o que provoca medo em muita gente que depende dos media para viver bem a sua vidinha.

Nos últimos 40 anos o "discurso" democrático, quase exclusivamente de esquerda,  arredou do seu convívio alargado e pretensamente abrangente, sem distinção de figuras, credos ou raças,  a figura de Salazar ou mesmo de Marcello Caetano.
Tirando uma ocasião, em 2007, num evento televisivo sobre "os maiores portugueses", em que Salazar figurou destacado, à frente dos demais ( o segundo, Álvaro Cunhal nem metade dos votos obteve...), a figura, a obra e o tempo de Salazar foram novamente obliterados mediaticamente.

De vez em quando surge uma qualquer notícia ou até um livro sobre a figura de Salazar, como sucedeu com a biografia política, monumental, de Filipe Ribeiro de Menezes em 2009 ou com os livritos interessantes de Fernando Dacosta, antes disso. Porém, panorama geral, pouco ou nada se alterou nestes últimos anos.
A obras fundamentais de Salazar,  maxime os seus discursos e que traduzem uma escrita impecável e de clareza exemplar, continuam esquecidas e apenas se podem encontrar em alfarrabistas. A compilação dos seus discursos, de leitura obrigatória para se compreender a vida e obra daquela figura histórica do nosso país, continua apenas a poder ser lida numa meia dúzia de volumes há muito tempo esgotados e esquecidos, mas não por alguns alfarrabistas que sabem bem o valor que têm e por eles pedem centenas de euros. O mesmo sucede com a biografia em seis volumes, organizada por Franco Nogueira, um seu discípulo e ministro.

Por isso talvez valha pena tentar perceber o que sucedeu nos últimos 45 anos em Portugal para nos podermos situar e definir a nossa identidade actual como portugueses. A figura de Salazar, nesse contexto, não pode ser esquecida e por aqui fica um contributo.

Em 27 de Julho de 1970 Salazar morreu e ficou o seu legado que dali a meia dúzia de anos seria totalmente esquecido, até por alguns próximos que fizeram a figura de judas e outros o negaram mais vezes do que a conta.
O Século Ilustrado de 1 de Agosto desse ano fez uma reportagem alargada do funeral de Salazar.


A oração fúnebre dita na altura, no mosteiro dos Jerónimos, perante o corpo presente de Salazar, foi da autoria do padre Moreira das Neves e resumia o que então se pensava e dizia de Salazar, oficial e em geral, com excepção dos meios da esquerda comunista que tinha o discurso que veio depois subsituir este que se apresenta:











No entanto, para atestar o "estado da arte" acerca da memória de Salazar nos tempos que correm nada como mostrar o que hoje existe de memorial na terra que o viu nascer, Vimieiro, Santa Comba Dão.

Em 1970 aquela revista Século Ilustrado mostrava a sua casa e legendava, a propósito da passagem do féretro, vindo da estação de combóio, no Vimieiro a algumas dezenas de metros e  em direcção ao cemitério local, umas centenas de metros mais acima...


Estes locais, hoje em dia apresentam-se assim:

O cemitério, logo à entrada e ao lado esquerdo apresenta duas fiadas de campas rasas. Uma delas é a de Salazar e as restantes são da família.  A sobriedade e singeleza do conjunto impressionam logo porque nada mais há de igual no cemitério ( e poderia haver). A inscrição original, na pedra tumular,  diz apenas AOS 1970. O resto, ou seja a lápide na parede, esteticamente feia perante o conjunto, anuncia ao passante quem ali está.







Quem vem para baixo e em direcção à casa, depara logo com esta construção dos anos 40: uma "escola cantina", que era particular porque mandada construir por portugueses  no Brasil, nessa altura e que agora é...pública.



Logo a seguir e pegada a esta escola está a casa de Salazar, a primitiva depois daquela onde nasceu e a única que se encontra actualmente habitada por um sobrinho-neto. Uma casa modesta, onde Salazar passou os tempos de adolescência e estudante. Tem imagens em azulejo de Nossa Senhora da Conceição.


E mais abaixo a casa posterior de Salazar, onde passava férias quando era presidente do Conselho ( cor de rosa...)  e aquela onde nasceu, ainda mais abaixo. Estão assim e parece que pertencem, de algum modo,  à Câmara local que se comprometeu há alguns anos a arranjá-las.
 






A casa tem uma lápide que diz: "aqui nasceu Salazar em 28.4.1889, Dr. Oliveira Salazar, um senhor que governou e nada roubou."

A parte de trás destas casas pode ver-se assim e dá uma dimensão real do património imobiliário da família de Salazar:



No interior e na continuação destas casas-arrecadações, lá em baixo à esquerda, está uma garagem que guarda este carro, um Chevrolet americano,  onde Salazar se fazia transportar quando em férias. Era de um familiar e não tinha nada a ver com o Estado...


A rua que passa neste local chama-se "avenida Dr. António Oliveira Salazar". Dantes era em paralelo, como se pode ver acima. Hoje é em alcatrão ou "tapete"...
A imagem não mostra mas para além da fiada de árvores do lado esquerdo  passa o IP3, rente à propriedade e que foi cortada ao meio com tal obra pública.
Se a casa fosse de um qualquer soares, aposto que não havia ip que lá passasse...


Em Santa Comba Dão, a três km, neste sítio que é o átrio exterior do tribunal, dantes havia uma estátua de Salazar que agora só se pode ver em quadros...pendurados num restaurante local.




Agora, no mesmo local, há isto...uma homenagem, em modo de provocação, aos mortos do Ultramar e que moravam no concelho. Esqueceram de indicar os que morreram durante a guerra civil que se seguiu à "libertação das colónias"...


A estátua? Foi decapitada e depois o resto dinamitado...
Por quem? Ora, pelos democratas que há por aí.

Alguns metros mais acima,  cravados no muro do adro da igreja de Santa Comba Dão, estão estes panéis de azulejo dos anos cinquenta ( 27.4.1953...um dia antes da data de aniversário) e que não mostram sinais de terem sido vandalizados. O painel do meio mostra a casa onde nasceu Salazar.


38 comentários:

Unknown disse...

Marcelo Rebelo de Sousa, no comentário do ultiimo Domingo, parece querer dar a entender a Judite de Sousa que está convencido que foi Salazar que ordenou o assassinato de Humberto Delgado. Comentário sobre esse assunto a partir dos 3 minutos e 15 segundos

http://www.tvi.iol.pt/programa/comentarios-marcelo-rebelo-de-sousa/4529/videos/128762/video/14259108/1

José disse...

Ignóbil. Esse tipo é um pulha se o fizer assim.

Merridale and Ward disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
josé disse...

Está como se vê aqui porque a foto é de 15.2.2015

Neo disse...

A respeito disso, todos olham pelo mesmo prisma.
Nem o Observador ousou referir o livro da Patrícia Pinheiro. Temem infringir o políticamente correcto.
Não querem apurar a verdade.
Os esforços vão todos no sentido de fazer vingar a tese contra Salazar.

Floribundus disse...

ditado sempre actual:
'atrás de mim virá quem bom me fará'

pode-se discordar da sua política

mas os factos são indesmentíveis:
era um estadista,
sério, honesto,
competente

tirou o rectângulo da merda em que o mergulhara a I republiqueta

diagnóstico
a 3ª atirou-o para:
corrupção politica e financeira,
nepotismo politico,
bancarrota politica,
inveja, ódio,
subsidio-dependência,
preguiça,
greves
as maiores manifestações de sempre

terapêutica:
austeridade
trabalho

toda a merda inventada pelos politiqueiros da esquerda actual

lembram o 'teatro da boneca' do poeta Carlos Queirós, familiar de Ofélia de Pessoa,
'é necessário esconder a boneca para não lembrar a filha morta'

'mas esta surge quando menos se espera'

há anos que não escrevia em directo
talvez por nunca ter sido fascista
e não ter apreciado o que perdi

Portuga disse...

É um grave atentado à história de Portugal o monesprezo a que está votado
o maior estadista português contemporâneo.

Bic Laranja disse...

A oração fúnebre é admirável, como o Homem e o seu (nosso) passado.
O presente é deplorável.
Cumpts.

Anónimo disse...

O engraçado é que o dr. Salazar vai dando pão a muita gente. Veja-se a quantidade de teses e estudos que vão saindo, quase sempre às mãos da seita esquerdalhista. Mesmo assim, ainda se encontram umas coisitas interessantes e que furam o bloqueio. A verbo tem a Antologia de Pensamento e Doutrina Política, que saiu em 2011, a Esfera do Caos lançou o Salazar e a Revolução Portuguesa, de Mircea Eliade, a Guerra e Paz tem o livrinho do Henrique Monteiro, a Esfera dos Livros a biografia do Jaime Nogueira Pinto, a Quetzal lançou agora a biografia de Marcello Caetano ( cheia de gralhas, por sinal ), a Imprensa da Universidade de Coimbra também tem lançado umas coisas engraçadas, assim se distinga o essencial do acessório, etc. Foi pena a Nova Arrancada ter fechado, mas pronto. Jornais, claro, é o deserto, à excepção d'O Diabo. Quanto ao general sem medo, é ver aqui uma sugestão:
http://accao-integral.blogspot.pt/2015/02/dois-livros-inconvenientes-sobre-morte.html

Anjo disse...

Obrigada pela divulgação das fotos e do resto.

Nunca tinha lido a oração fúnebre. Que belíssima imagem: "ao leme de Portugal"! De um Portugal agora à deriva...

Maria disse...

Os bandalhos que por aqui andam há décadas a parasitar, além de terem destruído criminosamente um País de 900 anos, muitos deles a viver do que escrevinham e do que bolsam, mentindo, em debates e programas dos mais variados (e muito bem pagos) sobre o Estadista, deviam era benzer-se de cada vez que pronunciam o seu nome. Isto se tivessem alguma vergonha nos focinhos, que òbviamente, como bons traidores à Pátria, não possuem nem sequer uma gota dela.

A destruição imperdoável que provocaram à Estátua de Salazar, a merecer prisão imediata - para colocarem em substituição uma porcaria qualquer moderna a que devem chamar monumento, chegando ao ponto de removerem o bloco de granito onde aquela assentava e alterando inclusivamente o desenho do empedrado que a rodeava! - e o estado deplorável de degradação da casa onde nasceu o relativo abandono das outras duas onde chegou a viver, só é concebível de ser praticado por espíritos malígnos. O ódio que lhe devotaram em vida e continuam a fazê-lo à sua memória décadas depois de morto, é o resultado evidente da inveja doentia e indisfarçável que continua a consumi-los dia após dia por terem plena consciência das suas indesmentíveis qualidades como Governante e do seu inabalável patriotismo. E mais inveja ainda, que os faz explodir de raiva incontida, por saberem de ciência certa que Salazar foi o mais importante Português do século XX .

Bando de pulhas e ladrões. Pelo mal que fizeram ao País e aos portugueses só mereciam como punição (nunca pensei vir um dia a escrever isto e que Deus me perdoe) a forca.

Parabéns José pelas belas imagens que aqui deixou. Valorosas reminiscências de Alguém a quem os portugueses tanto devem e que lhe são indubitàvelmente merecidas e devidas.

Anónimo disse...

Enquanto isto, o Panteão alberga excelentíssimos bombistas e laureados comunistas.

Vivendi disse...

Bom trabalho José.

Anjo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anjo disse...

José, a data de nascimento que figura na lápide não pode ser 1989.

josé disse...

Pois estava errada e já corrigi, acrescentando outras fotos.

Floribundus disse...

'people change', mas há mortos que nunca esquecem
escondem os acontecimentos, mas ninguém os enterra

o Panteão é local mal frequentado

'atrás de tempos, tempos virão'

« A menina tinha os cabelos louros.
A boneca também.
A menina tinha os olhos castanhos.
Os da boneca eram azuis.
A menina gostava loucamente da boneca
A boneca ninguém sabe se gostava da menina.
Mas a menina morreu.
A boneca ficou.
Agora já ninguém sabe se a menina gosta da boneca.

E a boneca não cabe em nenhuma gaveta.
A boneca abre as tampas de todas as malas.
A boneca é maior que a presença de todas as coisas.
A boneca está em toda a parte.
A boneca enche a casa toda.

É preciso esconder a boneca.
É preciso que a boneca desapareça para sempre.
É preciso matar, é preciso enterrar a boneca.

A boneca.
A boneca. »

Ljubljana disse...

Pois, seguindo as sugestões do José, procurei os livros por ele indicados e acreditem, comprei a preciosa biografia da autoria do seu colaborador Franco Nogueira, em 6 volumes, que estava nova, numa prateleira da boa Livraria Arquivo, em Leiria, por um preço de 10 euros por volume (60 euros no total), uma verdadeira pechincha e uma obra de grande valor.

josé disse...

Parabéns porque a obra ainda se encontra mas cada vez mais rara e em alfarrabistas. Na Sá da Costa, cada volume custa quase tanto como isso.

muja disse...

Tenho-a aqui, para ler. Também arranjei bom negócio na net.

muja disse...

Anjo,

não me esqueci da nossa empresa. Simplesmente agora não tenho tempo nenhum para dedicar a isso.

Mas continue V. a digitalizar que é trabalho que não se perde!

Ljubljana disse...

Curiosamente, na introdução, admirável de resto, da obra, Franco Nogueira diz que uma boa parte do acervo documental utilizado na compilação da obra, foi atempadamente guardado após a revolução em casa de amigos e posteriormente posta a salvo em lugar seguro, porque os seus locais de residência foram "visitados" pelos energúmenos/trogloditas que desejavam apagar a história. Se o tivessem conseguido, hoje só teríamos mesmo o papel higiénico histórico das Varelas, dos Loffs e dos Rosas, com todas as suas verdades ficcionadas pelas suas cabecinhas retorcidas, sobre Salazar. Azar o deles, sorte a nossa.

Anjo disse...

Muja,

Vou digitalizando, sim. Não me esqueço da nossa empresa e fico à espera que os ponha no seu blogue.

Gostava de arranjar as outras obras. Tem alguma digitalizada para a troca? E algum dos livros do Prof. Marcello Caetano, por exemplo "Minhas Memórias de Salazar" (1977), "A Verdade Sobre o 25 de Abril" (1976) e "Salazar: um Mestre" (1958)? Ou mesmo o que escreveu sobre o sistema corporativo?

De Franco Nogueira tenho "Juízo Final". A biografia de Salazar está à venda, embora um ou outro volume possa estar indisponível. Exemplo:

http://www.fnac.pt/Salazar-Vol-6-Franco-Nogueira/a122488

Vitor disse...

Comparemos no património pessoal deixado à morte por este presidente do Conselho com o património obtido por qualquer dos chefes de governo e presidentes da República do pós-25 no exercício das suas funções políticas.
Assim ficamos a saber onde vinga o oportunismo político e a corrupção.

Portuga disse...

Há uma obra muito interessante sobre Marcelo Caetano no Brasil, do Prof. Veríssimo Serrão. Não me recordo o título. Faz referência à vida do ex-PC no Brasil e à correspondência trocada entre ambos. Recordo que MC disse ao prof. que nem morto queria regressar a Portugal. Não há vergonha nem remorsos nesta terra.
MC era padrinho de batizo de MRS. Já o ouviram falar alguma vez do padrinho? Ou do pai, ex-ministro "fassista"? Do pai já falou mas foi para dizer que tinha ideias contrárias às do pai. Sacudiu a água do capote.

18 de fevereiro de 2015 às 22:55

Anjo disse...

Portuga,

Embora não seja de fiar, a Wikipédia refere:

"Filho de Baltasar Leite Rebelo de Sousa (1921-2002), médico e dirigente do Estado Novo, e de sua mulher, Maria das Neves Fernandes Duarte (1920-2003), assistente social, e irmão de António Rebelo de Sousa e de Pedro Rebelo de Sousa,1 foi padrinho de casamento dos pais o professor Marcelo Caetano, o qual esteve, também, para ser o seu padrinho."

Terá MC sido padrinho de MRS?

Portuga disse...

Sobre o primeiro comentário deste blogue, se MRS deu a entender que foi Salazar quem mandou assassinar HD é lamentável que faça uma insinuação dessas.

Portuga disse...

Há uns atrás andou a circular uma cópia de uma carta que MRS escreveu, em miúdo, ao padrinho MC. Eu cheguei a vê-la, manuscrita, mas não posso provar nada porque era apenas uma curiosidade, como tantas outras.

José disse...

MC não é padrinho de MRS.

Mas podia ser...

muja disse...

Anjo,

digitalizada tenho o "Depoimento" do MC, que anda por aí na net.

De AOS tenho "A política de África e os seus Erros", que arranjei já não sei onde.

Tem aqui:

https://www.dropbox.com/s/73fr39tfgn5x5zf/Salazar%20-%20A%20Pol%C3%ADtica%20de%20%C3%81frica%20e%20os%20Seus%20Erros.pdf?dl=0

De resto a biografia do Franco Nogueira possuo-a completa. Planeava digitalizá-la quando tivesse vagar, mas pelo andar da carruagem não é para breve...

Anjo disse...

Muja,

Já aproveitei o link. Provavelmente, este discurso estará incluído num dos volumes dos "Discursos e Notas Políticas". À cautela, fico já com este, que agradeço.

É uma pena, mas não se pode comprar tudo. Os alfarrabistas de antanho não sabiam o valor do que tinham em loja, mas esses tempos já lá vão.

Portuga: é verdade que a convivência de MRS com Marcello Caetano deve ter sido grande, quanto mais não fosse mercê da relação com os pais. Por conseguinte, a minha observação não afasta o essencial do problema: é intelectualmente confrangedor ver pessoas destas a eliminarem convenientemente da "fotografia" figuras das quais não são capazes de falar por pura desonestidade e cobardia.

Contudo, o ambiente e o tempo em que vivemos é exactamente esse - o da promoção activa do apagamento da memória e da cobardia. Posso deixar aqui um exemplo que se passou comigo e que atesta o condicionamento a que as pessoas são sujeitas. Aconteceu-me recentemente, em aula de Filosofia Política de pós-graduação, perante uma plateia alargada de formações académicas em que há pessoas de Direito, Humanidades, Finanças, etc., ouvir isto: "Os nacionalismos conduzem à guerra. São perniciosas ideias cujas marcas principais são serem sempre conservadoras e de direita." Mal ouvi isto, reagi com a maior candura possível e fingindo estupidez: "Pode explicar por que motivo afirma que os nacionalismos são sempre de direita?"

Recebi, acto contínuo, como resposta várias coisas - um olhar fulminante e um dedo erguido em acusação furibunda, numa pose que não julgava possível na Academia: "Pois lanço-lhe desde já o desafio de escrever um livro sobre os nacionalismos de esquerda que encontrar na História!" Vencendo-me a incredulidade por aquilo que ouvia e nunca pensei ouvir, abri boca para lhe atirar com alguns dos que conhecia, a começar pelos nacionalismos africanos que tomaram de assalto as províncias ultramarinas portuguesas, mas já dois colegas atacavam o "mestre" com a referência a vários outros. No fim, retocaram a intervenção com um excelente "Parece que afinal XXX (=eu) vai conseguir escrever o tal livro. Material, pelo menos, não lhe falta."

Penso que isto é sintomático. Uma pessoa que conheço, que entrou há uns anos num curso do ISCTE, viveu aventura similar: teve de ouvir, na primeira aula de não sei que cadeira, que frequentar aquele curso (Antropologia) não era compatível com ser de direita. Que era mesmo impossível alguém de direita conseguir estudar e entender aquelas matérias.

Portanto, estou em crer que viceja uma cultura de, por um lado, genuína e estuporada convicção (por doutrinação, por ignorância ou por puro jacobinismo - como diria a Zazie -, os quais conduzem à falta de abertura para ver o outro lado, estudá-lo, analisar o que pode ter de interessante) de que os que têm visão diferente são a personificação do Mal, tal o encarniçamento, a sanha com que pregam as suas ideias, e, por outro lado, de simples aproveitamento da situação para os fins políticos ou projectos de poder que têm em vista. Haverá, portanto, os ignorantes militantes e os aparentemente ignorantes por conveniência.

Feitas as contas, ambas as "culturas" redundam no mesmo: iludir e elidir a realidade, a maior complexidade de que o mundo é composto.

Streetwarrior disse...

Não sei Porquê...mas ao ler a a Oração Funebre e o resto do Post, deu-me uma vontade imensa de chorar...de chorar não só por aquilo que Salazar consegui, mas principalmente por as turpes mentiras que lhe têm feito.

...e principalmente por aquilo que Portugal se tornou e que não vejo reverso possivel.

Nuno

josé disse...

Nuno:

Não vale a pena chorar. O tempo de Salazar não era apenas o tempo dele nem ele foi o único obreiro desse tempo.

Passou, tal como ele.

O que eu lamento, mas não tenho essa vontade de chorar é que se tenha perdido tanto e tanto valor que havia por cá, principalmente entre as pessoas, do povo em geral.

Basta saber ler os sinais visíveis para perceber muito do que se perdeu.

Por exemplo, a própria campa de Salazar no cemitério do Vimieiro não foi ele quem a escolheu. Só escolheu a campa rasa.
Porém quando cheguei lá e vi o sítio fiquei logo impressionado com a pedra tumular, o estilo sóbrio e com uma classe inultrapassável que só na Idade Média se conseguia tornar estética comum.

O que Salazar conseguiu no país é qualquer coisa de fenomenal mas não foi apenas Salazar.

Há qualquer coisa no ar do tempo que se perdeu e que era fantástico. Porém, a qualidade de vida, actualmente é muito melhor do que naquele tempo de há 45 anos atrás.
Entãoc oomo jogar com este paradoxo e entender Salazar à luz dos dias de hoje?

O professor Soares Martinez, um salazarista convicto tem hoje no Diabo uma crónica que permite pensar no assunto e já pensei e vou publicar, com essas reflexões breves que merecem a minha atenção.

muja disse...

A mim, o que me encanita mais é ter-se tornado vão todo o sacrifício que se fez durante o período inicial de saneamento financeiro, pois teremos que o fazer novamente e, desta vez, penso que será mais duro pois as pessoas já se habituaram a ter uma data de coisas que não vejo como será possível manter...

Por outro lado, a regeneração económica e administrativa também é mais fácil em certos aspectos, pois hoje a técnica permite resolver facilmente muitos problemas que na altura eram complicados e há novas ferramentas como a informática que, se usadas eficazmente, permitiriam desembaraçar o Estado de grande parte do peso burocrático.

O que se me afigura mais complicada é a regeneração moral e cultural, pois aqui não é questão apenas de técnica ou sacrifício. São necessários realmente espíritos dotados de talento para impulsionar essas áreas e nunca foi coisa que os Estados conseguissem resolver muito bem sozinhos.

Tudo isto, porém, me parece subjacente a uma condição de reconciliação nacional que o Estado Novo tentou, mas em que me parece não ter sido muito bem sucedido.

Esse esforço assentou sobretudo na habilidade de Salazar conciliar interesses e partidos, na sua prudência e sentido de estado. Porém, é necessário notar que mesmo assim, muitos dos tais obreiros, e dos mais válidos, do regime eram gente que se foi buscar à classe política da 1ª República.

Salazar, e o Estado Novo, não era um regime de bota-abaixo e soube aproveitar quem havia disposto a servir francamente, e até alguns menos francamente...

Se queremos progredir, é importante não esquecer este aspecto. A maior parte das pessoas pode ser arrancada ao partidarismo e ser útil. Os que se não podem, não são, para o que interessa, portugueses; como diria AOS de Afonso Costa: encerram o diálogo antes mesmo de começar. O que segue é apenas para portugueses.

Streetwarrior disse...

José mas é exactamente essa perda de valores, principalmente a ética e a moral que me tava a dar vontade de chorar.
Eu sei que Salazar não foi o unico Obreiro... e também sei que ninguém é perfeito, ora como tal, também ele teria alguns defeitos.
Mas é a comparação dos tempos, a idolatria pela mediocridade, a desculpablização da desonestidade, o encolher de ombros como que a modo de acomodamento para a corrupção, a chico-espertice, o passar a perna e o outro que feche a porta que me deu essa tristeza...deu-me porque custa-me...não quero aceitar que em tão pouco espaço de tempo (porra, eu tenho 40 anos...e fui educado com esses valores, portanto, não foi logo após a morte dele, foi num espaço de 20/15 anos para cá )se tenham perdido completamente esses valores e aceitado como normalidade o oposto...e não vejo como retornar esses valores ás pessoas.
Eu acredito, que o que diferencia as sociedades umas das outras, são exactamente esses valores sociais.
Exemplos como ver um velhote a cair e as pessoas a passar como se nada podessem fazer ou simplesmente com atitudes de voyer, pais a baterem em professores, virarem-se á porrada á policia por simples autoações... deixam-me estupefacto...como...como é que se perderam tão rapidamente valores importantissimos que mantêm coesa a sociedade.
...e não vejo volta possivel a isto...a não ser como a M.F.Leite certo dia disse...temos que suspender a democracia por 6 meses....e mesmo assim, upa upa.

josé disse...

"e fui educado com esses valores, portanto, não foi logo após a morte dele, foi num espaço de 20/15 anos para cá )se tenham perdido completamente esses valores e aceitado como normalidade o oposto...e não vejo como retornar esses valores ás pessoas."

A NFLeite é uma idiota, nesse aspeco. A democracia não precisa de suspensões por seis meses, precisa apenas como em França de umm instrumento que quem governa possa aplicar sem que venha a esquerda do TConstitucional sapar e anular.

Quanto ao mais, de acordo. Salazar começou com a Educação. Nós temos que fazer igual. Logo na Primária, formando professores. Fechando ou reduzindo os isctes que por aí há e são a causa primeira, primeiríssima da decadência dos últimos 40 anos.

josé disse...

A mentalidade iscte dos anões e silva é a raiz do Mal que nos afecta.

josé disse...

É preciso cortá-la e deixá-la apenas a vicejar em jarrões de vidro para que não se elimine essa raiz de pensamento mas se possa perceber que é a raiz do Mal.

Reduzi-la à sua expressão mais simples como era o caso do tempo do Estado Novo que apenas cometeu um erro nesse aspecto: proibiu a expressão da mesma completamente. E isso foi fatal para esse fruto crescer porque se tornou o mais desejado.

O Público activista e relapso