domingo, outubro 25, 2015

José Sócrates e os poderes ocultos

O arguido José Sócrates foi a Vila Velha do Ródão, ontem, conferenciar em monólogo para dizer mal da Justiça que o prendeu durante "11 meses sem acusação" o que considera um atentado à dignidade pessoal e ao Estado de Direito e denunciar um conluio misterioso e oculto entre "alguns jornalistas" e "alguns agentes da justiça", o que releva de conspiração cabalística.  Não nomeou os alguns, claro está e ninguém pode perguntar-lhe quem são, para se desfazer a cobardia do ataque inominado. O arguido José Sócrates foi lá repetir o mantra que já entrou em looping: está inocente e é tudo uma cabala contra si. Já vimos este filme a preto e branco noutras ocasiões mas o realizador desta vez tem currículo de óscar.

Se o segredo de justiça se mantivesse integralmente desde há um ano a esta parte, só agora conheceríamos o rosário de desventuras que atingiu este pobre arguido inocente como um cordeiro sacrificial antes de ser imolado.
Porém, tal seria virtualmente impossível uma vez que a maior parte dos factos conhecidos só foram publicados por terem sido vertidos em instrumentos processuais distribuídos por intervenientes, incluindo os próprios arguidos ( e são vários, não apenas José Sócrates).

Ontem, o arguido José Sócrates mistificou mais uma vez, já sem maestria porque se tornou patético e só convence os convencidos que o desculpam de tudo e mais alguma coisa em nome de interesses particulares ou de seita.
Qualquer pessoa sensata ou minimamente isenta percebe que as explicações que deu são a repetição de uma impotência justificativa e que agora se direcciona aos mensageiros das más notícias.
José Sócrates tentou desde que foi governante controlar os órgãos de informação todos. Todos mesmo porque só assim escaparia ao escrutínio da opinião pública e publicada. A internet não contava muito porque era um submundo de trevas e sombras que facilmente encurralaria num beco de maledicência e falsidades. E com alguma razão porque é lugar mal frequentado por muitos, incluindo os seus apoiantes na desinformação.

Contudo, os factos, sempre os malditos factos, interpõem-se-lhe na narrativa habitual e estragam-lhe o efeito mistificador.

Hoje, o Correio da Manhã, em jeito de resposta ao monólogo deste vaqueiro de gado caprino, publica factos sobre a interferência directa do arguido José Sócrates, pouco antes de o ser e ainda um dos seus mentores na sombra, mostrando a face oculta do verdadeiro atentado ao Estado de Direito que as mais altas instâncias judiciárias arquivaram oportunamente.

Como se revela, o arguido José Sócrates, em Julho de 2014, muito depois de sair do governo e pouco antes de ser preso, por fortes indícios de corrupção ( são factos) ainda tinha um poder bastante para nomear directores de jornais importantes como o Jornal de Notícias, provavelmente o melhor jornal de notícias do país, ainda agora. Colocou literalmente um amigo jornalista e correlegionário político à frente desse jornal. A entidade que superintende tudo isso chama-se Controlinveste e é gerida pela sombra de Proença de Carvalho que foi advogado de José Sócrates e pelos vistos, segundo notícias recentes,  não lhe cobrava nada pelos serviços jurídicos prestados. Imagine-se porquê...e ao mesmo tempo diga-se que este, sim, é o verdadeiro poder oculto e misterioso que José Sócrates não queria que se descobrisse abertamente.
Que nas catacumbas da internet tal fosse segredo de polichinelo, tanto lhe fazia, dado o meio viscoso em que tais comentários circulavam. Ver estas coisas em letra de forma, em jornais publicados em bancas e com títulos apelativos deve roer-lhe a alma penada. Daí os processos cíveis, as invectivas sobre o "conluio" e a esperança que um tribunal amigo acolha a suas tentativas de sempre em condicionar a informação livre.
A informação é o inimigo principal dos tiranos e José Sócrates, por causa da vidinha que levou não quer que se saiba nada sobre o modo como a obteve, mesmo que tal tenha saído do erário público.
É esse o seu drama e vai continuar a sofrer as agruras e penas desse  rosário.

No mesmo CM de hoje, um outro recluso no EP de Évora, vizinho de cela do antigo 44, tem andado a escrever sobre a estadia do mesmo no estabelecimento e principalmente sobre as regalias que denotam a situação orweliana de alguns serem mais iguais que outros.

Esta injustiça flagrante e chocante, se os factos forem verdadeiros é a prova do cinismo e da arrogância escandalosa dos que têm poder como José Sócrates aparentemente ainda tem, por motivos  mais misteriosos do que parece.

Se isto que aqui vem denunciado, a par de outras denúncias anteriores, for verdadeiro, é chocante, escandaloso, criminoso porque é a prova concludente que a lei não é igual para todos e o beneficiário principal, neste momento é o arguido José Sócrates que se dá ao luxo de insultar quem quer e quando quer, usando os media que tem ao dispor e impunemente, tal como fazem os seus advogados, sob a capa hipócrita do direito de defesa.  Isto é simplesmente inadmissível e os poderes judiciários em Portugal acobardaram-se perante este atentado ao Estado de Direito.

Por outro lado, este arguido preso que escreve no CM todos os domingos, é inspector da PJ e tem escrito inclusivamente, mas em raras ocasiões, sobre o seu caso pessoal. A situação em que se encontra é em si mesma de relativo privilégio porque o ep de Évora não é o de Izeda ou o de Santa Cruz do Bispo.
Se o ep de Évora é isto que podemos ler, facilmente poderemos pensar como serão aqueles e outros em que os reclusos não têm esta liberdade de mandar mensagens por intermediários para publicação em jornais das suas mágoas e desventuras.
E daí resulta outra conclusão: o que este inspector da PJ escreve deverá ser relativizado com o que os outros reclusos em prisão preventiva noutros estabelecimentos prisionais não podem escrever. Ai se pudessem! Portanto, privilégios, tal como os chapéus, há muitos!


Questuber! Mais um escândalo!