Em 1979 Chico Buarque compôs uma espécie de ópera que se tornou em disco muito popular: a " Ópera do malandro", com poesias cantadas por artistas diversos, como Zizi Possi, Alcione, Nara Leão, Frenéticas e o próprio Chico Buarque que canta Geni e o Zepelim.
Geni é personagem de basfond de uma cidade, travesti desprezado pela bempensância e que acaba por ser a derradeira esperança daqueles que o desprezam. Um dia aparece a sobrevoar a cidade um Zepelim prepotente cujo comandante ameaça destruir tudo e todos, evitando tal desgraça se a Geni desprezada "esta noite me servir". "Acontece que a donzela-e isso era segredo dela- também tinha os seus caprichos. E a deitar com homem tão nobre, tão cheirando a brilha cobre, preferia amar com os bichos".
E então, canta Chico Buarque "Ao ouvir tal heresia, a cidade em romaria foi beijar a sua mão. O prefeito de joelhos, o bispo de olhos vermelhos e o banqueiro com um milhão" E a Geni, dominando o asco, lá acedeu, entregou-se à noite no dirigível e o Zepelim abalou, afastando a ameaça que pairava. Mas tal não foi suficiente para o reconhecimento da gente corrupta: "mas logo raiou o dia e a cidade em cantoria, não deixou ela dormir. Joga pedra na Geni. Joga bosta na Geni Ela é feita p´ra apanhar, ela é boa de cuspir. Ela dá p´ra qualquer um, maldita Geni". E tudo voltou ao que era dantes.
O paralelo com o juiz do Porto, por antonomásia os juizes portugueses, mesmo os hipócritas, é este:
O Zepelim mediático está em marcha, a pairar e quer um sacrificado, uma vítima para despejar a ira lúbrica contra os que ameaçam o sistema dos "donos disto tudo" e do politicamente correcto da esquerda unida.
Os entalados do costume já esfregam as mãos e se fossem escutados, ó pá!, o que não se poderia ouvir!
Encontraram um Geni improvável que se pôs a jeito e não irão descansar enquanto o não massacrarem para arrimar os restantes aos seus desejos de libertinagem mediática em prol do sistema de valores e interesses que cultivam.
Senão, leia-se, incluindo os idiotas úteis que sempre aparecem nestes casos:
CM de hoje. Na foto, o leviatã mediático corporizado em organizações políticas da "zona antifascista" ( sic) e que exigem um sacrifício, ao geni improvável que ainda é mais fustigado pela revelação obscena do que para o caso concreto interessa zero e tem muito interesse para o assunto principal: deslegitimar toda uma classe profissional:
O inefável Rui Pereira, professor de direito processual penal, antigo governantes e um dos principais responsáveis pela lei que temos relativamente à "violência doméstica" também adora "lançar pedra na geni", sem pudor algum, principalmente sem atenção ao seu contributo pessoal para que as penas relativamente a tais crimes não ultrapassem os cinco anos, limite da suspensão de pena, com justificação obrigatória dos juízes para tal não acontecer. Rui Pereira sabe perfeitamente disto mas prefere lançar pedra ao que tem pouco sentido no acórdão em causa, mas é a pedra de toque do leviatã que se levantou em modo mediático.
Rui Pereira perfere surfar essa onda do que a da vergonha que sobre o mesmo impende acerca das penas que foram fixadas no Código Penal e que são agora discutidas como leves para os casos em apreço.
Rui Pereira apelida de lamentável o acórdão, mas o que é muito lamentável é o seu escrito algo hipócrita. Sabendo perfeitamente que o que está em causa não é o assunto que aborda, mesmo assim insiste nessa vertente, esquecendo as responsabilidades pessoais, implícitas no que escreve, acerca das leis penais que temos, incluindo as que determinam o modo de elaborar sentenças que -esse sim- é que seria de discutir a sério, no plano de direito comparado, por exemplo. Por certo que se evitariam estas declarações "sociológicas" avulsas se os juizes fossem chamados a fundamentar menos as decisões que se tornam claras. Mas isso, Rui Pereira não quer fazer, pela certa.
Quem ignora o valor da dignidade da pessoa humana serão aqueles que gizam leis laxistas, como é o caso de Rui Pereira e não quem as aplica...
Na cavalgada fantástica do Leviatã mediático, destaca-se o Público, como é natural na sua matriz de "zona antifascista", mesmo com os escribas que se tornam idiotas úteis.
Hoje noticia que conseguiu chegar à fala com o juiz em causa e o que este disse vem no interior. Na primeira página vem isto: joga pedra na geni!
E o Expresso, pá? Como é que o Expresso ( cuja edição de hoje merece ser lida por causa de artigos sobre os incêndios e a desprotecção civil que temos) lida com o assunto? Bem, de dois modos. Um, com a notícia que não é notícia alguma para quem lida com os assuntos judiciários e sabe que há juízes que assinam de cruz, nestes casos. A juiza que co-assinou o acórdão é um deles e diz, por interpostas pessoas que não leu o que assinou. Ainda nem se apercebeu que a discussão agora já não é acerca da "Bíblia", pretexto estúpido para colocar o juiz no pelourinho, mas sobre a medida da pena, com a qual concordou plenamente. Enfim, nem teço mais comentários porque seria muito desagradável com a juíza, que aliás conheço. Não se pode dizer uma coisa destas para safar a pele de algo que nem mereceria tal esforço. Não pode, ponto final.
Porém, não fica o Expresso por aqui, uma vez que tinha que aparecer outro idiota útil que anda a tentar limpar a imagem de fascista que averbou em artigos passados. Para este Raposo, o juiz devia ser capado ou pior porque é um assassino em potência. Se escrevesse isto na Idade Média peroria pela fogueira, já! E com um acrescento:é um ignorante fatal do direito processual mais básico.
O outro modo que o Expresso apresenta é o da sensatez mais chã e exemplar até quase ao fim. Ora leia-se:
Parece ser este o modo equilibrado de abordar a questão: a violência entre as pessoas do casal não se deve justificar em caso algum e se algo for preciso dizer sobre isso será que a culpa não é só de um, seja o adúltero ou a vítima da traição. No entanto, havendo culpa de ambos é necessário avaliar em concreto qual a dose de cada um.
E é para isso que existem julgamentos e sentenças. O caso concreto, com todas as nuances não foge disto. Se algo houver a dizer sobre a sentença, quem melhor o poderia fazer seria Rui Pereira.
Mas preferiu neste caso ser hipócrita e lançar a sua pedra na geni que são os juízes que aplicam a lei e o direito nos tribunais.
Se alguém me perguntasse a razão de tal afronta, julgo que a resposta está na "ópera do malandro" ou na fábula da rã e do escorpião: a natureza é o que é.