quinta-feira, novembro 15, 2018

1979, anos de muitos perigos

Ando aqui a tentar compreender o que sucedeu em 1979, em Portugal, baseando-me nas memórias e recortes de um jornal- o jornal- que através das notícias do tempo e das opiniões escritas mostra bem o que éramos cinco anos depois da revolução de 25 Abril de 1974.

Pouco antes das eleições, supostamente com vista a convencer um padre amigo, dos benefícios do socialismo, Jacinto Prado Coelho, um intelectual académico de uma esquerda cujo comunismo nunca incomodou, escrevia ( no recorte que apresentei no postal anterior) que o país, nessa altura dava "sinais espectaculares de recuperação", especialmente na balança de pagamentos...

Ora bem, o panorama económico nacional, nesse ano, era de grande estagnação e atraso.  Estes recortes são todos desse ano de 1979 e do mesmo jornal.


As medidas económicas cada vez mais gravosas, o aumento dos impostos, incluindo os "extraordinários", a ausência de perspectivas de melhoria a curto ou mesmo a médio prazo não incomodava esta esquerda comprometida com uma Constituição que pretendia levar-nos ao paraíso socialista, declaradamente.
A restrição das despesas correntes e as consequências na restrição de importações, levou a um aumento exponencial do contrabando e mesmo assim faltavam produtos que noutros países, por exemplo a Espanha aqui ao lado, tinham em abundância. Entre nós era a penúria de certos bens julgados de "luxo".

Nem sequer as notícias de outros paraísos idênticos serviam de obstáculo à razão inquinada daqueles prados coelhos todos da nossa fauna esquerdista.


Até um médico de Coimbra, na pele de escritor como Torga laudava em verso a figura mítica de Che Guevara, apesar de serem já conhecidos os desmandos e horrores que tinha praticado em nome do comunismo.


Por isso a Constituição era uma vaca sagrada, que aliás continua a ser e pelas mesmíssimas razões, mais de 40 anos depois. Portugal é um país retrógado com ideias de esquerda, hoje. E está pior do que há uns anos.


As poucas vozes que discordavam eram cordatas na aceitação do domínio da esquerda que se assemelha a uma escravatura ideológica, uma canga democrática, hoje em dia:


O que contava e continua a contar era a permanente diabolização de um regime anterior que tendo os seus defeitos era qualitativamente superior em termos económicos. Mas não para a esquerda...




E por isso, com o andar da carruagem democrática, tudo o que era intelectual de esquerda desiludido com um comunismo que  afinal não cumpria o prometido, alistava-se no melhor partido possível: o PS. Tal como hoje...nem precisavam de mudar de linguagem. A matriz, raiz e o tronco eram comuns.


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Megaprocessos...quem os quer?