Em Portugal, nas vésperas de 25 de Abril de 1974 existia um largo sector mediático, de jornalistas jovens, nos jornais, rádios e televisão que foram ganhando consciência política contra o regime vigente.
Através de influências várias, designadamente de colegas mais velhos e de propaganda intramuros dos partidos de esquerda, como o comunista e o movimento socialista, a linguagem noticiosa foi-se modificando e os temas escolhidos foram-se adequando ao que era o "trabalho a fazer".
Nesse amplo sector mediático destacava-se o papel desempenhado pelos meios de informação de algum modo ligados à Igreja Católica e sectores "progressistas", de alguma forma tolerados pelo regime do novo Estado Social, de Marcello Caetano.
Um dos exemplos mais flagrantes de tal evolução começou com o programa de tv Zip Zip, em 1969, considerado inovador e animado por pessoas, mormente Carlos Cruz que nos anos vindouros iriam ter protagonismo muito importante no rádio e televisão e até nas redacções noticiosas, como já se viu.
O Zip Zip, em 1969 foi alvo da atenção da revista Flama, uma publicação que começara no final dos anos trinta, ligada à Igreja e à União Gráfica, empresa da Igreja Católica e que a partir de meados dos anos sessenta e até ao seu fim, em 1976, foi dirigida por António dos Reis, pessoa ligada também à Igreja e que aliás tinha sido quase padre.
Foi esta revista que abriu as portas da redacção a indivíduos que adulteraram depois a linguagem, adoptando o léxico esquerdista a todo o pano, com a máxima amplitudo no PREC.
A pequena história da revista em uma dúzia de páginas fez-se por aqui, no ISCTE, a madrassa principal deste pobre país, totalmente ligada ao PS e à esquerda mais radical deste partido.
Como lá diz, ocultando porém todo o resto, a revista, em 1972 foi comprada por accionistas privados e particularmente de bancos que acabaram por ser nacionalizados em 1975 e acabou em 1976 porque era já um produto medíocre, totalmente influenciado e manipulado por uma esquerda radical.
Um dos últimos números, de 13 de Agosto de 1976, para além de mostrar à saciedade os efeitos da novi-língua é bem o exemplo desta deriva fatal que levou à ruína e desaparecimento da publicação, até hoje:
Ora esta revista foi precisamente durante os anos sessenta e setenta um dos principais veículos de emprego dos fautores da novi-língua, tal como a empresa ligada à Igreja o foi também, a Renascença e o rádio que tinha como locutores e noticiaristas indivíduos que foram depois os que se rebelaram contra a entidade patronal e fizeram greve de muitas semanas, em Fevereiro de 1975, em protesto por não os deixarem ser radicais livres de extrema-esquerda.
Em Junho e Julho de 1969 deu duas capas ao Zip Zip e aos seus autores e novo ideário televisivo e de conteúdos.
Tal como Carlos Cruz explicou na sua autobiografia foi o Zip que lhe foi dando "consciência de classe" ou pelo menos alertando para problemas sociais que o mesmo e os demais julgavam apenas poderem ser resolvidos pela esquerda, mormente comunista e socialista porque ainda não havia outra. Os demais, eram tudo da "direita", até hoje.
Como se pode ler, o crítico de tv ( no Diário de Lisboa) Mário Castrim, membro activo do PCP, era um entusiasta do programa...e a linguagem já não enganava ninguém e muito menos deveria ter enganado o pobre monsenhor Zezinando, em 1972, quando entrou a mandar.
A escolha do "estudante universitário" José Jorge Letria ( o celebrado autor do livrinho
E tudo era possível, o que é verdade porque de facto
tudo lhes foi facilitado, até hoje) já aparecia nas páginas da revista. Em 1969...porque era "cantor e compositor de baladas e antigo colaborador do Diário de Lisboa". E só tinha 18 anos...
Não obstante, na véspera de 25 de Abril de 1974 a linguagem usual na imprensa ainda não era a que veio a seguir. Tirando as publicações nitidamente de esquerda como a Seara Nova, era possível ler artigos em que a palavra "fascismo" ainda não adquirira a conotação semântica que o PCP e o PS lhe deram e adoptaram a seguir, com amplitude inimaginável.
Na revista Flama de 6.4.1973 com uma capa consagrada ao
artista Tordo, cantigueiro de festival e futuro intelectual de esquerda, na actualidade contestatário da "direita", mesmo que seja social-democrata, o mesmo dizia assim, já influenciado pelo poeta da alta burguesia Ary dos Santos com quem aliás "comungava nas mesmas ideias":
Neste mesmo número em que aparece a linguagem proto-esquerdista aparece também este texto sobre Juan Péron e o uso da palavra "fascismo" e da expressão "terceiro mundo" com semântica diversa da que veio a adquirir no domínio da novi-língua.
O texto era proveniente de agências estrangeiras...no caso a FWF ADS ( agência dias da silva, a mesma que distribuía os livrinhos de cóbóis...) porque de outro modo nem existiria com estes dizeres.
Quanto ao problema de base relacionado com a música e a qualidade de produção da mesma em Portugal, o mesmo Carlos Cruz em entrevista à mesma Flama de 30.7. 1971 colocava os pontos nos ii, claramente e sem subterfúgios, numa linguagem original e ainda sem grandes resquícios da contaminação que viria a sofrer alguns anos a seguir.
O problema, dizia, só se resolveria com a educação de quem ouvia e comprava discos, "com todas as implicações culturais e sociais que o problema traz":
Ora foram estes mesmos problemas culturais e sociais que tiveram influência com o que se passou durante o ano de 1974.
Em 6.3.1971 a revista Século Ilustrado mostrava duas coisas: que a miséria no nosso país ainda era grande e que a revista gostava de a mostrar tal como era, com objectivos evidentemente políticos e de propaganda ao contrário.
A ficha redactorial já não deixava enganar sobre quem eram os jornalistas que assim escreviam e escolhiam estes temas então "fracturantes"...e alguns deles eram exactamento os que vieram depois a colher a novi-língua comunista e socialista como se fosse a original língua materna.
Maria Antónia Palla, por exemplo...e que é mãe do actual primeiro-ministro a quem deu certamente a mamar esta mistela linguística.
Em finais de 1973 o grupo editorial desta revista teve como director Manuel Figueira que lá ficou durante uns tempos e também dirigiu a Vida Mundial.
Manuel Figueira não era e nunca foi adepto da novi-língua, motivo pelo qual não durou muito no lugar quando apareceu o 25 de Abril de 1974.
Em Março de 1974 a tentativa de introdução da novi-língua ainda era combatida na revista, deste modo, por exemplo, numa crítica veemente a um livro de António José Saraiva, um esquerdista que depois de arrependeu:
Não obstante, em 10 de Maio desse ano Manuel Figueira ainda dirigia a Vida Mundial e por isso as notícias sobre certos assuntos ainda eram assim redigidas em linguagem jornalística escorreita e sem grandes concessões ao linguarejar esquerdista, aliás já espalhado nas redacções, mormente daquelas revistas e jornais.
Como esta linguagem não interessava aos meninos jesus que então apareceram a prometer o natal sempre que um homem quisesse ou o bacalhau a pataco, Manuel Figueira foi corrido, com um agradecimento breve e de circunstância e em seu lugar ficou o que era director da Seara Nova, Augusto Abelaira, um escritor de livros que ninguém lê porque são ilegíveis, como "o único animal que"...
Numa das páginas interiores pode ver-se claramente o sentido da mudança e a mutação de linguagem operada...
A mutação ainda era fresca e por isso incipiente. A seguir houve a invasão dos bárbaros radicais da esquerda.
Veremos então como foi...e como aperitivo ficam mais meia dúzia de páginas da autobiografia de Carlos Cruz, precisamente sobre o período em causa e as personagens que participaram. Todas já conhecidas e instruídas na novi-língua.
Ah! E de onda partiu o santo e a senha para o assalto ao poder que conferiu o direito de impor a novi-língua? Pois...além do Rádio Clube Português, com a voz do inefável Joaquim Furtado, já senhor do domínio total da novi-língua, partiu do Rádio Renascença, tal com
aqui se conta:
A Rádio Renascença também teve um papel importante no triunfo da democracia. Manuel Tomaz, em conjunto com Leite de Vasconcelos, Carlos Albino e Marcel Almeida, da meia noite às 02h00, preenchia a antena com o programa “Limite”, procurando ser contundente e agitar a mentalidade dos cidadãos mais passivos. Os objetivos dos jornalistas, coincidentes com os dos militares, fizeram do “Limite” o espaço ideal para a transmissão da segunda senha da revolução. Agora sim, Zeca Afonso, com “Grândola Vila Morena“.
E quem é que lá estava também? Este:
Adelino Gomes, co-autor espontâneo da reportagem da Rádio Renascença no dia 25, considera que os jornalistas que transmitiram as senhas não sentiram muita emoção, porque sabiam muito pouco sobre o que estava a acontecer. “Ninguém lhes disse: Vais pôr uma senha porque vamos fazer um golpe de Estado”, explica. Foi o que aconteceu com Leite de Vasconcelos. “Nem ficou chateado, ficou só com pena que não lhe tivesse dito, mas percebeu”, descreve Manuel Tomaz.
Só não sei como o regime ainda não deu uma comenda ao dito cujo que tinha este
trabalho a fazer, já deste 1971...
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