sábado, fevereiro 20, 2021

Os efeitos deletérios da linguagem mutante: ANI para ANOP e a habilidade de falar sem dizer nada

 Na imprensa nacional de 1974 passou-se da ANI para a ANOP e foi assim, segundo um livro que foi editado em 1979 pela Assembleia da República ( A Imprensa escrita em Portugal-Abril 1974/Julho 1976).


A mudança de linguagem exigia vinho novo nos odres velhos e por isso o "programa do MFA" zelou pela qualidade do sabor da mistela. 


A Época, jornal  oficioso do regime anterior acabou. O Novidades, jornal oficioso da Igreja Católica nacional, idem.  Dois esteios da linguagem antiga foram assim derrubados e apareceu desde logo a novi-língua no decreto-lei que extinguiu a agências de notícias nacionai, a ANI, classificada como reaccionária e que teimava em continuar "perfidamente" "anquilosada". 
Foi substituída por uma vistosa ANOP administrada superiormente, desde logo por luminárias que ainda andam aí: Eduardo Maia Cadete e Alberto Villaverde Cabral, fervorosos adeptos da novi-língua, por suposto. Até hoje. 



Depois disso era preciso uma nova Lei de Imprensa e foram nomeados os seus parceiros pensadores. Tudo gente que se adaptava já ao novo linguarejar, com destaque para os jornalistas, incluindo um certo Marcelo Rebelo de Sousa, para além dos mais que ainda hoje dão cartas na comissão de ortodoxia da linguagem corrente. 


Logo em Setembro de 1974 após Spínola ter percebido que fora completamente enrolado pelos passageiros daquele avião mostrado no último postal, e seus sequazes, foram colocados no novo Índex prohibitorum alguns jornais que teimavam em não aderir ao novo acordo ortográfico e semântico já em vigor. 
Um Relatório do 28 de Setembro de 1974, elaborado pela nova classe dirigente já mencionava a "extrema-direita" e indigitava "uma certa imprensa identificada com o seu ideário", incluindo em tal taxinomia por exemplo  alguns perigosíssimos jornais de paróquia ou outros cujos leitores não excediam em número os habitantes das mesmas. 

Entretanto surge o Sindicato, órgão de vigilância da ortodoxia comunista e da nova linguagem imanente, chefiado desde logo por um tal Luís de Barros, cujo papel à frente do Diário de Notícias, dali a uns meses só empalideceu perante o fulgor resplandecente da figura intelectual de um Saramago, outro dos cultores do linguarejar, nesse caso sem vírgulas. 


Entre Setembro de 1974 e 11 de Março de 1975 produziram-se significativas alterações nos órgãos dirigentes de todas as camarilhas ocupadas em mudar a linguagem corrente. Um dos resquícios da velha linguagem, Manuel Figueira que tinha estado na Vida Mundial e no O Século foi corrido por indecente e má figura na pronúncia dos novos verbos e adjectivos e substituído por um bravo Tavares da Silva. 
Não obstante este esforço de renovação de "quadros" e círculos de giz a verdade é que o povo comprador dos jornais continuava renitente à novíssima linguagem e não comprava o produto. Assim, " a situação financeira das empresas jornalísticas continuou a agravar-se" e pasquins como o Sempre Fixe, um dos primeiros arautos da nova linguagem findaram-se ali. 
Apesar disso, a Comissão Ad-Hoc, ou seja a nova designação orweliana da Censura actuou diligentemente contra outros jornais por não seguirem a linha recta do bom comportamento cívico.
Até o passarão da Gaiola Aberta ficou com uma asa ferida e mesmo o Expresso foi alvo de reprimenda por se afastar do caminho do bem, coisa que com o tempo aprendeu a fazer. 


De 11 de Março de 1975 a té 25 de Novembro desse ano esse foi o período de maior agitação das redacções da nova gramática da língua. 
A partir dessa altura foram nacionalizados vários desses jornais que assim passaram para o sector público, com os seus trabalhadores da linguagem nova. 
Começaram a meter o bedelho alguns indivíduos chefiados por aqueles dois que desembarcaram no avião na Portela,  ciceronados pelo dinamizador de jazz e outros músicos da mesma banda que era da outra banda. 

Diários privados? De grande dimensão, apenas o Primeiro de Janeiro no Porto e o República em Lisboa. Este, privativo do PS e da Maçonaria que não lidavam muito bem com os pais da novi-língua mas comunicavam com o mesmo código linguístico. 



Por causa disso começou uma Luta que durou até 25 de Novembro de 1975 e para além dessa data. De facto, ainda dura. 
Vários aparecem depois disso mas a linguagem já estava tomada e por isso acaba aqui a resenha sumária.


 


Confesso que acompanhei tudo isto e comprei ( e também guardei) muitas destas publicações. O que mais me surpreendeu foi ler noutras publicações de outras paragens, mormente em França, menções claras à mutação operada e que então me pareciam algo irreais. 
Ao ver esta capa em Fevereiro de 1975 fiquei algo perplexo porque me parecia algo exagerada. E principalmente por causa da epígrafe: " quem pode e não impede, peca!" Foi certamente por isso que surgiram movimentos que na época eram apelidados de "extrema-direita" como hoje é o CHEGA. 
Eram movimentos que tinham consciência da mutação genética em curso num PREC assustador que nos conduziria a um gulag mental e territorial muito para além do linguístico, esse plenamente conseguido, sem oposição de maior, até hoje. 


Apesar dos sinais serem muitos e as notícias serem suficientes, por cá não havia ninguém nessa altura capaz de produzir um texto como este publicado na mesma revista em Janeiro de 1975 onde se mostrava bem o efeito perverso da linguagem mutante que nos foram impondo, até hoje. 


Nessa altura o que estava à vista só poderia ser observado de longe, como aqui se mostra porque a mutação linguística já produzira quase todos os seus efeitos letais. 


Em 1976 esta capa da mesma revista com um artigo desenvolvido tirado de um livro de Jean-François Revel mostrava e iluminava claramente o que acontecera em Portugal nos dois anos antecedentes: uma tentativa deste indivíduo acima figurado, em tomar o poder total em Portugal, frustrado apenas por circunstâncias que não conseguiu dominar de todo. 


Por cá e num efeito de Panurgo, de seguimento acéfalo das premissas da novi-língua os media nacionais fizeram e refizeram a cama a esta gente que nos desgraçou, continuando até aos dias de hoje a sustentar-lhes a mesma língua de pau e os mesmos conceitos imanentes. 

Para repetir o que então escrevi e tomando como exemplo o jornal do actual regime:


Durante esse PREC a informação de um jornal como o Expresso, ícone do "liberalismo" no tempo de Marcello Caetano e abertamente apoiante da "Revolução dos Cravos" tendeu para uma esquerda moderada, acordando tarde para o perigo comunista e ainda assim discutido no jornal como uma ameaça relativamente inofensiva, tal como hoje. O PCP de então não tinha o ambiente político que hoje existe uma vez que alinhava sempre com o bloco de Leste e apoiava a linha mais dura desses regimes, com Cunhal a zelar pela ortodoxia. Mesmo assim, nunca no Expresso se denunciou o comunismo do PCP como perigoso para o regime e atentatório das liberdades fundamentais porque totalitário. Na verdade o Expresso sempre contemporizou com o esquerdismo, de tal modo que em 1975, durante a querela aberta com Vasco Gonçalves que o apodou de " pasquim da reacção", foi defendido por...Otelo, o então chefe do COPCON que dali a pouco passava mandados de captura em branco deixando-os em "boas mãos".

Por mim e agora só gostava de saber se há alguém capaz e disposto a "desconstruir" à boa maneira das modas actuais tal linguagem perversa e de novi-língua venenosa para qualquer espírito decente e bem formado...repondo de algum modo a linguagem que já foi nossa e servia perfeitamente para designar as realidades tal como elas são e não como estes salafrários do verbo pretendem que sejam.

Alguns exemplos de época:






Resultado prático destas práticas democráticas..., logo em 1976:



Será preciso fazer mais desenhos?!

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Megaprocessos...quem os quer?