quinta-feira, março 10, 2022

Os limites da informação política

 Para se perceberem bem assuntos complexos como revoluções ou guerras, como a presente  na Ucrânia, compreender as razões do conflito e formar opinião avalizada, geralmente não chega a informação via tv ou aquela que aparece toda alinhada para o mesmo lado. 

Por mim, o método que uso para me informar é consultar fontes diversas e tentar perceber as questões. Mesmo assim não é nada fácil em situações relativas a acontecimentos estrangeiros, com povos diferentes e razões históricas complexas e antigas, como é precisamente o caso da Ucrânia. 

Se ainda por cima tivermos uma informação parcial, tendenciosa e de sentido unificado, por censura externa ou interna, como acontece em Portugal, tal revela-se quase impossível, suscitando um cepticismo renitente e um pessimismo quase antropológico. 

O primeiro exemplo que tive deste fenómeno ocorreu em 1975-76, ainda no rescaldo do PREC e tem como símbolo estas capas de revistas da época que me espantaram pelo significado explícito que a leitura da nossa imprensa da época não me permitia acompanhar e concordar. Mais tarde percebi que espelhavam uma realidade que então me era mais difícil de compreender. Isso apesar de haver por cá pessoas que entendiam muito bem o que se passava. Comigo foi sempre mais difícil e ao retardador, tal como agora. 

Custa-me aceitar de ânimo leve situações que podem ser reais mas que demoram o seu tempo a revelar-se como tais. Felizes por isso aqueles que percebem rapidamente, acreditam mais depressa, nunca se enganam e raramente têm dúvidas. 



A informação em Portugal geralmente é tendenciosa para um lado que neste momento é a esquerda em geral e daí o cepticismo com que (não) leio notícias nos jornais portugueses. 

A informação em Portugal, quando muito faz isto que a revista Sábado fez hoje relativamente ao conflito na Ucrânia: entrevistar um indivíduo que pensa diferente e escrever um artigo com muitas reticências ao que diz. É este o máximo de pluralismo que temos nos media nacionais:




Ora o que se pode fazer para evitar este tipo de informação e tentar obter melhores conhecimentos sobre os assuntos? Pela minha parte, desde há muito que leio a imprensa francesa, de diversos quadrantes. Sei onde está a esquerda representada e onde se encontra a direita, também. E aqueles que tentam fugir da dicotomia, como é o caso do Le 1, um semanário dirigido por Éric Fottorino, um jornalista que esteve muitos anos no Le Monde e que tenta fugir a tais armadilhas ideológicas.  

Esta semana o número é dedicado à Ucrânia e à semelhança do Público de cá, há vários artigos de especialistas que ao contrário do diário de cá, não são apenas entrevistados para o redactor escrever depois o que lhes perguntou, sem saber mais, mas dizem tudo o que entendem e esclarecem quem os ler.

No editorial Fottorino escreve assim:


Ora o que é que diz sobre as raízes do conflito que importa perceber? Que se esforçou por fazer um mergulho histórico que mostre como o povo ucraniano é diferente do russo e as vicissitudes que sofreu ao longo da história. 
Será isto passível de contestação e acantonado num mero exercício de opinião? Não me parece se vier acompanhado de factos. E apresenta-os através do depoimento de especialistas que os enunciam.
O primeiro é de Michel Foucher. Não sei quem seja, mas posso saber...e o que descubro é que é um académico conceituado. Devo desconfiar da opinião? Em nome de quê?! Sim, se me disserem ( alguém com autoridade suficiente...) que é um indivíduo tendencioso, sem credibilidade e portanto de opinião fácil e descartável. Será?



Outro exemplo do mesmo jornal: um artigo de Jaroslav Lebedynsky. Quem é?! Pois, um historiador da Ucrânia nascido em França. Escreverá asneiras? Opinião distorcida? Quem sabe dizer? Os factos porém estão aí...




Que outras perspectivas sobre a história da Ucrânia e as razões do conflito se podem aduzir, para além disto? 
Por exemplo, o historiador Antoine Arjakovsky que obviamente sabe do que fala, escreve na Valeurs Actuelles, uma revista notoriamente de direita, isto:



Será que isto nada vale como fonte de informação fidedigna e apta a perceber o que se passa na Ucrânia? Haverá outras perspectivas que infirmem estas?

Gostaria de as ler, mas com igual dimensão intelectual...

Sem comentários:

O Público activista e relapso