No CM de hoje, o "jornalista" Octávio Ribeiro relata assim o seu particular modo de olhar para uma foto algo lúgubre:
Esta é a primeira imagem oficial de Carlos III. Em fundo, vários elementos cinzentos e uma obscuridade que os ensombra. Na lareira, apagada, o fundo obscurecido pelo carvão mostra o reflexo do ambiente soturno do sítio que a rodeia. Flores brancas, de funeral, símbolo da podridão natural e já desfocadas pelo tempo. O castanho da mesa, cortado pela base de escrita em papel, descentra a atenção pela predominância do tom que relega a prata para uma salva sem fulgor.
O "punctum" é a foto do novo rei, já envelhecido como os cabelos a mais que o cobrem, num olhar ausente e distante e algo melancólico na pose, nova com muitos anos em cima.
A rainha falecida é um adereço de retrato em tons de azul e chapéu que lhe cobre qualquer olhar. O novo rei enquadra-se neste ambiente, enfiado debaixo de uma mesa, como em busca de protecção e esconderijo.
A passagem do tempo pouco ensinou de novo a estas figuras já enceradas. A estabilidade familiar que as acompanhou ao longo da vida encontra pleno eco na tragédia "shakespeareana" que atingiu o novo rei, segundo a suas próprias palavras antigas. O exemplo nem sequer se pode encontrar na relação do antigo casal da rainha falecida com o duque também já desaparecido, um simulacro de felicidade para media ver e estes comentadores de circunstância papaguearem, por motivos que me escapam.
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