domingo, janeiro 29, 2023

A superioridade moral dos EUA há 60 anos

 Em Abril-Maio de 1975, enquanto esperava pelo Serviço Cívico, um modo de ocupação para estudantes impedidos de entrar no ensino superior, em virtude da Revolução e da consequente massificação e desorganização no ensino superior, passeava pelas livrarias, como a Bertrand e um dia dei de caras com esta revista, cuja história já contei por aqui várias vezes, porque me agrada contar.

O escaparate poderia conter mais ou menos estas revistas da época:


Ao folhear a Rolling Stone deparei com um artigo inusitado acerca do assassinato de Kennedy, ocorrido nem sequer uma dúzia de anos antes e que me fascinou porque mostrava imagens de um filme em super 8, gravado por um dos circunstantes nos factos ocorridos em Dallas, numa praça pública, à hora do almoço, em 22 de Novembro de 1963.

As imagens de tal filme com poucos minutos, com algumas centenas de "frames", então analisadas, poderiam pôr em causa a versão oficial até então apresentada pela comissão de inquérito, Warren,  que produziu um relatório entendido como definitivo: a de que o assassinato fora obra um só atirador, Lee Harvey Osvald, também ele assassinado, dois dias depois, por outro indivíduo, Jack Ruby que morreu sem verdadeiramente explicar as razões para o acto, cerca de quatro anos depois.

As imagens do filme Zapruder  tinham sido já divulgadas na ocasião, pelos media americanos e serviram para a comissão Warren elaborar o relatório com tais conclusões. O filme foi transmitido pela televisão generalista em Março de 1975, daí a novidade e o particular interesse da revista no assunto, pouco menos de uma dúzia de anos depois.







Não obstante, o que a Rolling Stone de 24 de Abril de 1975 revelava era a hipótese de se poder realizar outro inquérito, por outra comissão, perante as dúvidas suscitadas pelo relatório da Comissão Warren, publicado em Setembro de 1964 em duas dúzias de volumes. 

Dez anos depois, a seguir a Nixon, apareciam suspeitas de conluio de algumas forças policiais, como o FBI então ainda dirigido por J.Edgar Hoover e a CIA, no encobrimento de factos relevantes subtraídos à análise da referida Comissão. 

As reticências perante as conclusões oficiais do relatório Warren assentavam em incongruências que mais tarde se colocaram em evidência, sendo o caso mais chocante o da "bala mágica" que se indicava como tendo saído de uma arma obsoleta, com uma mira telescópica deficiente e que atingira Kennedy pelas costas, saíra pela garganta, atingiria o governador Connaly e o ferira cinco vezes, partindo-lhe dois ossos e depois de tudo isso perdera tanta massa como se tivesse sido disparada na água. Por outro lado a análise da trajectória balística não poderia condizer com a teoria oficial do único assassino colocado num patamar vários metros superior, num depósito de livros num edifício sobranceiro à praça e que disparara sozinho desde uma janela. 

Em 1975 a questão principal ainda era a de saber como funcionou a comissão Warren e como chegou a tais conclusões.  Assim,  no ano seguinte foi efectivamente constituída a House Select Committee on Assassinations, após a reforma do Congresso ocorrida após a destituição de Nixon. 

Em Maio de 1976 tal comissão produziu o seu Relatório, acerca do modo como a primeira Comissão Warren tinha efectuado o seu trabalho, particularmente no relacionamento com as polícias e agências de governo.  

Em Janeiro de 1979 a nova comissão produziu o Relatório sobre o assassinato de Kennedy, concluindo ter existido uma "provável conspiração" para o liquidar, sem conseguir identificar qualquer envolvido com relevância assinalável. 

Todo este assunto está devidamente documentado na internet, logo qualquer jornalista pode aceder a tais elementos e noticiar algo com substância informativa. 

Na semana passada a revista do Le Figaro Magazine publicou estas páginas sobre o assunto, tomando como pretexto a libertação de nova informação, milhares de documentos,  até agora classificada como secreta. No tempo de Clinton e Trump já tinham sido tornadas públicas centenas de milhar de páginas. 

 


 










Em 1991 um realizador americano, Oliver Stone, antigo combatente no Vietname, tornado crítico do sistema americano, que aprendeu com Scorsese, fez um filme a partir de um livro de ficção que aventava hipóteses quanto à autoria do atentado. 

O filme foi um sucesso na época e para além do assunto Kennedy abordava o assunto Vietname, relacionando-o com o caso, suscitando teorias de conspiração que perduram. 

A revista Esquire de Novembro de 1991 fez um excelente artigo sobre o filme e o caso, começando com uma foto do filme de Zapruder, na capa:












Como se pode ler, na altura o filme suscitou ( no Washington Post e noutras publicações)  alguns comentários acerca da paranóia do autor, talvez justificados, mas foi a primeira vez desde 1975 que a imprensa se interessou novamente pelo assunto. 
Em 1997 outra revista, George, fundada e dirigida pelo filho do presidente assassinado, também John Kennedy, publicou um artigo sobre os sucessos e desastres da CIA, por altura do segundo aniversário da publicação e dos 50 anos da CIA.








O assunto da morte do pai daquele não aparece no elenco...

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