sábado, janeiro 07, 2023

Expresso: 50 anos num saco de papel

 O jornal Expresso perfez ontem 50 anos e o número de aniversário é uma tristeza. Anunciado com sendo apresentado no formato original do primeiro número de 6 de Janeiro de 1973 começa logo aí a fraude...porque nãp respeita tal formato original nem sequer o do fac-simile que foi apresentado em 6.1.1993 na edição comemorativa do 20º aniversário.

O rigor do Expresso é apenas isso: um rigor indicativo, aproximado e nada mais. Podia aliás ser o moto do próprio jornal, algo que ficou sempre aquém do desejável e afastado dos modelos que confessadamente o inspiraram, os semanários ingleses "de referência", expressão moderna sem uso nesse tempo. 


O editorial actual do director João Vieira Pereira mostra a foto dos fundadores, incluindo o actual presidente da República que neste número só aparece como alvo de notícia. Aliás nem o fundador mete prego ou estopa neste número comemorativo dos 50 anos...


De resto as comemorações do semanário ficam-se pelo saco de papel, com as imagens que faltam na edição e por uma referência na última página do caderno principal, a tal que evidencia o rigor informativo acerca do "broadsheet original":




O Expresso mudou muito em 50 anos, tal como a sociedade que ajudou a moldar, particularmente uma classe média rebaixada cada vez mais na ignorância e lassidão de que o jornal se alimenta. Uma crónica de Sérgio Sousa Pinto dá-nos o "estado da arte" actual da sociedade portuguesa com o PS no poder há décadas:


Sérgio Sousa Pinto se calhar nem se dá conta que está a escrever uma espécie de auto-retrato porque seria sempre necessário saber que créditos firmou para se integrar na política do PS de tal modo que foi parar a Bruxelas, durante anos a fio, para o dolce far niente de quem não tem relevância alguma na política. 

Para se entender melhor a decadência social portuguesa nos últimos 50 anos e a que o Expresso deu uma grande ajuda, será necessário voltar ao primeiro número e tratar do contexto que o envolveu, com reprodução de textos então escritos no ano de 1973, altura em que ainda estava no poder Marcello Caetano. 

Havia então uma oposição que se cristalizou no jornal e que se pode dizer democrática, já cansada de o ser desse modo, porque não suportava a ausência de evolução do regime. 

Tal oposição conhecida e tolerada pelo regime mas cuja tolerância é renegada actualmente pelo próprio jornal que continua a apodar o antigo regime de fascista,  afinava pelos nomes do fundador do jornal, pelo ex-deputado à Assembleia Nacional, Francisco Sá-Carneiro e principalmente por outro então deputado que morreria nesse ano, tragicamente, José Pinto Leite. 

Este tem sido apresentado ao longo das décadas como o verdadeiro líder de tal oposição ao regime de Marcello Caetano, tolerada por este e que poderia fazer o que Sá-Carneiro não conseguiu. 

Vejamos o que pensava este mesmo Pinto Leite porque nesse primeiro número dava-se destaque a tal personagem, incluindo citações directas dos seus cadernos de apontamento.



É fácil perceber que este ideário não foi o que prevaleceu depois de 25 de Abril de 1974 e que seria preciso reverter o PREC, a causa verdadeira e primordial do nosso atraso endémico,  para que se conseguisse obter  resultados propostos por José Pinto Leite. No "bloco de apontamentos" está lá tudo, inclusivé o esforço de transição de uma economia ainda dominada por alguns trusts locais para outra de maior eficácia social. 
Quem é que sapou e sabotou tais desideratos? O PS, acima de tudo, ao caucionar desde sempre as "conquistas de Abril" com destaque para as nacionalizações que nunca foram devidamente revertidas no que se refere á reposição dos factores de produção de riqueza. A TAP é um bom exemplo, como foram os "elefantes brancos" dos anos oitenta. 

O resto dessa primeira edição dá-nos a perspectiva do que o futuro não foi, para nós portugueses que andamos há décadas atrelados a uma ideologia malvada que até os países do Leste europeu, de quem aliás a herdamos, já abandonaram, com o proveito de nos terem já passado a perna...





O Expresso ao longo destes 50 anos foi um fiel servidor de tal ideologia e de tal mentalidade, traindo por isso as ideias de um José Pinto Leite e de um Sá-Carneiro, apesar de tudo, em troca das lentilhas do bem estar do seu fundador, que aliás se prolonga noutros media, como a SIC. 

E tudo começou com o Expresso, há 50 anos...e quem definiu o jornal em 2005 foi Vasco Pulido Valente, assim:


O maior drama porém, é que o Expresso ainda é o melhor jornal nacional, pelo que se pode ver como é que os demais são e qual a verdadeira dimensão da desgraça que nos atinge.

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