sábado, fevereiro 09, 2019

Os cucos e os papagaios da fauna opinativa mediática

Ontem nas tv´s houve um happening acerca dos casos de "violência doméstica". Na sequência da histeria mediática impressa, particularmente no Público e Correio da Manhã ( sempre Tânia Laranjo, a incendiária destes costumes que trabalha para a sensação 'permamente, com "monstros" e histórias sincopadas no dizer e escrever) praticamente toda a gente nos media botou faladura sobre o assunto. Há que preencher espaço e tempo...

O tom geral em todos os canais foi de malhar nas instituições como as polícias, o mp, juízes e tribunais,  responsáveis avulsos e mais alguns, por causa das mortes em catadupa nos casos de violência entre casais e familiares.

Programas inclusivos como O Último apaga a luz, na RTP, que reúne Raquel Varela, comunista idiossincrática; uma tal Inês Pedrosa, que me parece burra todos os dias, e atrevida sempre; um certo Rodrigo Moita de Deus, pobre envergonhado de uma direita ausente e Joaquim Vieira, o jornalista de recortes e entrevistas que chamou corrupto a Mário Soares, em quatro artiguinhos de revista ( e que acabou por causa disso) mas que não vê um boi à frente nestes casos singulares; programas exclusivos como o cada vez mais soturno programa da TVI, Governo Sombra que reúne o RAPioqueiro ignorante destas matérias mas sabedor de todas as demais, juntamente com os outros sabe-tudo que peroram com uma facilidade estonteante, dando notas de humor e alta sabedoria informada. Ontem foi tempo de  casos tão diversos como a crise na Venezuela e a crise da violência doméstica, tudo no mesmo registo de sentença sumária; e outros programas ocasionais, em todos os canais, comungaram do mesmo desiderato: não pode morrer tanta mulher à mão de parceiros e a culpa é de tudo e de todos, particularmente de tribunais e polícias, perfeitos bodes expiatórios que além do mais nem podem defender-se nos mesmos comprimentos de onda e assim é mais seguro e as patacoadas passam impunes.

Todos, sem excepção, se lembraram a propósito da "violência doméstica" que  "já matou 9 mulheres só no primeiro mês do ano"   do desembargador Neto Moura, outro perfeito bode expiatório para tais sumidades formadas em comunicação social e cursos adjacentes, se espraiarem na arte de bem malhar toda a instituição, com tiradas verbais contundentes.
Não será de admirar porque o próprio Conselho Superior da Magistratura tudo fez para que tal fosse possível. Entre sete Conselheiros a propor o devido arquivamento apareceram dois que fizeram a diferença para a devida punição: o presidente do dito e ainda o habitual vice-presidente.
Confesso que estranhei o medo próximo da cobardia,  do presidente, tido como homem sem medo. Mas depois fui ver o currículo e  dei com uma tristeza: é pessoa de paixões clubísticas que retiram bestunto a quem o deveria ter...

Na parte da manhã, numa intervenção avençada ( estas pessoas têm acesso privilegiado aos media pagos por todos)  e lida na Antena Um, apareceu inopinadamente uma tal Alexandra Lucas Coelho "jornalista e escritora" de quem nunca lerei um livro, mas que orienta culturalmente a mente de alguns pobres de espírito. Desferia impropérios pegajosos de agressividade ao CSM que se limitara a aplicar a pena de advertência para o delito tão grave praticado por aquele desembargador que tivera o topete de citar a Bíblia para manter  a suspensão de pena a um  convicto energúmeno.  O devido teria sido a prisão firme por longos anos, porque é assim a justiça dos seus códigos particulares. E citava passagens descontextualizadas do acórdão para mostrar a razão para as vergastadas inquisitórias. Hábitos herdados do pai, o falecido Eduardo PC, um oportunista letrado dos costumes intelectuais importados de França [ alguém teve a gentileza de me dizer que esta Lucas não é filha do Prado, porque há outra no Público que tem tal apelido e a confusão pode gerar-se, como se gerou. As minhas desculpas à genuína, embore suspeite que estas ideias marinam na mesma água choca de um feminismo militante que quer à viva força importar para cá ideias peregrinas vindas sabe-se lá de onde].

Tudo isto me levou a uma reflexão que nem é de agora: como compreender que todos esses media, tv, rádio e imprensa, sejam unânimes na opinião dessa gente que contratam a peso de euros de avença regular?

Nota-se que não há, neste como noutros casos similares, uma tentativa, por ténue que seja, de encontrar um vislumbre de opinião democrática traduzida em apresentação de opinião diversa, por muito pouco divergente que seja. Nada. A única opinião transmissível é a que se encontra já formatada nessa tendência politicamente correcta.
Parece-me anómalo que se tolere a intolerância que tal significa.
Estes casos recentes de violência trágica entre casais, com mortes a mais, foram já precedidos de opinião veiculada por alguns media, com particular destaque para o Público que iniciou a autêntica cruzada contra certas decisões judiciais, logrando manipular uma parte importante da opinião pública no sentido pretendido a uma causa, feminista, partindo do contexto particular de tais casos.

A manipulação é tanto mais perfeita quanto a opinião recolhida dos "peritos" na matéria, psicólogos, psiquiatras, certos juristas e activistas sociais é sempre no sentido do unanimismo opinativo. A impressão que transmitem e que não há mais opinião para além dessa que se transmite e sufragadora da  Causa.

No caso particular do juiz Neto Moura, foi ouvido o mesmo como deve ser? Não, apenas foi interrogado circunstancialmente por telefone e sem contraditório verdadeiro. Acaso os juízes do CSM que votaram a favor do arquivamento do processo disciplinar que no meu entender nunca deveria ter sido instaurado, explicaram fosse o que fosse a tais media? Nada de nada. Silêncio completo.

Resta por isso a opinião unânime desses borra-botas do jornalismo de causas e também a dos avençados dos programas de opinião, pagos para dizer larachas, no caso do rapioqueiri e colegas de programa ( triste, triste a opinião de um indivíduo que costuma ser um pouco mais sensato, como Pedro Mexia) e pagos para dizer coisas avulsas no caso do programa em que o último apaga a luz.

Mas há algo de novo nisto:

É bem provável que a opinião expressa e vendida desse modo seja fake, não seja a verdadeira opinião que guardam para si. Explico-me: eles no fundo não sabem bem o que dizer, mas não estão ali para se armarem em cucos cujo ninho não lhes pertence, como é habitual. Ora na iminência de perderem o ninho que os acolhe e lhes dá alento e alimento, exprimem a opinião pré-fabricada e que sabem não incomodar os donos da intelligentsia.

No fundo é essa tristeza que os habita: em vez de cucos  preferem  ser  papagaios. Sempre são mais vistosos.
Em resumo; esta gente que opina deste modo não é para ser levada a sério. Não sabem o que dizem porque dizem o que julgam ser mais favorável a quem os emprega ou lhes dá poiso. Não vejo outra explicação para tanto unanimismo acéfalo.

A par disso aparece outro avençado que pode acumular um vencimento de funcionário público superior com estipêndio regular da Cofina: Rui Pereira, cujo contributo já por várias vezes encomiei por ser pessoa sabedora e por isso mais responsável.

Escreve assim no CM de hoje:


Repare-se, para quem não sabe:

Rui Pereira foi responsável há cerca de dez anos pela alteração da legislação penal que agravou penas mínimas para o crime de violência doméstica e defendia há vinte a natureza pública de tal crime, o que só aconteceu em 2000.

Ainda assim não conseguiu resolver a questão da incongruência que representa tal natureza pública do crime com o direito de familiares directos dos arguidos se recusarem legitimamente a depor ,o que conduz a absolvições por ausência de prova admissível ou mesmo arquivamento de inquéritos.

Nisso, não fala Rui Pereira. Como não fala na dificuldade que qualquer perito , por muito experiente que seja, ( e coitados dos agentes da GNR e PSP, dos núcleos NIAVE que lidam directamente com tal criminalidade) em detectar apenas indiciariamente, comportamentos de perigo para potenciais vítimas. Geralmente só com o depoimento de vítimas que se apresentam como tal ( e pode nem sê-lo do modo como contam) se recolhem tais impressões e que são assinaladas por "cruzinhas" em formulários.

As questões verdadeiramente complexas que esta criminalidade envolve, a que não são alheias as particulares circunstâncias de todos os casos, tornam imperativa uma análise que permita concluir, com aproximação que seja ,se aquelas medidas patrocinadas por Rui Pereira terão sido mais positivas que negativas.

Para mim, já o escrevi, são mais perniciosas que outra coisa. Mas veremos...

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A obscenidade do jornalismo televisivo