(...)
A sociedade portuguesa está, nesta medida, adormecida e despolitizada, tanto ou mais que no tardo-salazarismo, quando, além de uma esquerda muito politizada só havia uma direita juvenil e um incipiente movimento liberal entre as elites. Claro que a política, os debates televisivos, as análises, os analistas, os congressos, toda a gama alta, média e baixa das guerras partidárias, parecem lançar alguma suspeição sobre esta minha afirmação e transformá-la num aforismo de inimigo do regime ou do povo, que se obstina em não ver os benefícios da informação em democracia. Mas não é assim: a nova despolitização da sociedade portuguesa começou há quarenta anos, depois de um tempo politicamente agitado e orgiástico (de 1974 a 1980). A partir daí, com excepção de um Partido Comunista à esquerda, a classe política, do CDS ao PS e com o PSD sempre na linha da frente, unificou-se quanto ao modelo político-social, quanto à adesão europeia e quanto ao anticomunismo e antifascismo.
E depois de 1980, o sistema foi reduzindo a política à economia; nem sequer à economia mas à contabilidade e gestão da economia. Como nos tempos do salazarismo, os jornais – agora sem censura – passaram a reger-se por padrões ideológicos idênticos. Um arco constitucional de centristas, na verdade todos mais ou menos democratas e liberais, todos ideologicamente de esquerda, todos pelo mercado, todos – com poucas e bem conhecidas excepções – repetindo uma cartilha de antifascismo agudo ou moderado.
Esta despolitização é semelhante à da sociedade do tempo salazarista, mas por outros meios, na medida em que os problemas importantes, a perda de poder nacional, a dependência de centros exteriores, a degradação dos níveis de Saúde e Educação, estão reduzidos ao debate da melhor ou da pior gestão, sem sair dos mesmos princípios e sem sequer os interrogar. Há políticas mas não há Política. Com a agravante de parte importante dessa gestão já nem sequer ser feita em Lisboa, mas a partir do exterior, directa ou indirectamente, pelo BCE. Por estupidez, corrupção e irresponsabilidade deixámos de ter Bancos nacionais e empresas ou grupos empresariais com dimensão. E a dívida cresce.
Esta despolitização é, entretanto, minorada pelo protagonismo, quer do Presidente da República, quer do primeiro-ministro, cada um no seu género, dotados de qualidades populares que também têm ajudado a neutralizar e a impedir, à direita e à esquerda, a novidade populista. António Costa, ao cooptar para o apoio ao seu centro-esquerda socialista a esquerda tradicional do PCP e os neo-esquerdistas radicais da nova esquerda, o Bloco, neutralizou os populismos de esquerda, que integrou num governo que defende a Europa, que está na NATO e que tem a memória de um PS pró-americano, na Guerra Fria. Marcelo Rebelo de Sousa faz o mesmo em relação à metade conservadora do país e ao povo em geral. Por enquanto.
Um partido de direita nacional terá de ser uma vanguarda consciente deste contexto, outra vez “exótico”, outra vez “de excepção”. E de se guiar por três tipos de valores, comuns a outros nacionalismos populares: valores nacionais e patrióticos – defesa da independência nacional frente a europeísmos e iberismos; valores de orientação religiosa e familiar – contestação da imposição da agenda LGBT e de outras pretensões civilizacionalmente transformistas; valores justicialistas – defesa de uma economia de mercado, com mercado livre mas temperada por medidas sociais de equilíbrio, de protecção dos mais débeis e de reequilíbrio da distribuição de riqueza. Este justicialismo, ou solidarismo, está na tradição da doutrina social da Igreja mas também em “terceiras soluções” entre capitalismo liberal e socialismo concentracionário. Mais do que um sistema ou modelo alternativo, o justicialismo deve ser um espírito que anime as instituições de arbitragem social na solução dos problemas de confrontação de interesses e classes.
Não existe, por enquanto, nenhum partido que alinhe por estas regras ou princípios e os ensaios de novos partidos por agora falados parecem aquém do necessário.
E depois de 1980, o sistema foi reduzindo a política à economia; nem sequer à economia mas à contabilidade e gestão da economia. Como nos tempos do salazarismo, os jornais – agora sem censura – passaram a reger-se por padrões ideológicos idênticos. Um arco constitucional de centristas, na verdade todos mais ou menos democratas e liberais, todos ideologicamente de esquerda, todos pelo mercado, todos – com poucas e bem conhecidas excepções – repetindo uma cartilha de antifascismo agudo ou moderado.
Esta despolitização é semelhante à da sociedade do tempo salazarista, mas por outros meios, na medida em que os problemas importantes, a perda de poder nacional, a dependência de centros exteriores, a degradação dos níveis de Saúde e Educação, estão reduzidos ao debate da melhor ou da pior gestão, sem sair dos mesmos princípios e sem sequer os interrogar. Há políticas mas não há Política. Com a agravante de parte importante dessa gestão já nem sequer ser feita em Lisboa, mas a partir do exterior, directa ou indirectamente, pelo BCE. Por estupidez, corrupção e irresponsabilidade deixámos de ter Bancos nacionais e empresas ou grupos empresariais com dimensão. E a dívida cresce.
Esta despolitização é, entretanto, minorada pelo protagonismo, quer do Presidente da República, quer do primeiro-ministro, cada um no seu género, dotados de qualidades populares que também têm ajudado a neutralizar e a impedir, à direita e à esquerda, a novidade populista. António Costa, ao cooptar para o apoio ao seu centro-esquerda socialista a esquerda tradicional do PCP e os neo-esquerdistas radicais da nova esquerda, o Bloco, neutralizou os populismos de esquerda, que integrou num governo que defende a Europa, que está na NATO e que tem a memória de um PS pró-americano, na Guerra Fria. Marcelo Rebelo de Sousa faz o mesmo em relação à metade conservadora do país e ao povo em geral. Por enquanto.
Um partido de direita nacional terá de ser uma vanguarda consciente deste contexto, outra vez “exótico”, outra vez “de excepção”. E de se guiar por três tipos de valores, comuns a outros nacionalismos populares: valores nacionais e patrióticos – defesa da independência nacional frente a europeísmos e iberismos; valores de orientação religiosa e familiar – contestação da imposição da agenda LGBT e de outras pretensões civilizacionalmente transformistas; valores justicialistas – defesa de uma economia de mercado, com mercado livre mas temperada por medidas sociais de equilíbrio, de protecção dos mais débeis e de reequilíbrio da distribuição de riqueza. Este justicialismo, ou solidarismo, está na tradição da doutrina social da Igreja mas também em “terceiras soluções” entre capitalismo liberal e socialismo concentracionário. Mais do que um sistema ou modelo alternativo, o justicialismo deve ser um espírito que anime as instituições de arbitragem social na solução dos problemas de confrontação de interesses e classes.
Não existe, por enquanto, nenhum partido que alinhe por estas regras ou princípios e os ensaios de novos partidos por agora falados parecem aquém do necessário.
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