terça-feira, julho 21, 2009

O comunista Vital

Vital Moreira defende hoje no Público o seu comunismo de raiz. Acha que a "proposta de proscrição do PCP não é só descabida mas também uma demonstração de intolerável sectarismo político."

Para além de estar ligeiramente enganado no objecto da "proscrição" que não é apenas o PCP mas o comunismo em geral, através da " tentativa de alargar às organizações comunistas a proibição constitucional de organizações fascistas", Vital apresenta ainda o esclarecimento do seu pensamento actualizado sobre o assunto e que tem pelo menos trinta anos, porque foi constitucionalista em 1976:
" A proibição constitucional não decorre de uma interdição genérica de ´organizações antidemocráticas`,mas sim de uma intencionada condenação da ideologia específica que esteve na base do Estado Novo".
É caso então para perguntar a Vital Moreira que ideologia específica é essa; onde foi apresentada como nociva e merecedora de expulsão constitucional e principalmente qual a verdadeira natureza do regime do Estado Novo. Era fascista mesmo?

No jornal i, Jaime Nogueira Pinto, ( um perigoso direitista, porventura fascista, na óptica lisa de Vital Moreira), responde indirectamente:

"Os constituintes de 1975- ainda sob o peso do PREC e dos capitães de Abril pouco dados à lógica aristotélica- entenderam consagrar constitucionalmente essa proibição das organizações fascistas sem se darem ao trabalho de as definir em substância e em conteúdo. Pensaram com certeza que sendo o "fascismo" o mal absoluto, os fascistas seriam facilmente reconhecíveis- pelas garras afiadas, dentes carnívoros, olhos tresloucados- e facilmente afastados pelos bons democratas. Como o demónio pela água benta." Salvo seja, acrescento...

Vital Moreira espraia mais uma vez a sua nunca abandonada pertença ideológica , através da habitual idiossincrasia: o uso do anátema ,"fascismo", para excluir, certamente por espírito democrático e nada sectário, todos os que se afastam da sua visão dessas "décadas negras da nossa história política, em que os comunistas estiveram na primeira linha da luta da oposição democrática contra o regime, sendo as principais vítimas da repressão fascista".
Portanto, o fascismo, para Vital Moreira está devidamente identificado: é o Estado Novo.
Logo, a proibição constitucional tem um alvo, mais uma vez confessado: o regime do Estado Novo que é assimiliado ao fascismo, sem margem para dúvidas metafísicas. O Estado Novo e quem o apoiar, claro está que para Vital não há meias medidas. Fascismo é fascismo.

O comunismo, esse, como dizia ontem o editorialista do Público, é outra coisa. Uma ideologia democrática, de utopia em marcha para a criação do Homem Novo. Uma promessa de bem estar permanente e convívio democrático assegurado pelo comité centralizado.
Logo, tem nada a ver com fascismo, seja ele de Estado Novo, nazi ou franquista.
A proscrição do comunismo ( e não so do PCP) , essa sim, é medida antidemocrática. A democracia do PCP nem se pode comparar a qualquer tentativa burguesa de imitação e querer expulsá-la da Constituição em nome da liberdade " é não só descabida mas demonstração de intolerável sectarismo político".

Vital intitula o seu escrito " O silência cúmplice", referindo-se à indignidade da afirmação ( distorcida) de AAJardim e ao facto de o PSD nada dizer. Vital escreve hoje no Público, como escreveria em 1975 ou 1981. A prova, vem a seguir.

Como este escrito de Vital se repete ao longo de décadas, vale a pena recuperar em imagem ( que se pode ler clicando) de um artigo que o mesmo escreveu no Expresso de 4 de Abril de 1981.
No escrito, de uma ironia finíssima, vinda de quem meia dúzia de anos depois, denunciava o PCP como antidemocrático e alfobre de sectarismos da pior espécie, podem ler-se as mesmíssimas ideias que agora transcreve no Público. Escusado será dizer que o cartoon do jornal, ao lado do texto é uma pequena provocação. Vital Moreira, na altura, defendia o líder soviético, em votação de braço no ar...

Quem disse que um (ex)comunista também pode tornar-se um democrata?
A democracia, para estes indivíduos, vive da luta permanente contra o fascismo. O real, o imaginado e o do imaginário. Só assim se representam e só assim se conseguem remirar no espelho político.




Questuber! Mais um escândalo!