Um confronto entre facções locais do PS nas europeias de 2004, que terminou com a morte por paragem cardíaca de António Sousa Franco, o cabeça-de-lista, levou ao seu afastamento da vida política e da presidência da Câmara de Matosinhos. Narciso Miranda recandidata-se agora contra o PS, que já o ameaçou com a expulsão. E, apesar de socialista «de alma e coração» não poupa o partido, o Governo e José Sócrates.
O que motiva a sua recandidatura à Câmara de Matosinhos?
Saí em 2005 com a convicção de que o projecto ia continuar e, eventualmente, ser aprofundado. Ora, nada disso aconteceu nos quatro anos seguintes e os resultados foram desastrosos. Outra razão, e porventura a mais importante: senti um apelo de militantes do PS do concelho, um apelo de uma franja muito significativa do eleitorado socialista de Matosinhos e um apelo genérico dos matosinhenses.
O que fez nos últimos quatro anos?
Cidadania. Não parei. Esse talvez tenha sido o erro grave do aparelho do PS, ter pensado que eu ia calçar as pantufas. Pensavam que era fácil anestesiar-me. Mas sou demasiadamente irreverente e irrequieto. E muito novo para calçar pantufas.
Narciso Miranda quer voltar à política de ribalta, depois das vicissitudes de um processo complexo, por corrupção, arquivado há poucos anos, por insuficiência de provas. Anos e anos de investigação deram em nada, quase. O Independente de então publicou parte substancial do despacho de arquivamento que parece exemplar do que funciona mal na investigação criminal em Portugal.
Narciso Miranda enriqueceu pessoalmente, durante o exercício funcional, na política autárquica. Muito, porque pouco ou nada tinha de seu, antes da política autárquica.
Enriqueceu nesse exercício, tal como outros, mormente Mesquita Machado, de Braga. Ou o autarca de Vila do Conde. Ou. Ou. Todos contrariaram o parecer e opinião abalizada do falecido César de Oliveira que depois de alguns anos como presidente de autarquia ( Oliveira do Hospital) disse publicamente que empobreceu e que só podia ter empobrecido.
Estes conseguiram o milagre da multiplicação, mas ainda não explicaram bem como o fizeram. As pessoas e eleitores em geral, aceitam essa esperteza como sinal de capacidade política.
Narciso Miranda não saiu da política activa, por causa disso. Não. Sobre isso, o PS diz nada aos costumes. Saiu por causa de um conflito partidário na altura de umas eleições europeias. em 2004, em que se viu envolvido António Sousa Franco e que morreu nessa altura. A improvável responsabilidade política pela morte de Sousa Franco foi inteiramente imputada a Narciso Miranda que assim foi afastado do convívio político-partidario do PS em sede eleitoral.
Só isso afastou Narciso Miranda da política do PS.
Agora quer voltar. Diz que é "muito novo para calçar pantufas". Pois sim.
Mais um retrato típico de um Portugal pobre e pequeno.