Nuno Pacheco, em editorial no Público de hoje, interpreta a frase de Alberto João Jardim, sobre a putativa proibição do comunismo.
Em dado passo, transcreve uma citação de um autor húngaro, Imre Kertész, judeu preso pelos nazis em Auschwitz e Buchenwald, sobre o assunto, ou seja a diferenciação entre fascismo e comunismo. Vale a pena citar: "À estúpida pergunta sobre se vemos diferença entre fascismo e comunismo, podíamos dar esta resposta breve: o comunismo é uma utopia, o fascismo é uma prática-o partido e o poder é quanto os reúne e faz do comunismo uma prática fascista."
Esta subtileza de justificação do injustificável é o ponto de toque de toda a condescendência que o comunismo tem obtido da nossa intelligentsia ao longo de décadas: a proposta humanista do comunismo é um logro. É ou não é? Foi ou não denunciada ao longo destes últimos anos de desmistificação do comunismo na sua apresentação mais clara e corrente que foi o comunismo soviético?
Foi. Tem sido. Mas ainda não é suficiente, porque aparecem sempre os Nunos Pachecos e uma fila interminável de intelectuais da escrita capazes de aceitar o inaceitável e tolerar o intolerável: a ditadura comunista não se distingue do fascismo no essencial da sua ambiução e projecto: a criação de um Homem Novo, sem atender aos danos colaterais e principalmente pressupondo a necessidade dos mesmos que passa sempre por massacres e limpezas humanas. Sejam étnicas, sejam de classes sociais, o efeito de tragédia humana é o mesmíssimo. O sofrimento é o mesmíssimo e as feridas sociais são as mesmas também.
Escrever e citar, subscrevendo, que o fascismo é uma prática nociva, por contraposição a uma utopia benigna do comunismo, é a maior falácia construtivista destes pós-modernos. Insere na explicação do comunismo a distinção entre a teoria e a prática corrente, sem ligar as duas a um destino fatal: são indissolúveis. O comunismo, enquanto utopia, nunca existiu, transformado em prática aceitável de condução ao destino. Ou existiu tanto como o Céu metafísico dos crentes das mil virgens à espera de cada imolado. Com uma diferença neste caso: o céu dos comunistas é deste mundo.
O comunismo utópico, para estes, é um paraíso terrestre. O inferno advém da prática do partido único da classe operária e da direcção central de poder ditatorial. Como se fosse possível identificar modelo diverso ou possível. Como se o PCP ou o BE pudessem ou quisessem fazer algo diverso se porventura alcançassem o poder político executivo.
Portanto, resta perguntar o que fica do comunismo sem essa essência prática...
Acreditar na distinção de Imre Kertész, subscrevê-la como sendo "estúpida" e erigi-la como modelo de justificação do comunismo enquanto anacronismo ambulante da política portuguesa é continuar a sustentar o ovo da serpente. Neste caso, do comunismo.
A liberdade comunista não tem qualquer futuro para a Humanidade, porque corresponde a uma nova servidão humana. E no entanto é proclamada com a mesma intensidade com que se proclama a palavra democracia.
Como se esta palavra não fosse, precisamente por isso, polissémica e por isso mesmo, com um potencial de engano assinalável. Tem vários significados, até mesmo o de "utopia". E o logro está-lhe na sombra das letras. A democracia popular comunista não equivale em quase nada à democracia burguesa. A não ser o nome da própria palavra, sem conceito semelhante sequer.
O comunismo em Portugal, não tem apenas oficiantes do credo. Tem muitos e muitos acólitos, perdidos ideologicamente, como se verifica por Nuno Pacheco e outros.
Foi isso que o sustentou em Novembro de 1975 e tem sido isso que o tem amparado constitucionalmente.
Mas há uma novidade de vulto: Alberto João Jardim disse o óbvio. Mas não provocou a reacção de há uns dez anos atrás e muito menos de há vinte. Nessa altura, seria expulso do gotha do senso comum. Agora, foi apenas glosado do modo que se lê. Daqui a dez anos, dar-lhe-ão a razão inteira.
Em dado passo, transcreve uma citação de um autor húngaro, Imre Kertész, judeu preso pelos nazis em Auschwitz e Buchenwald, sobre o assunto, ou seja a diferenciação entre fascismo e comunismo. Vale a pena citar: "À estúpida pergunta sobre se vemos diferença entre fascismo e comunismo, podíamos dar esta resposta breve: o comunismo é uma utopia, o fascismo é uma prática-o partido e o poder é quanto os reúne e faz do comunismo uma prática fascista."
Esta subtileza de justificação do injustificável é o ponto de toque de toda a condescendência que o comunismo tem obtido da nossa intelligentsia ao longo de décadas: a proposta humanista do comunismo é um logro. É ou não é? Foi ou não denunciada ao longo destes últimos anos de desmistificação do comunismo na sua apresentação mais clara e corrente que foi o comunismo soviético?
Foi. Tem sido. Mas ainda não é suficiente, porque aparecem sempre os Nunos Pachecos e uma fila interminável de intelectuais da escrita capazes de aceitar o inaceitável e tolerar o intolerável: a ditadura comunista não se distingue do fascismo no essencial da sua ambiução e projecto: a criação de um Homem Novo, sem atender aos danos colaterais e principalmente pressupondo a necessidade dos mesmos que passa sempre por massacres e limpezas humanas. Sejam étnicas, sejam de classes sociais, o efeito de tragédia humana é o mesmíssimo. O sofrimento é o mesmíssimo e as feridas sociais são as mesmas também.
Escrever e citar, subscrevendo, que o fascismo é uma prática nociva, por contraposição a uma utopia benigna do comunismo, é a maior falácia construtivista destes pós-modernos. Insere na explicação do comunismo a distinção entre a teoria e a prática corrente, sem ligar as duas a um destino fatal: são indissolúveis. O comunismo, enquanto utopia, nunca existiu, transformado em prática aceitável de condução ao destino. Ou existiu tanto como o Céu metafísico dos crentes das mil virgens à espera de cada imolado. Com uma diferença neste caso: o céu dos comunistas é deste mundo.
O comunismo utópico, para estes, é um paraíso terrestre. O inferno advém da prática do partido único da classe operária e da direcção central de poder ditatorial. Como se fosse possível identificar modelo diverso ou possível. Como se o PCP ou o BE pudessem ou quisessem fazer algo diverso se porventura alcançassem o poder político executivo.
Portanto, resta perguntar o que fica do comunismo sem essa essência prática...
Acreditar na distinção de Imre Kertész, subscrevê-la como sendo "estúpida" e erigi-la como modelo de justificação do comunismo enquanto anacronismo ambulante da política portuguesa é continuar a sustentar o ovo da serpente. Neste caso, do comunismo.
A liberdade comunista não tem qualquer futuro para a Humanidade, porque corresponde a uma nova servidão humana. E no entanto é proclamada com a mesma intensidade com que se proclama a palavra democracia.
Como se esta palavra não fosse, precisamente por isso, polissémica e por isso mesmo, com um potencial de engano assinalável. Tem vários significados, até mesmo o de "utopia". E o logro está-lhe na sombra das letras. A democracia popular comunista não equivale em quase nada à democracia burguesa. A não ser o nome da própria palavra, sem conceito semelhante sequer.
O comunismo em Portugal, não tem apenas oficiantes do credo. Tem muitos e muitos acólitos, perdidos ideologicamente, como se verifica por Nuno Pacheco e outros.
Foi isso que o sustentou em Novembro de 1975 e tem sido isso que o tem amparado constitucionalmente.
Mas há uma novidade de vulto: Alberto João Jardim disse o óbvio. Mas não provocou a reacção de há uns dez anos atrás e muito menos de há vinte. Nessa altura, seria expulso do gotha do senso comum. Agora, foi apenas glosado do modo que se lê. Daqui a dez anos, dar-lhe-ão a razão inteira.