quarta-feira, setembro 16, 2009

O jornalismo português do respeitinho

Em Itália, o jornal La Repubblica insiste no tema Berlusconi para realçar a importância da liberdade de informação.
Ontem, entrevistava Mike Hoyt, director da Columbia Journalism Review que as De Sousa, da nossa tv caseira, devem conhecer. Mas não gostarão muito de ler coisas como esta, ou pelo menos não as entendem no contexto nacional, porque criticam o jornalismo de Moura Guedes e preferem o de um Carvalho qualquer:

La Repubblica- Como é visto o caso Berlusconi, nos Estados Unidos?
Mike Hoyt- À superfície, como um líder apalhaçado, escravo dos seus apetites. Mas na sua reacção contra os jornais, a história italiana torna-se quase incompreensível, segundo os critérios da democracia americana. Apesar de nós termos um presidente que se ridicularizou e deixou apanhar num esquema com uma jovem rapariga. A história de Clinton-Lewinsky foi um embaraço. Ninguém pensou por um único momento que a imprensa devesse refrear-se em colocar todas as perguntas incómodas para Clinton. A opinião pública americana pode ter juizos diferentes sobre o modo como os jornalistas desempenham o seu trabalho, mas existe consenso no facto de que o carácter pessoal dos líderes políticos, o seu comportamento privado, diz respeito a todos."

La Repubblica- E esta limitação da privacidade é aceite pelos próprios presidentes?
Mike Hoyt- Os nossos presidentes sabem que a imprensa pode ser dura com eles mas isto faz parte do preço do poder. Aceitam-no, porque é um dos modos em que , desde sempre, a nossa democracia os mantém sob controlo, lhes pede contas, lhes impõe responsabilidade. Berlusconi parece convencido que não tem de prestar contas a ninguém.

La Repubblica- As suas causas para difamação seriam aceitáveis na América?
Mike Hoyt- Não, aqui entre nós nem arrisco a imaginar uma iniciativa semelhante. Tanto mais pela forma como Berlusconi pegou no assunto, ou seja , acusando de difamação um jornal que lhe coloca perguntas. Nenhum presidente americano poderia recusar-se a responder a tais perguntas ( o La Repubblica publica há meses, diariamente, uma série de dez perguntas sobre as relações privadas e íntimas de Berlusconi). A nossa opinião pública, apesar de poder existir uma relação difícil com a imprensa, nunca aceitaria um tal gesto e ficaria indignada se um presidente procurasse assobiar os jornalistas. "

Estas declarações de um decano do jornalismo americano, não são lidas por cá, não são citadas por cá e por cá faz-se exactamente o contrário do que este jornalismo recomenda. Os jornalistas manifestam-se muito abalados com os casos da TVI e outros, mas vertem apenas lágrimas de crocodilo e de hipocrisia. Passado o momento da hipocrisia, dão largas à sua demonstração.
A prova está aí, em todos os jornais, incluindo os da rádio e tv. Quando morre um Cronkite fazem uma cara de luto circunstancial, pela morte de um dos "grandes". Mas não o imitam...

O caso Berlusconi, se fosse por cá, teria da parte deste PM um repúdio ainda mais violento do que o de lá. E com o apoio completo da maioria dos bonzos do nosso jornalismo.
É por isso que nem o citam nem falam nele...

2 comentários:

Karocha disse...

Aonde existe nesta terra democracia e, jornalismo a sério?
Estão todos vendidos!

Anónimo disse...

Bravo! Grande post! Tiro o meu chapéu.

O Público activista e relapso