terça-feira, dezembro 18, 2012

O romance do nosso meio século, de Jaime Nogueira Pinto

Nuca houve tantos livros expostos nas livrarias como hoje. São novidades em cima de novidades, livros de História e de histórias e com um destino marcado: chamar a atenção do comprador, mais que do leitor. Uma boa parte não devia ter saído do prelo, mas toda a gente tem direito a escrever, publicar e esperar ser lido se assim o quiser. Esse direito é mais amplo hoje do que jamais terá sido.

Entre livros recentes que comprei, para além da cripto-biografia de José Manuel Fernandes, para entender como um jovem-adulto se deixa encantar pela extrema-esquerda e da tese de doutoramento de Adelino Gomes,  ( no ISCTE, bleurghhh...) reescrita em tonalidade mais pop e intitulada "Nos bastidores dos telejornais RTP1, SIC e TVI", avulta um que me chamou a atenção por motivos diversos e que comprei e ando a ler nos pequenos intervalos de outras coisas a fazer: "Novembro", da autoria de Jaime Nogueira Pinto.
É um romance e tem peso disso. Já comecei a ler as primeiras páginas e o assunto promete mais que a novela de tv, estereotipada qb.
Novembro começa por narrar a história de um cruzamento de famílias de banqueiros, em pingue-pongue diacrónico. Pela descrição factual poderia ser a dos Espírito Santo, porque o patriarca "vendia lotarias na baixa" e morreu com o dealbar do 28 de Maio de 1926. O herdeiro ocupou o lugar e prestou logo vassalagem aos novos senhores que depuseram a balbúrdia republicana e laica, ainda proto-socialista.
Ainda vou nas páginas em que Salazar aparece como ministro das Finanças mas recomendo a leitura do livro porque entronca plenamente naquilo que por aqui ando a escrever de há uns meses a esta parte: tentar entender a História do nosso tempo recente, com recurso às imagens do passado.

O livro de Jaime Nogueira Pinto, como romance, não é uma obra do fôlego de um Eça, Camilo ou mesmo Aquilino porque não usa o virtuosismo de linguagem que nos encanta naqueles, nem sequer os pequenos golpes de truques gramaticais que nos envolvem nas narrativas geniais.
No entanto lê-se bem como agora se lêem os livros: atrás de uma página vem outra com novos motivos de interesse narrativo. E até tem pequenos apontamentos que pitorescam a narrativa, quais pequenos àpartes que lhe conferem personalidade escrita.
Gosto e recomendo. Custa 22 euros mas com o desconto de 10% fica mais barato.


3 comentários:

Floribundus disse...

a condição humana tem pequenas variantes com o tipo de educação, instrução, civismo, mas não se altera

a carneirada vai atrás da moda; nos anos 50 era 'chiquérrimo' ser comuna. era necessário mostrar que se era 'pra frentex' ou era excluído.

por ser social-democrata consideravam-me 'lacaio do botas'

o socialismo distributivo dos empréstimos está de tal modo arreigado que este rectângulo tem fim à vista.

JNP é dos raros que merece ser lido. ainda não percebi porque se escrevem romances históricos e histéricos em vez de história

a diarreia editorial é enorme apesar da crise e da asfixia das editoras.

até eu já vou no 7º livro. ofereço os direitos de autor porque ao menos agradecem-me. os cinco que ainda gostava de publicar devem ter reduzido nicho de mercado: condição humana (1), droga (1) e morte química (3)

espero estar enganado sobre o futuro porque não sou pitonisa

Duarte Meira disse...


Leia com atenção, porque Jaime Nogueira Pinto conheceu e conhece muito dos bastidores, e há coisas que só se dizem em parábola de ficção. Veja também o que a jornalista Helena Sanches Osório escreveu e publicou pouco antes de falecer.

Quanto à estilística literária, basta que não esteja escrito em saramaga prosa e já é bom.

Maria disse...

Estava indecisa sobre se devia ou não comprar este livro. Nos tempos de horror que o país atravessa não me apetece nada ler romances pròpriamente ditos.
Este é diferente. Romanceado embora, relata factos verídicos passados em 75 (tema que presentemente me agrada acima de qualquer outro) e perante a opinião aqui expressa e em mais um ou dois Blogs credíveis, bem como a crítica positiva do mesmo, n'O Diabo, vou adquiri-lo decididamente.

Megaprocessos...quem os quer?