Nos anos sessenta a exposição americana ao mundo mediático atingiu o máximo esplendor com a saga das viagens espaciais.
O que os portugueses tinham realizado nos séculos XV e XVI, os americanos replicaram-no, eventualmente com menos dificuldades técnicas, com a corrida para colocar o primeiro homem na Lua, o que conseguiram em 1969.
Nos finais do séc. XV as imagens que se poderiam obter sobre as Descobertas eram desenhadas ou pintadas por artistas que as deixaram para a posteridade.
Em 1969 as revistas americanas tiveram a primazia de mostrar o acontecimento épico da conquista da Lua, como foi a Look nesse ano:
Com um desenho especial, de propósito para esse número, de Norman Rockwell, o artista do realismo fantástico do americano médio:
Perante estas realizações extraordinárias que colocaram os americanos na frente do avanço tecnológico, as mudanças sociais e políticas também ocorreram nessa década a um ritmo que não encontra paralelo nas anteriores.
E no entanto esse "modo de vida americano" encontra muitas reservas e até hostilidades por esse mundo fora, particularmente entre os europeus e portugueses da época que não perdoaram aos americanos a oposição sustentada em proclamações públicas, em fora internacionais, contra o nosso "colonialismo", alinhando pelos países do bloco asiático-africano, apoiados pelos soviéticos e comunistas em geral.
Esta foto extraída da edição comemorativa dos 60 anos da Life, em 1996 mostra o essencial do mal americano, para os críticos de ambos os lados. Em baixo, durante a depressão, enfileiram pretos desempregados, enquanto no cartaz da associação nacional das manufacturas se proclama a excelência do modelo americano.
Os críticos mais ácidos, aliás, são os que não aceitam essa putativa excelência pela mediocridade que exala...
...bem assinalada por este símbolo ( foto extraída da Look de 26 de Dezembro de 1969):
Não obstante, nós já fomos, no longínquo século XVI, o que esta foto mostra dos americanos ( foto da Life de 1986) e que mostra o Vasco da Gama deles, a desembarcar a Oriente...
Uma pequena história que congrega as qualidades e defeitos dos americanos conta-se em duas imagens:
A primeira é da Look de Agosto de 1970 e mostra um certo John De Lorean, engenheiro na General Motors e amplamente louvado pelas suas qualidades de técnico e empreendedor que foi capaz de relançar a empresa com a criação de um pequeno modelo de automóvel, (Chevrolet Vega, no caso), a par de outros, nessa época.
O indivíduo subiu tanto na vida empresarial que em 1980 inventou um novo conceito de carro que baptizou com o seu nome- De Lorean DMC-12- e no ano seguinte era uma estrela mediática, como mostra esta publicidade na revista Rolling Stone de 23 Julho de 1981.
No ano seguinte, por dificuldades financeiras por causa desse mesmo carro, De Lorean, que era um dos passageiros frequentes na ligação entre o Reino Unido e os Estados Unidos, no então Concorde, foi preso por tráfico de cocaína. Acabou a história de sucesso.
Os americanos têm destes empreendedores e foram capazes de fazer o melhor e o pior também. Custa-me a entender a hostilidade a tudo o que lhes diga respeito. Por vezes fico a pensar se não será por causa de nos terem livrado, na Segunda Guerra Mundial, de uma derrota às mãos de Hitler. Teria sido melhor, para nós, tal destino?
Quanto a nós, continuaríamos fiéis aos alemães, como hoje, mas...seria da mesma maneira?
De resto, já nos final dos anos sessenta a programação da nossa tv reflectia todo uma cultura popular com influência americana crescente...como se mostra por esta imagem da revista Flama de 19 de maio de 1967.
A culpa desta influência é de quem? Do vento? Ou da História?
29 comentários:
A nossa geração conhece essa diabolização dos americanos à vez. Da escardalhada aos ultra patriotas os tiques são iguais.
Há um fenómeno kitsch na americanização global.
O Dubai copia NY; os fanáticos da Alqaeda ou do El usam os mesmos gadgets para recordarem as purificações nacionalistas que andam a fazer.
O bloco anglo-saxónico é rico e desenvolvido,
com uma cultura de liberdade individual que não tem paralelo em nenhuma outra parte do mundo.
Diz-se que há milhares de alemães, suecos ou franceses a emigrar para Inglaterra ou para os EUA por causa das regulamentações e impostos da Europa Continental.
Veja-se o recente caso da Uber.
Os franceses invejam os ingleses e vão ter problemas económicos e sociais por terem um Estado Social desmesurado e um excesso de regulamentação, especialmente no mercado de trabalho.
Os ingleses e os americanos estudam minuciosamente o futuro e são mestres da antecipação.
É provável que saltem fora da UE para seguirem com o seu modelo liberal, para fugirem às regulamentações económicas e financeiras impostas por Bruxelas.
Prevê-se que num futuro próximo o Reino Unido seja o país mais rico e desenvolvido da Europa.
O modelo estatista francês influenciou as elites portuguesas. Para nossa desgraça. Copiámos os franceses, por exemplo, no Ensino... uma parvoíce que se tem pagado caro.
Fernando Pessoa teve outra influência, a anglo-saxónica.
A cultura portuguesa está mais próxima da cultura britânica. Falo, claro está, da cultura do povo.
Mas as elites embebedaram-se com a França. E há a Maçonaria francesa...
Passei a minha infância nos Estados Unidos, no Estado da Virginia. Trata-se inegavelmente de um grande País em todos os aspectos, mas é simultâneamente o grande Satã por detrás da Nova Ordem Mundial como ainda ontem abordei aqui:
http://historiamaximus.blogspot.pt/2015/05/a-segunda-guerra-mundial-as-nacoes-e-o.html
Essas teorias da conspiração não serão outra vertente do realismo fantástico?
Quanto à famigerada Nova Ordem Global. Não se trará apenas de um processo de globalização natural decorrente do desenvolvimento tecnológico?
Degradante mesmo é a colonização que tão passivamente estamos a sofrer há décadas da "cultura" brasuca, esta, por sua vez, gostosamente dominada pela "cultura" "amaricana", como já o foi da francesa.
«Degradante mesmo é a colonização que tão passivamente estamos a sofrer há décadas da "cultura" brasuca, esta, por sua vez, gostosamente dominada pela "cultura" "amaricana", como já o foi da francesa.»
Há uns anos vi um estudo sobre hierarquização de valores. Portugal era considerado um país ao nível da América Latina. Ora como aqui chegámos?
As novelas começaram por cá no final dos anos 70 e tiveram um impacto social brutal. Antes não havia Jéssicas e Déboras no nosso país...
Neste momento somos um dos maiores produtores do produto do mundo. Brasil, México, Argentina e Portugal. Muitos dos enredos da TVI e da SIC são cópias de telenovelas da América Latina.
Curiosamente, foram raras as telenovelas que vingaram no mercado Europeu e Americano. O público espanhol, francês, inglês, canadiano ou dos states parece aderir pouco à telenovela. Houve excepções, caso das novelas históricas da extinta Rede Manchete, Xica da Silva e Dona Beija.
E quem compra as nossas telenovelas e as telenovelas do outro lado do Atlântico? Qual é o seu público? Maioritariamente está em países pobres. E nos EUA, o público está nos imigrantes latinos.
Tem de se tirar daqui uma conclusão.
A aculturação que temos é sinal de que continuamos analfabetos, passados 40 anos depois de nos terem garantido que tal iria terminar porque achavam que era assim que estávamos.
Mas agora estamos pior, no entendimento geral sobre as coisas e o mundo.
Ou seja, analfabetizamos ainda mais, apesar de sabermos ler e escrever em maior número que dantes.
Os americanos influenciaram gostos e modas, mas não influenciaram no modo de produzir bens e serviços.
Os americanos influenciaram gostos e modas, mas não influenciaram no modo de produzir bens e serviços.
Eu digo: naturalmente. Porém, deve perguntar-se: porquê?
Os ingleses e os americanos estudam minuciosamente o futuro e são mestres da antecipação.
Eram; até ao início do séc. XX.
Hoje, são mestres apenas da antecipação da desgraça alheia, da qual são arautos e provedores. E da própria também.
Custa-me a entender a hostilidade a tudo o que lhes diga respeito.
Os EUA são a ruína de um projecto de país.
Pessoalmente, não tenho nenhuma hostilidade em relação aos americanos enquanto tais. Tenho em relação à causa que servem e da qual são escravos.
Os EUA são o oposto daquilo sobre o qual foram fundados. Deviam ocupar-se com a imensidão que lá têm, que chega e sobra para o efeito. Mas foram e são compelidos a imiscuírem-se nos assuntos de toda a gente, coisa para a qual não são de forma nenhuma dotados ou talentosos. E portanto calham-lhes as intervenções, nas mais das vezes, em prejuízo próprio e de terceiros.
Quem beneficia? Mais: quem beneficiou exclusivamente? Quem beneficia? Estas perguntas têm a mesma resposta singular.
Não é teoria da conspiração porque é factual. E pode ser demonstrado.
enquanto AOS metia a pesada herançao no BdP
De Gaule entesourava dólares
por cada milhão arrecadado em França lançava-se outro sem cobertura ouro
resultado a queda de 75$ para 25$ levou a França a sair da Nato e ao maio de 68
nos últimos 8 anos familiar nota os gringos mais pobres
mais famílias em caravanas
mais dentes podres
Quanto a cultura, bom, estamos na mesma. Esta cultura que conhecemos data dos anos vinte. Antes disso, era tudo muito diferente. Outra coisa que pode ser demonstrada.
O teatro, o cinema, a literatura, a imprensa, sofreram profundas alterações por volta dessa altura. Como ilustração para o bom entendedor é suficiente dizer que o fenómeno das "estrelas" (que nascem já como tais) como o hoje conhecemos, nasceu nessa altura, juntamente com o hoje ubíquo showbiz.
Ou seja, o que chamamos hoje em dia "cultura americana" era em larga medida tão alienígena à América como a nós. E ainda acaba por ser, e não deve ser fenómeno alheio às irrupções de desordem e violência que são hoje tão comuns por lá.
Portanto, para mim, essa colonização não foi nada benéfica. Nada se ganhou e muito se perdeu.
Os benefícios materiais são irrelevantes. Carros, máquinas e maquinetas, tudo fazem igual ou melhor os alemães, por exemplo. Ou os franceses. Ou os ingleses.
Mesmo a tal corrida ao espaço assentava num... alemão. De resto, o próprio motor a reacção é invenção alemã.
É preciso avançar mais para lhes encontrar mérito criador, no meu entender: na computação. Aí, sim, distinguiram-se. Muito embora não consigam afastar-se muito dos ingleses que com Babage, Ada Lovelace e Alan Turing ficaram para história dessa técnica.
É uma pena quanto a mim. É uma terra extraordinária de qualquer maneira.
Mas não lhes vaticino nada de bom. As fracturas que se apresentam naquela sociedade são profundas e insanáveis sem modificações igualmente profundas de consequências imprevisíveis para toda a gente.
"É uma pena quanto a mim. É uma terra extraordinária de qualquer maneira.
Mas não lhes vaticino nada de bom. As fracturas que se apresentam naquela sociedade são profundas e insanáveis sem modificações igualmente profundas de consequências imprevisíveis para toda a gente."
Subscrevo totalmente as palavras acima.
Não confundir o povo americano no seu todo com os sucessivos governos e respectivos governantes que ao longo das últimas décadas têm dirigido aquele país. Mas também é verdade que uma percentagem significativa das várias centenas de milhões que nele habitam, apoia incondicionalmente as políticas nele praticadas.
Prova cabal do que o americano médio pensa do regime em que vive, está na resposta pronta dada por um entrevistado, aqui há uns anos, numa rua de Nova Iorque: "isto não é uma democracia coisa nenhuma, nós vivemos sob um regime comunista".
Já para não falar do que pensam verdadeiramente os índios nativos, os negros, os hispânicos e os asiáticos, todos eles considerados americanos de gema por já lá terem nascido, bem como seus pais e avós e até bisavós. E estes em número de habitantes aproximam-se perigosamente, pela metade, da restante população branca. Se é que já não a ultrapassam. E contam para as estatísticas. Não será demais acrescentar que nestes grupos de cidadãos existem as excepções que confirmam a regra.
Tal como Vivendi, concordo totalmente com os comentários avisados de Muja.
A partir desta última imagem da programação televisiva de há 48 anos pude recuperar, por curiosidade, dois episódios de séries de TV que terão a curiosidade de serem precisamente as que foram então transmitidas:
Mrs. Thursday – transmitida no Domingo (https://www.youtube.com/watch?v=S66HyBWZ8bM)
Os Vingadores- transmitida na 2ª Feira (https://www.youtube.com/watch?v=ybqULpQAy9c)
Foi uma boa oportunidade (que aqui deixo) de julgarmos por nós próprios como eram os serões televisivos em Portugal em Maio de 1967.
Estive a ver o episódios dos Vingadores. Fascinante...
Em 1967 ainda nem tinha televisão em casa.
A capa da Look (sobre a “conquista” da Lua) impressiona pela qualidade da edição de imagem. Como era possível, à época, pegar nas fotos “originais”, inevitavelmente, de péssima qualidade e fazer uma capa destas.
Essa foto, de uma resolução espantosa sempre me impressionou.
Em finais de 1969 comprei um almanaque das Seleções ( edição brasileira) que tem na capa essa foto. Custou-me 99$00 o que era muito caro para a época.
Ainda o tenho. Ver aqui
http://lojadeesquina.blogspot.pt/2007/09/seleces.html
Para além disto há um livro de Norman Mailer sobre este assunto dos astronautas.
Impecável e com fotos fantásticas que foi editado recentemente pela Taschen.
E afinal reparo agora que a foto do almanaque não é a mesma. Mas é da mesma série e a resolução é na mesma impressionante.
Nem sei como é que fizeram para tirar estas fotos mas julgo que foi com uma Hasselblad porque na época foi comentado e apresentado em publicidade.
E por falar nisto googlei e encontrei isto
Sim, usaram três máquinas Hasselblad 500EL, modificadas, com lentes Carl Zeiss 5.6/60 mm e filme Kodak.
A foto do almanaque é muito menos conseguida e pior trabalhada. A luminosidade é outra; o pé do módulo foi exageradamente colorido do lado da sombra por oposição ao Edwin, que ficou muito cinzentão (parece demasiado sujo pela poeira lunar).
Aquelas pegadas todas, em volta do pé do módulo lunar, também não ajudam nada o conjunto, parece que andaram por ali a dançar.
A imagem da Look está muito bem trabalhada, mais luminosa (no seu conjunto) com o solo lunar a parecer menos cinzentão, o pormenor do reflexo de Armstrong no capacete de E. Aldrin (apesar do Sol quase nas costas deste) a nitidez da bandeira cozida no fato e os pormenores dele, dão um tom colorido e luminoso(quase “feliz”) a um mundo cinzento (a Lua) que por não ter atmosfera é banhado pela intensa luz verde fluorescente do nosso Sol. Esta imagem é uma obra de arte.
Obrigado pelos links.
Há mais imagens bem trabalhadas, mas nenhuma com a imponência da capa da Look.
Enviar um comentário