segunda-feira, julho 06, 2015

40 anos de confusão em Portugal e um novo odor a prec

Há quarenta anos vivia-se em Portugal um clima social em que alguns achavam que "tudo era possível".
Em Julho de 1975 aproximava-se o "Verão Quente" de assalto ao poder político, depois de já se ter assaltado o económico com políticas inequivocamente avessas às que se praticavam na Europa ocidental.
As nacionalizações ocorridas desde Março de 1975 e ainda em curso permitiam às forças de esquerda, em Portugal, assegurar que poderíamos estar a caminho do socialismo.

Esta palavra tinha um significado diverso para a esquerda comunista ( PCP e extrema-esquerda) e para a esquerda socialista democrática ( PS e algum PPD), como então se passou a chamar.
Integrando o vasto leque das extremas esquerdistas estavam os comunistas trotskistas, disseminados em partidozecos que nas eleições de Abril desse ano obtiveram uma votação irrisória mas faziam mais barulho mediático que alguns partidos com representação mais sólida na Constituinte que se seguiu, até 1976, como o CDS.

Esse fenómeno de syrização avant la lettre da vida portuguesa atingiu uma boa parte da imprensa escrita e tinha muitos representantes nos rádios e na RTP de então.
O ambiente em Portugal, nos idos de 1975 era de aversão ao capitalismo português que era associado ao "fascismo" do regime anterior, sem mais aquelas. Com isso e outras aventuras garantiu-se uma bancarrota dois anos depois e os responsáveis continuam por aí, a enganar as pessoas outra vez, com uma linguagem diferente na formulação mas idêntica nos propósitos.

Em 28 de Setembro de 1974 tinham sido presos "numerosos fascistas" cujos crimes, de resto, nunca lhes foram imputados porque inexistentes.
Não obstante, mantiveram-se presos tais "fascistas" por longos meses que só terminaram, em alguns casos em Novembro de 1975, com a derrota dos adeptos do "e tudo era possível".

Nessa altura, o vento levou-lhes quase todas as veleidades de instauração de um regime pró-soviético em Portugal ou pelo menos um regime de natureza socialista como pretende agora o Syriza e outras forças semelhantes de uma esquerda que nunca desapareceu do mapa.
Essa Esquerda, incluindo a pró-soviética que vive de memórias, tem assento permanente nos quatro canais televisivos da actualidade comentadorista nacional.

 Em 4 de Novembro de 1974, no meio da confusão sobre o que iria ser o destino de Portugal, vinham cá jornalistas estrangeiros ver a realidade que era quase tão complexa como a da Grécia de hoje.

Quem se limitasse a seguir os acontecimentos pelos media tradicionais da época- imprensa, rádio e televisão única- tinha grandes dificuldades em destrinçar qualquer trigo de um joio avassalador e uniformizante, quase como hoje no que se refere à análise do problema grego.
A perspectiva esquerdista era dominante, predominante e avassaladora. Qualquer opinião ou análise fora desse esquema mental era logo apodada de fascista ou reaccionária e sem crédito algum a não ser para uma minoria clandestina que provavelmente seria inferior à dos comunistas da clandestinidade anterior...

Tal situação conduziu a uma quase legitimação do PREC que só terminou com a ameaça séria de uma guerra civil que se desvaneceu em Novembro de 1975, fruto do nosso proverbial bom senso nos momentos de aperto.

Assim para se compreender o que então se passava em Portugal era necessário ler notícias e opiniões estrangeiras porque o que se informava por cá estava completamente poluído pelo preconceito esquerdizante mais retinto.
Ainda assim, para se entender verdadeiramente a dimensão do problema, certos órgãos de informação estrangeiros. afectos a uma esquerda moderada, ou "socialista democrática" faziam o jogo do esquerdismo radical, como se comprova com este longo artigo do jornalista Jean Daniel, director do Le Nouvel Obsevateur ( ainda hoje o é) e conhecido de Mário Soares.
É ler o artigo de 4 de Novembro de 1974 para compreender como era difícil distinguir o trigo do joio nesse tempo:




Tal como hoje a ideia básica de Soares e ses amis era a "liberdade" como leit-motiv. O resto logo se veria. E viu dali a dois anos, com a bancarrota e dali a dez com a sua repetição. Os motivos, sensivelmente os mesmos: aposta falhada no socialismo de esquerda para gerir a economia estatizada, a que se acrescenta uma fé cega num keynesianismo de oportunidade.

Esta situação, acompanhada do matraquear ideológico da esquerda comunista, incluindo a trotskista, criou o caldo de cultura em que nos encontramos: um partido socialista preso a uma ideologia caduca e um esquerdismo que se disfarça  de democrático para se tornar alternativa, como é o caso do Syriza e por cá do BE  e forças adjacentes, incluindo os Libre e partidos mirabolantes dos marinhos amalucados.

E no entanto, o resultado é o que se vê na Grécia e se verá fatalmente por cá se foram trilhados os mesmos caminhos de há 40 anos.

A prova?

Entre Abril de 1974 e pelo menos Novembro de 1975, o comunismo pró-soviético soçobrou em Portugal, mas não desapareceu a esquerda comunista derivativa, aquilo que os ortodoxos chamam de doentes infantis do comunismo, ou seja, os esquerdistas radicais da extrema-esquerda e ainda os comunistas que enganam melhor os papalvos: os trotskistas e adeptos de outras mistelas ideológicas que se opuseram ao estalinismo mas não ao marxismo comunista.

O grande papa laico desta religião de catacumba ideológica é Francisco Louçã e num momento de distracção, há cerca de dez anos, assim proclamou numa entrevista:

Dizia  assim Louçã, sobre a essência ideológica do BE, depois da pergunta "Em que é que o BE acredita?":
"Numa esquerda socialista. (...) Para nós o socialismo é a rejeição de um modelo assente na desigualdade social e na exploração, e é ao mesmo tempo uma rejeição do que foi o modelo da União Soviética ou é o modelo da China. Não podemos aceitar que um projecto socialista seja menos democrático que a "democracia burguesa" ou rejeite o sistema pluripartidário. Não pode haver socialismo com um partido político único, não pode haver socialismo com uma polícia política, não pode haver socialismo com censura. O que se passa na China, desse ponto de vista, é assustador para a esquerda. (...) Agora, a "esquerda socialista" refere-se mais à história da confrontação, ou de alternativa ao capitalismo existente. Por isso o socialismo é, para nós, uma contra-afirmação de um projecto distinto. Mas, nesse sentido, só pode ser uma estrutura democrática."


O que dizia Louçã em 2005 a este propósito? Isto:
"O BE é um movimento socialista ( diferenciado da noção social-democrata, entenda-se -nota minha) e desse ponto de vista pretende uma revolução profunda na sociedade portuguesa. O socialismo é uma crítica profunda que pretende substituir o capitalismo por uma forma de democracia social. A diferença é que o socialismo foi visto, por causa da experiência soviética, como a estatização de todas as relações sociais. E isso é inaceitável. Uma é que os meios de produção fundamentais e de regulação da vida económica sejam democratizados ( atenção que o termo não tem equivalente semântico no ocidente e significa colectivização-nota minha) em igualdade de oportunidade pelas pessoas. Outra é que a arte, a cultura e as escolhas de vida possam ser impostas por um Estado ( é esta a denúncia mais grave contra as posições ideológicas do PCP). (...) É preciso partir muita pedra e em Portugal é difícil. Custa mas temos de o fazer com convicção."

Quem quiser que os compre, mas há muitos que ainda os escutam e lhes dão importância. A Lourença da SIC-N e  outros agentes dessa esquerda syrízica lá vão fazendo o seu trabalhinho de formiguinhas diárias e o patrão Balsemão enche os bolsos, depois de ir a Bilderberg ouvir falar destas aventuras
Que porca miseria!

2 comentários:

zazie disse...

Ora bem. O cainesianismo para embrulhar e o comunismo atrelado.

Floribundus disse...

para mim os boxexas do ps são mais perigosos

ganham eleições, esbajam o dinheiro dos outros

há corrupção, mas não existem corruptos

o centro e a direita, tal como as esquerdas, estão apenas interessados em governar-se

caviar:
'hai fatto la resistenza tua !'
és um anti-fascista profissional

O Público activista e relapso