sexta-feira, julho 17, 2015

Sousa Tavares, mais um chico-esperto?

Há cerca de quinze dias o jornal Sol ( Sílvia Caneco) baseado em documentos do Banco de Portugal,  publicou uma notícia com chamada na manchete sobre investidores no GES, particularizando duas formas de investimento: em " papel comercial" da Espírito Santo International ( ESI)  e em "unidades de participação" do fundo Espírito Santo Liquidez ( ESL).
O jornal relacionou claramente a ligação destas entidades ao Grupo Espírito Santo ( GES). Vários investidores que foram contactados ( Almerindo Marques, Vera Jardim, Maria João Avilez) falaram e mencionaram essa distinção, particularmente Almerindo Marques que separou a sua qualidade de cliente do BES de um eventual investimento no ESL.

Miguel Sousa Tavares leu a notícia, replicada no Correio da Manhã e desmentiu tudo. Tudo? Bem, desmentiu ter investido fosse o que fosse " nas ESI ou no GES(não percebi bem)". Sabendo perfeitamente que havia a outra sigla, omitiu a sua designação, o que faz lembrar os desmentidos de José Sócrates, eivados de chico-espertice a rodos. Porém, reafirmou na curta declaração de desmentido que " Nunca investi nem 2 milhões de euros, nem 2 euros sequer, em qualquer produto ou empresa do universo BES ou GES".

Esta última afirmação não é verdadeira, segundo o jornal Sol de hoje e sendo tal um facto torna-se muito difícil justificar aquele desmentido.




Conforme agora se explica, o "dr. Miguel Andresen Sousa Tavares" investiu efectivamente os 2 milhões de euros em unidades de participação do fundo ESL.
E como justifica a discrepância e o troca-tintismo? Simples: como tinha dado instruções genéricas à "gestora de conta" para "jamais comprarem produtos do próprio banco ou de empresas a ele associadas" ficou descansado e assim desmentiu o que desmentiu, mesmo depois de lhe terem sido mostrados os documentos comprovativos que o desmentiam e aconselhavam outra prudência.
 Poderia dar-se o caso de o indivíduo nunca mais ter visto pela frente qualquer designação documental ao seu investimento ( 2 milhões de euros, que evidentemente não são trocos para esquecer no fundo de uma conta qualquer) mas nem é isso que acontece: "Sei que havia vários produtos ou gestões de carteira no BES cuja designação começava por ES, mas, quando via no meu extracto de conta dinheiro meu aí colocado e perguntava o que era, responderam-se sempre que a designação não tinha nada a ver com empresas do grupo-eram assim designadas por se tratarem de carteiras de gestão montadas pelo banco e nada mais".

Esta explicação convence quem quer ficar convencido, mas há uma coisa que não convence: MST tinha dinheiro, e muito, empatado no BES/GES. E desmentiu tal facto...
E outra ainda: justifica-se com uma confiança cega  na explicação singela de quem lhe geria a conta e não se interrogou, depois da notícia publicada, sobre factos de que não podia nem devia desconhecer. 

Porque o fez? Aparentemente, segundo o jornal, esse investimento não está em risco ( esse investimento, não tendo sido trocado por papel comercial da ESI não o transforma em lesado do BES) mas solicita outro pedido de esclarecimento: tendo em conta o que sucedeu durante os anos de 2012 a 2014 ninguém lhe falou nisso e na possibilidade de poder vir a perder os dois milhões? Foi assunto que nunca falou com ninguém, deixando correr o marfim dos 2 milhões empatados?

É pergunta para a qual já se adivinha uma resposta mas confirmará o que penso do indivíduo...

De resto, a credibilidade deste indivíduo, uma espécie de enfant-terrible de uma certa esquerda syrizica, aproxima-se de um nadir, aliás bem merecido, desde sempre. É ler os comentários no sítio do Observador. Um dos mais sucintos diz assim: "Ou sabia e esta a mentir, ou não sabia e é um idiota chapado".  MST não é um idiota chapado, mas apenas quando tal lhe convém.
Por outro lado, o jornalismo do SOL ( Sílvia Caneco) deixa a desejar algumas coisas:

Em primeiro lugar, uma notícia destas careceria logo de melhores explicações. Ao escrever-se inicialmente que havia investimentos diversificados na lista que o BdP tinha e que "o jornal obteve" ( em eventual violação de sigilo bancário) deveria ter-se explicado o que agora se explica: que os investimentos no ESL eram efectivamente parte dos investimentos no grupo GES, particularmente depois de 2012 e com incidências tais que são um dos indícios das falcatruas que ocorreram no GES/BES ( maiores que as que ocorreram no BPN que agora está relegado para o olvido conveniente destes comentadores de pacotilha).
Depois disso procurar insistentemente junto dos visados a confirmação dos factos o que aparentemente não se fez com o cuidado e rigor exigidos.
Finalmente, deixar passar quinze dias a marinar nestes assuntos que envolvem a honra das pessoas, sem que se tivesse o cuidado de pronta e imediatamente apurar o que se passou. Ou seja, " toda a verdade" que agora aparece exposta.

Continuo por isso a dizer que isto não é jornalismo que se recomende.

Aditamento em 18.7.2015:

MST confirma hoje no CM que afinal teve mesmo os dois milhões no ESL. Justificação para o troca-tintismo de chico-esperto? Julgava que eram depósitos à ordem...

E é esta luminária que nem sequer assume a ignorância crassa a respeito dos dinheiros que confiou a um banco gerido por um compadre que anda por aí a dar palpites sobre tudo e um par de botas, a desfazer em quem lhe apetece, a dizer asneiras jurídicas que já nem têm conta e coisas assim.

Lamentável e triste. Só mostra o grau de decadência moral a que chegamos no jornalismo que o acolhe como comentador encartado em...nada. Outro Artur Baptista da Silva cujas credenciais são o passado de figura do meio e pouco mais.

Questuber! Mais um escândalo!