quinta-feira, julho 23, 2015

O cerne da questão actual da corrupção em Portugal

Este artigo da revista Sábado de hoje coloca em equação, particularmente na pequena crónica de Eduardo Dâmaso, a essência do que nos consome: por um lado, o problema gigante da corrupção latente e por outro as manobras de diversão dos diversos apaniguados deste sistema que mina a democracia e qualquer regime, aliás, porque redunda num exercício de latrocínio encapotado numa legitimidade política sem fundamento. A par disso e para ajudar a essa missa negra seguir-se-ão os pareceres dos causídicos catedráticos de Coimbra, triste e lamentavelmente. A acolitar os mesmos estão os advogados de sempre, com os argumentos de sempre e o dinheiro a tilintar nos bolsos que é isso que interessa e o resto são tretas.
A denúncia deste ilegitimidade criminosa encontra resistências em vários sectores, sendo por isso mais uma vez lamentável que um político como Rui Rio que sabe perfeitamente que assim é e provavelmente não pertence a esta canalha de corruptos encartados há dezenas de anos, diga o que anda a dizer sobre o sistema de justiça.
Em Portugal, o sistema de justiça tem um problema agora que é o de sempre: a maior parte dos media faz tudo o que é possível para o desacreditar. Os jornalistas que assim procedem são paus-mandados desse sistema corrupto e muitos deles provavelmente nem se dão conta disso. Diário de Notícias, Público, i, Expresso e televisões e rádios por inteiro ( RTP, SIC e TVI, RR e RCP e Antea Um) que são os media mais poderosos,  estão ao serviço da ocultação dessa realidade, mostrando uma outra, paralela e que é consentânea com os desígnios de quem manda nesses media. Basta ver quem são os verdadeiros donos desse negócio que se transforma em instrumento de resistência política de um sistema corrupto. E basta ver as reacções indignadas pelas violações do segredo de justiça que os mesmos aproveitam por serem os seus principais beneficiários, interna e secretamente.
Entre todos, o grupo do Correio da Manhã faz figura de astérix cercado de romanos...o que não deixa de ser notável porque é afinal o grupo com maior sucesso editorial. Os restantes vivem de subsídios de quem os sustenta para fazerem o que fazem, incluindo as tv´s do senhor Francisquinho e a dos paus-mandados que estão nas outras.
Liberdade de informação em Portugal, neste contexto? Vou arriscar: havia maior liberdade antes de 25 de Abril de 1974, para se noticiarem estas coisas que não aconteciam. Se acontecessem, não haveria censura como hoje existe. Não se daria o espavento de notíciáris em "rua segura" mas havia a notícia exacta, com os factos exactos e sem paleios de enganar papalvos.

O PS, o PSD e o CDS não têm interesse algum em mudar tal estado de coisas porque têm no seu seio os ovos das serpentes, com os nomes que são conhecidos e citados como suspeitos. Os directórios partidários contam com eles e não podem prescindir dos seus serviços que juntam o útil ao agradável: ganhar ( muitíssimo) dinheiro por fora e fazer política para o bem comum. Uma coisa tapa a outra e só quando surge o escândalo evidente as coisas se tornam notórias e se resolvem com afastamentos temporários ou recuos tácticos em empresas amigas.
Este nível de corrupção é o mais deletério porque o mais indetectável e pindérico. Um Relvas provavelmente não tem pecha criminal passível de prova admissível segundo os cânones de Coimbra e os pareceres dos seus professores, particularmente quanto a escutas, coisa horrível e com laivos de tortura antiga. Um Marco António idem aspas. Um Jorge Coelho se calhar também. E um Portas anda a fugir entre os pingos da chuva e a rezar para que tudo se componha, mudando-se algumas coisas para tudo ficar na mesma.
Quanto ao núcleo duro da corrupção em Portugal na última dúzia de anos,  e que surgindo desse meio perdeu o controlo pelo fascínio do dinheiro aos milhões, está aqui escarrapachada e para quem souber ler. Tem aí uma figura de peso...que é o principal pivot desta desgraça nacional. Um comissário e comissionista privado com muito que contar, se algum dia tiver oportunidade e vontade. Se lhe permitissem uma "delação premiada", ou seja um estatuto de arrependido que não existe enquanto tal ( os professores de Coimbra acham um horror...porque perderiam muito dinheiro com isso)  Portugal transformar-se-ia num instante noutra coisa. Mais limpa, parece-me.

Se alguma vez isto for equacionado em termos de justiça, o que duvido ( embora esteja optimista porque já se foi mais longe do que julguei possível algum dia...) Portugal poderá tornar-se um país mais decente. Assim, pouca diferença faz de Angola, a não ser na violência que ainda não é manifesta.


1 comentário:

Floribundus disse...

'o cherne da questão'

Sigamos, pois, o cherne, antes que venha,
Já morto, boiar ao lume de água,
Nos olhos rasos de água,
Quando, mentido o cherne a vida inteira,
Não somos mais que solidão e mágoa...

Alexandre O’Neill

O Público activista e relapso