segunda-feira, março 28, 2016

O código zip: como é que isto foi possível?

Um dos motivos porque escrevo neste blog, em público, é o de saber a razão profunda de terem existido tantos comunistas que lutaram contra o regime de Salazar enquanto propunham e acreditavam num regime cuja natureza era infinitamente mais perversa para a população do que jamais o de Salazar o fora. Censura no regime de Salazar e Caetano? Os regimes de Leste tinham disso em decuplicado. Repressão policial e política, da PIDE? Os regimes de Leste tinham isso em centuplicado, com assassínios necessários e gulags convenientes durante décadas. Ausência de liberdades individuais? Os regimes de Leste tinham disso em permanência e refinamento inimagináveis. Ausência de desenvolvimento económico? Os regimes de Leste caíram talvez por causa disso...

Em suma: qualquer um dos defeitos graves apontados ao regime anterior a 25 de Abril de 1974 tinha o respectivo contraponto, de uma  evidência gritante, nos regimes de Leste que os comunistas de cá pretendiam imitar, propagandeavam clandestinamente e por isso eram presos, julgados e condenados perante a legalidade vigente.

Por isso mesmo uma interrogação se agiganta: porquê?!

Em 1969, já em plena Primavera marcelista, o regime apresentava uma abertura aos tempos novos que não era apenas de fachada.

A expansão da televisão, no final dos anos sessenta do séc. XX tinha conferido uma visibilidade a certos fenómenos que iriam condicionar o futuro do país. Em 1960 haveria cerca de 30 mil aparelhos de tv no país, mas dez anos depois já seriam quase 400 mil.

Em 24 de Maio de 1969 a tv apresentou um programa orientado por Raul Solnado, Fialho Gouveia e Carlos Cruz, chamado Zip Zip, gravado num teatro com público anódino e que aparecia e entrava até lotar a sala.

Em 18 de Julho de 1969 o programa era um sucesso retumbante e tinha a participação de vários músicos e artistas "progressistas", leia-se comunistas.

A Flama dessa semana trazia um artigo desenvolvido sobre o mesmo, com duas páginas em que aparecia um certo José Jorge Letria, na qualidade de segundanista de Direito, cantor e compositor de baladas e antigo colaborador do Diário de Lisboa que dizia assim:


Esse mesmíssimo número dessa revista de grande divulgação e que então pertencia ao Patriarcado, publicou quatro páginas de um artigo da revista italiana Epoca, sobre o...comunismo na URSS.


Aquele José Jorge Letria, então um jovem de 18 anos já era suficientemente adulto e esclarecido para ler o artigo da Epoca e será difícil acreditar que não o viu, então.

Porém, em 2013 explicava no livro E tudo era possível, esse tempo...


E nem a viagem a esses países, anos depois, desfez a ilusão ou esclareceu melhor a utopia. Anos depois, uma boa parte destas pessoas integraram o PS ou votam no PS, e continuam de "esquerda"...


Como é que isto foi possível? Não sabiam? Continuam sem saber? São como os alemães em relação ao nazismo, em permanente estado de negação, por causa da ideia "völkisch"?

É um mistério dos grandes porque só se entende pela ideia de que pode haver razões que a razão desconhece.

Por outro lado, aquele programa de tv na "primavera marcelista" incluía nomes de artistas exclusivamente de uma esquerda que era comunista e socialista e assim continuou a ser depois de 25 de Abril de 1974.

Basta ver o elenco dos que gravaram o disco Zip Zip, em Setembro de 1969 para perceber claramente tal fenómeno:



José Barata Moura, J.C. Ary dos Santos, Padre Fanhais, pelo menos. Os demais, compagnons de route que fizeram la route ensemble.
Em 1969 a elite cultural era de esquerda comunista apesar de o regime ser anti-comunista por princípio declarado sempre pelo presidente do Conselho de então, Marcelo Caetano.
A mensagem cultural comunista era veiculada por aqueles artistas sem qualquer rebuço a não ser a escolha das palavras certas para iludir a Censura de então.
Tal artifício era improvável nos países comunistas de então que não permitiam a mínima abertura política ou ideológica ae quem se atrevia a afrontar o sistema, mesmo em tom crítico moderado. Tais personagens eram afastadas, presas, eliminadas, no limite. O hospital psiquiátrico era uma paragem para a impossível reeducação dos transviados que naturalmente só podiam ser doidos ao contrariarem o ideário comunista da perfeição utópica.
Por cá, presas seriam se se atrevessem à propaganda das ideias comunistas em modo proibido por lei. Eram "subversivos". E com toda a razão, mas não em gulags ou com penas indeterminadas para além de certo tempo. A legalidade vigente não se comparava em crueldade ou rigor à dos países de Leste e essas pessoas sabiam ou deviam sabê-lo muito bem. Mas não ligavam a tal coisa o que se revela estranho e incompreensível.

Marcello Caetano explicava oportunamente o que era o comunismo e o que significava tal eventualidade para a liberdade das pessoas num livro de propaganda do regime, editado pelo Governo de então e que recolhia o pensamento essencial e os tópicos da acção governativa.
Em Junho de 1972 explicava em discurso publicado nesse livro - Governo de Marcello Caetano, quarto ano de actividade- tais noções:







  Aparentemente ninguém ligava a isto e aqueles que tentavam fazer a Revolução, nos grupelhos de extrema-esquerda, com gente que agora se pronuncia nas tv´s como democratas de sempre, ainda menos ligavam.

Neste ambiente mediático  e cultural, dominado por uma elite de esquerda, a mudança política era uma questão de tempo e Marcello Caetano não teve o tempo suficiente para a fazer- e queria fazer- porque a guerra no Ultramar o impediu e ao mesmo tempo o precipitou.
O que é que Marcello Caetando dizia desta guerra? Era muito claro no discurso que não era o da esquerda, de modo algum. A linguagem é a que conheço e reconheço para falar no problema e deveria ser lembrada aos esquecidos e ensinada aos que nunca a conheceram:


E como era encarado este problema no tempo de Salazar? Aparentemente, do mesmo modo, ou seja, resistir até morrer em declaração pública para inglês ver. No entanto, segundo o relato de um insuspeito Kaulza de Arraiga, no livro de Jaime Nogueira Pinto, Salazar visto pelos seus próximos, de 1993 e agora reeditado ( Bertrand Editora) cuja leitura aconselho vivamente, o assunto não era assim tão linear:





E qual era a solução da Direita portuguesa para esse problema? Maior integração com o Ultramar e uma emigração maciça de colonos brancos para povoar as terras africanas.

Alguém acredita que esta solução daria bons resultados? Para quem acredita basta ver o que aconteceu na África do Sul...e Portugal apesar de não ter boers não seria diferente, no contexto dos "ventos da História".



 É nesta intersecção que se cruza o código Zip. É esta a nossa essência como Nação: o que aconteceu nos últimos 50 anos deveria ser melhor estudado e a Esquerda portuguesa não devia ser a mestre-escola, como tem sido de há 40 anos a esta parte.
É uma péssima professora...

130 comentários:

Luís Bonifácio disse...

Não há nada de anormal nessa dicotomia!

Quando se é Anti-democrático numa ditadura, mas, se não está na carreira de poder dessa mesma ditadura, opta-se por uma outra ditadura, que aparece como contraponto a essa, usando uma pele de cordeiro.

Os comunistas queriam derrubar Salazar, não por discordarem dele, mas sim porque ele os impedia de serem eles a mandar!

josé disse...

Mas não é esse o raciocínio. Quando se é contra uma ditadura não pode defender-se outra. Ora o que esses indivíduos defendem é algo que não entendem como ditadura apesar de todas as evidências o mostrarem.

É esse o fenómen, porque essas pessoas não são estúpidas ou mentecaptas.

Floribundus disse...

a única finalidade de todos os comunas que conheci

fui amigo de alguns

era pertencerem à nomenclatura, a 'nova classe de Milovan Djillas'

ou seja mandarem e beneficiarem da explotraçõ do povo

'os fins justificam oa meios'

o zip-zip era realizado por Luís Andrade, um dos homens do Patriarcado

em 58-59 vivi em Roma na Viale Ippocrate 58 num quarto donde sairae que me foi recomendado pelo Reitor da Igreja de Santo António dos Portugueses por o governo me ter recusado um dos 6 quartos sem clientela por a minha bolsa ser italiana

aguerreiro disse...

Os apaniguados da marreta e da foicinha, lacaios do Barreirinhas do Cunhal tem uma característica que os define: Pegam sempre na parte mais limpa dos cagalhões!

zazie disse...

Também penso nisso e mesmo de modo mais abrangente incluindo a tendência de tudo quanto é esquerda preferir sempre o mal estranho ao bem possível entre os seus.

Creio que deriva desse fenómeno de recusa do Nosso que trocam pelo "Outro".

Colocando sempre no "Outro" a imagem do excluído interno- logo o perigo vem da Ordem, Há que ficar do lado da desordem.

Por sentimentalismo, até. Ainda que consigam facilmente mandar todos os sentimentos às urtigas na própria hierarquia de controle partidário interno.

A esquerda acha que está sempre excluída de tudo por maldade de quem detém a ordem e faz funcionar as coisas dentro do sensato.
Eles desejam o insensato, portanto, todo o funcionamento ordenado é inimigo a abater.

zazie disse...

O Floribundus resumiu bem- pertencer à nomenclatura. O resto é carne para canhão. Eles negam o humano em prol do instrumental.

Lura do Grilo disse...

Eu continuo a dizer: é uma psicopatia.

JC disse...

Como já aqui disseram, o que os comunistas queriam e querem é chegar ao poder, pertencer à nomenclatura - até porque se acham, por direito próprio, superiores, e por isso têm de ser eles a mandar.
São os porcos do George Orwell.

Salazar perseguiu-os - porque bem sabia o que acontecia logo que chegassem ao poder (como se viu após o 25-4) - e era demasiado inteligente - e logo ele, um pacóvio que vinha da província!
Por isso, têm ainda hoje um ódio de morte a esse nosso grande Estadista.

parrana disse...

Oh José! isso nem parece seu. Na óptica comunista o problema tem de ser visto no contexto da luta de classes. E, ao que sei, nem o pc nem as demais forças de esquerda renegaram o conceito.
Já agora, aproveito para manifestar a minha pena, por ter deixado escapar um muito esclarecedor artigo de Cristina ferreira sobre o negócio do Finibanco, que saiu no Público da semana passada. Tem pano para mangas e vinha a calhar para as
suas observações.

Floribundus disse...

o entertainer aprovou o OGE

Cavaleiro de Oliveira
voltaria a chamar a isto
'FREMOSA ESTREVARIA'

''acta est fabula,
plaudite!''

josé disse...

Finibanco by Cristina Ferreira...tenho por aí o artigo que tem várias páginas. Do que li parece-me insuficiente para a parangona de primeira página.

O Público e a Cristina Ferreira não conseguiram ver a trave que se lhes colocou durante o consulado de Sócrates. O caso bijan, por exemplo nunca lhes interessou. O assunto PT/VIVO/Oi, também não. O caso BCP/GES/Berardo/Vara, idem aspas.

Vem agora o caso Finibanco por causa de uns novo-ricos do Norte...

Sinceramente não me apetece comentar, porque já tenho preconceito contra o Público.

josé disse...

O Público tornou-se um jornal trash, enviesado politicamente. Se o Finibanco envolvesse aquela canalha acima referida nem lhe tocavam sequer.

zazie disse...

Ah, o José deixou mais recortes. Boa

josé disse...

E continuo a aperfeiçoar o texto para expor melhor a ideia.

Unknown disse...

E o discurso continua a dar e a dar. Há dias, folheando uma porcaria que saiu recentemente, "Heróis e Vilões da História de Portugal", fui logo ao vilão Salazar. Fiquei a saber que tinha "uma vida sexual promíscua". Pregava virtudes e, por fora, era um verdadeiro devorador de mulheres, inclusive casadas. É esta merda que se edita por aí. Trabalhos rigorosos, está quieto, que a teta do anti-fassismo ainda tem muito para dar.

Floribundus disse...

ainda bolsam 'verdades' os bispos matins e já-nu-ário

havia o felicidade e outros

os 'peixinhos encarnados na pia da água benta'
andavam na capela do rato

a ventania continua mas mudou de quadrante

'a luta continua'

Terry Malloy disse...

"Já tenho preconceito contra o Público."

Os preconceitos têm uma reputação imerecida, alguns são bem devidos...

Josephvs disse...

Oh Jose e o outro Jose nao conta ?? (McCarthy)

http://assets.noisey.com/content-images/contentimage/46595/redchannels.jpg

josé disse...

O MacCarhysmo foi uma reacção de defesa contra uma subversão em curso na sociedade americana.

Os ingleses não foram tão explícitos mas foram eficazes na mesma. Não há partido comunista na Inglaterra porque as pessoas sabem o que era o comunismo.

contra-baixo disse...

Pela mesma ordem de ideias não havia a ICAR; os massacres de comunidades indígenas, o apoio ao esclavagismos, a inquisição, os autos de fé, a pedofilia generalizada, uma moral atrofiada, etc seriam suficientes para não existir, porque as pessoas sabem o que foi o catolicismo quando no exercício do seu poder terreno.
Pode parecer provocação, mas não é, respeito a fé pretende é demonstrar que as manifestações da razão não são de uma forma tão linear como se pretende que sejam.

Unknown disse...

Os massacres de comunidades indígenas não foram responsabilidade da Igreja, que foi a única instituição preocupada com os ditos. A Inquisição e os autos-de-fé não tiveram a dimensão que se lhes pretende atribuir. De resto, morreram menos pessoas às mãos da Inquisição em 300 anos do que num mês de generosidade fraterna pós-revolução francesa - fora o facto dos detidos terem muito mais garantias nos tribunais inquisitoriais do que nos civis, etc, etc. A pedofilia não é generalizada, mas sim uma excepção. Será sempre uma excepção, a não ser que os heréticos que por estes dias tomaram conta da Igreja venham a ser tão compreensivos com os pedófilos como são com os larilas, mas aí já não se poderá falar de Igreja. A moral atrofiada é um conceito curioso. O que será, então, uma moral não atrofiada? a que permite "casamentos" de rabichas, adopção rabicha, aborto à discrição, "direitos" dos animais, solidariedade com a mãe-terra e paganices afins? o apoio ao esclavagismo não teve a dimensão que se supõe. Desde o início. O catolicismo fez, em boa medida, a Europa. Se esta, hoje, é a miséria que é, deve-o ao abandono daquele

zazie disse...

O Hamsun disse tudo o que havia a dizer.

contra-baixo disse...

Em negação, portanto.
Podia por-me para aqui a falar de uma série de acontecimentos pouco recomendáveis ou poderia citar múltiplos exemplos do seu processo histórico em que a ICAR reviu a sua posição, adoptando a inversa aquela que defendia, como poucos o fazem, reconheço, e ao ponto de séculos depois reconhecer o erro e pedir perdão.
A propósito, há tempos li sobre o julgamento do Giordano Bruno, um dos maiores intelectuais da humanidade, queimado pela Inquisição por defender coisas tão simples como a infinitude do universo e por concebê-lo, não como um sistema rígido, mas como um conjunto em transformação contínua, e o que tenho a dizer é que o processo não foi exemplar em termos de garantias.

Floribundus disse...

nunca falei di que não sei, mas sou frequentemente desmentido por ignorantes

não sou crente

mas reconheço o papel da Igreja Católica

teve desempenho importante na idade média e no renascimento

hoje apenas se generaliza algum mal relacionado com a condição humana e nunca com a doutrina

a 'mediocridade é imbatível'
Albert Einstein

contra-baixo disse...

"hoje apenas se generaliza algum mal relacionado com a condição humana e nunca com a doutrina"

certo!

josé disse...

As condenações de Bruno, Galileo ou Savonarola tiveram o ar do seu tempo. Os delitos puníveis pela lei religiosa devem ser lidos à luz desse tempo.

Não estamos a falar do séc. XX...

josé disse...

Aliás, nem a pedofilia ( abuso sexual de crianças) dos anos oitenta é mesma coisa que agora de há vinte anos a esta parte.

Maria disse...

Sr. Hamsun, parabéns pelo comentário. Os acontecimentos históricos em causa passaram-se tal e qual os expôs. Mais escrevera e mais acertara.

Floribundus, não podia estar mais d'acordo com as suas palavras. A Doutrina Católica é insubstituível e superior a tudo o que se lhe queira comparar. Os valores sociais e morais que lhe subjazem são incomparáveis e mesmo para quem não é crente mas que se rege pelos mais elevados valores humanos, aqueles permanecem no seu subconsciente fazendo deles melhores pessoas.

O meu Pai, como disse, não era crente, mas conduziu toda a sua vida baseado nos valores morais e cívicos que recebeu do seu Pai, meu Avô, bem como da família que o criou e educou. E sei que os respeitava tal como a Doutrina da Igreja os estabeleceu. Quando um dia perguntei ao Pai em que acreditava verdadeiramente e o que pensava relativamente aos ensinamentos da Igreja, uma vez que se considerava uma pessoa de esquerda, respondeu com a rectidão e a elevação moral que lhe era reconhecida por todos os filhos: "eu acredito em Jesus porque Ele existiu e acredito no Sol porque sem ele não existiria vida na Terra".

Afirmava frequentemente algo que o Floribundus sublinha ainda que por outras palavras "a estupidez humana não tem limites". E se o meu Pai ainda hoje estivesse vivo, perante os horrores com que nos deparamos diàriamente e que atingem foros de catástrofes bíblicas, de certeza que acrescentaria "e a maldade humana também não", com o que eu corroboro totalmente, já que a maldade está patente em todas as acções políticas protagonizadas por quem põe e dispõe e é responsável directo por todos os acontecimentos terroríficos que têm vindo a submergir, qual dilúvio, volatilizando-as, cidades e países e causando dor e miséria inenarráveis e a perda sucessiva de milhões de vidas, desde há largas décadas pràticamente em todos os países dos cinco Continentes.

josé disse...

Se os abusos sexuais fossem uma praga intolerável antes dos anos oitenta, há séculos que teriam sido punidos como agora.

Quem ler os jornais dos anos sessenta, setenta ou oitenta não vê nenhum facto desse género classificado como crime do mesmo modo que hoje.

Isso prova que houve uma evolução que no caso é positiva por garantir melhor os direitos das crianças mas não julgo que dantes não houvesse abusos como agora, e até mais. No entanto, não eram valorizados do mesmo modo.

Unknown disse...

Sobre Giordano Bruno: não é, nem de perto nem de longe, um dos maiores nomes da humanidade. Giordano Bruno não foi condenado por dizer que o Universo era infinito. Ele dizia isso e dizia mais, também dizia que provavelmente a Terra não era o único planeta habitado e por aí. Ele foi condenado por erros teológicos muito sérios e por questões políticas - entre outras coisas serviu como espião para diferentes senhores. Aliás, ele era tão belicoso que arranjou problemas com católicos, calvinistas e luteranos. Acrescente-se que, antes da execução, esteve vários anos detido às ordens da Inquisição. E que esta lhe deu inúmeras possibilidades de retractação que ele recusou. A ideia do grande Giordano Bruno é uma ideia novecentista, criada pelos sectores hostis à Igreja e que levou, no caso português, à homenagem feita por Sampaio Bruno ao adoptar o nome do italiano. Uma ideia na linha de outras que não resistem ao exame histórico, como a das "trevas" medievais, da "mulher que não tinha alma para os medievais" e outros disparates. Bruno é um pensador ao nível de muitos outros que viveram na época, mas muito longe dos maiores.

contra-baixo disse...

As condenações de Bruno, Galileo ou Savonarola tiveram o ar do seu tempo. Os delitos puníveis pela lei religiosa devem ser lidos à luz desse tempo.

Não estamos a falar do séc. XX...

De acordo, mas se no entanto o processo histórico de consciencialização religiosa ou mesmo da construção de uma fé fosse tão linear como o apresenta em relação ao socialismo o corolário lógico seria o desaparecimento/irrelevância da ICAR. Como não o foi num caso, não é exigível que o fosse em relação a outro. A não ser numa visão completamente sectária das ideias.

contra-baixo disse...

Sr. Hamsun,

Conheço quem argumente a favor do Estaline nos mesmos termos.
A análise história é para interpretar, não para justificar ou moralizar.




Unknown disse...

Não misture Estaline com Bruno, que não tem nada a ver. Se ler com atenção a vida e o processo do sr. Bruno verá não estou a inventar nada. Aliás, é você mesmo que o reconhece a partir do momento em que não contra-argumenta, preferindo falar no montanhês da Geórgia a propósito de nada.

josé disse...

O estalinismo e o marxismo de onde provém não apareceu na Idade Média baixa nem sequer na Renascença alta ou nas Luzes baixas,embora fosse aqui que teve as suas raízes.

Foi em pleno séc. XX quando por cá estava Salazar no Poder. É uma diferença de Tomo.

josé disse...

E é por isso que Salazar foi uma pessoa com uma importância, valor e significado para o nosso país e que merece ser lembrado e aplaudido pelo que fez. Quanto a Estaline foram os próprios soviéticos a repudiá-lo. Mas não muito. O PCP nunca o repudiou claramente.

E Estaline foi um ogre na plena acepção da palavra.

josé disse...

Uma tal Rita Rato ou Raquel Varela nem sabem bem quem foi Estaline. Esta historiadora de pacotilha não quer saber, embora se dê ares. Ou melhor, dão-lho...

muja disse...

O que tinha a África do Sul de semelhante com o que se fez e procurava fazer na África portuguesa para servir de exemplo?

Quem acredita na descolonização fantástica é que tem de dizer em que moldes se realizaria ela... Como se evitaria a catástrofe que em todo o lado ocorreu? Como se evitaria a guerra e a devastação generalizada? Como se evitariam os massacres? Como se conciliariam os terroristas inconciliáveis desde o primeiro momento? A quem se entregaria o poder? Em Angola, por exemplo: ao MPLA? À FNLA? À UNITA?

Com que moral se exigiria aos portugueses que morressem para assegurar uma farsa eleitoral que nenhum dos intervenientes aceitava?

Como se preservariam "os interesses" sem vínculos políticos que nos lá prendessem? E mesmo que fosse possível preservá-los, a fazer-se, era a única coisa que nos aumentaria a ignomínia...

Pois para lucrar "interesses" estava bem; para lá estar, para o bem e para o mal, junto dos que lá ficariam, já estava mal?

Concretamente, qual era a tão apregoada, tão óbvia, tão evidente solução política que os casmurros Salazar e Caetano não souberam ou não quiseram aplicar? Isso é que eu gostava que alguém dissesse...

Qual era a tal solução que não trocava uns milhares de mortos portugueses, de cá e lá, por milhões de pretos mortos (para não enunciar o rol do resto das desgraças)?

O que se fez era a única coisa sã, digna e honrada que se podia fazer por brancos e pretos. Apontar o que se passou depois por todo aquele continente não prova nada a não ser que ninguém teve a sanidade, dignidade e honradez de fazer o que devia fazer-se.
Hoje estamos a pagar caro as consequências, em Paris, Bruxelas - e ainda a procissão vai no adro. Estamos, salvo seja, porque, por um lado, nós portugueses ainda nos vamos safando - talvez seja recompensa daqueles treze anos; e, por outro, porque quem vai pagar a sério não são os néscios e indigentes que foram por esse desiderato infame.

Até agora só vi argumentos para comunista ver. Venham de lá essas alternativas.








Maria disse...

José, durante o anterior regime era impensável haver abuso sexual de crianças na proporção inimagin+avel que se veio a verificar neste regime e muito menos a existência de redes de pedofilia DE ESTADO como se vieram a introduzir em Portugal com a chancela dos partidos socialista e comunista e apoio total da extrema esquerda, todos mancomunados com os governantes que coincidentemente eram e são todos (ou quase) maçons e muitos deles pedófilos e os que não eram nem são têm vindo a colaborar a 100% com o sistema e respectivos dirigentes desde a primeira hora do regime.

Claro que haveria abuso sexual de crianças durante o Estado Novo, como sempre houve em todos os países e em todos os tempos. Mas por amor de Deus!, José, nunca na vida como se veio a tornar 'moda' e prática corrente com o advento deste vergonhoso e falso regime democrático cujos introdutores foram e são os seus principais e repugnantes beneficiários além de membros activos, como se sabe. Até porque quem viveu naquele tempo sabe de ciência certa que um tal vício era considerado vergonhoso e altamente censurável por toda a sociedade e se uma tal imoralidade fosse praticada por quem quer que fosse e onde quer que se processasse, caso chegasse ao conhecimento das autoridades o seu autor era automàticamente detido e levado à Justiça, se com posterior prisão ou com outras medidas punitivas não faço ideia, o que sei é que era severamente punido e avisado a não reincidir, ficando sob o olhar atento da polícia. Os próprios homoxessuais, que os havia mas jamais, em tempo algum, com a dimensão atingida neste 'glorioso' regime que aliás alegremente os aceita, aplaude e incentiva, além de convidar os de fora a virem juntar-se aos do País e a reproduzirem-se, tentavam passar despercebidos ao máximo, pois caso fossem detectados pelos seus parentes ou próximos eram acerbamente criticados e na maioria dos casos repudiados quando não mesmo afastados do seu convívio social.

Redes criminosas das mais violentas que existem no Mundo, mais as redes de pedofilia de Estado, como as que foram introduzidas no País logo após o primeiro dia em que este bando de políticos pedófilos pôs os pés em Portugal, os mesmos que desavergonhadamente se auto-proclamam democratas da mais pura água, alguém com uma boa formação moral acharia sequer possível terem acontecido no tempo de Salazar? É que nem em sonhos quanto mais na realidade.
(cont.)

Maria disse...

(Conclusão)

É por estas e por outras que esta espécie de democracia com este género de políticos pretensamente democratas, não muito obrigada. Por mim um milhão de vezes um regime autoritário como o do Estado Novo com todos os seus defeitos, que vistas bem as coisas e feita a comparação entre aquele e este, eram infinitamente menores e os restantes perfeitamente compreensíveis e desculpáveis perante as medidas repressivas forçosamente tomadas face ao perigo que o inimigo/oposição 'democrática' havia representado desde sempre para a defesa do País e dos portugueses. Salazar teve carradas de razão em todas as medidas tomadas, por mais drásticas que tenham sido, contra as investidas conspirativas e subversivas empreendidas por comunistas e socialistas.

Por mais que os democratas vigaristas e aldrabões tentem desmentir a realidade nunca hão-de conseguir. No regime anterior pelo menos havia paz social, segurança, uma população educada e trabalhadora, respeito pela autoridade e orgulho nos políticos que nos governavam constatada que era a sua indiscutível integridade e inabalável patriotismo. Todos estes valores morais e cívicos transmitiam-nos um sentimento de gratidão e de bem-estar indescritíveis e uma alegria de viver que só por maldade inconfessável ou inveja exacerbada é capaz de ser desmentida. Ou então por seres diabólicos para quem este modo de vida seguro, pacífico e feliz tinha que ser invertido e alterado para o seu oposto, desse por onde desse, isto é, havia que instalar uma instabilidade política permanente, uma corrupção monstruosa e contínua perpetrada pela classe política, teria de consumar-se um assalto aos dinheiros públicos e às toneladas de ouro do Banco de Portugal, era forçosa a ocupação das maiores empresas lucrativas e bem geridas provocando a sua falência e fecho, provocar a maior vaga de emigração por falta de emprego nem condições decentes de vida (crimes sociais indesculpáveis, aos democratas totalmente devidos), como seria impensável acontecer durante o Estado Novo, quase um milhão de desempregados a maioria dos quais a mendigar pelas ruas e a alimentar-se na sopa dos pobres (e estes mentirosos relpsos ainda têm a lata de acusar Salazar de ter obrigado 100 mil portugueses a emigrar por falta de trabalho e por viver na miséria) e finalmente instalar o caos político, social e moral no País. Este, o seu objectivo primeiro e último a ser alcançado. Foi com esta precisa e única ideia no pensamento que os 'democratas' tomaram d'assalto o Poder em Portugal.

Maria disse...

Faltou acrescentar a 'libertação' dos territórios africanos, para lhes ser levada com ambas as mãos a democracia. E que bela democracia lhes levaram. Milhões de mortos inocentes, guerras fratricidas durante anos e milhares de mortos diários em todos aqueles novos países, ditaduras sanguinárias implantadas em todos os territórios e ditadores, estes sim, verdadeiros tiranos sanguinários, um milhão de vezes piores do que Salazar o M. Caetano algum dia poderiam ter sido. E é claro, passar o lucro gigantesco e o bruto usufruto para os novos donos e senhores daqueles territórios - americanos e na altura também soviéticos, para quem aliás os democratas eram os paus-mandados no Portugal europeu e os pontas de lança no terreno - na verdade os novos colonizadores, porém apátridas e sem a menor ligação afectiva aos respectivos povos. O que lhes interessava era o saque e a máxima exploração de todas as suas incomensuráveis riquezas do solo e sub-solo. Como já acontecera no Norte de África e tem estado a acontecer exactamente o mesmo nos territórios do Médio Oriente. As motivações são as mesmas sem tirar nem pôr: destruir, arrasar, matar, ocupar e passar a reinar.

A África do Sul, independentemente do seu regime deplorável mantinha o país em paz e desenvolvimento, mas que não vem agora ao caso, nada poderia fazer senão preparar a mudança do regime. Estava rodeada de novos regimes comunistas sanguinários de um lado e do outro, sem falar na Rodésia, mais acima, que já o havia sido. E já se pensou no horror em que se transformou a África do Sul após a introdução da famigerada democracia? Os milhões de mortos e o ódio racial indestrutível e irracional entre povos irmãos que o novo regime tem provocado desde então até hoje em todos aqueles países? Que exemplares descolonizações e que magníficas democracias e quão amplas as liberdades que os novos territórios e povos africanos receberam, então não foram? Pois foram.

josé disse...

"O que tinha a África do Sul de semelhante com o que se fez e procurava fazer na África portuguesa para servir de exemplo?"

Teve uma colonização de brancos em quantidade superior, penso e com uma Nação constituída de raiz com esses brancos nativos.

Não chegaram para as encomendas porque mesmo assim eram de menos e havia os Mandelas.

Em Angola e Moçambique não tardaria nada a aparecerem os Mandelas...

josé disse...

"José, durante o anterior regime era impensável haver abuso sexual de crianças na proporção inimagin+avel que se veio a verificar neste regime e muito menos a existência de redes de pedofilia DE ESTADO como se vieram a introduzir em Portugal com a chancela dos partidos socialista e comunista e apoio total da extrema esquerda, todos mancomunados com os governantes que coincidentemente eram e são todos (ou quase) maçons e muitos deles pedófilos"

Não me parece que assim seja. O abuso sexual de crianças porventura era maior que agora, no seio das próprias famílias ou comunidades locais.
Estamos a falar de abusos sexuais de crianças até aos 14 anos que é como a lei o define agora, mesmo que já sejam púberes.

Relativamente aos menores impúberes penso, mas é apenas um palpite, que a taxa das taras seria sensivelmente a mesma, mas com maior sucesso de passar impune.

É apenas uma conclusão de senso comum, uma vez que julgo que essa parafilia é um assunto psiquiátrico de sempre. Porém, nos anos sessenta e setenta esses casos eram de algum modo desvalorizados e julgo que a tal rede pedófila que agora poderia de alguma forma ter os seus protagonistas no núcleo do embaixador Ritto et al,é um fenómeno isolado e sem reflexos políticos que envolva a maçonaria ou outras organizações, particularmente os socialistas.

Sendo certo que alguns deles, até identificados, foram envolvidos em práticas sexuais bizarras a verdade é que não se comprova devidamente o envolvimento em abuso sexual de crianças tipicamente criminoso em com o contorno que mesmo agora se pode atribuir.

Mas isto sou eu a falar com as reservas que devo impor-me em não acusar sem fundamento mínimo.

muja disse...

O que significa "em quantidade superior"?

Mandela era um comunista (e mero peão de interesses muito acima dele) e disso já nós tínhamos, e dispostos a pegar em armas contra nós. De resto, havia a política de segregação que foi pretexto para tudo isso. Connosco não havia tal e, de facto, era muito difícil substanciar as acusações a Portugal que tinham de ficar pelos vagos e serôdios argumentos para comunista ver: colonialismo, imperialismo - já desprovidos do racismo que não colhia em lado nenhum de tão manifestamente absurdo e ridículo.

É preciso perceber o contexto da existência da África do Sul que foi o cerne do Império britânico. Foi lá que se gizou - por Rhodes, Milner e cia. - a política das independências que visava, ao contrário do que se supõe, a consolidação do império e não o seu desmembramento. A Commonwealth é, literalmente, o resultado do fracasso desse esforço imperial que deveria acontecer nos bastidores do poder através de um certo escol aristo-capitalista anglo-saxónico inglês e sul-africano inicialmente e americano depois, sendo que o objectivo passava por incluir a América no império, mais tarde ou mais cedo. Foi isto que deu origem a organizações como o Council on Foreign Relations ou o Royal Institute of International Affairs. A Commonwealth, juntamente com estas organizações, e outras, como a Bolsa Rhodes, foi o que sobrou destes esforços.

Nada disto tem ou poderia ter comparação com a nossa realidade. O nosso império era perfeitamente orgânico, com todas as especificidades locais, a ponto de a própria designação imperial ser somente uma relíquia de ventos "da história" passados que já tinham soprado e deixado de soprar. Não era um império tanto quanto era um conjunto de territórios dispersos geograficamente, e unidos por uma cultura semelhante mas localmente específica, sob uma autoridade comum.

A nossa situação era peculiar e específica. Não admitia soluções "chapa 5". Daí ter-se optado pela integração, porque de todas as possibilidades era a que parecia melhor nos servir a todos. As razões estão aqui expostas, para quem quiser saber, por quem sabia e disso percebia alguma coisa:

http://ultramar.github.io/conjuntura-angolana-sintese-de-uma-doutrina-e-uma-accao.html
http://ultramar.github.io/estrategia-estrutural-portuguesa.html


josé disse...

A "nossa realidade" rapidamente seria idêntica à da África do Sul, com o aparecimento de Mandelas de outro género, ou seja de autóctones pretos que se sentissem com maior legitimidade para assegurar os destinos desses países, tal como aconteceu na África do Sul.

Com um partido atrás quem é que poderia fazer-lhes frente?

Foi isso que os dirigentes sul-africanos perceberam e abandonaram as pretensões a mandar no país.

Em Angola e Moçambique iria suceder o mesmo.

A Rodésia, aliás, foi igual.

josé disse...

Para mim é essa a questão fulcral: somos brancos e eles são pretos e na África não há governos brancos. É só isso.

josé disse...

E os EUA só não são governados por índios porque os exterminaram na quantidade suficiente para não assumirem uma maioria gentílica.

De resto a colonização foi feita por brancos emigrados, como se sabe, mas em quantidade tal que abafaram tudo o resto e transformaram o continente numa terra de brancos. Que não era...

josé disse...

Angola ou Moçambique só poderia continuar "nossa" se fizéssemos o que Kaulza vaticinara no tal plano que apresentei e vem relatado no livro de Nogueira Pinto: colonização maciça e de tal modo que suplantasse em número as tribos de Angola e as abafasse.

Acha isso possível?

josé disse...

E desejável, já agora?

josé disse...

Acha que Salazar não percebeu bem isso e que acreditava piamente nos Mitos do Império como V. parece acreditar?

muja disse...

A questão não era continuar a ser "nossa". Continuam os argumentos para comunista ver.

A colonização por brancos preconizava-se como solução a curto ou médio prazo para suprir as necessidades de territórios vastíssimos que estavam largamente desertos como por exemplo o Leste de Angola e porque eram os brancos metropolitanos quem estava disponível para emigrar. A estratégia geral tinha - e sempre teve - como eixo fundamental a promoção sócio-económica das populações. Está nos links que eu deixei. A exposição da situação, tal como a solução defendida, nada tem de mitológico.

Pelo contrário, e ao invés da receita mágica das democracias, liberdades e outros chavões vazios de significado e conteúdo concretos, assentava na realidade do que estava e do que era.

As independências, tendo em conta as circunstâncias e a realidade concreta - que é a única coisa que interessa - não poderiam ter deixado de resultar em desastre como resultaram. Salazar disse-o inúmeras vezes, tal como Caetano. Essa é que é a realidade. Já agora, também diziam que o parlamentarismo político também não podia deixar de resultar em desastre, como sucedeu imediatamente. Ao menos em relação às independências ainda se podia alegar desconhecimento por novidade...

Repito: qual era a solução? Concreta e especificamente? A quem se entregaria o poder? Sob que processo e garantido por quem e de que forma? Sob que moral e direito se entregaria o poder a qualquer facção que a maioria da população rejeitava na prática?

Quem é que acredita em mitos, afinal?

muja disse...

Torna-se cansativo e frustrante debater este assunto porque nunca são apresentadas quaisquer alternativas concretas por parte de quem critica.

Tudo é enquadrado numa espécie de entendimento superior que nunca desce ao concreto da realidade, ao real.

Acusam-se os outros de acreditar em mitos sem nunca avançar outra coisa que não sejam coisas vagas e indefinidas, até quando se apontam exemplos estrangeiros - sem nunca explicar como se aplicariam estes à nossa realidade.

É mero bota-abaixo e não passa disso. Tal como nunca passou no tempo de Salazar e por isso ele lá teve de ficar tanto tempo.

josé disse...

"A colonização por brancos preconizava-se como solução a curto ou médio prazo para suprir as necessidades de territórios vastíssimos".

No way, segundo julgo e tenho escrito.

Portanto, o argumento é esse: não me parece viável tal solução perante o facto que apresentei.

josé disse...

Outro argumento que já apresentei: não havia alternativa a esse vento histórico.

josé disse...

A solução está à vista: fazer o que a Rodésia e a África do Sul acabaram por fazer mesmo não o desejando.

É fácil propor uma solução que me parece utópica porque nunca teve ocasião de se comprovar como prática.

A mim, parece-me impraticável.

zazie disse...

A pedofilia e pederastia era hábito comum dantes.

No caso de pederastia até havia uma instituição chamada "os padrinhos". ninguém tocava nisso porque nem sequer existia a mesma moção de infãncia- já que qualquer criança podia ser posta a trabalhar, dentro da família e fora, como moço de recados

A pedofilia era praticada dentro da família e ninguém tocava nisso.

O resto é conversa ao lado para boi dormir.

zazie disse...

Toda essa geração modernista tinha homossexuais que praticavam todos os vícios e até havia poeta que passava a verso a tara de ir ao cu a meninos.

Hoje em dia duvido que dissesse assim e que mesmo os que o fazem, o publicitem artisticamente.

Maria disse...

Estive para dar o exemplo dos Estados Unidos mas o José pegou no assunto. A maioria da população deste país é d'origem índia, africana e hispânica e numa percentagem mínima, asiática. A primeira foi pràticamente dizimada pelos brancos idos da Europa para se tornarem donos daquele imenso território. A segunda e a terceira foram e continuam a ser criminosamente marginalizadas desde essa altura e logo após, seguidamente, quando nesse país começaram a aportar milhares de negros levados de África pelos negociantes de escravos, negociantes quase todos judeus como hoje está mais do que provado. E os últimos, ainda em suas terras do Texas, literalmente empurrados para o México, país este em que uma parte substancial do seu território, como o próprio Texas e a Califórnia (já o mesmo havia sido feito anteriormente a vastos territórios índios, pertença incontestada destes nativos) tinha sido há muito usurpada/comprada(...) pelos governos norte-americanos que se foram sucedendo. Isto para dizer que se os primeiros brancos idos do Norte da Europa não tivessem tido este comportamento desumano e altamente censurável e indigno, hoje os Estados Unidos seriam um país totalmente diferente, mais decente e com governantes mais humanistas e com uma população mais integrada, mais independente e sobretudo mais feliz. E quais eram as nacionalidades e crenças religiosas dos primeiros emigrantes idos da Europa do Norte para colonizar aquele vasto território? Ah, pois é, este pormenor diz tudo. Aquela não é uma população feliz, pelo menos a enorme percentagem dos considerados não brancos que, contra todas as afirmações em contrário, continuam a ser excluídos, ostracisados e repudiados pela minoria branca que, no mais das vezes à custa de métodos infra-humanos, têm-nos bem controlados, submissos e calados. Estes últimos são de facto os mais infelizes daquela sociedade. País que se auto-intitula desde a sua fundação como o mais desenvolvido, progressista e democrático do mundo e no entanto mantém a pena de morte como punição de crimes, muitos destes de apenas roubo! Aquelas designações altissonantes e cínicas são só para inglês ver, bem entendido. E, abrindo aqui um parentisis, cabe perguntar se era aquele género de sociedade extremamente desigual, com uma cultura quase déspota para com os mais desfavorecidos e marginalizados, praticada desde sempre e ainda hoje, seria a aconselhável a ser aplicada nos nossos ex-territórios africanos e os portugueses lá residentes capazes de a adoptar sem mais?

E permita-me que lhe pergunte, José, como é que sabe (ou tem ideia) que a ida da Metrópole de uma grande vaga de portugueses para se fixarem nas Províncias Ultramarinas para ajudar ao seu desenvolvimento - como de resto isso mesmo já vinha acontecendo desde os anos cinquenta e sessenta com um sucesso assinalável e que é indesmentível, especialmente em Angola e Moçambique - era impossível de vir a obter sucesso? E porquê? É certo que de algum modo já respondeu a esta interrogação, mas acrescenta sempre "é o que me parece" ou seja, não tem conhecimento de causa do que afirma, somente que lhe "parece" que seria assim. Esta pergunta é-lhe feita por alguém que - baseada nos relatos de Avô, Pai, Tios e muitos amigos e transmitidos tal e qual em virtude dos muitos anos passados por todos eles a trabalhar naquelas lonjuras e também da minha própria experiência obtida no curto espaço de tempo que permaneci em Luanda, porém o suficiente para poder afirmar objectivamente o que constatei in loco - sabe do que fala.
(cont.)

Maria disse...

(Conclusão)

O José já parou um instante para pensar que uma percentagem enormíssima de qualquer destes territórios - com a excepção da Guiné e Timor (e deve lembrar-se que a população deste último território não queria a independência e sim continuar ligada a Portugal, porém aquela foi-lhe imposta, tal como nos demais territórios portugueses, pelos comunistas e socialistas, a mando e para os entregar aos dois internacionalismos, como é sabido) - já era mulata e cabrita, o que significava que a sua ligação a Portugal era profundíssima, aliás recíproca e indesmentível. E esta imensa percentagem de descendentes de portugueses europeus, em segunda, terceira e quarta gerações, considerando-se tão portugueses quanto aqueles, ainda que não descurando a estreita ligação à sua terra de nascença, não iria ter voto na matéria? Claro que sim e tudo seria diferente.
E depois do que se passou, cabe ainda perguntar (e era bom que tivessem feito esta pergunta a cada um daqueles povos, mas os 'democratas' não a fizeram por temerem, tal como aconteceu em Portugal, a resposta contrária ao pretendido, isto é, a 99,9% em seu desfavor), foi pior viverem sob o regime de Salazar e de M. Caetano ou é melhor viverem sob a ditadura comunista que a foi substituir à força e responsável directa por milhões de mortos e estropiados e que, não obstante, permanece inamovível e cujo presidente se mantém no mesmo posto de comando há 'apenas' 36 anos(!!!). E o Dr. Salazar cujo regime nem sequer era uma ditadura e muito menos tipo a angolana, segundo a oposição mentirosa, hipócrita e cínica é que era um ditador opressor, fascista e responsável pela «longa noite» e no entanto durou só mais dois anos no poder do que o comunista pró-soviético E. dos Santos, este sim, opressor e fascista. Mas não desesperemos, este vai lá chegar e até ultrapassar em anos o tempo os governos do Dr. Salazar, graças à 'descolonização exemplar' e à maravilhosa 'democracia' que os democratas/comunistas/socialistas de cá foram oferecer aos democratas-comunistas propositadamente para lá enviados, tudo de mão beijada... E agora e desde há uns largos mesitos (já não existem carregamentos de marfim e diamantes da Jamba para Lisboa, pela mão de João Soares-filho, não é verdade?, caso isso continuasse a acontecer aquela ditadura voltava num repente a ser uma democracia em pleno e respeitadora integral dos direitos humanos, pois naturalmente) os democratas d'algibeira e toda a hipócrita esquerda unida ainda têm a supina lata e igual desvergonha de virem proclamar muito pesarosos... que "em Angola não há democracia" e que aquele regime "não respeita os direitos humanos"!!!!!!!!! Cínicos dum raio.

Nada na política que tinha sido pensada para África por M. Caetano e por ele desenvolvida (e continuada de certeza absoluta por futuros governantes) se pode comparar nem de perto nem de longe com a adoptada pelos governantes norte-americanos para aquele país, que só se veio a impor pela lei da bala e à força da marginalização e segregação das minorias que afinal e bem vistas as coisas eram a maioria e quem devia ter sido com toda a propriedade e de facto "a dona" do País.

Voltando ao início, para concluir. Fazendo comparações entre aqueles povos (ou tribos) o mesmo se pode dizer em relação aos negros da África do Sul, que nada tinham em comum com os negros angolanos, são-tomenses ou moçambicanos. A mentalidade, raízes, hábitos e costumes de todos estes, eram o exacto oposto dos restantes povos negros dos demais territórios africanos.

josé disse...

Como é que eu sei? Tal como outros julgam saber: por lhes parecer.

Mas há matéria para pensar e raciocinar, conjugando vários factores.

Domingo continua, se Deus quiser.

muja disse...

Não sabe Maria. Diz porque acha que os outros sabem.

José, desculpe lá, mas concretamente o que é fazer o que a África do Sul e a Rodésia fizeram?

É que na África do Sul foi entregar aos comunistas racistas. E na Rodésia não foi muito diferente.

Na prática então qual foi a diferença entre isso e a nossa descolonização exemplar a não ser ter-se passado a coisa a dois tempos: primeiro a independência e depois a entrega?

Portanto a solução era entregar ao MPLA, à FRELIMO e ao PAIGC?

Está a ver que não avança nada de concreto?

josé disse...

"José, desculpe lá, mas concretamente o que é fazer o que a África do Sul e a Rodésia fizeram?"

Acho que não me percebeu. O que fizeram foi o inevitável e que Portugal teria igualmente que fazer: entregar os territórios aos pretos. Pretos por oposição a brancos e sem ponta de racismo que é coisa que não sou ( pelo menos primário...ahahah).

Se leu o que Franco Nogueira disse a Jaime Nogueira Pinto em 1993 pode ver que afinal até Salazar entendia que aquilo em Angola e Moçambique não era nosso, no sentido de não termos ilusões como agora vejo por aqui escrito, com um neocolonialismo que nunca teria sucesso, a meu ver.

São estes os argumentos, muito simples: África é um continente em que os brancos estão lá, idos do Norte. Não são de lá. Os pretos nunca entenderiam que alguma parte de África pudesse ser terra de brancos, originária.

Se contrariar este argumento, posso reflectir melhor.

Vivendi disse...

O exemplo era o Brasil.
Salazar assim o afirmou.

Vivendi disse...

«Nós somos uma velha Nação que vive agarrada às suas tradições, e por isso se dispõe a custear com pesados sacrifícios a herança que do passado lhe ficou. Mas acha isso natural. Acha que lhe cabe o dever de civilizar outros povos e para civilizar pagar com o suor do rosto do trabalho da colonização. Se fosse possível meter alguma ordem na actual confusão da oratória política internacional, talvez se pudesse, à luz destes exemplos, distinguir melhor a colonização do colonialismo - a missão humana e a empresa de desenvolvimento económico que, se dá, dá, e se não dá, se larga. Muitos terão dificuldade em compreender isto, porque, referidas as coisas a operações de deve e haver, motivos havia para delinear noutras bases a política nacional».

Oliveira Salazar («O Ultramar Português e a ONU», Discurso proferido por Sua Excelência o Presidente do Conselho na sessão extraordinária da Assembleia Nacional, em 30 de Junho de 1961).

Vivendi disse...

«Para nós, Portugueses, nascidos no século XII, iniciadores, com os Descobrimentos, no século XV, da Idade Moderna, universalizadores conscientes da civilização ocidental (até aí reduzida aos limites europeus) - para nós, Portugueses, discriminação racial, descolonização e autodeterminação são, portanto, palavras cínicas, injuriosas, que afrontam a nossa inteligência e magoam profundamente a alma desta velha e nobre Nação cuja carne e cujo sangue se fundiram, amorosamente, cristãmente, nas cinco partes do mundo, como todas as raças e cores, naquela liberdade, igualdade e fraternidade que só o tálamo conjugal realiza e a família consagra a sublima.

Suprema hipocrisia! Monstruosa afronta - ouvirem, calados, injuriar e difamar Portugal, países que nunca deixaram os pretos e os vermelhos entrar onde estivessem brancos e que os conservaram, até hoje, isolados, como gado!

(...) Isto, quanto à discriminação e à descolonização. Mas o espectáculo é mais degradante ainda no que toca à chamada autodeterminação, porque na África negra nunca houve Nações nem Estados subjugados por forças estrangeiras como sucede, por exemplo, em nossos dias, na Hungria e na Roménia; quando lá estávamos, no século XV, havia apenas vastíssimos territórios despovoados, aves do céu e animais do mato e, nalguns pontos, tribos selvagens coabitando com os gados, submersas na mais triste barbaria, sem a menor ideia de Estado ou de Nação.

E é, por isso, espantosa a hipocrisia e o cinismo com que hoje, volvidos cinco séculos, se finge que os Portugueses interromperam, em Angola e Moçambique, o curso histórico de duas Nações de pretos que é preciso deixar, agora, autodeterminarem-se democraticamente, pela via do sufrágio universal, libertando-lhes a Pátria oprimida e enriquecendo o Mundo e a ONU com mais duas Nações livres...

Mas ainda quando se abstivesse, para efeitos de discussão, da nossa franca política de assimilação que faz dos pretos e brancos de Angola e Moçambique portugueses tão lídimos como os da Europa, ficaria lugar à pergunta decisiva: onde está a Nação? No conjunto das tribos rivais, que lá fomos encontrar, há quinhentos anos, guerreando-se, por natureza, mutuamente, como está sucedendo, ainda agora, no chamado Congo Belga? Na diversidade infinda de línguas, dialectos, feiticismos e raças?

Não, meus senhores! A única noção de território nacional, unidade de língua e religião, de Estado e de Nação, que existe em Angola e Moçambique é aquela que nessas Províncias criaram, no decurso de cinco séculos, tal qual como em todas as outras, os Portugueses de sempre. De modo que quando os nossos inimigos falam em libertar as Nações de Angola e Moçambique pretendem, apenas, esbulhar Portugal, com a colaboração de meia dúzia de pretos assoldadados no estrangeiro, de duas das suas Províncias ultramarinas.

Vivendi disse...

Autodeterminação! Mas autodeterminação de quem? De uma dúzia de negros, mais ou menos bacharéis, "membros do Partido", "democratas" sem concidadãos? Deixemo-nos de hipocrisias: noventa e tantos por cento dos pretos de toda a África não estão em condições de se autodeterminarem e nem sequer pensam nisso. Sucede-lhes precisamente o mesmo que acontece aos índios americanos e aos párias da Índia do Sr. Nehru, sem que ninguém tenha visto, até agora, sinais de que os filantropos, tão preocupados com os negros de África, estejam dispostos a deixá-los autodeterminarem-se, organizando-se em Nações independentes...

(...) Descolonização e autodeterminação são expressões políticas que tanto o grupo de Nações ocidentais como o das que alinham com a Rússia proclamam por sinónimos de libertação de todos os povos e estados oprimidos pela força imperialista das Nações colonizadoras. Posta assim a questão, não há homem bem formado nem país civilizado que não adira logo à beleza do princípio e à justiça dos seus objectivos. Mas como tanto do lado da Rússia como entre nações ocidentais há práticas e factos que desmentem, na realidade e em absoluto, conforme atrás dissemos, a exactidão dos princípios, segue-se que temos de procurar, para além das aparências ilusórias, o fio condutor das realidades dolorosas. E essas conduzem-nos à conclusão de que descolonização e autodeterminação são apenas a cínica e hipócrita cobertura doutrinária do pavoroso neocolonialismo materialista e económico, que se propõe partilhar o Mundo à sombra da bomba atómica...».

Costa Brochado («Teoria da Unidade Nacional e realidades da África Portuguesa», conferência proferida no salão nobre da Câmara Municipal de Braga, na noite de 30 de Novembro de 1961, a convite daquele Município e da delegação bracarense da Sociedade Histórica da Independência).

josé disse...

Vivendi_ leu o que Kaulza de Arriaga disse a Jaime Nogueira Pinto, sobre o plano para o Ultramar, a longo prazo?

Considera praticável à luz de uma prognose póstuma?

Acha que Salazar subscreveria tal plano se tivesse 40 anos em 1970?

muja disse...

Mas o que é que não era praticável? Eu pergunto-me se afinal o José leu bem aquilo que nós devíamos ler...

O general expõe a estratégia metodicamente: de a) a h). Nenhuma dessas alíneas é "emigração branca em massa para África".

A seguir fala em erros que aconteceram e considera o "limitado impulso e mesmo condicionamentos bem negativos postos no povoamento branco do Ultramar Português, erro que prejudicou o desenvolvimento da sociedade multirracial".

E é tudo. Donde se extrai daqui a conclusão de que o plano era emigração branca em massa?

É lógico que não pode haver sociedades multirraciais sem múltiplas raças. Mais, era melhor que as pessoas emigrassem para onde eram precisas em Portugal do que para a França ou Alemanha.

Salazar subscreveria perfeitamente tal plano pelas razões que ele próprio enunciou acima e que o Vivendi mostrou. Tivesse 20, 40 ou 80 anos. Porque ele, se sabia alguma coisa, era ver o tal fio condutor das realidades, que é muito diferente de ventanias que sopram e passam.

O fio condutor está à vista agora, plenamente descarnado: em África reina a desordem e agora temos de enfrentar o problema já não lá mas cá, que é muito melhor...

Claro que é sempre mais fácil empurrar com a barriga (ou, neste caso, empanturrar a barriga) do que deixar o abacaxi para os netos.




muja disse...

É que não sei se estão ao corrente, mas o problema da descolonização põe-se hoje de novo.

O sábio do de Gaulle para onde recomendaria ele que fossem hoje os franceses? Ou os sensatos belgas? E os iluminados escandinavos, vão descolonizar para onde, esses? Já nem glaciares têm...

Já não falta muito para que os brancos deixem de ser maioria em muito sítio. Ora, penso que até para os cata-ventanias é evidente e claro que é uma questão de tempo até se levantar a questão e a democracia ser para cumprir e as maiorias passarem a mandar.

Aí, já se pode morrer ou ainda é preciso deitar o dedo ao ar?

josé disse...

Leia melhor porque a conclusão está lá, clara e explícita a meu ver.

Porém, a questão continua a ser a mesma:

Acha possível países africanos auto-determinados, sem serem os pretos a mandarem efectivamente, como acontece em todos, sem excepção?

Acha sequer razoável perante o que aconteceu nestes últimos trinta anos que Portugal pudesse ter feito diferente se seguisse o que Salazar aparentemente defendia?

zazie disse...

https://gyazo.com/513866f18d6541527b75884c471fc801

josé disse...

A meio da página 170 é mais explícito, o conceito: "o limitado impulso e mesmo condicionamento bem negativos postos no povoamento branco do Ultramar Português, erro que prejudicou o desenvolvimento da sociedade multirracial"...

Não era qualquer pessoa que ia para o Ultramar mas apenas os que eram chamados por carta.

muja disse...

Acha que são os pretos a mandar efectivamente em lado algum?

Era possível fazer uma coisa diferente - estava a fazer-se uma coisa diferente. Havia meios e vontade.
O resto ninguém sabe como seria. Mas sabemos como foi: acabou a vontade de alguns e foram-se os meios de todos.

A catástrofe que se seguiu aconteceu não porque fizéssemos o que fazíamos dantes, mas porque deixámos de o fazer.

Depois ficou o vazio.

Foi por isso que apareceram os seus tais comunistas: para preencher esse vazio.

Aquilo que Vs. dizem é que era o menos provável de acontecer. Uma descolonização exemplar! Como se quem nos obrigava a pegar em armas fosse deixar! É isso que não parece estar fácil de entender... A guerra não visava impelir-nos a fazer a descolonização exemplar, visava era sobretudo impedir-nos de a fazer!

Qualquer outra coisa que não o que se passou, como se passou ou perto, implicava a guerra.






josé disse...

Os comunistas não apareceram depois: já estavam antes, muito antes e foi por não se reconhecer tal coisa e se achar que poderiam ser controlados que se perdeu tudo.

A descolonização não tinha que ser exemplar. Tinha apenas que se fazer e era preferível tê-la feito quando os franceses, belgas, ingleses a fizeram.

Para não dizer os espanhóis...

Todos tinham um Império mas todos perceberam a tempo que era nada. Nós é que andamos a iludir-nos com a treta do Quinto...

muja disse...

Sim, ele queixa-se disso.

Achava que deviam ir mais pessoas. Mas a perspectiva do governo era de que devia filtrar. São as duas sensatas e daí a dificuldade do assunto.

Agora, Vs. argumentam que não era possível porque não era possível criar uma maioria de brancos? Eu também concordo que não era possível criar uma maioria de brancos, mas a nossa autoridade não dependia disso! Funcionava perfeitamente para e com pretos.

Só havia ainda era ainda poucos que estivessem em condições de o fazer como os brancos que o não faziam mal. Curiosamente, nós brancos, desde então que também temos tido o mesmo problema...

Portanto, essa questão não tem consistência nenhuma.

A colonização de que se fala é para colonizar no sentido útil de colonização. De desbravamento. Não era para expulsar ninguém nem para dominar ninguém demograficamente. Tanto não era que se filtrava para não mandar inúteis e gabirus na medida do possível.

josé disse...

"A colonização de que se fala é para colonizar no sentido útil de colonização. De desbravamento. Não era para expulsar ninguém nem para dominar ninguém demograficamente. Tanto não era que se filtrava para não mandar inúteis e gabirus na medida do possível."

Sim senhor. Boas intenções. E...os pretos estavam prontos a acatá-las quando tinham tudo a favor deles?

Repito: Salazar se tivesse menos 20 anos talvez tivesse resolvido o problema, mas descolonizando de modo mais interessante. Como? Só especulando.

Ninguém sabe...não sou só eu.


muja disse...

Desculpe mas quem anda iludido é o José.

Aquilo não se devia ter feito.

Já não vão ser para si as consequências mais graves. Eu talvez não me safe, e quem vier a seguir não se safa com certeza.

Não estamos a falar de ventos metafísicos. Estamos a falar de problemas graves que se agudizam a cada momento que passa. E chegam hoje aí aos borbotões.

São consequência directa daquilo que fizeram esses todos que "perceberam", fosse a tempo ou não. Eu interrogo-me é que terão eles percebido... É que eu acho é que não perceberam foi nada.





muja disse...

E que pretos seriam esses? Os da FNLA, do MPLA, da UNITA, da FRELIMO e do PAIGC? Ou os outros 99%?

muja disse...

Vá, 90% que era a percentagem de população exposta à subversão que dava o Exército em Angola, finais de sessenta - entre vítimas, capturas e terroristas armados da subversão.

Refere-se a esses aos aos outros 90%?

Vivendi disse...

José veja uns vídeos de Angola e Moçambique nos anos 60 e 70 (até 74) e depois procure falar com retornados que andaram por lá e tire as suas conclusões.

Já aqui escrevi e reafirmo, foi por pouco, faltou uma ou duas gerações para a missão civilizadora portuguesa vingar. As auto-determinações das províncias ultramarinas deveriam ter acontecido de forma espontânea e com o povo preparado (uma sociedade responsável dentro da ordem).

África é hoje um continente falhado.

Acha que Salazar subscreveria tal plano se tivesse 40 anos em 1970?

Não e Sim.

Não, porque nesse tempo o ensino universitário já estava marcada pelo positivismo. Veja-se os artistas construídos nesse tempo, Marcelo Rebelo de Sousa, Jorge Sampaio, José Júdice, Proença de Carvalho e demais compagnons de route que nos deixaram na situação que todos conhecemos.

Sim, porque estamos a falar de alguém com um intelecto fora de série e que facilmente encontraria-se com a verdade. E quando alguém se encontra a verdade só resta a sua defesa seja lá qual for o vento da história.

Salazar era respeitado pelo povo como um sábio e como tal existia uma força orgânica que permitia uma força espiritual que já não se via desde o tempo descobrimentos (andava completamente apagada desde a revolução liberal).

Vivendi disse...

Isto era pura fibra:

https://www.youtube.com/watch?v=SFo74hBcCHE


Agora não passamos de um povo com a mania que é "burguês de pedestal" mas que está completamente falido materialmente e espiritualmente.

Maria disse...

José, pense bem no que Muja escreve e com razão que a razão reconhece, assim como o que afirma Vivendi que subscrevo na totalidade. Amanhã conto escrever algo sobre os tais 90% de que fala Muja e que efectivamente compreendiam os pretos, mulatos, cabritos e brancos que compunham a população angolana e porventura a moçambicana e que, garanto-lhe, iriam defender com unhas e dentes aquele/s territórios caso houvesse a subversão que ocorreu em 74 e na altura Salazar tivesse os tais 40 anos em 1970 ou, se por milagre da natureza, tivesse atingido uma idade com lucidez suficiente e um cérebro são para poder ter enfrentado o inimigo em 74 e faria exactamente o mesmo. E fá-lo-ia com apoio total das respectivas populações tanto em Portugal como em África. Disso lhe garanto eu. Infelizmente Caetano não tebe a força anímica nem a personalidade forte de Salazar. Tal como afirma Vivendi, Salazar era muito respeitado e era obedecido cegamente pelo povo, mais que não fosse pelo bem que fez ao País e pela defesa intransigente da Pátria e do Povo durante todo o tempo que governou Portugal. E isto o Povo jamais esqueceu, tanto cá como em África.

josé disse...

"Já aqui escrevi e reafirmo, foi por pouco, faltou uma ou duas gerações para a missão civilizadora portuguesa vingar."

Eu acho isso uma perfeita ilusão e digo porquê:

A Rodésia e a África do Sul tinham essa elite de brancos e pretos a governar.
Não foi suficiente.

Os "ventos da História" que formaram a geração Rebelo de Sousa filho quando o pai ainda era da velha, foram implacáveis como acontece sempre que qualquer coisa tem que suceder por ter muita força.

Imaginemos que Hitler tinha conseguido a bomba nuclear e ganho a II Guerra.
O Mundo seria diferente? Ou seja, o comunismo não teria hipóteses de se implantar no Leste europeu?
E se não tivesse havido comunismo nem guerra fria o que teria sucedido a África? Teria continuado terra de pretos com brancos a mandar e a explorar as riquezas naturais como é próprio do capitalismo, mesmo com desenvolvimento local?

Agora saiamos desta prognose póstuma a la minute e fixemo-nos no pós-guerra em que os europeus descolonizaram.

Os portugueses eram diferentes dos belgas, franceses ou ingleses? Claro que eram, mas não o suficiente para assumirem uma cor de pele diferente e se transformarem por obra e graça disso povos autóctones sem o serem verdadeiramente.

Para mim, o problema africano reside da raça, efectivamente. Não é possível ter brancos a mandar em terra de pretos, para dizer simples.

Mesmo que sejam melhores, tenham uma missão civilizadora reconhecida e terem sido arautos de desenvolvimento incontestável, como aconteceu connosco, o problema de raiz continuaria lá e seria fonte de instabilidade permanente que só se resolveria com guerra.

Foi isso que a elite sul-africander percebeu e não lutou contra o mar ou contra os ventos da História.

Querer contrariar esses ventos é meritório do mesmo modo que D. Quixote o foi...

josé disse...

A "operação Mar Verde" foi pura fibra, efectivamente e devemos louvar os guerreiros que a fizeram.

Mas não foi nem seria suficiente para resolver o problema mesmo que se multiplicassem por dez ou cem.

Não é possível resolver tudo militarmente quando estamos isolados.

E Carlos Magno construiu um império maior que todos e mesmo assim ficou sem ele. E eram todos povos europeus e no dealbar de uma época de civilização crescente, no dealbar de um novo milénio.

Os EUA só se construiram porque houve uma colonização maciça. Em África talvez isso fosse possível se expulsássemos os pretos que havia e os reduzíssemos a reservas na Gorongosa ou assim, como fizeram os americanos.

Isto parece-me evidente.

josé disse...

A escravatura como sistema de organização social durou séculos, mas os ventos da História acabaram com ela.

A escravatura como foi, ou seja, em que alguém pode ser dono efectivo de alguém.

Agora há quem diga( comunistas) que continua a escravatura através da exploração do Homem pelo Homem. Mas já vem aí quem diga que também a Mulher deve entrar na equação linguística. Ventos...

josé disse...

Se há alguém que poderia manter uma estrutura política e organizacional de um país durante décadas e décadas, seria a África do Sul. Tinha brancos em quantidade suficiente que detinham o poder efectivo em tudo. Tinha leis, exército, poder de facto.

Mesmo assim não foi suficiente, mas os argumentos que aqui vejo expostos para defender que nós tínhamos a guerra ganha e poderíamos continuar com maior propriedade se poderiam aplicar á África do Sul.

Então porque deixaram tudo aquilo e entregaram ao Biko?

É simples, a meu ver: a inelutabilidade dos ventos da História.

josé disse...

O Sul dos EUA antes da guerra civil tinha um sistema político-organizativo que funcionava com escravatura institucionalizada. Porém, os "ventos da História" que sopraram do Norte acabaram com isso e Lincoln ganhou.

Poderiam os EUA do Sul ter ganho e resistido para sempre até hoje, havendo por isso um sistema assim?

Pensem.

muja disse...

Não foram os ventos da história que acabaram com a escravatura. Foram os ingleses quando descobriram uma força de trabalho mais barata, que os outros não tinham disponível desde logo.

Ventos não são nada. São cantos da sereia.

Como todos os cantos, quem os segue, acaba afogado.

Militarmente o problema estava resolvido, excepto na Guiné onde era manifestamente difícil por ser pequeno e exposto o território. Em Angola a guerra foi efectivamente ganha. Em Abril de 74 a actividade inimiga estava reduzida a emboscadas a viaturas civis junto à fronteira. Eu possuo os elementos, e não há dúvidas a esse respeito.

Nunca enfrentámos uma sublevação popular e em 73 isso era já inconcebível dado o domínio atingido na doutrina e técnica de acção psicológica e contra-subversão.

Portanto, essa cantiga do não ser possível resolver militarmente é só isso: cantiga de quem não sabe do que fala. Propaganda comunista. Se não era possível resolver militarmente porque andavam eles a combater-nos e a fomentar guerrilhas em todo o lado?

Eu fui documentar-me - e não foi cá em historiadores do paleio - e hei-de mostrar essa documentação. Em Angola estava ganha, em Moçambique não andava longe. Apenas na Guiné o caso era mais delicado, mas as nossas tropas tinham liberdade total de movimento.

Com os terroristas aniquilados e expulsos, então - e só então - haveria margem de manobra para tentar alguma coisa diferente. É assim que se faz. Não é ouvir cantos de sereia.

O engraçado é isto. O José acha que não podíamos ganhar. Eu sei que ganhámos. Mas eu é que sou o fantástico.

josé disse...

"Não foram os ventos da história que acabaram com a escravatura. Foram os ingleses quando descobriram uma força de trabalho mais barata, que os outros não tinham disponível desde logo."

É exactamente isso, os ventos da História. É a conjugação de vários factores que em determinada época se tornam imperativos para quem quiser compreender o que se passa.

josé disse...

Eu acho que poderíamos ganhar. A Áfica do Sul ganharia com toda a certeza os conflitos de guerra civil que se geraram.

A questão não é essa. É a de perceber por que razão os americanos que também poderiam ganhar no Vietnam não ganharam ou os russos no Afeganistão.

Ver a árvore militar portuguesa que ganhava em Angola, Moçambique e Guiné é não reparar na floresta de enganos que a encobria.

josé disse...

Vejamos: suponha-se que nós ganhávamos a guerra de guerrilhas no Ultramar, reduzindo-a a uma expressão mínima.

Essa vitória militar teria sempre que ser suportada com repressão política mais intensa do que por cá se fazia aos comunistas, pela PIDE/DGS.

Por outro lado, como é que se poderia integrar a população autoctone e de cor preta como fazendo parte de Portugal se os mesmos não sentissem a cultura, a tradição, a língua sem dialectos, a maneira de ser ( quem é que efectivamente trabalha manualmente nesses países? Os homens ou as mulheres?) etc etc, tudo aquilo que faz um país verdadeiro, uma nação inteira e uma tradição histórica.

Portugal tem uma tradição milenar. Angola nem centenária sequer, a não ser para as tribos que porventura preservem memórias dos antepassados. E já agora, onde? Nas pedras? Nem isso. Nas árvores? Não pode ser. Na terra? Não funciona.

Onde está a História africana arquivada? Como é possível fazer entender a esses povos o que para nós é comezinho e importante?

Dádá disse...

Já o meu pai dizia.

Só há dois tipos de comunistas.

1- Os oportunistas, os tais que querem pertencer à nomenklatura e explorar todos os outros (comunistas e não comunistas) e viver à mama do Estado. Estes sabem bem como funcionavam as ditaduras de esquerda, e como o sabem, querem aproveitar-se do seu funcionamento pertencendo à cúpula.
2- Os ingénuos, que acreditam em utopias e se deixam mansamente explorar pelos primeiros.

josé disse...

De resto o que acabou mesmo com a escravatura não foi uma ideologia? Humanista e que foi levada para a América pelos founding fathers?

As Luzes também aí se fizeram sentir. Luzes ou Ventos da História, para arranjar um eufemismo.

josé disse...

Pelo critério da racionalidade económica acho que não pode haver mão de obra mais barata que o trabalho escravo...

muja disse...

Pois, por isso é que o José não é um capitalista! Ahaha!

muja disse...

Pense lá bem.

Escravos são coisas delicadas: adoecem, revoltam-se, fazem asneiras, morrem. E não se alugam, o que quer dizer que uma vez perdidos vai o investimento com eles. E demais a mais, é preciso ir buscá-los lá longe, em empreitadas perigosas; e de raças estranhas e exóticas para parecer que até nem servem para outra coisa, mas que depois saem burros que nem portas para o que se quer deles.

Uma máquina, por exemplo, é muito mais barata que um escravo. Mas antes da tecnologia, pode-se trabalhar o material de outra forma:

Duplicando, com mulheres (e crianças), as pessoas disponíveis para trabalhar, o que faz duplamente baixar os salários: quer pela duplicação em si, quer por esta ser feita à custa de pessoas dispostas a trabalhar muito mais por muito menos. Esta força duplicada é muito mais barata que escravos de lá 'lém: não é preciso ir buscá-los a lado nenhum: eles próprios vêm por próprio pé; são mais espertos, se morrerem não se perde nada que não se recupere; e ainda gastam o que se lhes dá a comprar o produto do seu trabalho.

Hoje temos uma solução híbrida, que nem carro. Os de raça estranha e exótica já não são tão burros como eram, e também vêm pelo próprio pé (com umas cenouras e um empurrãozinho ocasional), trabalham por menos ainda, gastam o que têm e o que não têm, e quantos mais vêm menos custam. E ainda votam!

Se V. for o primeiro a conseguir isto no mundo, vai fazer muito dinheirinho. Se ainda por cima se lembrar que é anti-esclavagista desde sempre (i. é, desde que conseguir isto), e no processo arruinar os outros esclavagistas obsoletos, ainda mais ganha.

Bom, o José, propriamente dito, não vai ganhar nenhum ahaha!

Esta pode levar de graça que eu ofereço.






Maria disse...

Mas José, diga-me uma coisa, acha que é comparável a população existente em Angola e Moçambique quando os portugueses neles aportaram, com a que existia nos outros territórios africanos (que seria também nestes quase nenhuma, com a rara excepção de algumas tribos)? Numa transcrição excelente que Vivendi deixou, há frases de Salazar (proferidas creio que pelo início dos anos sessenta), sobre a pressão que os E.U. exerciam sobre o governo português para que promovesse a auto-determinação em Angola (território cujas riquezas incomensuráveis eles cobiçavam com uma ganância e sofreguidão mal disfarçadas desde há largas décadas) que foram inteligentes, sábias e cheias de razão: (cito de memória podendo haver alguma palavra a mais ou a menos, mas o sentido é este) "mas que hipocrisia e que afronta, quererem que abandonemos aqueles territórios vastíssimos habitados por meia dúzia de tribos dispersas que se guerreiam entre si e deixemo-las entregues à sua sorte! Que cinismo e logo eles que nunca se preocuparam com os índios e negros que lá têm nem nunca lhes perguntaram se queriam a auto-determinação!". Parecia que Salazar adivinhava por antecipação - o que convenhamos, nem sequer era difícil para qualquer português vulgar de Lineu, muito menos para o um Estadista da sua têmpera cuja visão de Portugal e do mundo situava-se muito acima da mediania - o que aconteceria se abandonássemos aquelas gentes à sua sorte.
(cont.)

Maria disse...

(Conclusão)

Outra coisa. O José tem ideia da quantidade de brancos idos da Europa, principalmente a partir dos séculos dezoito e seguintes, para se instalarem definitivamente naqueles dois territórios, sobretudo em Angola e São Tomé, mas também em Moçambique (e aqui muitos idos de Timor e da Índia, a partir dos anos sessenta), muitos dos quais se foram relacionando com autóctones gerando gerações de mulatos que por sua vez se foram relacionando maritalmente com outros brancos idos da Metrópole mas também da Bégica (a Avó da Simone de Oliveira era belga e quase de certeza loura e d'olhos claros e o Avô era preto retinto, segundo palavras da própria, mas outros mais de lá partiram com destino aos nossos territórios) e da Inglaterra (o Pai de João Maria Tudela era inglês e casou-se com uma moçambicana) e de outros países europeus cujos descendentes, com a pele cada vez mais clara (por ex., Almada Negreiros já nascido em S. Tomé, filho de um dos progenitores ido de Portugal e casado com um/a são-tomense, possuía traços fisionómicos negróides e cabelo encrespado e no entanto tinha a pele branca - e com a mesma ascendência e fisionomia muitos outros houve, nascidos nestas duas Ilhas), foram-se unindo maritalmente a brancos/as e/ou mulatos/as e gerando filhos alguns dos quais louros e de olhos azuis (conheci uma data destes, amigos da família) outros ainda de cabelo castanho claro e olhos esverdeados, outros de cabelo preto e olhos cor de avelâ e todos eles com a pele branca como o leite? E este mar de gente, na verdade uns bons milhões, afinal a que compreendia a grande maioria da população dos nossos ex-territórios, não iria ter uma palavra a dizer sobre a continuação da sua ligação a Portugal, caso esta pergunta lhes tivesse sido colocada em referendo? Se pensa que iriam dizer não, desculpe José, mas está completamente enganado. (A propósito, lembra-se das revoltas em Luanda e Lourenço Marques logo após o 25/4? E que foram abafadas pelos comunistas-ex-terroristas combatentes no terreno? E recorda-se das notícias que relatavam que os militares comunistas que tomaram d'assalto os dois territórios, tinham ordens direcas de Mário Soares para que os moçambicanos revoltosos que não se submetessem aos desmandos dos terroristas armados em democratas, fossem lançados ao mar? E sabe-se o que estes patriotas tentaram fazer, convencidos que os governantes em Lisboa os iriam apoiar e secundar nos protestos legítimos. E não lhe diz nada sobre quem se achava de facto com direito a defender aquelas terras consideradas suas e de seus antepassados desde há muitas gerações e pertença inquestionável do Portugal europeu desde há várias centenas de anos?). Já disse e volto a repetir, sei do que falo. O problema de quem diz o contrário ou nunca esteve em África ou se esteve foi de passagem e não conheceu aqueles territórios e menos ainda as suas gentes. Gentes de todos os tons de pele e longitudes, desde os negros aos brancos passando pelos de cor intermédia.

José, sobre a tese que defende relativamente a este problema que temos vindo a debater, permito-me colocar -lhe duas dúvidas (quase certezas...) e fazer uma afirmação e baseio-me exclusivamente nas suas palavras quanto ao que pensa dos negros angolanos e moçambicanos e dos demais negros for that matter. E também de Portugal não ter qualquer direito a conservar aqueles territórios como seus. Sem ofensa José, mas não haverá por aí uma costelita comunista? E não haverá também algum racismo (ou 'alergia', se preferir) muito subtil relativamente à raça negra (e indiana e asiática) de uma forma geral? Se é o caso, não se preocupe, disso é o que há mais por aí, embora a maioria tente disfarçar (mal, diga-se de passagem). Mas também há o seu contrário. Estou à vontade para falar, também tive uma ou duas pessoas destas na minha famíla próxima e quanto a este preconceito, algo irracional, não há nada que se possa fazer.

josé disse...

"Mas José, diga-me uma coisa, acha que é comparável a população existente em Angola e Moçambique quando os portugueses neles aportaram, com a que existia nos outros territórios africanos (que seria também nestes quase nenhuma, com a rara excepção de algumas tribos)? "

Não foram os suficientes, como aliás Kaulza de Arriaga dizia.

"Sem ofensa José, mas não haverá por aí uma costelita comunista? E não haverá também algum racismo (ou 'alergia', se preferir) muito subtil relativamente à raça negra (e indiana e asiática) de uma forma geral?"

Não me parece. O que há são várias costelas realistas, mesmo no caso do racismo que não reconheço como tal porque não quero ter preconceitos politicamente correctos.

Para mim, em África, os pretos nada fizeram de semelhante a outros povos, mesmo indios, no sentido de preservar a memória de alguma civilização.

Durante milénios viveram como ainda alguns vivem hoje em dia.

Isto não é ser racista mas bem realista.

josé disse...

Quando os colonos aportaram à América no Norte os índios eram certamente em número muito maior, incomparavelmente. E foram dizimados.

O caso do Brasil é mais interessante. Quem eram os indígenas brasileiros no séc XVI?
E os que viviam nas possessões espanholas?

Cada vez mais me convenço que a questão africana é uma questão rácica, sem sentido pejorativo.

muja disse...

A questão é rácica, mas a raça em questão não é a preta.

Quem é que decidiu que os pretos tinham de ser independentes enquanto pretos? Foram os pretos ou os brancos?

O José ora diz que os ventos da história são determinantes como que é questão de pretos.

Mas as duas coisas não combinam muito bem. Os pretos não comandam ventos nenhuns.

Dizer que são intratáveis é desculpa para não enfrentar a realidade de que isto é uma questão de brancos.

josé disse...

"Quem é que decidiu que os pretos tinham de ser independentes enquanto pretos? Foram os pretos ou os brancos?"

Quem é que decidiu que os lusitanos deveriam ser independentes de Roma, o Império de então?

Foram eles mesmos...Viriato à cabeça, segundo a lenda histórica.

josé disse...

Os pretos seguiram a mesma tendência...o que é perfeitamente compreensível e por isso não sou racista.

josé disse...

Os ventos da História, já o disse atrás, são circunstâncias que em determinada época se conjugam para tornar certas realidades inultrapassáveis. Tais como os ventos, mudam de direcção...

O facto de os pretos serem a questão em África parece-me uma evidência e que só se tornou questão para os brancos na altura em que os tais ventos sopraram a favor deles.

zazie disse...

Esse aspecto dos negros não terem sequer preservado a sua própria história é curioso e pertinente mas creio que daí se poderia até tirar sentido oposto.

E lembro-me do VPV ter comentado o facto de há uns anos, após independência, quererem reivindicar uns marcos das descobertas eheheh como se nada de nelhor para a identidade fosse a pedra a marcar o dia em que os encontraram.

Só que daí podia-se era retirar que, sendo assim, e até nem tendo havido aqueles combates de vida ou de morte, séculos antes, mais natural seria habituarem-se a uma sociedade mista do que outros povos mais aguerridos e com identidade melhor preservada.

Quero com isto dizer que não sei de onde vem a tendência para uma África negra- que é uma realidade- se apenas da diferença do racismo negro se também por efeito postiço de um black power e de descolonizações mais vastas que vieram acordar o ressabiamento por se sentirem "dominados".

zazie disse...

O racismo é preto. Pode parecer uma boutade mas sempre que se fala em racismo tem de vir a imagem do preto inferiorizado contra o branco superior.

Nunca se fala em racismo por inferioridade de amarelos ou vermelhos ou seja lá o que fôr.

É sempre o preto, a carapinha a raça negra. E a reacção dos negros a estas características mostra como se sentem também mal com elas.

Nas mulheres é mais que óbvio- não se vê hoje em dia, uma negra de extracto social mais inferior que não estique o cabelo ou use cabeleira postiça.

Já perguntei até a mais do que uma porque é que não usam o cabelo ao natural, com aqueles rabichos giros que outras mais vip usam.

A resposta é estranha e sempre a mesma- "porque parecia selvagem". "Fica mal".

zazie disse...

Já para não falar do cheiro a catinga que também é único e elas sabem e tudo usam para o disfarçar.

São questões biológicas que devem ser demasiado fortes para depois, em colectivos, e com doutrinação não tenha dado tendência geral para revolta.

E hoje em dia são todos racistas e todos (sem excepção) se dizem vítimas do malvado colonialismo e até falam dos tempos em que até eram escravos. É esta a imagem identitária e não pode ter sido totalmente fabricada por comunistas sem nada a ver com eles.

zazie disse...

Quanto ao racismo é parvoeira em duplo sentido- seja no que faz luxo disso, seja no apalermado que queira fingir que nunca existiram diferenças raciais porque os tugas também eram farruscos (provavelmente só pode ser por este motivo).

zazie disse...

Os índios foram dizimados porque também não aceitaram invasão. Resistiram, combateram, saquearam, mataram e acabaram dizimados e em reservas.

Os africanos fizeram algo de idêntico?

muja disse...

Fizeram algo de idêntico sim. Até certo ponto, porque não sei exactamente o que fizeram os tais índios...

As campanhas de Mouzinho de Albuquerque, Paiva Couceiro, etc, foram para pacificar as províncias. Mas normalmente o que se passava era que alguma autoridade tribal decidia revoltar-se, normalmente por influência alheia.

Mas era selectivo e nunca houve necessidade de levar a cabo chacinas a eito. O próprio Gungunhana foi exilado para os Açores, em vez de fuzilado como era normal naquela altura...

zazie disse...

Foi assim em toda a África? Houve colonialismo da pior espécie e não consta que esses escravos se tenham revoltado.
tinha ideia que o tribalismo ajudou a muita pactuação.

E houve. O que belgas fizeram é uma vergonha histórica. E os ingleses, idem. Nós também não temos uma página limpinha de toda a permanência africana.

Em indo pé-descalço a coisa descamba. E foi muito pé descalço até para o ex-Congo Belga e era gente das barracas cá.

zazie disse...

Os índios americanos toda a gente sabe. Dá nos filmes e até havia cromos.

Acabaram no circo e em reservas. O resto desapareceu. Daí aquilo ser de americanos. África não teve nada disto, não ficaram reduzidos a reservas, ficou negra por direito rácico próprio.

Um continente inteiro para de exclusividade preta. Tal foi a identidade histórica que a coisa se generalizou apenas por pele.

muja disse...

Essa história dos marcos é ilustrativa da mistificação à volta da questão: os pretos - enquanto tais - nunca poderiam aspirar à independência como ela foi apresentada pelo anti-colonialismo porque essa independência não assentava em nada histórico que do colonialismo pudesse ser dissociado.

Não foi o Reino do Congo, ou a nação Zulu que reivindicou a independência. Eram precisamente territórios que mantinham a sua configuração estabelecida pelos colonizadores brancos.

Angola não existia enquanto tal antes de lá chegarem os portugueses e até bastante tempo depois disso. Idem para quase todos os países africanos. Que lógica tem então uma Angola independente só com pretos?

Aliás, a solidariedade racial é um mito e basta olhar para os brancos. Nunca houve nem há. Ou melhor, há agora, com os nacionalismos brancos, e que não passa do espelho da que pretenderam inculcar aos pretos.

É mito, não existe nem nunca existiu.

E mesmo os nacionalismos pretos saídos - ou incubados - com o anti-colonialismo evoluíam logo, mediante o ego do protagonista, para delírios de pan-africanismo que se concorriam uns aos outros.

Tudo isso foi incubado e dirigido de fora de África. O pan-africanismo até já existia dantes e havia em Lisboa no início do século pacificamente. Mas mas era mais numa onda de emancipação do preto do que de revolta contra os brancos.







muja disse...

Nos outros sítios não sei como foi.

De resto, convém distinguir entre políticas de Estado ou soberanas e o que cada um faz por si.


zazie disse...

O que acaba de dizer confirma que o ingrediente foi rácico e não nacionalista.

Black Power- África para os negros. Os países nem contam porque o tribalismo era dominante e quem inventou países foram os colonialistas brancos.

muja disse...

Mas o ingrediente de quê? Vs. falam como se os pretos no geral estivessem em pé de guerra connosco. Isso é mentira. É falso.

Os próprios guerrilheiros se apresentavam às autoridades por estarem fartos de andar no mato.

A realidade concreta, lá, era essa. Não era a que andava na cabecinha dos jovens revolucionários da faculdade europeus ou americanos e que depois passou a verdade oficial.

Os o racismo entre os pretos agora não tem nada que ver. É produto do anti-racismo comunitário e dos "thug lifes" do marketing-propaganda massificado. É o que diz, entre eles, que ser bom aluno na escola é fazer branquices...

Isso é moderno e é outra consequência da catástrofe e da supressão da informação, senão mesmo da história.

josé disse...

"Os próprios guerrilheiros se apresentavam às autoridades por estarem fartos de andar no mato."

Mais uma vez a árvore em vez da floresta.

Os guerrilheiros que se entregavam e colaboravam eram minoria. Mas a questão nem é essa: a noção de nacionalismo misturada com tribalismo e verdadeiro racismo anti-branco viria sempre ao de cima como veio noutros países.

O Black Power americano sairia sempre como moto ideológico e profundo.

muja disse...

E o José sabe que eram a minoria como, já agora? Quantos guerrilheiros havia?

E o resto é sentença retro-futurológica sua.

Essa noção de "black power" existe no homem comum em Angola ou Moçambique? Só se fossem tolos. Mas eles têm algum "power"?

É como a história das mulheres: têm algum "power"? Ou têm ainda menos do que tinham dantes?

Isso foi tudo fabricado por brancos - com mais ou menos penca. Ainda é.

josé disse...

Sei que era minoria pela lógica das coisas. Se fosse maioria não haveria guerrilha...

Estamos a falar dos que se passavam para o "inimigo" que éramos nós...

zazie disse...

O que têm agora não sabiam na altura. Os enganos da história existem precisamente por isso.

Nem todos nascem com dons visionários.

zazie disse...

Quando um engano é geral, só um maluco insiste em dizer que não contava e que um pequeno país podia ter mudado a história do mundo.

muja disse...

Não seria a primeira vez que o faria.

muja disse...

Velho do Restelo! És tu?!

muja disse...

Eu não digo que o engano não contava. Digo que naquilo que nos interessa, que era a realidade concreta de lá, nem sequer existia.

zazie disse...

Sabe o que significa o Velho do Restelo?

Aposto que não sabe.

muja disse...

Posso não saber o que significa mas sei o que ele dizia

muja disse...

Curiosamente V. foi logo pegar nisso.

Porque não pega no pequeno país incapaz de mudar o mundo?

José disse...

"Posso não saber o que significa mas sei o que ele dizia".

Se for assim, não saberá. Mas não fica sozinho porque há várias interpretações sobre o significado das palavras escritas por Camões.

José disse...

Foi agora editado o volume do Pe António Vieira sobre a Clavis Prophetarum.

Talvez valha a pena vistoriar.

muja disse...

Não sei o que ele dizia? Então como é isso?

Eu sei que há várias interpretações e também sei que ela sabe mais sobre isso a dormir que eu acordado. Mas isso não interessa nada para o que estamos a discutir.



José disse...

No caso, não. Mas tudo isto está relacionado como vimos há uns meses atrás.

O Público activista e relapso