quinta-feira, dezembro 09, 2021

O presente mais imprevisível de Francisca Van Dunem

 A actual bi-ministra e inefável Van Dunem,  futura juíza Conselheira do STJ em exercício daqui a algumas semanas,  é assim retratada no Tal & Qual de hoje, num exercício simpatiquíssimo da jornalista Ana Maria Simões ( de onde vem e para onde quer ir?)  que vale a pena ler pelo que deixa escapar nas entrelinhas. 


A história da família Van Dunem apresenta factos até agora algo ignorados nas biografias tipo wiki. A "gloriosa família", segundo Pepetela, parece ter um lema relacionado com a "enxada", metáfora para o "instrumento" que um celebrizado camponês do tempo das "cumprativas" da Reforma Agrária na herdade Torrebela protagonizou e ficou retratado em filme. 

A "enxada" dos Van Dunem era o estudo, ou seja, os diplomas ou seja ainda o saber e o conhecimento, principalmente este, certamente.  "A jovem Francisca Eugénia (...) chegou a Lisboa com 17 anos, em 1973, e nas vésperas de uma revolução que mudou ainda mais rapidamente os destinos de Portugal e de Angola. "(...)" A vinda para Lisboa para estudar Direito, a Revolução do 15 de Abril, o regresso a Luanda em 1975 a tempo de participar na independência do país, a hesitação em voltar a Portugal, o regresso em 1976 para terminar o curso em 1977".  Assim, numa frase sintetizada, o percurso académico da "gloriosa" Francisca Eugénia, não suscitou qualquer interrogação ou sequer curiosidade à jornalista que lhe traça o perfil. 

E ainda mais: "Em Março de 1977 ainda vai a Luanada e prepara o regresso mais definitivo ao país, mas em Maio acontece o chamado "golpe nitista", liderado pelo dirigente do MPLA. Nito Alves. José Van Dunem, o irmão mais velho, e a cunhada Sita Valles, desaparecem no massacre dos dias que se seguiram." 

Portanto em Março de 1977, ano em que terminou o curso, que foi em Julho, com diploma passado, logo na "primeira época" de exames e  através do "método B", Francisca Eugénia viveu momentos aflitivos e dramáticos e em Março estava em Angola. E os estudos e exames?! Fez tudo, obteve o diploma e nesse mesmo ano era já "monitora" no curso de direito, em processo Penal leccionado pelo assistente José António Barreiros que aliás já explicou que nada teve a ver com a contratação para o lugar e só aceitava pessoas com licenciatura para tal tarefa. A escolha, a selecção, certamente de entre outros candidatos, por concurso ou método adaptado, era encargo da direcção da escola, desse tempo. Quem era a direcção da escola desse tempo e da FDUL? Pois vá-se saber...

Mais: 

"Em Maio de 2021, o presidente João Lourenço surpreendeu e pediu desculpa a todas as vítimas do 27 de Maio e anunciou a recuperação possível dos corpos.

Com a colaboração de testemunhos orais, chegou ao local onde foram enterrados José Van Dunem e Sita Valles. Sabe-se agora que, com o que resta dos corpos de um e de outro, estão a ser identificados, num processo em que colaboram técnicos portugueses do IML e da PJ, liderados pelo director-adjunto Carlos Farinha".

Mais palavras para quê? Em Angola, nos acontecimentos de Maio de 1977 morreram dezenas de milhar de pessoas. Afinal temos notícias de duas. Precisamente os familiares directos da nossa ministra da Justiça que tutela a PJ e o IML. Foi  Angola que pagou tudo? Pois sim. Pois sim. E...basta?

Tudo isto é normal, é notícia e até alvo de encómios e nenhumas perguntas. 

Pobre Portugal. 



Sem comentários:

O Público activista e relapso