Já aqui mencionei o livro de Soljenitsine, L´Archipel du Goulag, publicado em França pela Seuil no início do ano de 1974 e em Portugal, pela Bertrand, com o título Arquipélago de Gulag, em final de 1975 ( o vol I porque o segundo só em 1977 e com episódios rocambolescos de censura pelos "trabalhadores" da gráfica) . O livro foi reeditado por cá em 2017.
A obra de Soljenitsine é um requisitório contra o comunismo soviético da primeira metade do século XX e o autor foi preso em Janeiro de 1945 por ter escrito uma carta a um amigo em que tecia críticas ao sistema militar soviético e a Estaline. Por causa disso Soljenitsine foi preso, sem qualquer acusação e condenado a oito anos de prisão e quatro de exílio. É assim que se explica a génese do livro, na badana da edição portuguesa de 1974.
Na altura lembro-me de ver o livro na edição francesa nos escaparares das livrarias, a preço probitivo. Eram estas, em dois volumes:
E em 1975 este:
Tal como já referido no postal não me recordo de grande ruído mediático à volta do livro e do tema. Em 1975 o comunismo e o esquerdismo generalizado nos media impediu ipso facto a discussão acerca da grande ilusão e dos horrores da repressão soviética, sinal inequívoco do totalitarismo.
Por cá o tema e por causa disso foi completamente censurado pela esquerda e julgo que só o Expresso lhe fez alguma referência, breve e inconsequente, se tanto. O Jornal que então já se publicava ( desde Maio) e sob a batuta de Joaquim Letria, não arranjou espaço para o assunto.
Ainda assim a imprensa internacional da época não fizeram de conta que nada acontecera, como por cá sucedeu.
A Time deu a capa, logo em Fevereiro de 1974, no primeiro número que comprei dessa revista e por causa disso:
A L´Express, em França, com o título sugestivo sobre o "desafio de Soljenitsine" :
O tema era de importância enorme e havia por isso um elefante na sala mediática que o comunismo caseiro e os seus habituais companheiros de viagem ou de caminho queriam à viva força evitar dar a conhecer aos cidadãos para não os tornar pessoas esclarecidas sobre o comunismo. Ainda hoje é assim e os métodos são idênticos: desmentir factos ou desvalorizar quando o não podem fazer.
O que então era óbvio explica-se agora muito melhor num livro de Michel Onfray, publicado recentemente pela Guerra e Paz, com o título Autodafés- L´art de détruire des livres, de 2021. A tradução portuguesa, ( de André Morgado) parece-me francamente má, porém como é livro não literário, passa.
As páginas sobre o livro de Soljenitsine e o modo como foi censurado em França por toda a esquerda esclarece de algum modo o processo inquisitorial que se inicia sempre que alguém põe em dúvida determinados dogmas esquerdistas ou ideias que não se devem discutir na óptica do interesse esquerdista.
Vale a pena ler, porque é um requisitório dos métodos de censura do PCP , BE e outros esquerdismos que omitem, distorcem e mentem acerca de factos que os podem prejudicar politicamente.
Em 1974, em França colocava-se a questão de o socialista Miterrand concorrer eleitoralmente com Giscard d´ Estaing à presidência, inaugurando na Europa uma geringonça avant la lettre que afinal só em 1981 se concretizou e apenas durante alguns meses. Os quatro ministros comunistas convidados por Miterrand para o governo foram afastados dali a pouco e acabou então a aventura da esquerda socialista aliada aos comunistas.
Porém, enquanto a ilusão se manteve, o livro de Soljenitsne foi desvalorizado e relativizado. Tanto que Michel Onfray, em toda a lógica, considera que o relato de Soljenitsine poderia justificar um processo ao comunismo semelhante ao que foi realizado em Nuremberga, ao nazismo.
Mesmo com tais factos e essa lógica vemos ainda hoje em Portugal palermas apalhaçados e aburguesados na tv a propagandear o ideário comunista, desavergonhada e impunemente. Se alguém fizesse o mesmo ao nazismo seria processado e eventualmente preso e gozado por isso nos tais programas apalermados. Essa realidade de dois pesos e duas medidas é insuportável no Portugal democrático mas é o que temos, porque a censura continua e a omissão de denúncia dos crimes do comunismo é permanente. Uma das razões para tal é a meu ver simples de entender: quase todos os jornalistas "séniores" que mandam nos media foram ou tiveram ligações ao esquerdismo, comunista ou de extrema-esquerda. Daí o esquecimento...
Assim:
Por falar nisto lembrei-me de Pacheco Pereira, o "historiador" do PCP. Em 1974 e 1975 conhecia isto, pela certa. Então qual seria a sua posição sobre o assunto? Pois é demasiado fácil adivinhar: a mesma que teve certamente em relação ao livro de Simon Leys, sobre o maoismo e a sua extraordinária revolução cultural, também alvo da atenção do livrinho de Michel Onfray...
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