terça-feira, agosto 30, 2022

A aldeia do Poças

 O articulista do Observador Nuno Poças tem este artigo interessante que encaixa no tema que se anda aqui a discutir:






Como esta aldeia do advogado Poças não é lá muito parecida com a minha, quanto ao povo que lá havia e ao seu modo de ser, vou tentar dizer como era na minha terra até há uns anos, indo ao tempo que antecedeu a tal década de 80, altura da tal emigração de uma elite que não sei bem quem seja...porque quem era qualificado antes sempre procurou poiso rentável algures, eventualmente na estranja e isso desde sempre, pois não é de agora. 

Assim, vou começar: 

Na aldeia onde vivi e os meus pais e avós viveram havia médico, desde pelo menos os anos sessenta, altura em que apareceram as Casas do Povo, como na aldeia do advogado Nuno Poças. 
A diferença é que o médico tinha assento diário ou várias vezes por semana, num dispensário equipado com o que era essencial à função em edifícios bem concebidos e bem construídos, hoje quase todos reconvertidos em coisas da "cultura" e quejandas novidades que nessa altura também por lá havia porque até existia um salão e um palco. 
E o médico, ambulante, tinha igualmente o apoio diário de uma enfermeira ( eram mais enfermeiras que enfermeiros, nesse tempo, o que desmente ipso facto uma propalada discriminação de género e profissão) com conhecimentos suficientes para fazer curativos rápidos e urgentes. Antes de haver a Casa do Povo já havia porém, serviços médicos e de enfermagem que funcionavam numa casa particular cedida por alguém que não precisava da mesma. E havia o farmacêutico que distava alguns, poucos quilómetros, que se faziam de noite, se necessário para acudir a alguma emergência, normalmente com as crianças pequenas. 
O farmacêutico ainda era dos que não tendo diploma tinha a experiência que estes só dão passados muitos anos e por isso era o Sr. Vieira, bonacheirão e sempre disponível a quem se ficavam a dever igualmente favores que os necessitados dos seus préstimos pagavam em géneros. 
Não era vergonha nenhuma pagar em géneros e sempre assim foi entre as pessoas das aldeias, ou seja dos "campos". Ainda hoje é assim, segundo me parece. 
A sua riqueza não vinha ainda dos rendimentos mínimos e sociais "de inserção",  um bónus que apareceu há algumas décadas e ajudou a esquecer este modo de ser,  pagos por todos para todos os que se apresentam com credenciais adequadas, mesmo fictícias. 
O rendimento das pessoas do campo, das aldeias, vinha da poupança do que sobrava do que vendiam nas feiras e mercados, locais ou municipais, do leite que entregavam no posto, todos os dias, duas vezes por dia, num caneco de lata que por vezes se esqueciam de lavar e era rejeitado pelo "homem do posto", obrigando a uma educação sanitária que logo esqueciam no curral e nas côrtes do gado que aliás ficavam na parte de baixo dos pequenos quartos das casas "quanta caibas", separados pelo sobrado em madeira.  
Toda a gente dessas aldeias e portanto da minha, pensava que tinha que poupar "para uma doença". Era assim, porventura há séculos e por isso estes costumes atávicos não se esvaem com o tempo de algumas décadas, coisa que o advogado Nuno Poças se calhar não ponderou, como argumento dissuasor da sua prosa jeremíada.
Se o povo da aldeia dele e da minha dava géneros ao sr. doutor, fosse médico, das leis ou da universidade escolar, fazia-o por genuíno sentimento de gratidão e recompensa de labor prestado. Não era de "chapéu na mão" ou de "lenço que não estivesse roto dos ramos na cabeça",  em sinal de subserviência manhosa, porque a subserviência dos ditos humildes é quase sempre desse tipo. Era por respeito por quem tal merecia aos olhos de quem precisou. 
Uma troca, afinal e para não ficarem a dever favores, coisa que as pessoas das aldeias percebiam muito bem porque tinham uma dignidade que tende a acabar e que alguns nem sequer entendem.
Talvez o advogado Nuno Poças não saiba alguns destes rifões da sabedoria popular do tempo dos seus avós, mas estes certamente os conheceriam:

Ao médico, ao letrado e ao abade, falar verdade.

Deus cura os doentes e o médico recebe o dinheiro.

Erros de médico, a terra os cobre.

Médico velho, advogado novo. 

O melhor médico é o que se procura e não se encontra.

Remédio caro faz sempre bem, senão ao doente, ao boticário.

Porco fiado, todo o ano grunhe. 

Poupai o vosso, não mendigareis o alheio. 

O precisar ensina a rezar. 

A preguiça é a chave da pobreza. 

Pedido recusado nunca mais é perdoado.

Pede a quem herdou que não sabe o que lhe custou. 

Aos pobres até os cães ladram. 

Quem isto sabia não é "humilde". É conhecedor das pessoas e das coisas. E nas aldeias, mesmo na minha, havia muita gente dessa, felizmente. Sem diplomas, com a agricultura de subsistência e com os géneros para pagar serviços. 

Finalmente: "Aproveita-te do que diz o velho e valerá por dois o teu conselho".

A dama de Formentera despertou para a História

 Assim, numa crónica a vituperar o "líder do partido da extrema-direita" por causa de um episódio da História de Portugal, ocorrido há séculos e contado por um cronista da época, tido como arauto indiscutível da verdade factual de acontecimentos de 6 de Dezembro de 1383.

A ideia peregrina desta cronista woke é simples: o acontecimento de 6 de Dezembro de 1383 relatado por empréstimo escrito ao cronista Fernão Lopes, foi um assassínio tremendo, acicatado pela turba-multa, tendo ocorrido na sequência do "homicídio do Conde Andeiro" e ainda teve requintes de malvadez, destacada pela cronista de Formentera para fustigar quem teve a coragem de "louvar a façanha de arremessar um sacerdote católico, desarmado e sózinho, de um torreão, profanando de seguida o seu cadáver". 
O contexto da História cronicada por Fernão Lopes não interessa nada, posto que o episódio desgarrado é apenas o pretexto para dizer mal do "líder da extrema-direita"  que apelava ao sentimento patriótico de um povo em momentos de crise. Mera retórica, portanto. 
Esta cronista acidental tem emprego no Diário de Notícias depois de ter perdido um "buraco" de alguns milhões de euros, no Chiado, no tempo daquele que depois muito a surpreendeu, ao se descobrir que tinha uma fortuna inusitada, na forma de empréstimos sucessivos e dos quais a mesma nunca se deu conta. Tal como os cornudos, esta woke foi a última a saber, mas agora sabe contar a História a preceito...
O que lhe sobra em má-fé, falta-lhe em contexto que lhe anularia o efeito da croniqueta de vilipêndio e ódio, como agora se diz. Puro ódio que só é valorizado se for racializado ou coisa que o valha. Por isso vai aqui sob a forma de algumas páginas do livro de José Matoso, Naquele Tempo ( Círculo de Leitores, 2009).




De resto, este professor de História, do CDS, porventura também incomodado com imprecisões factuais, também se encarrega de corrigir "vírgulas" no discurso de comício do tal líder da "extrema-direita" e fá-lo com o sentido de dever patriótico de um professor de um partido "rigorosamente ao centro". Notável!

segunda-feira, agosto 29, 2022

A direita da bolha não liga ao bolhão

 O historiador Riccardo Marchi que encontrou um nicho de mercado nos estudos sobre a direita portuguesa, publicou mais um livro sobre o tema. 

Este,  no qual apresenta a sua visão sobre uma certa direita que define como sendo uma "bolha dentro da realidade social e política portuguesa" e que caracteriza por ser reflexo de uma "micro-realidade muito urbana, muito intelectual e muito ligada ao meio académico":


O sumário do livro dá-nos o tema geral que é o de uma certa direita que a esquerda gosta e que surgiu no início dos anos 2000, em blogues e afins. 


O intelectual mais brilhante desta geração que se formou nesta bolha parece-me ser Rui Ramos, para além de Jaime Nogueira Pinto, que é de outro campeonato, não se confina aos pensadores anglo-saxónicos e portanto vai para além da bolha e percebe o bolhão.

Resumindo, os bolhinhas são estes assim elencados em poucas páginas:




Sobre isto tenho pouco a dizer e não me identifico com estes bolhinhas porque prefiro o bolhão, ou seja a origem de todas as bolhas, a génese do pensamento que não se acantona à esquerda e dá prevalência a quem sempre se lhe opôs, pelos princípios, valores e referências. 

Sobre Riccardo Marchi, esta entrevista do mesmo ao DN de hoje, ajuda a explicar a bolhinha e porque escreve sobre tal fenómeno ignorando o bolhão: 




Até aparecer um historiador que me fale do bolhão com propriedade e conhecimento, ficarei sempre a desejar algo mais que não temos por cá, infelizmente. De preferência até gostava que fosse um escritor de romances ou novelas, como há lá por fora, mas não temos disso, por cá. 

De facto não conheço ninguém que tente descodificar o significado e sentido pleno destas fotos, que valem milhares de palavras. Alguém que nos explique cabal e subtilmente o  que as mesmas representam e que afinal perceba o que é o tal bolhão, matriz de todas as bolhinhas e infinitamente mais interessante que estes epifenómenos urbanos. 

Precisamos de um bicho do mato erudito e matreiro e só nos aparecem periquitos a trinar melodias de gaiola.  




Por mim já tentei balbuciar alguma coisa mas falta-me língua para dizer ta-tá. É outro ditado popular, muito antigo...e vem aqui, juntamente com outros. 

Os bolhinhas não conhecem isto e desprezam quem possa conhecer.



domingo, agosto 28, 2022

Um sistema de justiça arrojado

 Pedro Arroja está decepcionado com o Chega porque estava à espera de propostas que modificassem o actual sistema de justiça e este novo partido de uma direita portuguesa não anda nem desanda com tal coisa. 

Que propostas eram essas? Estas, "todas elas estruturantes de um sistema de justiça democrático" e que visavam "a separação entre os poderes político e judicial": 


Algumas das propostas são absolutamente contraditórias com o alegado propósito de estruturar o sistema na vertente da separação dos poderes político e judiciais e atentam contra a independência e imparcialidade que pretende assegurar. 

Assim, como é que Pedro Arroja tem a pretensão de defender tal coisa com um sistema em que o Ministério Público fique dependente e sob a tutela do ministro da justiça? Como é que não entende que tal proposta retira ipso facto independência ao exercício das atribuições do Ministério Público, precisamente porque coloca tal entidade sob a tutela, ou seja sob o mando directo do Governo e portanto do poder executivo? 

Mais: ao acabar com a figura do juiz de instrução e da fase de instrução, como é que isso contribui para tal desiderato se o Ministério Público ficar sozinho no exercício dos poderes relacionados com a ampla atribuição de poderes no âmbito dos direitos, liberdades e garantias? Como é que é capaz de designar um juiz de instrução como "figura inquisitorial" e deixar o poder de determinar uma prisão preventiva ou o de autorizar buscas domiciliárias ou as escutas e intromissão na vida privada dos cidadãos, na dependência exclusiva do Ministério Público, sem controlo externo de outra entidade? 

A resposta a estas questões, para mim, é simples: Pedro Arroja não sabe do que fala e fala de cor por lhe parecer que é assim, por esta ou aquela razão. Pedro Arroja não tem formação de jurista, mas de economista e como acontece muitas vezes, estas pessoas tendem a simplificar ideias que não se compadecem com tais compressões de entendimento. 

Para além disso, sendo defensável que o Ministério Público esteja na dependência do poder executivo, como acontece na maioria dos países europeus, a verdade é que existe precisamente nesses países a figura do juiz de instrução que é exactamente a entidade que sendo independente, investiga criminalmente e por isso autoriza e determina os actos que contendem com os dito direitos, liberdades e garantias dos cidadãos. 

Admitindo que Pedro Arroja também admite esta figura do juiz como investigador, sem sujeição a outra entidade de poder político, como configuraria tal sistema, diferenciando-o do que existe entre nós?

Para responder a isso é preciso saber que modelos existem, na Europa e não só e adoptar um deles, puro ou misturado, supondo que vai funcionar melhor do que o que temos. Pedro Arroja sabe? Duvido. Estou certo apenas que sabe que não gosta do nosso juiz de instrução que lhe parece um "inquisidor", um acusador e portanto "não é juiz nenhum". 

Que ideia terá Pedro Arroja do que é um juiz? A do antigamente, pela certa. O que era então um juiz antigamente? Era uma entidade independente, muito mais que agora, com um Conselho Superior que os respeitava e não o inverso, como agora sucede. Era um entidade que julgava em matéria criminal, os factos que lhe eram trazidos pelo Ministério Público, então dependente do poder político. 

Se era dependente do poder político, nunca poderá dizer que "democraticamente" é preferível que assim continue a ser, para sustentar que assim é que haverá verdadeira separação de poderes...

Dito isto, julgo perceber qual é o problema de Pedro Arroja com o sistema de justiça que temos: considera que "a democracia é um regime de regras, cujo respeito, em última instância, é imposto pelos juízes". 

Sendo assim, como é que se pode assegurar que os juízes não abusam de tal poder? Concedendo-lhes independência, pressuposto fundamental para a separação de poderes? Não me parece porque o mesmo responde: responsabilizando os juízes pelas "más decisões" que determina como sendo aquelas que "são revertidas pelos tribunais superiores" e responsabilizando os magistrados do MºPº quando acusam pessoas inocentes". 

Não diz como se determina esta "inocência", se é pela decisão de absolvição de um juiz que aliás pode ser uma má decisão, se for revertida por um tribunal superior; ou se é pelo entendimento da opinião pública, pela voz populi que todos sabermos ser a vox dei, conceito e entidade em que Pedro Arroja não acredita, segundo suponho. 

Assim, temos uma salgalhada de conceitos, contraditórios entre si e de ineficácia assegurada para o que pretende como objectivo último: a democracia! Diz ele...

Deste modo, bem andou André Ventura em não lhe dar importância alguma, porque de facto não tem. Ponta por onde se lhe pegue.

Já agora e sem pretensão, em Novembro de 2003 comecei a escrever neste blog com estas ideias, precisamente sobre o Ministério Público e também sobre a independência dos poderes e a igualdade dos cidadãos perante a lei...

Na altura escrevi isto sobre o modelo de MºPº que temos:

O MP em Portugal, hoje em dia, nada tem a ver com os juizes e é um órgão autónomo da administração da justiça. O MP português foi modelado segundo os princí­pios de direito internacional que estruturam a Declaração Universal dos Direitos do Homem

Aqui chegados, haverá que perguntar: deve manter-se a autonomia do MP?
Ou , pelo contrário, deverá ser essa entidade submetida ao poder executivo e aos entendimentos particulares ou programáticos do ministro da justiça de ocasião?
E se assim for, que justificação haverá para tal?! A maior democraticidade? A maior legitimação?

Por mim , inclino-me para razões mais prosaicas: as de evitar que os agentes políticos sejam investigados por uma entidade independente. É essa a suspeita e não me parece grande razão para festejo democrático.
Ficaremos melhor como democracia? Abafar escândalos ou conceder garantias administrativas como dantes acontecia, será uma atitude democrática?! Impedir investigação criminal a certas figuras, será razoável perante o povo eleitor?

É a estas perguntas que os defensores da perda de autonomia terão que dar resposta concreta, tendo em atenção a nossa história, costumes e tradição e não nos entreterem com discursos balofos e de engana-meninos, sobre a putativa democraticidade e europeismos.

E sobre a igualdade dos cidadãos perante a lei, esse sim, um verdadeiro princípio estrutural do sistema de justiça, escrevi isto em súmula, referindo o caso Freeport: 

Aqui, em Portugal, as mais graves suspeitas de corrupção política e penal, atingindo pessoas da alta esfera política geram uma onda de fumo político e mediático, com a intervenção imediata dos obreiros de serviço e apaniguados do dever de protecção do poder, aliados à desinformação e que desviam os eleitores do aspecto fundamental: os cidadãos da política mesmo os governantes, podem e devem ser investigados como os demais.
Ainda por cima, têm prerrogativas que deveriam pura e simplesmente ser abolidas e mesmo assim, gozam dessas imunidades práticas e das outras que os media lhes conferem como agora se prova pelos editoriais do Expresso e artigos cretinos que por aí abundam.


Não me parece nada que as propostas de Pedro Arroja, neste campo, melhorem o que temos como sistema. Antes pelo contrário, tornariam estes casos mais numerosos e subverteriam a democracia porque tornariam o sistema ainda mais iníquo do que já é.

O mal estar de Pedro Arroja, com o sistema de justiça, provavelmente advirá da leitura e atenção acrítica e desinformada dos media. Tal como acontece com muita gente.

Com José Jorge Letria tudo é possível...

 Até isto, no CM de hoje:


Este José Jorge Letria que assim escreve tão denodadamente contra o totalitarismo, ao ponto de elucidar que na pérfida Albion se praticava a censura no tempo em que por cá também se usava disso, é o mesmo que defendeu precisamente o totalitarismo que agora renega e que em tempos oportuníssimos ( quando a inês que defendeu, era morta) abandonou por troca com prebendas ainda mais oportunas.  

É o mesmo que escreveu e cantou isto, por exemplo, em 1975 quando a inês era ainda viva:



E este da mesma altura em que o denodado denunciador do totalitarismo comunista perguntava a quem queria ouvir "quem tem medo do comunismo?" ou afirmava sem dúvidas que "esta terra há-de ser nossa" e por isso avisava: "abre os olhos camarada"! 

O percurso deste oportuníssimo cantor e escritor de letras panfletárias e comunistas totalitárias foi aliás retratado pelo próprio num livro já por aqui mostrado e analisado:


Este indivíduo move-se como peixe nesta água choca porque tem inúmeros camaradas de profissão que mergulharam no mesmo charco e se mostram solidários na imundície que queriam para todos nós. 

Como mesmo à-vontade com que o defenderam atacam-no agora. Oportunamente. 


sexta-feira, agosto 26, 2022

A garantia de impunidade de Pinto da Costa

 CM de hoje, com uma frase assassina para a credibilidade do poder judiciário no Porto:



A frase que é recente e por isso tem maior interesse, aparece desgarrada de um contexto preciso mas identificável: o antigo presidente do Benfica L.F. Vieira foi detido em 7 de Julho de 2021 por ordem do Ministério Público no DCIAP que investigava crimes de natureza económica em que o mesmo era arguido.  A detenção teve contornos rocambolescos e envolveu agentes da Autoridade Tributária e da PSP. 

Não obstante, as investigações que conduziram a tal detenção foram conduzidas pelo DCIAP e com ajuda de órgãos de polícia criminal, no caso inspectores da A.T. ou mesmo da P.J. no caso de ser da competência funcional dos mesmos, embora tal entidade se tenha colocado de fora da operação, logo que começou a cheirar a esturro. 

Esta explicação é devida para contextualizar a afirmação que é atribuída a Pinto da Costa que si no è vera e ben trovata

A frase atribuída a Pinto da Costa ( que eventualmente a desmentirá illico) é muito grave porque coloca em causa a honorabilidade profissional das autoridades judiciárias do Porto. 

É muito mais grave do que a propalada ideia de alguns magistrados judiciais que simplesmente acreditam haver corrupção nos colegas, ao nível do suborno puro e simples, sem garantirem coisa nenhuma e deixando a suspeita de que nem sabem do que falam, apesar de serem magistrados. 

Neste caso de Pinto da Costa não se trata de uma crença mais ou menos fundamentada, mas de uma convicção garantida que no Porto o presidente de um clube de futebol como é o F.C.Porto nunca seria detido, nas circunstâncias em que L.F.V. o foi- e já estou a acrescentar pressupostos. 

A veracidade da frase atribuída a Pinto da Costa, carece obviamente de confirmação, mas a simples exposição efectuada por L.F.Vieira é suficiente para fazer soar campaínhas de alarme nas instâncias de controlo do Ministério Público, por diversos motivos.

A suspeição de que o Ministério Público no Porto não actuaria, como o DCIAP em Lisboa, significa o quê? Pois é óbvio: que haverá magistrados, neste caso de topo, como coordenadores de DIAP ou mesmo a PGD que impediriam o efeito que se verificou em Lisboa ou não se oporiam, sendo seu dever fazê-lo,  a qualquer inacção ou omissão de outros magistrados no terreno da titularidade dos inquéritos.

Se a frase de Pinto da Costa for verdadeira, torna-se necessário averiguar porque existe tal convicção garantística do dirigente do F.C.Porto.  E para tal tornar-se-á obrigatório perceber que sistema de contactos existe, real ou potencial para que tal suceda e que dará tamanha confiança ao dirigente Pinto da Costa, enquanto tal. 

A competência para analisar tal matéria, de delicadeza inaudita, é do CSMP, onde aliás assentam pessoas que podem não ter a suficiente independência ou isenção para tal, mormente certos advogados.

Como pano de fundo deste assunto ecoa ainda o facto de no tempo do rocambolesco Apito Dourado, do saudoso beirão honesto, Pinto Monteiro, este ter constituído uma equipa em Lisboa, coordenada pela inefável Maria José Morgado,  para investigar a criminalidade desportiva no Porto e arredores, apesar de o processo ter começado no Porto e ter sido investigado nesta localidade. 

Obviamente também que esta decisão de Pinto Monteiro criou grande mal-estar no MºPº de então, no Porto. 

As razões não explícitas e do âmbito do tabu,  todos as conheciam, porque se ligavam a uma maior independência e isenção ( o Porto é muito pequeno e alguns adeptos do FCP são fanáticos, incluindo magistrados, naturalmente) e estão agora à vista com a frase assassina de Pinto da Costa. Se for verdadeira...claro está, mas carece de urgente esclarecimento. 

Depois disto aconteceram outros fenómenos e o último é o do famigerado "Macaco" que se apresenta com as costas quentes e de cara descoberta, há uns anos a esta parte, dando a impressão de que se ri das autoridades judiciárias e denota uma segurança e à vontade típicos das terras sicilianas. 

quinta-feira, agosto 25, 2022

A Sábado socorre-se novamente de Salazar...

 A capa da Sábado desta semana ( e com a Felgueirinhas ainda a dirigir) é a receita habitual para tentar vender mais uns números, porventura para fugir à miséria que vende. 


Depois de gastar capas e capas com os aspectos mais bizarros que procuram encontrar na vida de Salazar, sempre com o leit-motiv do costume, o de denegrir o "ditador", desta vez encontraram a associação ao nazismo para fazer capa de venda. 

A explicação do trabalho de 10 páginas de um tal Marco Alves é dada pelo director-executivo da revista, assim:


A intenção é explícita: mostrar os negócios do "ditador" com os nazis e para tal o tal jornalista "entrevistou diversos historiadores" ( na verdade os de sempre, inimigos de Salazar e com opinião recalcitrantemente negativa sobre o mesmo) que se identificam como João Medina, António Costa Pinto e com citações avulsas dos mesmos de sempre, como Fernando Rosas , essa autoridade magna em antifassismo que escreveu tese sobre o assunto, ou um tal António Telo profusamente citado por causa de um livro e de um Relatório de 1998, mandado fazer pelo governo socialista da época. 

O tal autor do artigo segundo o director-executivo, para este trabalho de fôlego com 10 páginas,  "leu 19 livros sobre a vida de António Oliveira Salazar". Até a biografia de Franco Nogueira leu, veja-se lá! 

E que escreve o tal jornalista de essencial? Lendo a primeira página adivinha-se logo o resto:


São os "negócios do Estado Novo" e que por antonomásia se transformam nos "negócios do ditador". Esta primeira página dá uma amostra do ambiente da época, em Portugal: havia quem defendesse os Aliados e quem pugnasse pelo Reich, ou seja, pelos nazis, o que na época não era considerado assim, com a carga pejorativa que entretanto adquiriu, por força de historiadores daquele calibre. 

Portanto, havia liberdade de discussão de tais matérias e numa terra de ditadura fascista! Portanto, a última frase daquela página esclarece: "Durante os seis anos da II Guerra Mundial, Portugal foi o epicentro europeu destas pequenas e grandes histórias de propaganda, que inexoravelmente se misturavam com pequenos e grandes negócios da sociedade e do regime". 

E então? Vai daí, toca a pôr o acento tónico no Portugal com simpatias nazis...apesar de citar o próprio Salazar a dizer que não faria da guerra um negócio. Apesar disso conta as histórias das conservas de Setúbal, com um fait-divers que nada acrescenta ao assunto, indo buscar um episódio de 1938, portanto antes da guerra para ilustrar "os negócios de Salazar com os nazis". 

Não obstante, este historiador circunstancial refere que "O tema das exportações de conservas foi tão importante que Salazar o referiu várias vezes no seu diário, incluindo negociações com a Alemanha, mas também com os ingleses e os americanos". Enfim, depois disto continuar a massacrar o tema é já má-fé. E até refere mais à frente: "Salazar, como foi seu hábito na economia de guerra, também aqui negociou com os dois lados". Como se isso fosse pecado mortal na altura! 

Para se ver melhor a mistela que este artigo comporta bastam as últimas páginas:




No artigo cita-se ainda uma capa de 1938, da revista Século Ilustrado para dizer que Salazar fez a saudação romana dos fascistas italianos, com o propósito óbvio de ampliar o efeito e justificar todos os epítetos sobre o fassismo e o seu ditador. 
Porém, se o Século Ilustrado da época serve para ilustrar algo, tal pode muito bem ser o tempo de guerra, como era visto por cá. 

Em 23 de Setembro de 1939, logo no início da II Guerra, a invasão da Polónia foi assim notificada:


E mostravam já imagens da "Inglaterra em armas!" e "Imagens da guerra", com franceses, ingleses e alemães ao barulho. 


Durante todo o tempo de guerra foi sempre assim, nas imagens mostradas, com uma neutralidade que nem agora, nesta guerra da Ucrânia existe nos media. E isso no Século Ilustrado que não era propriamente o Diário da Manhã, vilipendiado no artigo por ser "publicação germanófila". 

Em 22 de Fevereiro de 1941:


Em 22 Março de 1941:


A par das notícias sobre a Inglaterra na guerra, também apareciam notícias destas sobre os alemães que não são apresentados como "nazis" com a conotação actual, mas simplesmente alemães do Reich.




Século Ilustrado 16 de Agosto 1941:





S.I. 21.2.1942, aquando do encontro de Salazar com Franco, em Sevilha:


E em 8.1.1944:



Em nenhuma destas imagens ou sequer nas reportagens da época aparece a palavra "nazi" associada aos alemães em guerra. 
O que significa tal coisa? É caso para os Marcos Alves investigarem, lendo mais uns livros e tentando perceber porquê. 
Desconfio no entanto que nunca entenderão...tal como não entendem o que se passou em Portugal no "Estado Novo", porque foram formatados para não entender. 
Para além daqueles historiadores da treta de sempre, poderia também mencionar quem escreveu sobre Salazar doutro ponto de vista, no caso Marcello Caetano. 

No seu livro Minhas Memórias de Salazar de 1977 ( esgotado e só passível de ser encontrado em alfarrabistas) escrevia assim Marcello Caetano sobre esse tempo e o que se seguiu:






Qual a importância disso? Simples: a verdade não mora no que escrevem. Mora outra coisa. A parcialidade não é o retrato da verdade completa, mas apenas da verdade vista por uma facção. No caso da esquerda, comunista, ainda por cima. A que crismou as palavras que usam para descrever e narrar os acontecimentos, sem sequer se darem conta do logro. 

segunda-feira, agosto 22, 2022

Isto já tresanda...

 Observador:



Os pins do Pinho são puns para todos nós...

 Manuel Pinho, um dos desavergonhados-mor do regime, escreveu este artigo no Diário de Notícias ( Global Media) de hoje que é o cúmulo da desfaçatez, além de tudo o mais:


Para se lembrar quem foi Manuel Pinho será bom lembrar isto que José Manuel Fernandes disse no rádio Observador, aqui há uns tempos.

Lembra-se aí quem foi Manuel Pinho desde os anos noventa, a gerir por conta do Estado a dívida pública, o emprego no BES, a avença escondida no Panamá, o ministério da Economia no tempo de Sócrates, etc etc. 

Manuel Pinho foi um governante altamente responsável pelo estado calamitoso da nossa economia porque foi ministro da dita, durante tempo suficiente para se melhorar a mesma e só a piorou, de tal modo que caiu na bancarrota. 

Quem ler aquela borrada ali acima, nem pode acreditar nisto. Pinho foi o responsável por "pins" ( projectos de interesse nacional sempre apresentados como coisas grandiosas para a economia nacional) como o da Pescanova ou o La Seda, coisas absolutamente ruinosas que prejudicaram gravemente o erário público, para além do que aconteceu na EDP e na CGD com a transição da administração Santos Ferreira-Vara para o BCP, por troca, e que depois arruinaram.

Todos esses pins foram grandes peidos para todos nós e Manuel Pinho foi quem os deu. O que escreve continua a cheirar mal como tudo o que o rodeia desse tempo. 

Tirando a ideia de presunção de inocência, aplicável no sistema judicial, este indivíduo é dos poucos que considero ter lugar cativo no sistema prisional das Carregueiras durante longos anos, por um módico de justiça e para compensar o mal que fez a todos nós e às futuras gerações. 

Manuel Pinho é o exemplo perfeito dos arguidos poderosos que tem dinheiro suficiente para atrasar a marcha lenta da justiça. E tem um advogado bem capaz disso mesmo, para quem a justiça é safar os clientes. 

O Público activista e relapso