domingo, abril 30, 2023

Antes de 25 de Abril não havia imbecilidades destas

 Chegou-me por email este artigo de Jaime Nogueira Pinto que se explica a si próprio:

#NÃOPODIAS

Estando, neste regime e neste país, preparado há muito para tudo, confesso que fiquei, por uma vez, surpreendido.

29 abr. 2023, 00:1985

  • JAIM NOGUEIRA PINTO

Pensei, em primeiro lugar, que se tratava de uma manobra da reacção, de uma campanha engendrada por saudosistas do fascismo, sepultado há 49 anos, e que, para desacreditar o regime democrático, tinham publicado, como que vindos de genuínos antifascistas delirantes, os cartazes e as frases do Antes do 25 de Abril #NãoPodias.

Mas não. Era mesmo uma campanha institucional, presumo que generosamente financiada, com o objectivo de “Dar ênfase às liberdades conquistadas com a revolução dos cravos, mostrando aos mais novos o que não se podia fazer antes do Dia da Liberdade”, porque “Conhecer a História é imprescindível para compreender o presente e construir o futuro.”

Trata-se nitidamente de uma campanha de Acção Psicológica que cumpre um duplo objectivo: entreter os mais novos, sensibilizando-os para a amordaçada existência juvenil dos agora “idosos”; e surpreender os que, antes do Dia da Liberdade, já tinham atingido a “idade da razão”. Não sei quem tem a responsabilidade da campanha, mas, se fosse seu correligionário, ficaria seriamente preocupado.

Senão, vejamos algumas das coisas que não podíamos fazer antes do 25 de Abril:

#NãoPodias esperar pela namorada ao sair das aulas

Lamento desiludir os mais novos, mas não foi a revolução dos cravos que veio acabar com o “namoro de janela”. Eu andei, no Porto, no Liceu Normal de D. Manuel II, um óptimo estabelecimento de ensino onde tive excelentes professores, geralmente de esquerda, que me marcaram profundamente pelo seu saber, amor à profissão e atenção aos alunos. No fim das aulas, íamos em bando para a porta do vizinho liceu feminino Carolina Michaellis ver a saída das “miúdas”. Alguns, os que ali tinham namoradas, iam buscá-las e acompanhavam-nas a casa. Outros, ficávamos a ver, a conversar e a tentar a sorte, por vezes através de piropos, geralmente decentes e inocentes (coisa que hoje #NãoPodes).

#NãoPodias beber vinhos franceses – não podiam entrar no mercado nacional bebidas estrangeiras

Bebia-se whisky, sim, e não era nacional; e, pelo menos nos bons restaurantes de Lisboa e do Porto, havia vinhos franceses. É natural que nesse período, anterior à entrada de Portugal no Mercado Comum, houvesse impostos altos para proteger a produção nacional, que era de boa qualidade. Enfim, não beber vinhos franceses podia ser uma provação infligida pelo antigo regime, mas a revolução dos cravos só nos veio libertar dela com a entrada na CEE. Agora, embora haja vinhos franceses relativamente baratos em qualquer supermercado nacional, representam um grande #NãoPodes para um número cada vez maior de portugueses (a par de muitos bens de primeira necessidade).

#NãoPodias ver um filme dobrado

Lá isso é verdade. Ao contrário do que acontecia no Brasil e em Espanha, países onde vivi no exílio depois do 25 de Abril (porque #NãoPodias não gostar de cravos vermelhos), os filmes em Portugal não eram dobrados, e a prática, graças a Deus, continuou com a democracia. O argumento avançado pela campanha de que a legendagem ajudava à censura é, no mínimo, insólito, pois quem fazia a dobragem também teria de ler um texto e a legendagem permitia até a comparação com o original. Na altura, vi muito filme com muita legenda em Portugal, mas nunca vi traduzir-se “extrema-esquerda” e “ultra-esquerda” por “extrema-direita” e “ultra-direita”, como há dias na reportagem da RTP sobre as manifestações de França.

#NãoPodias ter as pernas à mostra nas praias

A grande revolução dos costumes não se deu com a revolução dos cravos, deu-se bem antes, nos anos 60, com os Beatles, o biquíni, a mini-saia, os grupos yé-yé. Lembro-me de que, até ao final dos anos 50, até para os homens havia uma regra nos fatos de banho, que tinham de ter uma espécie de peitilho; mas isso acabou por volta de 1960. E bem antes do 25 de Abril já se usavam biquínis nas praias portuguesas.Tive muitas amigas e conhecidas que usavam biquíni nesse tempo. O “Biquíni pequenino às bolinhas amarelas” era aqui cantado, desde os anos 60, por Pedro Osório e Seu Conjunto; e todos conhecíamos o “biquíni encarnado” que, em 1968, Natércia Barreto levava para a praia juntamente com o rádio portátil e os óculos de sol (além do pente, do espelho, do bâton e do “creme muito bom”). Não é difícil deduzir que houvesse também pernas à mostra. Mas a comissão para a comemoração do 25 de Abril, lá saberá de outras praias, talvez mo Mar Negro ou no Báltico da RDA, onde os costumes seriam mais vigiados.

#NãoPodias sonhar com um curso

A taxa de escolaridade e frequência de cursos médios e superiores era com certeza inferior à de hoje, como em qualquer país europeu. No entanto, os licenciados não tinham de emigrar porque #Podiam sonhar com um emprego em Portugal.

#NãoPodias viajar sem autorização

Outra vez, o redactor desta frase deve estar a confundir o Portugal de antes de Abril com a então União Soviética… Independentemente do facto de, há 50 anos, aqui e no resto do mundo, se viajar muito menos, sobretudo para o estrangeiro, no meu caso concreto – e de todos os jovens que tínhamos feito 20 anos e estávamos a aguardar a incorporação militar –, tínhamos de pedir autorização para deslocações ao estrangeiro; mas o resto era livre. Quanto às mulheres casadas, foi antes da revolução que deixaram de precisar do aval do marido para viajarem sozinhas.

#NãoPodias ler o livro que quisesses

Havia alguns livros proibidos ou retirados de circulação, ora por razões políticas, ora por serem considerados moralmente impróprios. Mas quem tivesse vontade de ler, lia. Li as principais obras de Marx e Lenine em francês ou em edições brasileiras. Os escritores esquerdistas e comunistas, franceses e italianos, estavam todos na edição corrente. Quanto à “moralidade”, li a Lolita, de Nabokov, e O Amante de Lady Chaterley, de D.H. Lawrence, entre os 15 e 16 anos, no Livre de Poche. Agora há livros que só se podem ler quando devidamente expurgados pelos novos censores (que não existem, porque #VivemosEmDemocracia).

#NãoPodias falar com um grupo de amigos na rua

Esta “História” (de não poder falar com um grupo de amigos na rua) é verdadeiramente “imprescindível para compreender este presente.”

#NãoPodias votar

Podia-se votar, os adultos maiores de sexo masculino e as mulheres licenciadas ou cabeças de casal podiam votar… só que, de facto, o governo ganhava sempre as eleições (PS: Felizmente, temos agora liberdade de voto e muito por onde escolher, como se pode ver). Antes da Revolução não havia partidos políticos, o regime era autoritário e havia censura. Mas sabia-se que havia e o que aquilo era, para efeitos de confronto.

#NãoPodias beber Coca-Cola

Não havia, de facto, Coca Cola em Portugal. Foi proibida no tempo da I República pelo Professor Ricardo Jorge por causa de a marca não facultar publicamente os ingredientes. Quanto à embirração de Salazar com a Coca Cola tem uma história curiosa, ligada a um administrador da dita marca que veio a Portugal e, pensando que estava numa república das bananas ou no Portugal de hoje, tentou subornar o próprio Presidente do Conselho… No Portugal pós-revolucionário, no seu período mais eufórico, o entusiasmo com a entrada no País da “água suja do imperialismo americano” também não foi unânime.

#NãoPodias adoecer

Só entre os anos 70 e 80 se generalizaram na Europa os Serviços de Saúde universais. Agora, felizmente temos SNS, mas dado o estado a que chegou nos últimos anos #ÉMelhorQueNãoAdoeças.

#NãoPodias dizer “vermelho”

Quanto custou este cartaz? O orçamento já deve estar a bater no vermelho. No Porto sempre se disse e, em Lisboa, era mais uma questão social, como, de resto, ainda é. Dizer ou não dizer “vermelho” ou “encarnado” não é nem nunca foi uma questão política.

#NãoPodias namorar na rua

Não fiz outra coisa – eu e toda a minha geração. Na rua, na faculdade, nos cafés.

#NãoPodias manifestar-te

É um facto. No Estado Novo todas as manifestações de rua tinham de ser autorizadas pelo Governo Civil. Agora, basta avisar a Câmara Municipal. Pode também dizer-se que, então, as manifestações não eram propriamente encorajadas, dado que não havia muitos direitos políticos. Mas havia direitos civis. Apesar disso vi, desde o liceu, muitas manifestações estudantis e entrei em algumas.

#NãoPodias fazer parte da Europa

Felizmente, não fazíamos parte da Europa do Pacto de Varsóvia, mas estávamos na EFTA, Associação Europeia de Comércio Livre. Ao tempo, o Mercado Comum tinha apenas nove membros: Alemanha, França, Itália, Países Baixos, Bélgica, Luxemburgo, Dinamarca, Irlanda, Reino Unido.

#NãoPodias discordar

Agora podemos discordar. E até perguntar: a quem foi entregue esta campanha? Qual o orçamento desta Comissão, paga por nós todos? Chegou-se a isto por consenso político? A escolha foi por concurso público? #PodesDiscordarOuPerguntar mas #NinguémTeVaiResponder.

Estando, neste regime e neste país, preparado há muito para tudo, confesso que fiquei, por uma vez, surpreendido.

 Comentários? Nem é preciso muito para se concluir que a ignorância estupidez e capacidade de endrominar desta gente que escreveu estes "hashtags" é sinal da maior imbecilidade ou pior que isso: vontade expressa de manipulação e de tomar os outros por parvos. 


O SIS é para as ocasiões

 O SIS é agora  notícia, com a implicação de um patarata erigido em ministro, assim:



O SIS, se for verdade o que se conta acerca do patarata no lugar de ministro, transformou-se numa polícia ao serviço do Governo, o que é muito grave e indesculpável. Pior do que a indemnização à senhora Reis e outras malfeitorias burocráticas agora conhecidas. 

O computador portátil concedido a um assessor de ministro guardará informação reservada e outra. É pessoal e afinal pertence ao Estado que o concedeu, devendo ser devolvido logo que termine a função. Mas...como é pessoal não se afigura legítima a coboiada rocambolesca protagonizada pelo patarata que assume contornos, esses sim, criminais. E tal resulta da circunstância de um computador pessoal servir também para guardar documentos pessoais e é legítimo que o detentor o guarde o tempo necessário para salvaguardar tal informação. Não tem pés nem cabeça alegar um furto iminente de um computador pessoal, embora pertença do Estado e que a esta entidade deve ser devolvido, quando o seu detentor não tem qualquer intenção de apropriação, nem sequer presumida. 

Um furto pressupõe tal intenção e actuar do modo calamitoso que agora se conhece é sintoma revelador de outra coisa: vontade de sonegar e ocultar informação que ao Estado deve pertencer, porque um ministro, mesmo sendo um patarata, jura no início cumprir com lealdade as funções que lhe foram confiadas. E quem actua no sentido de preservar tal informação, retendo o objecto que tal lhe permite preservar, sem intenção de apropriação, cumpre um dever que lhe foi imposto. Quem o tenta impedir faz exactamente o contrário. 

Qualquer patarata percebe isto e pedir ao SIS para actuar é por isso sinal de coisa grave que aliás se presume ser coisa repetida. 

Sobre o SIS já escrevi em tempos que já lá vão em que ironicamente ainda havia mais pudor que hoje...

Vale a pena repescar o postal, afinal uma reprise de algo que já foi visto e presumivelmente com outras situações que não se conhecem e que assumem teor idêntico. Escutas ilegais do SIS? Pois...são ilegais. Mas haverá disso? É preciso saber com quem lidamos para se ajuizar tal assunto: quem foi capaz de fazer um blog para atacar inimigos do bando que agora governa é capaz de tudo. Logo...

O postal de 16 de Novembro de 2014 é este:

"Os jornais de hoje - Correio da Manhã e Diário de Notícias- destacam o assunto da "operação encoberta" realizada pelo SIS nas instalações do INR, a pedido do seu director, amigo chegado aos dirigentes das secretas, e "fora do horário de expediente", para "despistar" a existência de intrusos no sistema de comunicações telefónicas e informáticas.

Levaram uma maleta, foram três mais o director e pronto, lá fizeram o trabalho de "despistagem", ou seja de desparasitagem de eventuais insectos rastejantes que vicejam em certos meios húmidos e negrurentos. O SIS prestou-se a um trabalho que tipicamente não lhe compete.
O ainda secretário-geral do SIRP, Júlio Pereira, há muito, muito muito e muito tempo no lugar, lá andou ontem a tentar reparar os danos irreparáveis, afirmando sem se rir que a operação era legal e toda "no âmbito das competências do SIS". Ou seja, confirmou a incursão encoberta que só foi destapada pelo motivo pelo qual nunca deveria ter sido realizada: a PJ andava a vigiar a encomenda...
Júlio Pereira, o ainda secretário-geral do SIRP ( já ontem devia ter deixado de o ser) lá se afadigou sumariamente nestas considerações penosas e hoje o Diário de Notícias dá à estampa isto:

O jornal dá conta de uma jantarada em casa da amiga fraterna, detida no Labirinto e na presença do amigo fraterno, também detido no Labirinto. A PJ, mais uma vez, registou o encontro, tal como acontecera na incursão no INR. Parece que comeram favas contadas.
Sobre esta jantarada, Júlio, o ainda secretário-geral do SIRP diz que "não comenta assuntos da sua vida privada" pelo que temos de presumir que não se tratou de uma reunião de serviço, ou para prestar serviço, como a que ocorreu aquando daqueloutra incursão em que não esteve presente mas que agora justificou.

Sobre a legalidade e âmbito das competências do SIS, manda a lei que está publicada há bastante tempo e que tem sido renovada e melhorada:

  Artigo 3.º
Limite das atividades dos serviços de informações

1 - Não podem ser desenvolvidas atividades de pesquisa, processamento e difusão de informações que envolvam ameaça ou ofensa aos direitos, liberdades e garantias consignados na Constituição e na lei.
2 - Para efeitos do disposto no número anterior, ficam os serviços de informações sujeitos a todas as restrições legalmente estabelecidas em matéria de defesa dos direitos, liberdades e garantias perante a informática.
3 - Cada serviço só pode desenvolver as atividades de pesquisa e tratamento das informações respeitantes às suas atribuições específicas, sem prejuízo da obrigação de comunicar mutuamente os dados e informações que, não interessando apenas à prossecução das suas atribuições específicas, possam ter interesse para a consecução das finalidades do Sistema de Informações da República Portuguesa.


Artigo 4.º
Delimitação do âmbito de atuação

1 - Os funcionários ou agentes, civis ou militares, dos serviços de informações previstos na presente lei não podem exercer poderes, praticar atos ou desenvolver atividades do âmbito ou competência específica dos tribunais ou das entidades com funções policiais.
2 - É expressamente proibido aos funcionários e agentes, civis ou militares, dos serviços de informações proceder à detenção de qualquer indivíduo ou instruir processos penais


 Que consequências para quem viola estes princípios básicos? A demissão imediata é uma delas...
Obviamente que não é por aqui, nem por ali, que se pode justificar uma acção daquele tipo. 
E então como é que se escapa um serviço como o SIS deste colete de forças que impede a cobertura daquele tipo de acções?

O DN explica assim: No IRN estão guardadas "em cofre-forte, as identidades falsas utilizadas pelos espiões, tornando o IRN um alvo protegido das secretas". Daí a "estreita ligação" entre os organismos, com os contornos que agora são públicos.
Repare-se: estão em cofre-forte, documentos físicos que não se transmitem nem por telefone nem por computador, mas o presidente do IRN(!) pede para "deparasitar", ou "despistar" os telefones e computadores, com medo certamente que os documentos tenham migrado por método alquímico e misterioso ( maçónico?) para os ditos aparelhos. Também não há notícias de terem ido ao tal cofre-forte verificar se os tais documentos ainda lá estavam ou teriam "migrado" para outro sítio. Coincidentemente o precavido presidente que temia intrusões espúrias é amigo daquela gente que manda nas informações da República Portuguesa, a tal ponto que o chefe máximo, o tal Júlio Pereira até vai a uma jantarada com o dito cujo e descarta qualquer explicação para o facto por ser assunto da sua vida privada. O jornal, legitimamente, especula, como aliás a PJ especulou. Júlio Pereira não tem nenhumas condições para continuar a ser o que é nas Informações da República Portuguesa, mas parece que ainda o não percebeu. Rui Pereira, outro membro da irmandade da Viúva e  que o indicou a José Sócrates que o nomeou em 2005 devia explicar na CMTV ( onde aliás presta um serviço de grande qualidade informativa)  esta coisa que parece pouco digna para um mação encoberto.

Por outro lado, quem suspeita de estar a ser alvo de escutas ilegais, como poderia ter sido o caso do presidente do IRN, detido no Labirinto e com suspeitas de corrupção, não devia pedir ao SIS, por causa daquela ligação espúria ao assunto, para lhe "despistar" insectos malignos. Devia pedira a desinfestação através de uma participaçãoo adequada aos serviços competentes, como aliás o fez o antigo PGR Pinto Monteiro, também ele vítima putativa dos insectos rastejantes e porventura dos "pistoleiros do costume".

O presidente o IRN, ao contrário e como tinha aqueles amigos à mão, lá pediu o jeito e eles foram solícitos. Até o director esteve presente...e resta agora saber, o que acontecerá dentro de dias como é que tudo sucedeu. Isso se a "fiscalização das secretas" funcionar e Mota Pinto não for outro irmão fraterno e compreensivo como suspeito que seja.
Além desses factos há um outro incontornável e fatal: na data em que foram encobertos ao IRN já se sabia publicamente que o presidente do dito instituto poderia ser  suspeito de factos que o levaram agora a ser detido.

O Correio da Manhã de hoje, em reportagem bastante comedida e equilibrada ( certamente com a mão de Eduardo Dâmaso) , conta que em Maio houve uma fuga de informação ( ou seja, uma violação grave do segredo de justiça) que deu a conhecer ao dito visado que poderia estar sob escuta.


Em Maio saiu do sistema de informações o então responsável Antero Luís, o do telefonema ao detido no Labirinto a pedido de um irmão amigo de um empreiteiro que queria vender casas a chineses. E a incursão encoberta no IRN aconteceu pouco tempo depois disso. Curiosamente, os jornais referem o facto mas não oferecem datas. O violador do segredo de justiça esqueceu-se disso, mas não importa muito porque a mais importante violação do segredo tinha acontecido antes, como sucedeu no caso Face Oculta.
Ora o SIS tem como incumbência recolher informações sobre estas coisas e não podia nem devia ignorar as suspeitas que recaíam exactamente sobre aquele que lhes pedira a tal "despistagem". A "elevada sensibilidade das matérias" deveria ter aconselhado uma visita ao MºPº e a exposição das "sensibilidades" o que parece que não aconteceu. O Ministério Público é o detentor, em Portugal e exclusividade, da acção penal. Não é o SIS ou o SIRP e muito menos a irmandade da Viúva, cuja existência democrática é um paradoxo ( é secreta num regime que defende a transparência e intervêm por amizades fraternas num regime em que todos são iguais perante a lei). Não compete ao SIS fazer uma coisa destas neste contexto que agora é apresentado e as explicações dadas deixam muita perplexidade a boiar. Sabendo que havia suspeitas de comportamento criminoso no âmbito do INR nunca o SIS deveria ter agido como agiu, na minha modesta opinião.

Por um mero dever de cautela e cuidado que não tiveram e isso parece indiscutível, arriscaram o que agora está escancarado e sem explicação plausível.

O diabo cobre com uma mão e destapa com as duas. E quem se mete com o diabo trama-se.

É de lamentar, mas é assim."

sábado, abril 29, 2023

A Harmónica

 Capa do Sol desta semana, com uma entrevista a um "juiz que fala sem medo" e toca harmónica em grupo:


A entrevista decorre no mesmo tom de outras anteriores, sobre o estado da justiça e alguns temas de actualidade como sejam as eventuais prescrições em processos mediáticos mais a habitual catilinária contra o poder político que não ata nem desata. A última causa de preocupação é o sistema de distribuição processual que entrará em vigor proximamente e irá provocar confusão desnecessária no sistema judiciário. 

Tudo isto para resolver alguns problemas processuais levantados pela defesa de arguidos excelentíssimos nos processos mediáticos, particularmente o de José Sócrates que tem feito o que quer do sistema, recorrendo quantas vezes lhe apetece e gastando dinheiro que se desconhece de onde provirá, pois cada recurso de incidente de recusa custa cerca de 3 mil euros em custas e já vai em 23. A justiça é para quem pode... mesmo que seja um simples cidadão que se proclama inocente depois de ter passado uns meses largos sob o nº 44, numa prisão em Elvas. 





Este juiz tocador de harmónica ( Hohner por suposto e de A a G, também) deixou de se preocupar com o Ticão e agora até considera que nem devia haver ticão ou tiquinhos para efeito de instrução processual penal. Pura e simplesmente acabava-se com tal fase processual e estava o caso arrumado. É uma ideia, mas um pouco tardia, agora que o juiz Carlos Alexandre deixou o TCIC, depois de ter sido emparelhado com o inenarrável que provocou um caos judiciário no processo marquês e nada lhe acontece. 

A responsabilidade disso? Do sistema, claro está. De um sistema que não apreciava ter no TCIC um juiz que fazia o que deve ser feito: trabalhar depressa e bem e considerar que a fase de instrução não é um julgamento. Tudo o que o outro não fez. 

O juiz tocador de harmónica teve um papel importante nas mudanças deste TCIC, poque se incomodava particularmente com o juiz Alexandre e o resultado está à vista. 

Seja como for, o juiz agora entrevistado fez-me lembrar um filme antigo, um western italiano, dos melhores que se fizeram. 

Era este que tinha também um personagem apelidado "Harmónica", devido ao jeito particular em soprar notas dissonantes escritas numa pauta por Ennio Morricone. 


A história do filme conta-se rapidamente. Harmonica é um vingador de oprimidos, um justiceiro solitário, um sindicalista de ideias alheias. 

Sozinho enfrenta um bando de assassinos a soldo.


E acaba por fazer a sua justiça, liquidando os inimigos. A tocar harmónica. 


No fim, vai-se embora...sem mais. Desaparece! Como o assunto é irresistível, aqui vai:



Desta vez espero menos insultos, mas nunca se sabe...

sexta-feira, abril 28, 2023

A ralé que ocupa o poder...

 Se isto for verdade, o indivíduo que figura na foto é um mentiroso relapso, um cobarde e mais alguns epítetos que o primeiro-ministro deve conhecer acerca de um carácter asqueroso...




O malhão de S.S., o homem dos gelados

 Nova versão do encontro das mais altas figuras do Estado português, com nova banda sonora, mais apropriada ao evento. 

Os créditos vão para Van Halen e Quim Barreiros, além de grupos folclóricos a condizer e o Conjunto António Mafra para mostrar o nível alcançado pelas figuras.



terça-feira, abril 25, 2023

O 25 de Abril dos simples

 No jornal Correio da Manhã de hoje há duas páginas sobre a efeméride do 25 de Abril de 1974. Assim:



O relato do jornalista João Vaz é pindérico, simplista e a única frase verdadeiramente significativa do que se passou na realidade que todo o país sentiu é a de que "o dia acabou com uma longa espera diante das televisões pela apresentação ao País da Junta de Salvação Nacional, presidida pelo general António de Spínola."  
Foi mesmo isso e lembro-me bem porque nessa altura havia o rádio, com várias emissoras, particularmente a Emissora Nacional muito calada e o Rádio Clube Português mais a Rádio Renascença, mais afoitos e que passavam comunicados repetidos do Movimento das Forças Armadas, com música de fundo, marcial e de marcha que nunca fora ouvida. Notícias, quase nada e por isso a espera foi longa. 

O relato do Público, outra vez uma crónica de galinha sem penas, assinada pela jornalista residente, ainda é mais confrangedor porque se centra em epifenómenos que se presume pretendem dar uma visão do tempo e do modo desses dias. 
O título é a meu ver totalmente imbecil. 




Para que o insulto não seja gratuito, vou tentar explicar porque é imbecil:

Portugal nesse tempo não era uma sociedade em que as pessoas apenas tinham os cafés para discutirem com amigos "conspirações suaves". Os cafés eram como sempre foram, para convívio entre as pessoas. Se alguns discutiam política ou a guerra no Ultramar é também preciso dizer que a esmagadora maioria das pessoas não estava contra o regime e nem sequer discutiam a guerra no Ultramar do modo como passou a ser discutida poucos dias depois de 25 de Abril de 1974 quando a Esquerda ficou com a rédea solta na comunicação social, onde aliás já se encontravam empregados. 
Por outro lado a Educação, em 1974, mesmo no ensino primário já há alguns anos que estava a léguas do tempo do Estado Novo dos anos 40. Quem escreve o contrário ou é burro ou adopta o estilo galinha sem penas. 
Também a educação das crianças, com castigos corporais habituais e julgados adequados não era uma particularidade nacional porque noutros países europeus ( França, por exemplo) era exactamente a mesma coisa, tal como os costumes "vitorianos" eram ainda usuais na democrática Grã-Bretanha que tinha ( e continua a ter) uma censura efectiva, nessa época tanto ou mais rigorosa que a portuguesa, quanto a tais costumes. 
O exemplo apontado de dois intelectuais de esquerda e contra o regime anterior, designadamente Maria Filomena Mónica e Vasco Pulido Valente, deveria servir como caveat necessário a ponderar outra ideia sobre a sociedade portuguesa da época. Porém, o relato de MFM no sentido de que nessa época ainda se sentia "apolítica" é revelador do estado de espírito da maioria esmagadora dos portugueses que se sentiam confortáveis com o regime e pouco ou nada constrangidos pela censura ou pela pide ou o diabo a sete que apareceu depois a cavalgar a democracia. 
Esta é a realidade sociológica que eu vivi e que me lembro e muito longe por isso dos relatos tipo galinha sem penas. 

Esta imagem de 1973 mostra como os portugueses em geral eram e são pusilânimes. É da revista Observador de 28.9.1973, de apoio a Marcello Caetano e na sequência dos acontecimentos em Londres por ocasião da visita do presidente do Conselho à Inglaterra. O que se passou em Londres foi protagonizado por um Mário Soares em oposição ao regime de então e objectivamente uma traição ao país que éramos e tínhamos. Daí a manifestação que foi genuína, a meu ver.
O "viver habitualmente" era isto:


O resto do artigo é o relato das banalidades do costume: o divórcio ainda não autorizado; os costumes de leitura popular ( só falta a menção ao folhetim Simplesmente Maria); a repressão dos homossexuais considerado como actividade criminosa, como se tal fosse coisa exclusiva nacional e na democrática Inglaterra, por exemplo não fosse muito pior e com consequências mais graves; a televisão em canal único e o rádio do "quando o telefone toca", como se não tivesse existido o Em Órbita ou o Página Um, etc. 
O relato é imbecil por isso mesmo. O Público, desconfio, está nas "últimas" e só sobrevive com oxigénio da SONAE, ironicamente uma empresa do capitalismo mais típico. 

Nessa noite de 25 de Abril de 1974, a principal novidade, para mim, foi a circunstância de ver os elementos da Junta de Salvação Nacional, numa imagem a preto e branco e uma mesa comprida, com aspecto improvisado e onde se sentavam vários indivíduos, desconhecidos, para mim, com excepção do general Spínola. 
A espera foi relativamente longa e muito aguardada, depois de se terem escutado durante todo o dia os comunicados do Movimento das Forças Armadas a apelar à calma e tranquilidade. 
 A comunicação inicial de Spínola era triunfante e animadora sobre novos tempos que viriam. Quase toda a gente aplaudiu, e lembro-me de ter ficado satisfeito com o que se passava e esperançoso também numa mudança que tardava, mas que se revelou equívoca e desastrosa para não dizer trágica, para os portugueses em geral; que não para os protagonistas do novo regime que aproveitaram até hoje oe benefícios e prebendas mais o estatuto que nunca teriam em caso contrário. Daí que vituperem quem lhes mostra o retrato sujo da podridão corrupta onde vegetam. Naturalmente defendem-se e protegem-se como podem, até um dia lhes suceder o que sucedeu ao regime anterior. 

A imagem era esta, tirada dos arquivos da RTP e o momento ficou registado para a posteridade.
Uma imagem à semelhança dos écrans das tv´s de então, ainda a preto e branco e de dimensões reduzidas. As figuras tinham aspecto vagamente patibular e não sorriam ou sequer se mostravam satisfeitas com o que se passava. Aprenderam depois, tais técnicas de comunicação.


No dia seguinte foi uma corrida aos jornais da manhã, embora com a frustração de ler algo que fatalmente já estava desactualizado e sem imagens reveladoras dos acontecimentos que se desenrolavam principalmente em Lisboa. 
O Jornal de Notícias, provavelmente o mais lido no Norte do país, nessa altura, mostrava em 26 de Abril de 1974 como tinha sido o dia anterior, ou seja a tarde, com a leitura da "edição especial" do jornal, à semelhança de outros que também publicaram tais edições especiais, prontamente vendidas nos pontos habituais. 


Só dois dias depois, em 27 de Abril a revista Século Ilustrado, em edição especial muito disputada nos quiosques, publicou a primeira imagem a cores do que era a Junta de Salvação Nacional, com foto tirada nos estúdios da RTP, mas de lado.


Tal edição tornou-se objecto de colecção e a imagem de capa é reveladora da ausência de bandeiras partidárias ou de movimentos políticos como vieram logo a aparecer dali a poucos dias:







As primeiras imagens sobre o dia 25 de Abril de 1974 e o seguinte são reveladoras de tal fenómeno. Em 11 de Maio a revista brasileira Cruzeiro mostrava esta imagem do dia 25 de Abril de 1974. Nem uma bandeira, para além de uma pancarta ou outra,  nem algo que evidenciasse já o aproveitamento político de forças organizadas. Apenas o povo; a multidão, melhor dizendo:





Em 18 de Maio a mesma revista publicava outras imagens que incluíam já outra semântica e outos significados:


Torna-se já muito visível a origem do mal que nos atingiu e figura a vermelho, com uma foice e um martelo...

A tragédia do 25 de Abril conta-se em duas penadas, sem galinhas de permeio. 
Tudo começou assim, com a  "liberdade" que permitiu o regresso dos dirigentes de partidos proibidos como o PCP que queria pura e simplesmente colocar Portugal na órbita política da União Soviética. 
Isto é tão evidente e factual que me espanta como não haja coragem política, ainda hoje em dia para denunciar tal coisa, com as consequências devidas, as de que o PCP não é e nunca foi um "partido patriótico", "democrático", como costuma proclamar e que a sua proibição antes de 25 de Abril de 1974 era plenamente justificada, seguindo a lógica actual de proibir partidos ostensivamente fascistas ou nazis, do que ninguém discorda ou contesta, mesmo vivendo em democracia, aliás numa contradição e numa ironia. 



Depois o equívoco de um PS ainda recém-constituído, dirigido por um opositor do regime, Mário Soares, republicano da maçonaria que só esteve preso porque foi um activista denunciador e eventualmente caluniador a propósito de um escândalo sexual ( ballets rose) que abalou o regime do Estado Novo de Salazar e que nem sequer comparação tem com o escândalo sexual que o partido do dito protagonizou ainda nos anos 2000 do século XX, com o caso Casa Pia. 
Mário Soares e o PS de então defendiam soluções políticas diversas do PCP porque entendiam a democracia como um regime pluralista, mas tinham em comum a política económica da qual aliás nasceu e prosperou até hoje a Constituição de 1976, com todas as consequências da destruição de um sistema económico coerente ( José Luís Sapateiro ao Semanário em 18.4.1984), trocado por uma colectivismo misto, gerido por incompetentes e corruptos, nomeados em grande parte pelo Partido Socialista. 
Tal entendimento foi o erro mais trágico que Portugal sofreu nestes últimos 49 anos e o PS verdadeiramente nunca abandonou tais concepções que colocam a Esquerda como quase hegemónica em Portugal que agora "vive habitualmente" com tais ideias erradas e trágicas, para o país.


 

A linguagem comum passou a ser esta, revolucionária e totalmente o oposto da que usava em 24 de Abril de 1974. Pegou de estaca, até hoje, por pusilanimidade de uma direita que nunca a denunciou devidamente e por outro lado teve e tem compagnons de route como o actual presidente da República, professor universitário e jornalista, aluno de Marcello Caetano, aliás padrinho de casamento dos pais daquele. Um "compõe". 


O resto é "história":














O "ataque aos milionários":




O resultado...foi o controlo pelo Estado de quase toda a economia, com uma bancarrota logo a seguir, em 1976 e outra menos de dez anos depois. Só abriram os olhos quando a CEE apareceu como bóia de salvação. O Partido Socialista foi o maior responsável por esta débâcle.


Todo este sistema esquerdista se desenvolveu e amalgamou nisto:







Em 1975 havia quem pusesse as barbas de molho mas acautelasse interesses. Se o regime virasse para o comunismo, este figurão faria parte do sistema, tal como agora faz. 


Continua a ser este o ponto onde nos encontramos, depois das experiências com o PS, o PSD e a Geringonça: essencialmente um sistema e um regime corrupto.

E a Direita o que fez durante este tempo? 
Vale a pena mostrar como se comportou no dia 25 de Abril de 1974, através do depoimento de um elemento importante da DGS e que foi publicado no Tal&Qual desta semana:



Em Maio de 1974 um partido que se intitulava da democracia cristã não queria nada com a direita, só com a esquerda...


A Direita que nunca esqueceu o que foi o Salazarismo desapareceu logo em 1981, mas na verdade nunca tinha aparecido realmente porque nunca teve qualquer força ou expressão eleitoral. O obituário é da autoria de Marcelo Rebelo de Sousa...


A posição política de direita nunca mais foi ocupada de modo coerente por qualquer partido porque a esquerda tornou-se hegemónica e avassaladora nos interesses de um país pobre e que se tornou ainda mais pobre, tendo divergido de outros países europeus e acaparando alguns privilegiados segundo as novas regras, estabelecidas por este parâmetro fundamental que dura  até hoje, mesmo com todas as revisões ulteriores:



Em 1979 este advogado e professor universitário tornou-se o símbolo de um país em que a esquerda manda em tudo e em todos. Poucos como ele fizeram fortuna no Portugal democrático, inicialmente, à sombra do Estado. No anterior regime este tipo de pessoa não teria qualquer hipótese de singrar desse modo.  


O ambiente que tal proporcionou foi este, desde os anos oitenta ( aqui em 1982):



Aliás quem definiu desde sempre os termos direita e esquerda foi este figurão, desde 1977 e ainda hoje é válida a distinção, falsa mas que serve sempre e épocas eleitorais:


Para se ter uma pequena noção da confusão que a esquerda comunista lançou no país, logo em 1974, com o objectivo de acantonar os "fassistas" basta ler este texto da Vida Mundial de Outubro de 1974 sobre uma suposta "intentona" da direita, conjugando um dos elementos da Junta de Salvação Nacional Galvão de Melo e um militar revolucionário de Abril, o então major Sanches Osório que chegou a dar voz no partido da Democracia Cristã e que aqui aparece como um simples fascista reaccionário, a prender. 


Compare-se com esta entrevista de hoje ao Observador, do mesmo major. O  que ele diz sobre a Revolução é lapidar: "perdemos tempo", com o 25 de Abril. Exactamente e por causa dos mesmos de sempre, na minha opinião a Esquerda triunfante e a Direita derrotada e que nunca mais se arrimou. 

Temos o que merecemos? Sim, em democracia é isso...

O Público activista e relapso