sábado, janeiro 28, 2017

Como se ensina a História em Portugal

Este ano faz cem anos que a Revolução Russa triunfou, acabando com o regime monárquico dos czares e impondo a oligarquia comunista que durou até ao final da década de oitenta do século.

Antes de tal suceder, em Outubro de 1917, a Revolução Russa foi uma espécie de 25 de Abril de 1974. Em 2 de Março de 1917 o czar Nicolau II da dinastia dos Romanov abdicou do trono e entrou em funções um governo provisório, muito à semelhança do que ocorreu por cá, com Spínola e o de Palma Carlos.
Lenine só entrou na Rússia em 3 de Abril de 1917, vindo da Suíça e com poucas esperanças de tomar o poder. Mas foi aí que enunciou "dez teses", diante dos bolcheviques.
Em Julho já havia manifestações contra o governo provisório, tal como por cá aconteceu. Um certo Kerenski formou então um "governo de salvação revolucionária" , mas em Setembro Trotski torna-se presidente do Soviete e em Outubro aconteceu a "insurreição" bolchevique e o triunfo do comunismo em marcha, com a tomada de assalto ao palácio de Inverno. Foi criado o Conselho dos comissários do povo e a polícia política Tcheka entrou em funções.
O resto foi, ao contrário do que por cá aconteceu, o triunfo da Revolução de Outubro que por cá queriam que tivesse acontecido em Novembro...

Como é que isto se sabe por cá? Lendo revistas estrangeiras, nomeadamente francesas.

A Revolução Russa de 1917 não começou em Outubro, com Lenine, mas em Fevereiro com a deposição voluntária do czar Nicolau II, dos Romanov que até aí tinham um poder formal impressionante sobre toda a Rússia. A família desse czar, mulher e cinco filhos, foi dizimada pelos bolcheviques, em segredo,  e Lenine terá eventualmente dado assentimento póstumo. O mistério da morte dos Romanov só após a queda da URSS se tornou possível investigar devidamente. O comunismo tem horror à História.

Por cá, estas histórias não se conhecem nem se divulgam, de tal modo que até um tarimbeiro da politiquice esquerdista, Louçã de sobrenome, filho de um oficial da Armada salazarista, escreve patacoadas num prefácio a um biografia de Estaline que o Expresso anda a publicar aos bochechos. Para esse politiqueiro da extrema-esquerda a Revolução Russa começou em Outubro e pôs fim a um regime ignóbil de ditadura monárquica. "Uma Revolução contra uma ditadura e uma guerra, que libertou milhões de servos e prometeu o fim da exploração" foi assim que este palerma, elevado a figura de culto, escreveu no prefácio.

Não admira muito porque a noção de História que temos em Portugal sobre a Revolução de Outubro continua a ser a que é veiculada pelo O Militante do PCP.

Hoje o Sol publica uma entrevista com uma historiadora que publicou um livro sobre a viagem de Lenine, da Suíça até ao sítio da revolução de Outubro.

O esquema é sempre o mesmo, por cá: conta-se a partir de um olhar sectorial para árvores bem podadas e perde-se a visão essencial na floresta de enganos que elas ocultam. De há 40 anos a esta parte que a História contada nos media tem sido esta tristeza.

 Pelo contrário, em França aproveitou-se a efeméride par dar a conhecer o contexto, a cronologia histórica, a explicação dos acontecimentos e até uma entrevista com a mesma historiadora mas inserida nessa visão periférica ( aparece na revista L´Histoire deste mês):


Em Portugal o que conta é a História do O Militante...e depois o resultado é este, sem paralelo na Europa Ocidental:


26 comentários:

Floribundus disse...

esta coisa denominada rectângulo

continua dominada por governo social-facista

apoiado pelo ministério da comunicação xuxialista

hoje reuniu a cimeira que faz trener as perbas dos ricos

Floribundus disse...

tremer as pernas

o encontro de hoje fez-me lembrar
'diálogo dos mortos'
de Luciano Samósata

numa revista francesa nas bancas
aparece mr segolène como o 'liquidatário'

João Nobre disse...

«Como é que isto se sabe por cá? Lendo revistas estrangeiras, nomeadamente francesas.»

José, desculpe que lhe diga mas está enganado. Quando eu fiz o secundário, o meu livro de historia do 12º já falava disso tudo e com bastante pormenor. O que o José aqui escreve, ensina-se sim nas escolas.

O problema é quando os miúdos apanham professores de esquerda que distorcem as coisas, ou se não estudam. Aliás, na maior parte das vezes o problema mesmo é que não estudam e por isso não sabem, pois os manuais de história no que diz respeito à Revolução Bolchevique até nem eram maus no meu tempo.

Mas como é óbvio, omitem-se certas "coisas" inconvenientes demais tanto para a esquerda, como para a direita e por isso mesmo, as revistas francesas que o José anda a ler, também parece que não falam disto:

http://historiamaximus.blogspot.pt/2013/08/wall-street-revolucao-bolchevique-e.html

josé disse...

Omitem-se certas teorias de conspiração porque...são isso mesmo.

Quanto aos manuais de História não tenho tanta certeza de contarem como foi, ao pormenor que agora se chega.

De resto não me referi aos manuais escolares mas à divulgação da História pelos media.

João Nobre disse...

«Omitem-se certas teorias de conspiração porque...são isso mesmo.»

Não, não. Desculpe mas está enganado.

Toda a obra do professor Sutton está baseada em documentação e anos de pesquisa em arquivos. Nada do que ele escreve carece de fontes.

A direita liberal é que tem um grande problema em admitir que foram os próprios capitalistas de Wall Street que em larga medida financiaram e impulsionaram a Revolução Bolchevique desde o início. Depois desculpam-se dizendo que é "teoria da conspiração"...

josé disse...

"Revolução Bolchevique desde o início"

Desde quando exactamente? Não li o livro...

zazie disse...

Os judeus de Odessa estiveram metidos nisso; acho que é um facto, assim como os gangues, só não sei mesmo se é deles que também vem a estrela vermelha adoptada pelos revolucionários

João Nobre disse...

«Desde quando exactamente? Não li o livro...»

Então leia o livro e ficará a saber. É uma leitura extremamente interessante e reveladora. Recomendo-lhe vivamente.

Este livro do David Duke também vale a pena ler e também toca no mesmo assunto:

http://ia802609.us.archive.org/12/items/JewishSupremacismByDavidDuke/jewish-supremacism-david-duke.pdf

josé disse...

Então se tenho que ler o livro para ficar a saber, a resposta não deve ser muito fácil.

Afinal o que queria saber é simples: foi logo no início de 1917? Foi em Outubro?

Foi com o assassinato de Rasputine, em 29 de Dezembro de 1916? Foi antes? Foi por causa da guerra do czar contra a Alemanha, em 1914?

Quem sabe deveria saber responder...

zazie disse...

O grupo Bund, sim, é anterior e existem ligações posteriores com os bolsheviks

zazie disse...

Foi antes, já vinha desse grupo Bund que é do tempo do Imperador Alexandre III. Mas depois passa a integrar o proletariado judaico, não é a cena básica do financiamento dos banqueiros magnatas.

João Nobre disse...

«Então se tenho que ler o livro para ficar a saber, a resposta não deve ser muito fácil.»

Não é fácil não. O Sutton só narra os acontecimentos relativamente a partir de 1916, ano em que Trotsky foi expulso da França, tendo após uma série de peripécias ido parar a Nova Iorque.

Agora o José veja o seguinte. Trotsky, um suposto anti-capitalista, durante a sua estadia em Nova Iorque viveu em condições que se podem considerar luxuosas para a época. Tinha até um telefone e um frigorífico em casa. Coisas que só pessoas abastadas é que normalmente possuíam.

Quem é que pagava a vida luxo de Trotsky?

Quem é que financiou isto tudo?

Como é que um comunista vai para Nova Iorque viver no bom bom assim do "nada"?

As declarações de rendimentos do Trotsky estão muito abaixo do que seria realmente necessário para se viver assim. Portanto, lá está, de onde é que vinha o dinheiro???

Penso que só gente muito ingénua é que não percebe perante tanta evidência que Trotsky era um agente ao serviço dos supremacistas judeus radicados na América. Nunca passou disso.

zazie disse...

Interessou-me perceber melhor as Vanguardas Russas porque na faculdade também se dava tudo como sendo fruto da "arte que nasceu da Revolução Russa".
É mentira- eram judeus organizados em 1910 no grupo da União da Juventude- uma intelligentsia judaica.

zazie disse...

Agora que parece que nunca houve "queda da monarquia" onde eles não tenham metido o dedo, isso é daquelas coisas... até com o Cromwell em Inglaterra

";O)

josé disse...

O que se escreve sobre a queda do czar é parecido com o que aconteceu por cá, com Marcello Caetano. E provavelmente pelo mesmo motivo.

O Czar era estimado pela multidão de russos e não se previa a queda assim tão rápida e sem dor ou derramamento de sangue, como aconteceu no nosso 25 de Abril.

O pior veio depois, tal como por cá.

zazie disse...

De facto, é muito curiosa essa aproximação.

josé disse...

Bem, estas revistas que tenho vindo a citar também pertencem a um grupo- SA Sophie Publications que se calhar também tem capital da mesma proveniência...

Mas ainda assim, confio que sejam mais ecléticas e isentas que O Militante.

josé disse...

Para mim é um paralelo flagrante e não é por acaso que se falou logo em Mário Soares ser um Kerenski, porque a similitude era grande.

josé disse...

Curiosamente sempre que se falava em Kerenski a alusão ficava em circuito fechado de connoisseurs ou pretensos eruditos.

Que me lembre e para isso tenho boa memória, nunca foi explicado nos media a natureza de tal comparação.

Tinham uma noção vaga de quem foi o indivíduo e ficava por aí.

zazie disse...

Pois era. Agora foi o JMF que falou nisso

josé disse...

Em Kerensi? Foi logo na época que falaram no assunto. Julgo que o próprio Mário Soares do referiu.

zazie disse...

Ah, sim, claro. Digo agora lembrar-se dele a propósito da morte. Não sei se mais alguém escreveu isso nos jornais
ehehehe

Bic Laranja disse...

Segundo Rui Mateus foi Kissinger que se referiu ao Mário Soares no papel de Kerenski em Outubro de 74, quando acompanhou O Costa Gomes numa visita à América. Vem na pág. 60, não é preciso ler o livro todo.
Cumpra.

Floribundus disse...

Trotsky in Revolucion traicionada
disponível na Nett

Las obras de los «amigos de la URSS» se clasifi can en tres categorías.
El periodismo de los diletantes, el género descriptivo, el reportaje de
«izquierdas» —más o menos— proporciona el mayor número de libros
y de artículos. A su lado se colocan, aunque con mayores pretensiones,
las obras del «comunismo» humanitario, lírico y pacifi sta. El tercer lugar
lo ocupan las esquematizaciones económicas al viejo estilo alemán
del socialismo de cátedra. Louis Fisher y Duranty son sufi cientemente
conocidos como los representantes del primer tipo de autores. El difunto
Barbusse y Romain Rolland son los que mejor representan la categoría de
los «amigos humanitarios»: no es, por cierto, una casualidad que antes
de llegar a Stalin, el uno haya escrito una Vida de Jesús, y el otro una Vida
de Ghandi. En fi n, el socialismo conservador y pedante ha encontrado
en la infatigable pareja fabiana de los Webb sus representantes más
autorizados.
Lo que une a estas tres categorías tan diferentes es su adoración de
los hechos consumados

adelinoferreira disse...

Quem descreveu bem os acontecimentos de Outubro de 1917 e de uma forma desapaixonada -até era americano- foi o John Reed, que deus tem

josé disse...

E os de Fevereiro de 1917 até Outubro desse ano?

A obscenidade do jornalismo televisivo