Este ano faz cem anos que a Revolução Russa triunfou, acabando com o regime monárquico dos czares e impondo a oligarquia comunista que durou até ao final da década de oitenta do século.
Antes de tal suceder, em Outubro de 1917, a Revolução Russa foi uma espécie de 25 de Abril de 1974. Em 2 de Março de 1917 o czar Nicolau II da dinastia dos Romanov abdicou do trono e entrou em funções um governo provisório, muito à semelhança do que ocorreu por cá, com Spínola e o de Palma Carlos.
Lenine só entrou na Rússia em 3 de Abril de 1917, vindo da Suíça e com poucas esperanças de tomar o poder. Mas foi aí que enunciou "dez teses", diante dos bolcheviques.
Em Julho já havia manifestações contra o governo provisório, tal como por cá aconteceu. Um certo Kerenski formou então um "governo de salvação revolucionária" , mas em Setembro Trotski torna-se presidente do Soviete e em Outubro aconteceu a "insurreição" bolchevique e o triunfo do comunismo em marcha, com a tomada de assalto ao palácio de Inverno. Foi criado o Conselho dos comissários do povo e a polícia política Tcheka entrou em funções.
O resto foi, ao contrário do que por cá aconteceu, o triunfo da Revolução de Outubro que por cá queriam que tivesse acontecido em Novembro...
Como é que isto se sabe por cá? Lendo revistas estrangeiras, nomeadamente francesas.
A Revolução Russa de 1917 não começou em Outubro, com Lenine, mas em Fevereiro com a deposição voluntária do czar Nicolau II, dos Romanov que até aí tinham um poder formal impressionante sobre toda a Rússia. A família desse czar, mulher e cinco filhos, foi dizimada pelos bolcheviques, em segredo, e Lenine terá eventualmente dado assentimento póstumo. O mistério da morte dos Romanov só após a queda da URSS se tornou possível investigar devidamente. O comunismo tem horror à História.
Por cá, estas histórias não se conhecem nem se divulgam, de tal modo que até um tarimbeiro da politiquice esquerdista, Louçã de sobrenome, filho de um oficial da Armada salazarista, escreve patacoadas num prefácio a um biografia de Estaline que o Expresso anda a publicar aos bochechos. Para esse politiqueiro da extrema-esquerda a Revolução Russa começou em Outubro e pôs fim a um regime ignóbil de ditadura monárquica. "Uma Revolução contra uma ditadura e uma guerra, que libertou milhões de servos e prometeu o fim da exploração" foi assim que este palerma, elevado a figura de culto, escreveu no prefácio.
Não admira muito porque a noção de História que temos em Portugal sobre a Revolução de Outubro continua a ser a que é veiculada pelo O Militante do PCP.
Hoje o Sol publica uma entrevista com uma historiadora que publicou um livro sobre a viagem de Lenine, da Suíça até ao sítio da revolução de Outubro.
O esquema é sempre o mesmo, por cá: conta-se a partir de um olhar sectorial para árvores bem podadas e perde-se a visão essencial na floresta de enganos que elas ocultam. De há 40 anos a esta parte que a História contada nos media tem sido esta tristeza.
Pelo contrário, em França aproveitou-se a efeméride par dar a conhecer o contexto, a cronologia histórica, a explicação dos acontecimentos e até uma entrevista com a mesma historiadora mas inserida nessa visão periférica ( aparece na revista L´Histoire deste mês):
Em Portugal o que conta é a História do O Militante...e depois o resultado é este, sem paralelo na Europa Ocidental: