Armando Vara não tem dúvidas de que Luís Campos e Cunha queria mudar o rumo da Caixa Geral de Depósitos e garante que, durante o almoço que ambos mantiveram – revelado este mês pelo ex-ministro das Finanças no parlamento –, a insatisfação com a antiga administração do banco público foi clara. Há dez dias, durante a audição na comissão parlamentar de inquérito, Campos e Cunha revelou ter almoçado com Armando Vara numa altura em que disse estar a ser pressionado por José Sócrates para demitir a administração do banco público. Explicou ainda que o almoço se tratou de um encontro entre amigos – negando que fosse um convite a Vara para a administração – e que, por isso, pagou do seu bolso e rasgou a factura à frente do convidado.
Portanto, se bem entendo a historieta de Armando Vara, um indivíduo com credibilidade acima de qualquer suspeita e que gosta de robalos, é simples: o seu amigo José Sócrates nada tem a ver com este assunto das pressões para demitirem a administração da CGD e aí colocarem outros indivíduos mais competentes. Tal inclui o antigo empregado de balcão bancário em Trás-os-Montes cujos méritos, o melhor aluno do curso de Direito do ano de Marcelo, Santos Ferreira, gabou publicamente, reconhecendo-lhe categoria insuspeita na arte de emprestar dinheiro a empresas com prognóstico de falência ( Vale do Lobo).
Campos e Cunha tinha dito que sim, no Parlamento, como relata o DN da altura.
"A relação com a CGD não teve um período
de maturidade suficiente, porque estive apenas quatro meses no Governo.
Desde o início, como ministro das Finanças, fui pressionado pelo
primeiro-ministro [José Sócrates] para demitir o presidente da CGD e a
administração da CGD", afirmou o ex-governante, que não acatou essas
orientações.
"Por princípio, acho que
deve ser dado tempo para as pessoas trabalharem e concluírem os seus
mandatos", explicou Campos e Cunha, durante a sua audição na comissão
parlamentar de inquérito à gestão da CGD, dando como exemplo o facto de
não ter demitido nenhum diretor geral durante a sua curta passagem pelo
executivo socialista, em 2005.
Isto foi logo desmentido por José Sócrates, outro cuja credibilidade nesta como noutras matérias é imbatível, conforme relatava a Sábado:
"Há anos que o Dr. Campos e Cunha aproveita os quatro meses da sua
passagem pelo Governo para atacar os seus antigos colegas. Considero tal
comportamento desprezível e sempre o ignorei por não querer quebrar a
regra que sigo de não comentar a vida interna do Governo a que presidi",
acusou Sócrates numa nota enviada à comunicação social, esta
sexta-feira.
"Hoje sinto que tenho o dever de o desmentir: as suas declarações a propósito da Caixa Geral de Depósitos são falsas e sem nenhuma correspondência com a verdade", assinalou o antigo governante. E reforçou: "Esclareço que nunca fiz qualquer pressão para demitir a administração daquele banco. Esclareço ainda que a vontade de substituir a referida administração sempre me foi manifestada pelo então ministro das Finanças que, ao contrário do que agora é afirmado, na altura considerava que não estava à altura da missão do banco".
"Hoje sinto que tenho o dever de o desmentir: as suas declarações a propósito da Caixa Geral de Depósitos são falsas e sem nenhuma correspondência com a verdade", assinalou o antigo governante. E reforçou: "Esclareço que nunca fiz qualquer pressão para demitir a administração daquele banco. Esclareço ainda que a vontade de substituir a referida administração sempre me foi manifestada pelo então ministro das Finanças que, ao contrário do que agora é afirmado, na altura considerava que não estava à altura da missão do banco".
Campos e Cunha não se ficou, ao contrário de agora com este peão, Vara, conforme o Observador contou:
Nessa época, a CGD era dirigida pelo social-democrata Vítor Martins, que foi substituído por Carlos Santos Ferreira, próximos dos socialistas, e que passou a integrar Armando Vara na administração. Foram nomeados por Teixeira dos Santos, o ministro que sucedeu a Campos e Cunha e que ficou no Ministério das Finanças até ao fim do Governo de José Sócrates.
O ministro que demitiu a Administração da CGD, Teixeira dos Santos, celebrizado por chamar a troika na terceira bancarrota do país em menos de 40 anos, também já contou a sua versão, conforme conta o Sol:
“O primeiro-ministro nunca me pressionou no sentido de fazer qualquer mudança ou de nomear fosse quem fosse para a administração da Caixa”, declarou, depois de classificar como uma “coincidência” ter escolhido precisamente Santos Ferreira, o nome que Campos e Cunha diz que Sócrates lhe tentou impor.
“Creio que foi uma coincidência. Ninguém está em condições de assegurar que esse nome foi sugerido ao meu antecessor. É a palavra dele contra todos”, disse o antigo responsável das Finanças, que começou por insistir na defesa de que tanto Santos Ferreira como Vara foram ideias suas para acabar por assumir – depois de Hugo Soares recordar que é crime mentir numa comissão de inquérito – que falou com pessoas que lhe indicaram nomes, embora tenha tido dificuldade em referir com quem teve essas conversas.
Pressões? Nenhumas. Coincidências apenas. Mas...avisado das consequências em mentir no Parlamento lá admitiu que afinal os nomes lhe foram soprados...mas não se lembra bem por quem. Armando Vara, foi um deles e Teixeira dos Santos não se lembra quem terá sido a pessoa que lho indicou. Deve ter sido um anónimo qualquer e Teixeira aceitou de bom grado e nem falou com o então primeiro-ministro.
Sobre a credibilidade deste Teixeira que é professor universitário e komentador de tv estamos também bem conversados.
Assim, resta a versão de Campos e Cunha contra estes personagens de opera bufa, responsáveis pelos desmandos que se conhecem na CGD e noutros sectores.
Em quem se deve acreditar? Por mim, nem se coloca a dúvida...mas julgo que um tribunal de júri também não teria qualquer dúvida.