terça-feira, setembro 10, 2019

O tempo de Salazar era outro

Hoje comprei o Público por causa desta crónica:



Esta passagem do escrito torna-se interessante para comentar:

"A única coisa que Salazar é em 2019- não custa muito percebê-lo, se se meter o esqueleto no armário- é uma boa história, uma personagem que atrai pela singularidade, um homem que praticamente mandou sozinho no país durante quatro décadas, sem que ninguém tenha sido capaz de correr com ele. 
Nunca se casou, nunca saiu do país ( excepto umas breves viagens à fronteira espanhola), tinha cabeça de técnico oficial de contas, criava galinhas em S. Bento, montou uma ditadura de baixa intensidade que se revelou extraordinariamente sólida."

Este retrato de Salazar revela mais sobre quem o escreve do que sobre Salazar propriamente dito.

Acho muito interessante o tema porque dá pano para grandes mangas de discussão acerca do que era o país, no tempo em que Salazar durou como chefe do Governo, ou seja, desde  o início dos anos trinta até 1968.

Logo a seguir ao golpe de 25.4.74 houve algumas tentativas de definição do regime em que Salazar se inseria, procurando demonstrar que era fascista, ou seja, de raiz estrangeira, italiana, porque foi aí que surgiu tal sistema político e social.

Tais tentativas partiram quase todas de indivíduos conotados com o comunismo e o partido comunista português, em particular.
O PCP foi verdadeiramente a única força de oposição, no caso clandestina, ao regime em que Salazar se inseria.
E porquê "fascista" e não outro epíteto qualquer, como corporativista ou estadonovista? Enfim, a explicação advém da própria idiossincrasia do PCP que tende a classificar como tal, qualquer força política ou social que se oponha de forma veemente ao marxismo, contestando a luta de classes e adoptando um modo de produção capitalista e burguês.
Tanto faz que o fascismo tenha sido um produto de um tempo, de uma ideologia revolucionária, totalitária, anti-liberal. Para os comunistas fascista é tudo o que eles determinam que seja, por causa da oposição ao marxismo e leninismo ou mesmo trotskismo e outros ismos comunistas.

Daí que o regime nascido com o Estado Novo seja fascista e Salazar evidentemente um fascista de tomo.
Com o tempo e a insistência, a carga semântica espalhou-se como nódoa de azeite e o regime do tempo de Salazar passou a ser designado como "o fascismo".  Dá um jeito ideológico imenso e resolve com uma palavra discursos e discursos de propaganda inútil e ineficaz.

Daí também o esforço estulto de certos intelectuais formados nas madrassas do costume que escrevem livros e resmas de papel virtual a demonstrar que Salazar e o Estado Novo eram fascistas. Tal acontece com um Fernando Rosas ou um tal Manuel Loff, o cripto-comunista de serviço permanente a esta revolução que se foi instalando na sociedade portuguesa dos últimos 40 anos. Loff, que eventualmente terá algo a ver com uma antiga militante comunista do PCP dos anos trinta, neta  de um russo, uma traidora e por isso esquecida, aparece agora em permanência nas tv´s , tal como Rosas ou Louçã.
Nunca tal sucedeu nestes últimos 40 anos, nas tv´s, porque a nódoa de azeite já é uma mancha gordurosa indelével, na sociedade portuguesa e por isso acontece agora.

Seja como for a designação de Salazar e do Estado Novo como "fascista" pegou de estaca, por obra e graça dos comunista se seus compagnons de route habituais, normalmente antigos comunistas que se reciclaram no partido socialista.

Para estes que aprenderam pela cartilha comunista Salazar foi sempre fascista, naturalmente. O caso mais pardigmático é Mário Soares e que influenciou muita gentinha que escrevinha nos jornais e redacções. Obviamente passaram o ensinamento aos filhos e enteados, primos e já netos. E a coisa pegou porque não há gente suficiente para lhes oporem razões demonstrativas do erro.

Para além disso que já não é pouco, a história contemporânea ficou à mercê desses torcionários da verdade que se afadigam em cada artigo, cada livro e cada entrevista a apresentar a sua versão da História até conseguirem torná-la em versão oficial, como já acontece.

Assim resta apenas a luta de flibusteiro que atira pedradas escritas a esses torcionários da verdade para ver se apanham com uma em cheio e lhes faça alguma mossa.  Sem grande esperança e apenas com um sentido de dever pela verdade e justiça.

Neste contexto, o escrito de João Miguel Tavares é exemplar da influência nefasta que as ideias comunistas tiveram na sociedade portuguesa ao longo de décadas.

Para se perceber melhor esta calamidade social e cultural é necessário entender quem a provocou, ou seja o PCP e o marxismo em geral, a maior influência cultural na sociedade portuguesa das últimas décadas.

Para se conhecer a história do PCP há poucas fontes que não provenham de água suja, ou seja inquinada pela propaganda ideológica do próprio partido.

Por isso se revela importante o livro de Fernando Gouveia, um antigo inspector da PIDE que assim publicou em 1979:


Esta versão da história do PCP prescinde do romantismo associado ao panegírico e retrata situações, com factos e nomes testemunhados pelo autor.
A história compreende o relato sobre alguns mitos do PCP, como o do Tarrafal onde morreu Bento Gonçalves...











E ainda estes episódios da "luta clandestina" do PCP e do modo como a PIDE a contrariava, incluindo a primeira vez que Mário Soares foi preso ( por ter ido à missa duas vezes):




A seguir: Salazar no seu elemento, completamente estranho ao comunismo.

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