quinta-feira, setembro 26, 2019

Em democracia, ninguém está acima ou abaixo de qualquer suspeita...

Observador:

Certo é que, ao terceiro dia de campanha oficial, Tancos é mesmo um dos principais temas a pesar sobre a campanha, sobretudo a socialista que vê um ex-ministro prestes a ser acusado e até um deputado, recandidato ao cargo, apanhado num SMS intercetado pela investigação. Houve também a escuta, noticiada pela TVI, que se referirá a Marcelo como “papagaio-mor do reino”, que veio fazer o Presidente reagir de imediato. Costa só se disponibilizou a responder aos jornalistas para declarações (até esse momento não tinha sido possível) ao segundo dia da notícia e para estranhar os “disparates que se dizem” sobre ele e o Presidente da República. Depois declarou, para afastar dúvidas:

O Presidente da República está acima de qualquer suspeita sobre o que quer que seja”.


Público e Correio da Manhã de hoje: os sinais da oligarquia político-mediática.




A notícia do jornal i de ontem mostra que alguém do jornal teve acesso ao despacho final no inquérito relativo ao caso das armas furtadas em Tancos e ao encobrimento ( abuso de poder, denegação de justiça e prevaricação, enquanto crimes típificados) da respectiva autoria. 

Segundo o jornal i o MºPº teve acesso a conversas e mensagens de correio electrónico, do chefe da casa militar do presidente da República na qual se dava conta inequívoca de que o mesmo indivíduo- João Cordeiro, um tenente-general- em converseta com  o director-geral da PJM falou de assuntos, quase "segredos de Estado" que o CM chamaria um figo se a eles lá chegasse. Foram fatais, tais conversetas e mensagens, para se questionar o grau de conhecimento que o próprio presidente da República teria acerca do assunto. 

O MºPº terá arquivado tal matéria, em função de impedimento processual para servir como prova a cometimento de qualquer crime. 

Porém, com estes elementos disponíveis e ainda outros que entretanto foram aduzidos, no dia de ontem, relacionados com outras conversetas do referido director-geral da PJM com uma irmã, as suspeitas adensaram-se porque " o papagaio-mor do reino" sabia de tudo. E mais: " o Sá Fernandes já fez chegar à Presidência que eu tenho um email que os compromete".
A quem é que comprometia o tal email, do director da PJM? A alguém do Governo, naturalmente. Ao ministro Azarado em primeiro lugar e depois ao chefe do ministro que este azarado não é quem para guardar tais segredos que queimam. Há provas dessa comunicação? Até agora não se descobriram, aparentemente. 

E por isso a questão é esta: o MºPº quis, pôde, procurou saber, indagou, questionou, perquisicionou algo que podia e devia? E que envolvia a identidade do "papagaio-mor" e o conhecimento de factos pelo presidente da República, suficientemente graves para um inquérito em forma? 

É essa a questão, agora. 

Já vimos que a oligarquia politico-mediática não quer tais inquéritos. E daí mais uma razão para o terem feito.

Ontem, algures foi apresentado ao público o livro de Eduardo Dâmaso, jornalista e director da Sábado e que já está à venda nas livrarias, há alguns dias. Parece-me bem escrito e interessante, até certo ponto.

O CM mostra hoje como foi:


E na Sábado de hoje escreve assim Eduardo Dâmaso:


Eduardo Dâmaso não pertence à oligarquia dos proenças e quejandos figueiredos. Mas é empregado da Cofina. E tem que suportar tais custos com as limitações inerentes. Ou seja, não pode dizer tudo, não pode contar tudo nem pode investigar tudo porque no fim de contas as investigações que estão no seu livro são todas decorrentes de processos judiciários.
E isso é ainda pouco para se atingir a verdade dos factos e a realidade que nos rodeia, actualmente.

Em Portugal praticamente não há jornalismo de investigação, incluindo algumas tentativas da Sábado através de António José Vilela, nomeadamente.

Falta a independência e poder económico para tal e ainda o conhecimento suficiente, desapoiado das muletas das autoridades judiciárias que evidentemente trazem a matéria-prima para os processos que depois são aproveitados pelos media da Cofina, mesmo com violações de segredo de justiça que um Rui Rio tanto detesta.

Sem razão, como se dá conta na Sábado de hoje:


No fim de contas tudo isto também é um negócio para a Cofina. E lucrativo, segundo parece.

É esse travo amargo que perpassa pelo livro de Eduardo Dâmaso...e é pena que assim seja. A junção do útil ao agradável deveria exigir maior empenho no escrutínio jornalístico para além do que fazem as autoridades judiciárias.

Por exemplo: que tal saberem quem é Sérvulo Correia e o que tem de seu, de próprio e de interesses? E um Eduardo Paz Ferreira? E um Vieira de Almeida? E um José Miguel Júdice?

Não é preciso haver trabalho disponível das autoridades judiciárias para nada, nestes casos...porque o jornalismo deveria bastar. 

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