sábado, setembro 14, 2019

O panegírico de André Gonçalves Pereira, por quem o conheceu...

Sol de hoje, artigo de duas páginas de Fausto Quadros, professor de Direito jubilado.


Lendo o panegírico resta uma pergunta: em que é que André Gonçalves Pereira se notabilizou assim tanto para merecer a atenção mediática?

Por escrever um manual de Direito Internacional Público, mesmo de referência e vindo dos anos sessenta? Huumm...é pouco. Há por aí alguns professores de Direito a escrever manuais, principalmente para ir vendendo aos alunos.  Até o Jorge Miranda, que perdigotou a Constituição que temos, tem um. E Marcello Caetano? O que é que AGP deve ao professor Marcello Caetano, academicamente?
Depois, esse ramo do Direito, em Portugal tem o valor que tem para quem pretende seguir carreiras ligadas à diplomacia, principalmente. É um nicho do mercado do Direito.  Portugal é um país que perdeu a sua independência económica, que hipotecou o seu futuro presente por várias gerações de dívida e alienação de património a potências estrangeiras.
Portugal nunca foi tão dependente do estrangeiro como agora e nunca foi tão miserável em termos de honra internacional como agora.
Saiu do Ultramar como saiu, com a ajuda prestimosa destes causídicos do direito internacional público, que pouco ou nada fizeram para nos manter uma honra de séculos. Vieira de Almeida, por exemplo, outro dos amigos deste catedrático, foi ministro na altura em que estas ignomínias aconteceram e abandonou logo o barco quando se deu conta do naufrágio. Agora é um dos maiores advogados de negócios de Portugal.
André Gonçalves Pereira foi uma espécie de padrinho dessa gente que vicejou depois do 25 de Abril de 1974.

André Gonçalves Pereira muito ficou a dever a Marcello Caetano, segundo o próprio confessou em cartas que lhe escreveu e que foram publicadas em 1985 pela d. quixote. Assim:


Depois do 25 de Abril, já numa mó de cima com os novos poderes, o mestre André poderia ter feito alguma coisa pelo verdadeiro mestre. Parece que pouco ou nada fez...como se conta no livro de Veríssimo Serrão, Confidências no Exílio, de 1985.


Portanto, este panegírico do professor Quadros não vale um charuto. Dos baratos...

O que eu gostava de ler seria um artigo do professor Soares Martinez sobre a personagem falecida. Um obituário a sério...mas na edição de O Diabo desta semana nada traz. E suspeito que na próxima nada trará, sobre o assunto. Há silêncios que falam mais alto que as palavras.

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