domingo, dezembro 07, 2008

O Problema.

A leitura dos jornais, dá conta, para quem quiser e souber ler, dos problemas mais profundos que atinge a sociedade portuguesa em 2008 e do regime político que temos e somos.

No Público de hoje, através de crónicas dos seus comentadores habituais, os problemas podem assim elencar-se:

Vasco Pulido Valente, escreve sobre os deputados faltosos do PSD, na votação de sexta-feira passada que inviabilizou politicamente, uma censura ao diploma das avaliações dos professores. O que escreve, é um retrato implacável de uma corrupção política profunda e iniludível:
" A Assembleia é uma sinecura e eles vêem a Assembleia como a sinecura que é. Tanto quanto possível não põem lá os pés, trabalham "para fora", tentam viajar ( oficialmente, claro) e fogem nos feriados. Não se percebe a fúria da dra Manuela com este arranjo. Ela já por lá andou e conhece a "casa". Que esperava ela, se não o que sucedeu?"
A este escrito, permito-me o seguinte comentário: na sexta-feira da semana passada, quantos faltaram de igual modo? Alguém se incomodou?

Depois, a crónica de António Barreto, da uma visão mais geral do Problema. Barreto intitula a crónica "O Colapso" e não poupa na análise:
" Banca, energia, obras públicas e telecomunicações: parecem ser estes os territórios preferidos dos grandes partidos do regime. É possível que a maior parte dos homens de que se fala não tenham cometido um só crime. É possível que não tenham tido, jamais, um comportamento ilícito. Mas tal se deve ao facto de as leis permitirem que se faça o que se faz. Até porque foram eles que as fizeram."
Comentário: é este o nó górdio do Problema. A ética socialista, republicana, já por diversas vezes foi afirmada: confunde-se com a lei. E tudo está dito. A desfaçatez, depois, arranja a máscara que se torna visível. Tão visível que o maior português de sempre, votado num concurso de televisão, foi precisamente um indivíduo de quem nunca se poderia dizer o mesmo: Salazar. Com Salazar, seria impossível um regime de devoristas e predadores, surgidos do nada cívico e alcandorados ao gotha do maior poder político, para arranjos pessoais e de grupo. A populaça votou nessa figura, por essa razão. Quanto a mim, única e exclusiva. A populaça percebe sempre o essencial que não se prende com o rendilhado dos argumentos hipócritas para Assembleia ver e político ostentar.
Na página 8 do Público, uma notícia apresenta um dos aspectos mais relevantes do Problema:
"PS, PSD e CDU ultrapassaram limite de gastos de campanha"
...referindo-se às últimas eleições autárquicas, de...2005.
Comentário: Quem é que liga aos gastos da campanha autárquica de 2005? O Tribunal Constitucional, só agora, passados mais de três anos, produz um acórdão sobre isto? E ainda por cima, acolhendo as objecções apresentadas pela Entidade de Contas, cujo presidente se demitiu por discordar precisamente as competências arrogadas pelo TC?
É este um dos aspectos mais relevantes do Problema, o que contende com o Poder Judicial em geral e a sua teia de rendilhados barrocos, para interpretar a essência do legislador que veio do Povo. Isto para não falar do poder judicial das Relações para cima, onde as mais graves suspeitas de parcialidade política em relação a certos casos, como o da Casa Pia, se levantam com grave incidência.
Entretanto, uma anedota exemplar do respeito pela lógica que o poder judicial se vê confrontado muitas vezes a analisar em termos de prova ( caso de Felgueiras, por exemplo): Valentim Loureiro, recebeu donativos que só declarou depois das eleições. Justificação: estavam numa gaveta da qual perdeu a chave e só a encontrou dias depois das mesmas eleições! Esta pequena anedota, contada pelo Público sem pestanejo de dúvida, diz tudo da dignidade conferida institucionalmente, por um certo poder autárquico, à Entidade de Contas, ao Tribunal Constitucional e ao Povo em geral.

Outra citação que mostra um lado esquisito do nosso Problema. É de José Lello ( outra figura digna de comentário alargado. Deixa-se porém esse comentário específico ao cuidado especial de uma Ana Gomes) e diz assim, sobre o anacronismo do PCP:
" O PCP pode invocar o marxismo, o leninismo, o centralismo, o regresso das nacionalizações e outros arcaísmos que ningué, liga, como se isso não tivesse significado".
Comentário: ligar, ligam. Mas deligam disso e religam principalmente ao facto de fazerem oposição ao que está e temos- e Lello representa.

Finalmente, para dar conta de outro Problema maior, o dos media que temos, vale a pena repescar o artigo de Pacheco Pereira, no Público de ontem: "O que nunca chega aos jornais". Para citar outro comentador, César das Neves, que antes dissera, no Diário de Notícias, ser a nossa imprensa pouco informativa e demasiado opinativa.
"Todos os repórteres têm opinião, mas todos são isentos de orientações e partidarismos".
Este postal, no entanto, pretende demonstrar o contrário: os jornais vão dando conta das coisas e dos problemas principais. Mas é preciso ler com atenção,nas entrelinhas, como dantes acontecia. Antes de 25 de Abril de 1974, entenda-se...

Um reflexo bem visível deste problema, foi analisado no Jardim no Deserto. A Eurosondagem, do comentador de futebol Rui Oliveira e Costa, dá sempre bom tempo, para este poder que está. Sempre sol na eira e chuva no nabal...ao mesmo tempo.

Questuber! Mais um escândalo!