Eurico Reis é um juiz desembargador no tribunal da Relação de Lisboa. Aqui há uns anos falava muito na televisão e rádio, comentando tudo e um habitual par de botas judiciário. Na SIC era então um ver-se-te-avias. Em 2008 falava sobre um caso concreto. Em 2006 já tinha falado. Em 2007 dava palpites sobre "o sistema".
Durante muito tempo falou, falou e falou. Na SIC e TSF quase sempre.O CSM nunca lhe disse para estar calado ou ser mais reservado.
Queixa-se agora ao jornal i de que por ter falado demais, está a pagá-las...porque era autor num processo judicial cível, a correr termos precisamente no Tribunal da Relação onde trabalha e o processo desapareceu misteriosamente, numa das andanças entre a secretaria e os "asas" que o julgam em colectivo.
Eurico Reis, habituado como está a falar, fala outra vez para dizer que está convencido que o desaparecimento do processo não foi um acidente. Insinua que foi uma cabala que provocou um desaparecimento do processo que na primeira instância tinha já decisão a seu favor e no sentido de lhe dar, a si e demais família do pai, atropelado numa passagem de nível da CP/Refer, 150 mil euros de indemnização.
Afirma abertamente que houve "grande conivência interna", ou seja que alguém no tribunal da Relação de Lisboa ajudou activamente a esse desaparecimento e o motivo explicativo da cabala é simples e Eurico Reis enuncia-o sem papas na língua:
"este é o processo daquele tipo que é o juiz que anda a dizer que o sistema judiciário não consegue por si próprio reformar-se, tem de haver uma reforma externa. Ando a dizer isto há anos e estou a pagar pela minha língua".
Quer dizer, alguém, na Relação de Lisboa, onde o desembargador trabalha, eventualmente um dia por semana, ( podem trabalhar em casa...) fez desaparecer um processo em que o mesmo é parte interessada por causa de o desembargador andar há anos a pôr o sistema em causa.
É esta a explicação que Eurico Reis arranja para o desaparecimento. Uma explicação que vilipendia funcionários, magistrados e demais pessoas que lidaram com o tal processo.
No final, a entrevistadora, Sílvia Caneco pergunta-lhe: " se eu, que não sou juiz, amanhã tiver aqui um processo arrisco-me a que ele desapareça"? Responde assim Eurico Reis:
"Se alguém não gostar de si e se envolver empresas muito poderosas, infelizmente não posso garantir que não vá acontecer."
Não pode garantir isso nem que o céu não lhe caia em cima da cabeça. Porém o que pode garantir é que apesar de falar, falar e falar, dizendo o que lhe apetece, tudo vai ficar na mesma.