Manuela Moura Guedes no Correio da Manhã:
(...)
Se de cada vez que houvesse uma pressão por parte de um político o jornalista a denunciasse, as coisas seriam bem diferentes, há já muito tempo. O problema é que não há uma cultura de jornalismo contrapoder enraizada em Portugal. Pelo contrário.
Há uma enorme facilidade de ajustes editoriais sempre que há mudanças políticas e uma terrível promiscuidade entre políticos e jornalistas. Obtêm-se ‘fontes’ aceitando terríveis condições, vende-se a alma ao Diabo para segurar outras, não se chateia muito para se ter entrevistados que se dão ao luxo de escolher quem os entrevista, fica-se fascinado por ter amiguinhos políticos e dá jeito... há sempre uma ERC, uma assessoria ou o que quer que seja a cair do céu, pela prestação de bons serviços... Mas também há vítimas, como a jornalista do ‘Público’ que teve o descaramento de fazer perguntas de que o ministro não gostou. Demitiu--se e está no desemprego porque, em Portugal, mesmo "as pressões inaceitáveis" não fazem cair ministros e a vida está para os Relvas!
Sobre este mesmo assunto, o blog de José Paulo Fafe conta uma história antiga ( do tempo de Guterre)e que envolve pressões sobre jornalistas da autoria de um dos elementos da ERC, Arons de Carvalho que devia ter vergonha, mas não tem. Esta:
Foi a exercida pelo então secretário de Estado da Comunicação Social através de um telefonema feito para o José Rocha Vieira,
na altura responsável máximo do jornal e no qual o governante em causa
ameaçou em queixar-se aos na altura eram proprietários do jornais (o
grupo suiço Edipresse) sobre o comportamento do "T&Q", bem como
alertá-los para as consequências que, a todos os níveis, que isso
poderia ter para as publicações que o grupo editorial detinha em
Portugal. Mais: nesse telefonema, em que também "fui metido ao barulho",
Alberto Arons chegou mesmo ao ponto de "alvitrar" que governo poderia
vir a considerar como "indesejável" qualquer investimento que, no
futuro, a Edipresse pretendesse vir a fazer no nosso País. Lembro-me,
como se fosse hoje, da extraordinária, irónica e inteligente resposta do
Zé Rocha Vieira: "O
melhor é o Arons falar directamente com o escritório de advogados que
tratou da 'entrada' da Edipresse em Portugal - o do dr. Jorge Sampaio e
do dr. Vera Jardim ...".
Na altura, o telefonema foi-me contado timportim pelo
próprio Rocha Vieira. Talvez por conhecer o Alberto Arons desde os anos
70, por até sempre ter mantido com ele uma relação cordial, a minha
reacção foi - mais do que tudo - de profunda desilusão, até porque uma
atitude dessas era oposta a tudo o que, como autor, professor, deputado,
membro do Conselho de Imprensa e até jornalista (ainda que por breves
três anos), Alberto Arons sempre defendera. Lembro-me que na altura
enviei-lhe um cartão para o seu gabinete na sede da Presidência do
Conselho de Ministros e em que (sic) o mandei "badamerda". Soubesse o que sei hoje e aposto singelo contra dobrado que nessa missiva apenas teria escrito uma frase: "Uma ameaça não é grave pelo efeito que tem, mas pelo efeito que se pretendia que viesse a ter".
3 comentários:
histórias como esta e piores ouvi na maçonaria do minúsculo oriente, donde sai por me terem roubado e por ter caído nas mãos dos xuxas.
chamavam-lhe o 'menino' arons por dirigir a js aos 40 anos
Grande Zé Paulo :-)))
A propósito de jornalismo recomendo a nova série televisiva The newsroom da hbo. Bem escrita e com alguma food for thought para quem se interessa.
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