As memórias, em Portugal, sobre o tempo de Salazar e sobre o tempo do comunismo, mesmo o que por cá ameaçou ficar, assumem feição particularmente curiosa pela interpretação que delas é dada pelos diversos protagonistas que emitem opinião sobre o assunto.
Vejamos duas delas, exemplares dessa idiossincrasia que se plantou de estaca e assim viceja há muitos anos, por cá.
Em primeiro lugar a opinião de um indivíduo que é artista plástico, Leonel Moura, sendo indivíduo de uma esquerda indefinida mas bem marcada no PS.
Que memórias traz este indivíduo sobre o tempo de um "Portugal antes de 25 de Abril"? Estas, publicadas na passada Sexta-Feira no Jornal de Negócios ( que dá guarida a estes espécimens):
Começa logo por dizer que as memórias são "dos últimos anos década de sessenta". E fala logo na Pide que em 1968 passou a designar-se DGS, mas para estes memoriados do fassismo tardio continua a ser pide porque é assim que preferem. A KGB fora NKVD mas não teve a mesma sorte idiossincrática.
Depois, o relato é o típico choradinho do fado alexandrino refeito. Prisões, buscas e apreensões pela calada da noite, numa manifestação clara do mais explícito estado policial, que qualquer cidadão esclarecido e maior de idade em 1974, viveu neste país, com uma repressão brutal, com tortura no aljube e coisas de meter medo por causa "das ideias" que justificavam as prisões do pai, do tio, do primo e talvez do cão.
"A miséria era visível por todo o lado" e "os portugueses eram na generalidade tristes", pelo menos os que viviam perto da avenida de Roma, em Lisboa. O resto da população vivia no medo e numa pobreza profunda". Na "província o panorama era ainda mais tenebroso".
É este o ambiente estético do Portugal de final dos anos sessenta, para este artista que alerta agora para o perigo de repristinação da besta ideológica. Na verdade ninguém tem culpa que estes indivíduos tenham vivido esses anos enjaulados na idiossincrasia "subversiva" e pretendessem substituir regime tão nefando por outro muito superior em valores, práticas e sobretudo modo de vida para o povo que vivia feliz e contente por causa dos amanhãs que já lá cantavam há décadas e que queriam replicar por cá.
Infelizmente, há outras memórias menos perversas e mais realistas: a dos desiludidos que confiaram cegamente nas promessas de pescadores de ilusões e acabaram nas redes da realidade nua e crua desses regimes que eram manifesta e implacavelmente fascistas, perdão, comunistas, ou se se quiser social-fascistas como diziam os seus adversários pela esquerda baixa.
Sobre este "social-fascismo" que não desapareceu porque está vivo e actuante no próprio parlamento português, através do PCP e satélites, nem uma palavra destes desmemoriados selectivos e pervertidos pelo vírus da intolerância e má-fé.
Aqui ficam duas páginas do jornal i de hoje em que um antigo comunista, o mediático televisivo José Milhazes, precisamente no tempo que o artista plástico recorda, viveu na pátria do sol que os mesmos pretendiam pôr aqui a brilhar intensamente, logo em 1975, desabafa para o leitor sobre a desilusão do comunismo. Ninguém liga, porém, a estes relatos vividos e testemunhados por muitas pessoas que assim diziam logo na época em que as ilusões se mantinham e não precisaram que o muro caísse para verem o social-fascismo de modo bem claro e prático, em execução diária e em modo mais horrendo que todos os relatos pervertidos dos artistas plásticos que temos e que nunca os conseguiram lobrigar.
Há uma coisa que sempre me espantou nestes fenómenos: porque é que os leonéis moura proliferam nos media como mediadores de uma verdade aldrabada e trafulha e os que relatam as memórias vividas dos sítios que aqueles então preferiam, são ignorados como espécie folclórica de margem e sem qualquer ligação a uma realidade ainda hoje viva e actuante?
Quem implantou o discurso corrente que confere importância e credibilidade àqueles trafulhas, pervertidos e desvaloriza estes avisos sérios sobre a natureza do comunismo?
A resposta é simples: foram os antigos comunistas e seus compagnons de route habitual. Dominam os media desde que o 25 de Abril se transformou na sua festa. Isto devia ser intolerável numa sociedade dita democrática, mas não é porque a democracia é outra coisa.
A última manifestação deste tipo de artistas plásticos é esta, ainda do mesmo jornal de hoje:
Mas a tradição tem barbas. Já depois de 25 de Abril de 1974, como documenta a Flama de 7 de Junho de 1974, os artistas engajados na trafulhice ideológica eram actores de censura que criticavam antes: