quinta-feira, agosto 08, 2013
Um entrevista cândida e com minhoquices lamentáveis
Cândida de Almeida é uma magistrada, procuradora geral-adjunta, no activo e que agora exerce funções no STJ. Por razões que certamente a razão desconhece concedeu uma "entrevista de Verão" ao Diário Económico de hoje. A entrevista é de Cristina Esteves, uma quase nulidade jornalística, com carinha laroca e que se presta ao frete de ouvir Sócrates semanalmente na tv.
Para além das banalidades já repetidas noutras, muitas, ocasiões, Cândida de Almeida dá a sua opinião de magistrada, antiga directora do DCIAP, sobre processos que correram termos nesse departamento do MºPº, em modo muito semelhante ao do jornalismo tipo para quem é, bacalhau basta. Neste caso será, portanto, uma justiça tipo para quem é, bacalhau basta. Só dois exemplos, os mais focados, aliás:
O "freeport" continua a ser prato do dia, portanto. Agora nem aquenta nem arrefenta. E Cândida de Almeida continua a achar que aquilo nada tinha contra o antigo primeiro. "uma coisa era o que se dizia; outra o que lá estava", diz Cândida de Almeida, sem explicar o que lá estava porque agora qualquer um pode ir ver.
Quanto a este processo, a pergunta a colocar a Cândida de Almeida é só uma, simples: ponderou alguma vez que Sócrates poderia ser responsável por algum facto ilegal e criminoso, relacionado com o licenciamento do Freeport? E uma outra, desta decorrente e na pressuposição de tal ter ponderado: pode dizer que foi tudo feito para se descobrir tal facto?
E não me refiro aos dois investigadores directos do processo ( que nunca deram uma entrevista na vida sobre estes assuntos), em conjunto com a PJ, mas à antiga directora do DCIAP que, segundo julgo saber, estava de fora da investigação...o que basta para que esteja calada a propósito deste assunto e doutros.
E depois há aquela coisa deliciosa do "pedi para investigarem tudo"... à maneira típica do "barão honesto" que não tinha medo de ninguém a não ser de uns certos figurões e que também dizia tudo na primeira pessoa do singular. Cândida de Almeida não tinha que pedir fosse o que fosse a quem quer que fosse. Primeiro porque não é inspectora de coisa alguma. Depois, uma directora do DCIAP pode apenas esperar que os colegas que aí trabalham façam o serviço de modo competente e se tal não ocorrer não é a directora quem paga as favas, em princípio e se não tiver poder de fiscalização. Pode apenas responsabilizar quem o faça, mas nos temos estatutários. E tudo isso por causa de uma característica estatutária que esquece: a autonomia interna do MP. O DCIAP não era dela, apesar de considerar o mesmo como "um filho". Lamentável. Lamentável, outra vez. E igualmente no assunto seguinte.
Por exemplo, o do BPN.
A vox populi sobre o BPN é simples de enunciar e Cândida de Almeida alimenta o eco: é um caso de polícia. Será mesmo?
Cândida de Almeida também não investigou este(s) processo(s), uma vez que foram da responsabilidade directa de um Rosário Teixeira ( que nunca deu uma entrevista na vida sobre estes assuntos) mas não se coíbe de falar nos processos como se tivesse lido as folhas ( milhares e milhares) do processado, estivesse ao corrente dos esquemas criminosos que enuncia e a que dá o nome de "minhocas": "aquilo mexe-se na terra e sai minhoca por todo o sítio". "minhoca" neste contexto lamentável só poderá ser "crime", porque de outra coisa não poderá falar Cândida de Almeida nesse ambiente de lavoura. Mas...será que se podem ver minhocas a sair da terra quando se está ao largo, a ver de longe os cavadores?
De resto que "minhocas" sairam até agora dos buracos da terra? "Burlas"? A quem? "Falsificações"? De quê? "Abusos de confiança"'? A quem?
Se em julgamento se provar que afinal tais esquemas minhoqueiros não passam de práticas usuais na banca de todos os sítios, Cândida de Almeida irá então dizer que nem viu um boi à frente do Freeport e se lhe atravancam minhocas na frente do bestunto?
Lamentável. Mesmo lamentável porque este género de entrevistas, inúteis, vaidosas, solipsistas, só contribuem para a crise da justiça.
ADITAMENTO em 9. 8. 2013:
Quem também lamenta a entrevista é Pinto Monteiro, o anterior PGR, embora por razões eventualmente diferentes. Uma delas, obviamente, é a de que Cândida de Almeida acusa-o na entrevista de falta de solidariedade, até de lealdade.
O Diário de Notícias é quem dá a notícia. Assim e de maneira continuada com o aquele tipo de jornalismo...porque o caso BPN não pode ter sido um dos mais difíceis para a antiga directora, pela simples razão de que quem investigou o mesmo não foi ela, ao contrário do que sucedeu no caso FP25 ( no qual, aliás, também teve o apoio do marido, o falecido Rodrigues Maximiano) , cujos contornos se explicarão aqui, dentro de dias.
Enfim, aqui vai o lamento profundo de Pinto Monteiro, cujas lamentações são conhecidas. Nunca se lamentou, porém, contra as patifarias de Sócrates e a ajuda que o seu amigo Proença de Carvalho lhe deu. E isso é que deveria ter lamentado. Resta saber porquê, exactamente. Exactamente significa compreender porquê, com todos os pormenores pessoais, institucionais, contextuais, porque se parte do princípio que um antigo juiz conselheiro, "do cível", apesar de ignorante "no crime", não é imbecil ou estúpido de todo. Há coisas que carecem de explicação para serem compreendidas e uma delas é um certo embevecimento com a actuação do antigo primeiro-ministro que tem a personalidade que tem e fez o que fez que só um sectário partidário pode aceitar sem questionar seriamente e sem integrar como prática criminosa e lesiva do interesse nacional. Fosse noutro país qualquer, até em França e o que José Sócrates fez e a vida que levou e leva teria sido escrutinada criminalmente, como deveria ser. Aqui, teve um Pinto Monteiro...
"Lamento a entrevista, como lamento que tenha sido afastada do lugar que ocupava pouco tempo depois de ter terminado o meu mandato como procurador-geral da República". Foi esta, em declarações ao DN, a reacção de Fernando Pinto Monteiro, ex-procurador-geral da República, à entrevista de Cândida Almeida ao Diário Económico, na qual a antiga directora do Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP) se queixou de falta de apoio de Pinto Monteiro durante a investigação do processo Freeport."
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