Há algumas semanas atrás comprei o livro de José Jorge Letria "E tudo era possível". Já li boa parte do mesmo e espanto-me sempre ao ler o retrato de um mundo paralelo ao vivido por uma maioria da população portuguesa das cidades e dos campos. É um mundo de papel e de referências em papel. Um mundo em que as palavras saltam dos conceitos aprendidos com grandes frases para explicar pequenos mundos de fantasia e utopia, sempre ancorados a uma palavra mágica- Liberdade- com um apêndice suspeito-Igualdade. A fraternidade era um acrescento inevitável, entre esse pequeno mundo em que todos se conheciam.
O autor começou cedo nas lides jornalísticas e artísticas ( teatro e música) e ainda estudante de Direito em Lisboa, acompanhava o ritmo dos tempos a ouvir rádio ( os programas que também eu ouvia na época- Página Um, Tempo Zip, PBX, etc, com a mesma música que também eu gostava). Antes, aos 16 anos perdeu o pai num avc e "zangou-se com Deus" por causa disso. JJL escrevia poesia e em 1968 escreveu as primeiras canções e tal levou-o a juntar-se aos cantores-autores da época, os baladeiros e revolucionários da canção como arma. As actividades teatrais e de escrita com cantigas, de JJL, abriram-lhe as portas do gotha da intelectualidade lisboeta que era então quase a portuguesa. Tudo de esquerda e tudo do reviralho, da oposição e da subversão ao regime.
No livro quase que não há um único nome citado e são dezenas e dezenas que fuja a esse parâmetro ideológico e portanto JJL começou na melhor escola da esquerda portuguesa: o jornalismo. Vale a pena ler o relato que se estende por diversas páginas e que publico, enquanto vou reflectindo neste estranho fenómeno que deve ser único na Europa inteira: como é que um punhado de intelectuais dos jornais deu a volta a "isto", no início dos anos setenta e conseguiu uma lavagem ao cérebro colectivo da nossa maneira de ser português que o regime de Salazar e Caetano enformava. Vou reflectindo e escrevendo e talvez publique aqui as reflexões, se para tanto tiver o engenho e arte.
Para já ficam as páginas que testemunham melhor que outra coisa qualquer esse fenómeno que me parece evidente e gritante.
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