O Expresso Revista de hoje publica uma entrevista com José Sócrates, concedendo-lhe nada menos que dez páginas, contando com as fotos de página inteira.
Que diz Sócrates ( que neste blog tenho tratado muito mal, por vezes com insultos de que me arrependo e não voltatei a publicar porque não é preciso ofender ninguém para lhe rebater os argumentos quando existem e para lhe apontar as mentiras se entendemos que se verificam e o fundamentarmos) ?
Os próceres que lerem a entrevista ficarão mais sossegados porque o mesmo explica todos os casos de que foi alvo. As explicações é que são deveras curiosas e entram novamente no domínio do inexplicável logica e racionalmente. Sócrates continua a contar a sua "lenda" do modo mais plausível possível e apenas com uma falha que no caso é monumental: os detalhes. Faltam os detalhes de quase tudo o que é importante e o manchou pessoal e politicamente.
Sócrates acha que os ataques de que foi alvo foram "da direita". E reafirmando-se, diz-se de esquerda. Não explica a distinção e até confunde papéis mas interessa-lhe a ideia genérica. "Esquerda" ainda é uma palavra mágica em Portugal porque "direita" não existe em concreto, apenas na imaginação dos que pretendem, como Sócrates, lançar labéus infamantes a quem os critica e disso tirar partido na sociedade portuguesa. Politicamente, em Portugal ninguém ousa afirmar-se de "direita" porque não seria coerente se o fizesse. Seria apenas uma declaração intencional como o é a de Sócrates, sabendo este que a ideia de "esquerda rende sempre.
Por outro lado, a história de José Sócrates é também a história de uma certa geração de políticos que nos tem governado. Intelectualmente capazes para atingir o poder, motivados essencialmente para esse objectivo, aproveitaram o desenho constitucional e político do actual regime para alcançarem lugares de mando. As barreiras democráticas e filtros de escolha que deveriam existir acabam por se submeter a lógicas partidárias em que sobrelevam sempre as velhas tácticas de conquista do poder, ancestrais e que a democracia apenas esconde e oculta para dar um brilho aparente de legitimidade.
Uma pessoa como José Sócrates com um percurso pessoal conhecido e banal, sem preparação técnica para muitos assuntos de governação e sem princípios sólidos que transpareçam como sinais inequívocos de seriedade pessoal e política, no sentido da honradez de antanho e da "recta intenção" caracterizadora dos grandes homens de Estado, acaba sempre por fazer mal a um país, como faria mal a uma associação ou a um clube desportivo. Como efectivamente José Sócrates fez e com consequências imediatas tão graves e profundas que só daqui a uns anos se entenderão.A bancarrota a que nos conduziu, por imprevidência, desconhecimento, erros por incompreensão dos fenómenos em toda a extensão ( na entrevista continua a citar a "doutrina que dizia que num momento de crise internacional como aquela, os Estados têm o papel de fazer mais investimentos para garantir o emprego") e portanto por opções de diletante e de teimosia arrogante e estúpida não pode ter perdão público para um indivíduo político como este.
Os dois fenómenos mais graves da governação de José Sócrates assentam na ideia de "festa" passada por uma sua ministra ( a senhora Lurdes Rodrigues). Foram os gastos do Estado, assentes na tal noção keynesiana, aprendida à pressa e simplisticamente assumida e certos actos de gestão pública, ruinosos até aos milhares de milhões de euros que agoram iremoa pagar. Essas decisões concretas devem-se a Sócrates. Pessoalmente, segundo se deprrende da entrevista.
Sócrates justifica a nacionalização do BPN que causou a verdadeira "roubalheira" de vários milhar de milhões de euros ( mais do triplo do que seria a consequência da falência do banco) com argumentos pouco sérios e repetidos pela má consciência: apenas pelo medo da repercusssão dessa falência no sistema bancário nacional. Se assim foi, porque não nacionalizou a SLN? Tem-se a noção, com a entrevista, de que foi Sócrates quem efectivamente decidiu, em modo autocrático, tais opções políticas. E o que se passou com a (re)negociação das PPP´s que favoreceram entidades privadas ( suspeitas como a Mota-Engil e certos bancos) é outro assunto em que um comentador como José Gomes Ferreira já escreveu assunindo que houve um conluio em que naturalmente o governo de Sócrates e este pessoalmente, se envolveram.
Sobre o assunto das contas bancárias de José Sócrates, dos empréstimos para estudar em Paris, das compras milionárias e da vida faustosa com rendimentos nulos ficam as declarações de José Sócrates que atentam contra a inteligência do homem comum e por isso não merecem ser levadas a sério.
Logo que José Sócrates dê os detalhes do modo como comprou um Mercedes série S, a seguir à saída do governo ( facto contado pelo Correio da Manhã, não desmentido por Sócrates e que CFA não pergunta) e ao mesmo tempo contraiu um empréstimo junto da CGD de 120 mil euros para estudar em Paris, pode ser que se entenda o que pretende dizer. Assim, contado deste modo, não aceito a explicação nem ninguém minimamente inteligente pode aceitar. Que garantias deu á CGD? Quem lhe aceitou e justificou o empréstimo ( ou foi assim uma coisa tipo BPN no caso Homeland de Duarte Lima)? A que prazo terá do o pagar e com que rendimentos se é sabido que os bancos não emprestam assim de mãos largas a qualquer um, ainda por cima sem emprego ou rendimentos conhecidos, na altura? Quem assumiu verdadeiramente a responsabilidade desse empréstimo?
Estes detalhes fazem toda a diferença e é esse o calcanhar de Aquiles de Sócrates: não tem explicações para os mesmos. Ou pelo menos não as dá...
Sobre os estudos e licenciatiura, basta dizer uma coisa: o vice-reitor da universidade Independente, Rui Verde, já disse que Sócrates não fez a licenciatura como deve ser e outro responsável pela mesma escola disse que Sócrates não era licenciado. Veremos o que decide o tribunal administrativo.
Na entrevista esportula umas citações filosóficas que demonstra que leu alguma coisa. Diz que leu a "Metafísica dos Costumes" de Kant, "umas dez vezes". Acredite quem quiser...por mim, as citações parecem-me de almanaque.
Mas vamos à entrevista ( de Clara Ferreira Alves que notoriamente não é isenta ou politicamente distanciada do entrevistado).