Hoje no Correio da Manhã vem uma crónica de costumes em duas notícias de primeira página que demonstra um ditado antigo e bem português: a uns arrebentam-se-lhes as vacas; a outros, parem-se-lhes os bois.
A primeira é esta:
Segundo se conta, os dissabores de Armando Vara com a Justiça continuam e estão para durar. O bravo empregado de balcão de um banco de Trás-os-Montes tem muito que contar. Desde que em meados dos anos noventa passou a ponte a buzinar, num fiat 127 ou parecido, em protesto contra o então ministro Dias Loureiro, a vida sorriu-lhe. Foi ministro, deixou de o ser e como amigo de outro salta-pocinhas conseguiu tirar um curso superior na Independente, a la minute e num instante tornou-se administrador de bancos. Primeiro a CGD, depois o BCP, com juras do principal figurão, um certo Santos Ferreira, de que a competência daquele antigo amanuense era digna de doutoramento, passando por cima de qualquer mestrado. Por isso mesmo, Vara deixou de protestar contra Dias Loureiro.
Como se vê pela notícia, Vara parece que se esqueceu de declarar uma pequena quantia de 800 mil euros, no rendimento a colectar pelo Fisco, na altura do Face Oculta. Fraude fiscal, simples? Parece que é pior: como não haverá justificação plausivel para a maquia, o MºPº anda às voltas com a origem das notas que apareceram nas contas bancárias, segundo diz o jornal. Veremos o que isto dará, sendo certo que acumulará aos cinco anos já contados para passar na Carregueira, se os tribunais superiores confirmarem, o que não é certo perante as presunções legalistas.
Portanto, a Armando Vara arrebentam-se-lhe as vacas leiteiras.
A outra notícia tem a ver com esta conhecida figura do meio lisboeta que mistura negócios e empresas com assuntos juríricos de alto estado. Como é nosso conhecido não precisa de apresentação.
O advogado Proença já representa juridicamente a empresa francesa que pretende comprar a empresa portuguesa Portugal Telecom, PT.
"Natural, neste tipo de operações", diz o dito para esclarecer ditos. Naturalíssimo, pode acrescentar-se à maneira de um dupond. A francesa Altice é uma empresa que já tem a Oni e a Cabovisão e parece que têm dificuldades em detectar interlocutores para propostas de negócio. Daí à tal "naturalidade, neste tipo de operações" é um pequeno passo, já dado.
O que quer a Altice? Comprar pelo preço mais barato possível. O que quer a PT e os portugueses? Vender pelo preço mais alto possível.
Quem representa os franceses? Proença de Carvalho, naturalmente.A bem de Portugal, da democracia e dos portugueses, como gosta de dizer sempre que é entrevistado e não falta muito para aparecer outra vez na televisão, onde é figura residente em certas alturas, dos programas da SIC da dona Lourenço.
Ou seja, a este Proença parem-se-lhe os boys.
E como é que este ditado se encontra? Assim, como conta o jornalista Gustavo Sampaio no seu livro Os Facilitadores, a partir da página 290:
Como se pode ler, " o caminho percorrido pelo advogado Proença de Carvalho até á presidência da Cimpor entrecruza-se com o trajecto do ex-político Armando Vara que desembocou na presidência do Conselho de Administração da Camargo Corrêa África" e por aí adiante.
É por isso que se estranha tanto azar de um para tanta sorte do outro. Não sobra nada para o desgraçado? E para o outro, coitado que nada tem de seu e tudo lhe vem parar à mão de semear?