O cronista Ferreira Fernandes, do Diário de Notícias, ganhou uma página inteira, a última, na nova formulação da actual direcção do diário pertencente a angolanos.
Hoje a crónica espraia-se por uma análise semiótica de uma pintura de parede, da autoria de um aartista da especialidade com o nome Bansky. A pintura que satiriza um certo racismo foi notícia porque foi apagada, supostamente por ser racista e por estupidez de quem não percebeu a intenção do autor.
A crónica de Ferreira Fernandes glosa a estupidez do acto, assim:
"De um lado um grupo de cinco pombos cinzentos, do outro uma andorinha de peito verde. Os pombos de olhar franzido têm cartazes. Um diz: os emigrantes não são bem-vindos. Outro diz: voltem para África. E o último: não toquem nas nossas minhocas".
Ok, o assunto é o racismo, coisa que politicamente só pode tratar-se de modo correcto, ou seja, sempre do contra e com altivez emproada de uma razão indiscutível. A pintura de parede mostra a razão do pintor que é a do cronista. De um lado, os pombos gordos e ameaçadores, em grupo e com modos de kukluxklan; do outro, uma indefesa andorinha, sozinha e de peito verde a provocar a ira dos despeitados pombos ensombrados por aquela presença invasora. Está montada a fábula que nem Esopo se lembraria de inventar. A simpatia para com a pobre andorinha é irresistível e a causa está ganha. Até o cronista acha exemplar o picto icónico. Só que...as andorinhas da realidade podem não ser andorinhas mas tordos que dizimam sementeiras e cucos que aproveitam ninhos alheios, para além de peneireiros ou milhafres. E os pombos gordos, vestidos de cinzento ameaçador também podem disfarçar a realidade do caso e serem apenas simples rolas, pica-paus ou mesmo melros, até de bico amarelo. Portanto, uma fauna diferente porque assim é a diversidade biológica.
Deste modo, não há pintura de parede nem Bansky que resista. Nem cronista que aproveite para passar a mensagem subliminar acerca dos pombos cinzentos e das andorinhas indefesas.
De feição semelhante se desenhava dantes, passando a mensagem conveniente, escolhendo as personagens adequadas à manipulação ideológica e propagando a fé e a doutrina. Por exemplo este cartoon, tirado de um livro dos ditos, de João Abel Manta, um comunista fossilizado na luta de classes ( é este o substracto...), nos anos setenta.
Do lado esquerdo os pardais; do outro lado, os patos marrecos e ao meio os cisnes deste ballet a preto e branco.
Porque será que é tão difícil olhar a fauna como ela é em vez de arranjar um zoo particular?