domingo, junho 07, 2015

Outra historieta

Crónica de VPV hoje, no Público: afinal, a raiz do mal foi Salazar. Que ferro, como escreveriam no século XIX.

Lendo, nem se acredita: a raiz da nossa pobreza atávica, de crise permanente, vem do tempo do Estado Novo que nos legou uma "pesada herança" de guerra ultramarina e de uma sustentada sociedade arcaica.
Nesse tempo, para a maioria esmagadora da população não havia electricidade, nem hospitais, nem escolas decentes, nem mesmo segurança social ou até polícia a sério. A prova? Um milhão de portugueses emigrados.



Uma vez que o período do Estado Social de Marcello Caetano nem existiu, para VPV, será caso para perguntar quanto tempo durou o Estado Novo? 48 anos, não foi? E nasceu por causa de quê? 

Estamos habilitados a responder, apenas com base nos recortes que este blog agregou nos postais destes últimos tempos.

Salazar durou 40 anos no poder. O regime que temos já leva outros tantos. Portugal não saiu da cepa torta da pobreza, segundo VPV. A culpa é do Salazar.

Mas que doideira inebriante por ali vai,  naquele bestunto. Diz que o "desenvolvimento do país tinha que ser pago e suportado pelo Estado". Tinha mesmo? Quem é que ofereceu 120 milhões de contos em Junho de 1974, faz agora 40 anos, para que o sistema económico se mantivesse no ritmo que trazia dos anos anteriores? Foi o Estado ou foi a meia dúzia de capitalistas que ainda havia no nosso país?
Qual era o país da Europa que nesses anos pós salazaristas mais cresceu em riqueza e desenvolvimento, mesmo a suportar uma guerra em três frentes? O que diziam os parceiros pensadores de VPV nessa altura? Não era que se acabasse tal guerra o futuro abrir-se-ia radioso para todos nós? Porque é que VPV acreditou em patranhas socialistas ou socializantes como mézinha infalível para o desenvolvimento e agora rezinga estes disparates?
Como é que VPV explica que nestes últimos 40 anos o tal "desenvolvimento" redundasse em pobreza acumulada e regresso à situação de dívida ante-Estado Novo? E porque é que afinal reconhece que vai ser preciso mais sacrifícios, reformas e pobreza quando afinal é disso mesmo que acusa o Estado Novo? Por causa dos "erros" da democracia?
É pouco, como explicação. 
Além disso,  há uma, muito mais simples: Portugal , no fim do Estado Novo tinha um problema político para resolver, em que avultava uma situação de país colonizador fora de época e ao arrepio da comunidade internacional em que nos inseríamos. A questão política manteve-se por causa da persistência num mito acabado, o de que Portugal merecia esse Império por direito divino e profecia de um antigo sapateiro de Trancoso e porque era "diferente" de outros povos e até tinha colonizado de outra forma desconhecida até então. Os colonizados até eram nossos irmãos de sangue, só que nascidos noutros continentes e com outras cores de pele, costumes e até religião. Portugal afinal não era o rectângulo na Europa, conquistado no século XII mas era também tudo o que se descobriu no século XVI, por esse mundo fora. E era-o indistintamente porque era um Portugal do Minho a Timor. Só um desses bocados de Portugal cabia-nos cá dentro mais de 14 vezes, o que denota bem a incongruência metafórica.
Nenhuma dessas regiões ultramarinas carecia de autonomia ou independência porque já o eram plenamente, desde sempre. Foi essa a doutrina do Estado Novo e era esse o problema político que tínhamos para resolver. E seria resolvido, mas não por Salazar que não teve tempo para tal ou por Caetano que é apontado como traidor da ideia sagrada.

Ora foi precisamente a gente que resolveu esse problema que nos tramou o futuro destes últimos 40 anos e isso é agora tão evidente que até dói pensar no assunto. VPV faz parte dessa gente. E desse problema que apareceu a substituir o outro.
E é dessa pecha que não se livra, historicamente, pelo que inventa uma História para se safar dela.


Questuber! Mais um escândalo!