sábado, fevereiro 13, 2016

A esquerda comunista e a ditadura da linguagem

Arménio Santos, o actual curador-mor do museu de Arte Antiga que é o PCP ( VPV dixit) diz hoje ao Expresso que "este governo não é de esquerda".

No Observador, o articulista João Marques de Almeida acha que tal distinção perdeu interesse:

"A oposição direita-esquerda tornou-se secundária. O que não significa que seja irrelevante. As duas famílias políticas são obviamente diferentes. As diferenças resultam de percursos históricos distintos e formam identidades políticas que não se confundem. Não foi a irrelevância que tornou a oposição secundária, mas sim a emergência de outras diferenças políticas, neste momento, mais relevantes; e decisivas para o nosso futuro, sobretudo na Europa. A dimensão do Estado, antes de mais na vida económica de uma sociedade, constitui a primeira oposição que define os nossos dias." 

Será mesmo assim, ou seja, é indiferente a procura da designação e distinção entre direita e esquerda, em Portugal? 
Não me parece por um motivo simples de enunciar: a noção de esquerda e direita é mais invocada do que nunca e o equívoco é também cada vez maior e provocado intencionalmente para confundir quem vota.

Assim, a distinção que um militante do PCP, como Arménio Carlos invoca não é necessariamente a mesma que é apresentada por uma Isabel Moreira mas já andará mais próxima se o for por uma das engraçadinhas do BE.

A noção de Esquerda para os moradores do museu de Arte Antiga é o reflexo dos quadros que guardam em redomas, mas como a exposição é permanente convém lembrar o catálogo.

O resumo pode ser este que afina por um diapasão estereofónico e que mostra variações do mesmo tema: o marxismo-leninismo-trotskismo em versão gramsciana.

Como é natural o recorte tem mais de 40 anos porque é assim mesmo: na Arte Antiga só se guardam estes espécimes mumificados de um género morto zelado pelos sacerdotes do culto.

Não é preciso passar dos primeiros parágrafos das entrevistas que reuniram um Afonso Barros e um Augusto Mateus, então do MES para se entender que o essencial era mesmo a luta de classes, a burguesia contra os trabalhadores e outros dominados, num mundo também dominado pelo capitalismo e que se procurava reverter para um socialismo sem classes.

Continua a ser esta cosmovisão que separa a esquerda da direita para os zeladores da Arte Antiga. E a linguagem é fundamental para tal tarefa premente e sempre actual.

Tudo o resto decorre daqui, desta distinção entre quem se designa como dominador e quem se apresenta como dominado. A "burguesia" agora é composta pelos "mercados", pela Europa da Merkel, pela "austeridade" que é imposta em função de ditames desses mercados e dos empréstimos efectuados no quadro global da ajuda económica a um país depauperado.  Sendo expressão dos dominantes são naturalmente a "direita" e quem lhes fizer o jogo, mesmo forçado a tal, será enquadrado na "direita" sem apelo nem agravo. E é isso que o zelador Arménio faz, em coerência.

Portanto, a questão que se deve colocar é se faz sentido discutir com estes fósseis usando esta linguagem ou será necessário, em primeiro lugar, definir novamente os temos da gramática que os mesmos alteraram há quarenta anos para disciplinarem o discurso corrente.

Assim não é irrelevante a discussão, antes pelo contrário e se é importante também redefinir o papel do Estado, não se deve deixar confundir esse papel determinante do Ente colectivo organizado, com a alteração radical de um sistema político-económico.
O Estado comunista não é o mesmo que o Estado burguês e a intervenção de um ou outro na Economia de um país não tem comparação pelo que deve fazer-se a distinção, claramente e sem margem de dúvida para letrados e iletrados, para não dizer ignorantes que são a massa enorme da população que vota.

Daí a actualidade da discussão do comunismo, do marxismo, do leninismo e do trostskismo. Em Portugal chegamos sempre atrasados a estas discussões mas ainda vamos a tempo. É agora! Desmascare-se o Arménio e vista-se-lhe a albarda estalinista que é a que traz escondida no albornoz, à espera da oportunidade que lhe foge há quarenta anos.

Esta ditadura comunista da linguagem imposta tem que acabar, substituída por outra que já existiu e explicava melhor os fenómenos sociais. É esse o papel de quem não quer assimilar-se a esta Esquerda. 

Aproveite-se e discuta-se também a ideia peregrina de compagnons de route como Eduardo Lourenço agora incompreensivelmente alcandorado a conselheiro de Estado...
Este tipo de intelectuais envenenou o ambiente durante os últimos quarenta anos com este tipo de ideias que agora não se atrevem a replicar mas usam os conceitos de outro modo para se eximirem à responsabilidade em explicar idiotices e perderem o poder de influência.




Questuber! Mais um escândalo!