O comentário aos discursos de ontem do neputado do PS, Carlos César, particularmente a boutade sobre corrupção, é hilariante vindo de quem vem.
O indivíduo notoriamente mais nepotista do regime, com dezenas de nomeações de famelga e amigos para cargos públicos de adjudicação directa vem dizer que a corrupção em ditadura é pior que em democracia porque ao menos neste regime se vão sabendo as coisas e naquele nem isso acontece.
Público de hoje, com a pose de Estado do neputado:
Este género de comentários sobre a "ditadura" pretende sempre atingir o antigo regime que não era democrático e enfatizar as virtudes excelsas deste regime democrático que tem permitido o aparecimento de personagens do tipo Carlos César, na ribalta e como um exemplo democrático de costumes, seriedade e honra.
Porém, tal como um certo Paulo Morais que levou um banho eleitoral nas últimas eleições e pode ter aprendido algo sobre democracia, em tempos se pronunciou de modo infeliz sobre a corrupção no tempo do fassismo, também agora se suscita a mesmíssima questão: o regime de Salazar e Caetano era um regime corrupto ou de corruptos? E comparando com a presente democracia como se poderia qualificar?
Em primeiro lugar será necessário estabelecer um consenso sobre o significado de corrupção, neste caso. O critério é o penal, actual e de sempre e esta serve perfeitamente:
Genericamente fala-se em corrupção quando uma pessoa, que ocupa uma posição dominante, aceita receber uma vantagem indevida em troca da prestação de um serviço.
No regime actual fala-se em corrupção quando um governante facilita indevidamente e sem justificação interesses alheios aos que lhe estão confiados para cumprir em nome do Estado e aceita vantagens ou contrapartidas para tal efeito.
Em democracia houve poucos políticos e similares, condenados pelos tribunais por causa de corrupção. Abílio Curto, na Guarda. Melancia, ali perto, foi acusado e "ilibado". Isaltino de Morais foi acusado e ilibado por esse crime, mas cumpriu pena por outro, de fraude fiscal. Armando Vara está a penar por crime do género e José Sócrates está acusado por isso, em larga escala.
Como sinal inequívoco das "vantagens" está o dinheiro, os bens ao sol e os que ficam na sombra de testas de ferro.
Em democracia há inúmeros avantajados e bafejados pela sorte do regime. Indivíduos que tinham pouco ou nada de seu, pindéricos por natureza e carácter andam por aí em carros alemães de marcas famosas, têm casas, moradias e montes no Alentejo e datchas nos arredores, espalhando a riqueza por filhos e parentes chegados.
Nomes? Basta pensar em alguns do PSD e outros tantos do PS, incluindo aquele César e outros vitorinos das malas de Macau, mais os ferreiras todos que são mais que as mães. Nenhum deles terá problemas com a justiça em função daquele conceito de direito penal, mas exalam um perfume de novos ricos que tresanda a... regime democrático à maneira deles, com um Estado de Direito sempre coxo.
O pai espiritual deles todos morreu e deixou uma fortuna que a revista Visão avaliava em quase duas dezenas de milhões de euros. É obra para quem tinha quase nada disso, antes de 25 de Abril de 1974. Claro que já tinha o famosos colégio que pelos vistos multiplica dinheiro como fêmea de coelho multiplica laparotos e nunca fez mais nada na vida do que politicar. Mesmo assim enriqueceu democraticamente, ao mesmo tempo que levava o país à bancarrota. Duas vezes. Para se repetir a façanha.
E como foi a tal ditadura, no tempo de Salazar e Caetano? Também havia destes cresus de circunstância?
Ora bem. Salazar, como todos sabem, morreu remediado, com uma quinta no Vimieiro e 250 contos no banco.
Américo Tomás pouco mais teria, se tanto. Vivia do que ganhava como militar e nunca ganhou quadros, casas, dinheiro a rodos e milhões para deixar como herança.
Marcello Caetano para sobreviver à queda do regime teve que ir trabalhar como professor e não consta que deixasse milhões mas apenas tostões e uma biblioteca.
Eram estes os principais fassistas, da ditadura que pelos vistos era corrupta, no dizer daquele César que devia lavar a boca com sabão macaco ao falar assim.
E os demais próceres do regime? Por exemplo, o Silva Pais que chefiava a polícia política? Era rico, abastado, como alguns deste regime se tornaram, com destaque por exemplo para o pequeno génio de Contenças que tem por lá uma queijaria que pagou com uns trocos que ganhou por aí, ao serviço do regime?
O Rosa Casaco, carrasco de comunistas, era rico, porventura? Tinha fortuna amealhada como os Sombras do regime actual, conseguiram em muito pouco tempo?
Havia prebendas, ajustes directos, cargos de luxo em empresas públicas remuneradas como acontecia nas pt´s, galps, edps e outras cp´s antes da bancarrota?
Os presidentes de autarquia mais os vereadores e pessoal assistente tinham direito a carro pessoal e motorista para as ocasiões, sempre ao dispor, mesmo para levar para casa e guardar na garagem particular?
Os concursos que deveriam ser públicos foram transformados em modo de enriquecimento dos beneficiários directos?
Como aqui se escreveu, o almirante Tenreiro que dinamizou a indústria e comércio de bacalhau, enriqueceu à custa de corrupção, quanto tinha ao seu dispor os meios que um Mário Lino teve agora em determinado sector da dinamização do pernil de porco?
Esta canalha não sente vergonha por isto?
Evidentemente que esta canalha identifica a corrupção com o regime de Salazar e Caetano que favorecia efectivamente a actividade privada de alguns industriais de mérito inquestionável.
Mas isso era o sistema económico do regime. Haveria outro possível e com a mesma eficácia?
Pelos vistos, sim: o das bancarrotas em que temos vivido, o democrático, daqueles Césares e afins.
Ainda assim, quem identifica o regime de Salazar e Caetano com corrupção não vai além disto que se mostra e a corrupção , para eles é isto:
Destes nomes que aqui estão nem um sequer se compara ao que os acima citados conseguiram fazer nestas décadas de democracia. Uns ajudaram a fazer um país em vias de prosperidade. Os outros arruinaram o que aqueles tinham feito e não conseguiram fazer melhor...
Quem é corrupto, afinal?
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