quinta-feira, agosto 12, 2021

Pacheco Pereira, o demagogo, especialista em coisa nenhuma

Pacheco Pereira tem entrevista hoje, na Visão da Trust in News, Unipesssoal, Lda, de um certo Luís Delgado, proprietário improvável do título, com um capital de 10 mil euros. Traz uma imagem do dito, no seu ambiente de papel velho,  com muito bom aspecto, o que é de salientar e exultar.  Afinal, Pacheco é necessário para dar um certo colorido ao panorama da democracia que temos, através dos comentários que produz, sempre inúteis, muitas vezes errados na essência, mas pitorescos nesse contexto. É um ressabiado permanente contra algo e um abespinhado constante contra alguém, apesar de o denegar. 

Como a revista deve dar prejuízo e um dia destes muda de proprietário, para outro qualquer trastinews vou comentar algumas passagens sem reproduzir o conteúdo ( a revista diz que é "interdito"). A entrevista é justificada pela revista para dar publicidade ao último livrinho de Pacheco. Uma ajudinha concreta para se venderem uns exemplares...de um livro que conto folhear e ver se vale a pena comprar. 

O título da primeira página levou-me a comprar a revista e a guardar o assunto. Pacheco diz que "o problema da direita é estar desfasada da realidade". 

Intrigado, fui ver de que direita se tratava...e descobri que afinal se trata do PSD que "traiu a base natural de apoio e mesmo, do centro-direita, nomeadamente no período da troika, sacrificando as classes médias-baixas e os mais desfavorecidos". 

A afirmação é, a meu ver, totalmente demagógica. E sobre demagogia Pacheco diz-se perito, ao esclarecer o leitor que há uma diferença entre democracia e demagogia e "os gregos antigos sabiam bem como distingui-las", ao contrário de Pacheco que confunde tudo, ao dizer " a primeira coisa que temos de perceber é que são muito parecidas". Ora não são nada parecidos, tais conceitos. Enquanto "democracia" é uma  "forma de governo em que o povo elege livremente seus representantes e exerce a soberania do Estado mediante um sistema partidário pluralista, com liberdade de imprensa, de manifestação, de associação e de organização política e respeito aos direitos civis e individuais do cidadão." a demagogia não é nada disso porque não se assemelha a forma de governo algum mas a uma perversão dessa mesma forma de governo que pode muito bem ser a democracia porque  "é a arte de conduzir o povo a uma falsa situação. Dizer ou propor algo que não pode ser posto em prática, apenas com o intuito de obter um benefício ou compensação." 

A definição vem de uma qualquer wikipedia ( neste caso brasileira, tirada ao calhas) que Pacheco execra porque diferente de uma Enciclopédia Britânica, tornada altar da sabedoria livresca e algo inatingível para os pobres leitores de internet, apesar de ter lá um sítio.  

Para provar o ponto, conta a história que afiança ter lido, de um "trabalho escolar sobre D. Afonso Henriques em que o milagre de Ourique é atribuído a um óvni", concluindo que "consultar a internet não é o mesmo que aprender". Já agora, Pacheco sabe o que foi o "milagre de Ourique", sem ler na internet e apenas por consulta dos cronistas medievais? Que significado e realidade lhe atribuirá? O dos cronistas ou as interpretações apócrifas, incluindo a dos objectos voadores não identificados? Nem é preciso citar a velhinha Fina D`Armada para se tentar perceber  que o exemplo para denegrir a internet é muito mal escolhido. 

De resto é este o truque de Pacheco na sua escrita e pensamento dito: cobrir com uma capinha frágil de uma pretensa sabedoria infusa, conceitos, realidades e assuntos, de modo a conferir o "plus" de contestação que deixa intocável a essência do assunto e por vezes a perverte completamente. Um demagogo é isso mesmo. Um tartufo intelectual não é menos que isso. E os exemplos sucedem-se:

Que realidade é que a direita traiu ou de que ficou desfasada? A realidade de uma bancarrota apresentada aos portugueses durante a governação dos governos socialistas, mais do que uma vez ao longo das décadas? 

Essa realidade experimentada por todos e indesmentível no plano factual ( afinal não tínhamos dinheiro suficiente para comprar o que precisávamos para comer ou viver sem sacrifícios penosos e insuportáveis para muitos e foi preciso pedir emprestado, com condições duríssimas, impostas por quem emprestou) foi criada por quem? Aí está um problema bicudo que Pacheco com a sua formação livresca e humanística não consegue elucidar ou resolver devidamente. Não sabe, simplesmente. E portanto, resolveu-o de uma penada,  atirando demagogicamente à tal "direita" a responsabilidade de lidar com tal problema, traindo classes sociais, por estar "desfasada da realidade". Quem é que estará mesmo desfasado de tal realidade, afinal? 

Para além desta arrogância intelectualizada de quem não sabe ou devia saber que não sabe, ainda tem o topete de se abespinhar com os pretensos arautos de uma "ignorância atrevida", sempre encostados ao canto do opróbrios das "redes sociais" maléficas e de "extrema-direita" que lhe tosam a prosápia. É caso para dizer que é preciso lata! 

O entrevistador aponta-lhe a circunstância de poder ser um intelectual elitista, eventualmente desfasado da realidade comezinha do dia a dia. Pacheco Responde que tem o "maior respeito pelas pessoas que não tiveram oportunidade de estudar, que não tiveram condições para melhorar a sua condição ou a sua cultura", deixando por isso entender a superioridade inerente aos privilegiados com tais dádivas e esquecendo que a realidade não é exactamente assim, como aliás tinha já referido o comunista Saramago, neto da pessoa mais sábia do mundo e que nem sabia ler nem escrever...

 De resto quando o entrevistador lhe pergunta se alguma vez abjurou o maoismo, responde com candura desnecessária que "eu nunca abjurei o maoismo. Foi um período da minha vida e do meu percurso". Ou seja, fumou o maoismo, nunca o inalou e por isso nunca abjurou o mesmo, continuando pela vida fora com o perfume do dito nas meninges pensativas, enquanto batia palmas ao liberalismo cavaquista e defendia o programa com as unhas e dentes parlamentares, nos anos noventa. Enfim, vergonha precisa-se. Coerência, ainda mais. Abjurar significa em bom português desdizer, renunciar solenemente a uma crença ou doutrina. Assim, das duas uma: ou Pacheco nunca soube exactamente o que era o maoismo, para além do folclore da época, o que aliás me parece o mais provável e por isso justifica a palermice toda; ou então sabia muito bem é continua a ser um perigoso totalitário, o que contrasta com o "liberalismo" que defendeu e com a liberdade que por vezes defende. Um sinal evidente de tartufismo. Enfim, mais uma vez

Sobre o Otelo, Pacheco aproveita para tentar explicar o tartufismo do equívoco gerado, com as declarações de agora e as de antes, do tempo do tal liberalismo cavaquista em que proclamou solenemente no Parlamente que havia uma pessoa que não merecia a graça de amnistia e perdões e essa pessoa era Otelo. Não há qualquer dúvida sobre o sentido desta posição política e o que agora disse a explicar-se é mais um tartufismo: tentar sobrepor a pessoa de Otelo do 25 de Abril com a pessoa das FP25,  que afinal o mesmo sobrepôs inequivocamente com tal posição radical e nem sequer seguida por outros da mesma área política. Como é que este indivíduo sobrevive a estas carambolas de personalidade? 

Sobre Portas já disse cobras e lagartos tal como diz hoje de Ventura. Agora já se dá muito bem com Portas. Pelos vistos é tudo "político", críticas políticas. Pois, pois...

Finalmente incomodou-se com isto: "Quando vejo André Ventura ajoelhado aos pés do túmulo de D. Afonso Henriques, que ainda por cima nem é santo, isso incomoda-me". Incomoda-o o quê? O facto de o Ventura se ajoelhar perante o  primeiro rei português, mesmo não sendo canonizado? 

Vejam então a cultura de Pacheco, herdeiro de nome antigo vindo dessa Idade Média já muito em baixo de forma: os seus antepassados só se ajoelhavam perante as santidades?! 

Em resumo: o que Pacheco anda a fazer por escrito nestes artigos, entrevistas, artiguelhos e croniquetas que pelos vistos reuniu agora em livrinho, com edição privilegiada, é simplesmente "propaganda". E a definição nem é da wikipedia. É da Britannica ( copiada, porque tal não é "interdito"): 

Propaganda, dissemination of information—facts, arguments, rumours, half-truths, or lies—to influence public opinion.

Propaganda is the more or less systematic effort to manipulate other people’s beliefs, attitudes, or actions by means of symbols (words, gestures, banners, monuments, music, clothing, insignia, hairstyles, designs on coins and postage stamps, and so forth). Deliberateness and a relatively heavy emphasis on manipulation distinguish propaganda from casual conversation or the free and easy exchange of ideas. Propagandists have a specified goal or set of goals. To achieve these, they deliberately select facts, arguments, and displays of symbols and present them in ways they think will have the most effect. 

To maximize effect, they may omit or distort pertinent facts or simply lie, and they may try to divert the attention of the reactors (the people they are trying to sway) from everything but their own propaganda.

Comparatively deliberate selectivity and manipulation also distinguish propaganda from education

Quanto ao livrinho, em vez de se intitular Personalia poderia muito bem macaquear a noção de "dazibao" porque é disso que se trata e a ilustração também é da "Britannica". Mas também poderia ser da execrada Wikipedia, veja-se lá...

Sem comentários:

Megaprocessos...quem os quer?