No jornal Sol desta semana há uma extensa entrevista com Miguel Caetano, um dos filhos de Marcello Caetano, realizada por José António Saraiva e o filho José Cabrita Saraiva. Vale a pena ler e sublinhar algumas passagens.
Por exemplo, esta logo no início: "Licenciou-se em Direito ( chegou a ser aluno do seu pai)" que denota a ausência de um preconceito que hoje impediria tal coisa, por causa do jacobinismo legal e da ausência de ética pessoal à margem desse jacobinismo ( a ética é a lei...).
A questão da volubilidade popular, aqui neste blog sempre motivo de curiosidade e o desprendimento do poder, real e efectivo que raramente se vê nos dias de hoje ( talvez o Passos Coelho seja uma excepção, mas a regra é destes Costas manhosos que andam por aí):
A revelação de que o 25 de Abril poderia ter sido evitado caso se verificassem condições que acabaram por não existir ( Nixon em dificuldades nos EUA, em 1973-74; e o tempo tardio para se alterar o rumo dos acontecimentos).
As relações pessoais entre pessoas no poder político ( " Havia ministros que pediam ao Salazar para lhe apresentarem os filhos, o meu pai nunca fez isso") e que contrasta com o que um Freitas do Amaral fizera anos antes, quando estudante de Direito e com 20 anos, foi ignorado ostensivamente por Salazar, num episódio picaresco aliás contado pelo próprio. Não obstante, Marcello Caetano considerava que este Freitas do Amaral estaria melhor preparado para governar o país do que Sá Carneiro...
A tolerância de Marcello Caetano para as pessoas de esquerda comunista, mesmo de família próxima, também não era questão, distinguindo-se da tolerância para com as ideias. E o grupo ideológico de Marcello Caetano não era o mesmo que o de Salazar, embora o respeito fosse mútuo e assim permanecesse até à morte de ambos.
Seja como for é um perfeito abuso amalgamar o regime do Estado Novo com o Estado que Marcello Caetano modificou a partir de Setembro de 1968 e tal amálgama só convém à esquerda comunista e socialista e aos demais instalados que preferem ver em Marcello Caetano a continuação do salazarismo e do fassismo porque tal falsificação histórica lhes dá muito jeito e legitimidade.
Por isso é que nunca falam em Marcello Caetano e quando o fazem é sempre para o assimilar ao que julgam ser o pior do regime de Salazar...
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