Vem na edição de Março Abril do O Militante. É a história do fassismo e da sua doutrina execranda que escravizou o povo português durante 48 anos, marcando o país, para sempre, até hoje. Portugal esteve "refém do fascismo", praticamente desde que Salazar tomou conta dos destinos governativos e durou até 25 de Abril de 1974. Hoje continua a fazer-se sentir na "reconstituição dos monopólios" e no controlo do Estado, "na submissão ao capitalismo e cassação dos direitos democráticos". E há a perspectiva sombria de "recidivas fascistas" no horizonte, de que o Chega é ponta de lança. Até as "redes" militam contra os bravos comunistas que nunca deixaram de lutar por uma política alternativa, patrótica e de esquerda, por uma democracia avançada com os valores de Abril no futuro de Portugal, pelo socialismo"
Estes autênticos fósseis respiram assim nas catacumbas onde se encerraram. Passam as décadas e continuam tolhidos por este ideário de 1935, do tempo do internacionalismo dos proletários todos unidos.
Não há vento da história que os varra nem som de fúria que os acorde. Continuam exactamente como eram há mais de oitenta anos!
Esta história de Portugal é muito popular entre a esquerda que aceita estas aberrações como normais e correntes, democráticas e coerentes com o ideário que já foi o seu e de que padecem de secreta nostalgia.
Daí que ao contrário dos países europeus estas ideias continuem a medrar por cá como se fossem a fonte história primordial e viva do nosso passado recente.
É exactamente por causa disso que vemos ouvimos e lemos todos os dias odes à democracia por oposição ao fassismo negro e sinistro que capava liberdades como só os comunistas sabem dar.
É exactamente por isso que vemos ouvimos e lemos historiadores assumidos, da estirpe de uns pachecos pereiras rosas e flunsers a perorar sobre os males do fassismo tal como contado pelos comunistas. E toda a gente engole o sapo fedorento e viscoso, como se fosse remédio contra o mal da "extrema-direita".
Uma das últimas que li por aí tem a ver com a censura que o fassismo fazia nos jornais a casos de suicídio. Pura e simplesmente não havia notícias de suicidas e isso era obra da censura. Se não fosse seria como hoje, um cardápio de casos do dia em que os suicídios são apresentados como coisa banal de quem pôe termo a uma vida. É ver o interesse noticioso, escolhido pelas redacções ensinadas nas madrassas de agora, em mostrar que este ou aquela se matou, ao contrário do antigamente em que se escondia do conhecimento público tais práticas, hoje apresentadas como modelos jornalísticos e para dar a conhecer a todos.
Enfim, para mostrar que era assim, ficam aqui recortes de jornais diários, na maioria dos casos do Norte do país, da década de 60, 70 e 80.
Servem para mostrar algo que é cilindrado e completamente adulterado no modo como se conta a história à moda daqueles seguidores do marxismo histórico.
Qualquer pessoa que se dê ao cuidado de ler estes "casos do dia" percebe instantaneamente que a linguagem era outra, os costumes eram outros e o entendimento das realidades da vida corrente eram comuns a quem escrevia e lia jornais, ao contrário de hoje que se estabelece uma barreira intransponível entre jornalistas e leitores, tidos como criaturas cujo entendimento da realidade deve passar pelo crivo da ideologia escrita em subtexto ou em texto nenhum, a não ser de fantasia.
Quem escreve hoje nos jornais e media em geral conta a realidade não como ela se lhe apresenta mas como a mesma deve ser apresentada ao leitor. E à força de tanto forçar essa narrativa da realidade acaba por criar uma outra, paralela, com uma linguagem alternativa e conceitos operativos que acabam por ter significado remoto para quem os alcança mas que acabam também por ter eco em quem tem funções de governo e de feitura de leis.
Um dos nossos problemas mais graves, actualmente, é a distância entre uma realidade vivida por todos e a tradução verbal da mesma, em frases e conceitos distantes dos que eram perfeitamente perceptíveis nestas notícias, para quem souber ler. Apesar da Censura...
Jornal de Notícias, de 14 de Outubro de 1961.
Notícias sobre "uma ratoeira perigosa", uma rapariga acometida de dores de parto e prostrada na via pública, um agressão à tamancada praticada por duas "Gabrielas" na pessoa da esposa de um queixoso que foi à polícia por isso e por lhe terem rasgado as calças. E uma notícia sobre alguém que foi parar à cadeia por causa do jogo do "copinho", apanhado que foi em flagrante delito. etc. , incluindo a história de um puto pequeno que apanhou uma enguia do tamanho dos seus oito anos, a pescar à cana. Mostrem-me actualmente o exemplo de um único rapazinho com tal idade a pescar à cana..
Diário de Notícias de 6 de Agosto de 1966 ( dia da inauguração da ponte Salazar).
Os casos do dia aparecem junto à "necrologia" com referência a vários acidentes de viação mortais alguns envolvendo crianças e não mortais, como o de uma camioneta que "descaiu dos calços" e a história, na necrologia de um artista popular de que nunca mais se ouvir falar:
Diário de Notícias de 11 de Setembro de 1966: vale a pena ler a história de um "grande artista que desapareceu em silêncio", dando atenção à linguagem escrita e ao que se escreve sobre o mesmo. Ou então os comentários sobre o que em França começou a ser norma: o registo na carta de condução das infracções ao código, praticadas pelos seus titulares...com vista a mostrar um verdadeiro registo ambulante de infracções e permitir julgamentos mais adequados à personalidade do mesmo. Por cá seria fasssismo se tal existisse!
Comércio do Porto, 28 de Setembro de 1968:
Noticia-se o caso de uma "rapariga que abandona lar", ou seja uma jovem casada e que "desapareceu de casa da mãe", tendo sido pedida a sua captura às autoridades. É todo um programa sociológico o que se esconde por trás desta notícia e que todos provavelmente entenderiam na época, de um modo ou outro. Não era preciso pôr muito mais na carta escrita.
Tal como é significativa a notícia sobre o "lavrador-caseiro" que furtou quatro eucaliptos de uma bouça, "violando a propriedade", para fazer escadas de vindima. Estávamos no tempo delas...
Além disso era pedida a expressa comparência de um indivíduo identificado para "tratar de assuntos de interesse para si", na secção administrativa da PSP, neste caso de Braga. Outra notícia cujo conteúdo dava um escrito sociológico interessante e capaz de desafiar a história da realidade de então tal como contada pelos jornalistas de agora.
Ao lado aparece o anúncio para subscrição de obrigações da CUF que renderiam uns prometidos juros de rendimento líquido de 5,5% ao ano e amortizáveis em cinco anos. Era este o capitalismo de monopólios que o partido comunista e o socialista queriam substituir pelo que vieram a fazer em 1975. Com os resultados que se viram.
Na mesma edição de tal jornal, na secção de Lisboa, aparecem vários casos do dia. Um deles refere-se obviamente a um suicídio, contado de modo inequívoco mas com o pudor próprio do tempo. "Morto por asfixia", foi encontrado um indivíduo em Moscavide e "parece que deu motivo à morte terem roubado um fogão à vítima".
E que tal para os pachecos pereiras se entreterem com esta notícia?! E perceberem de uma vez por todas que o que escrevem não tem ponta por onde se lhe pegue para perceberem a realidade de então para além do que vêem com os antolhos que usam em permanência? O que é que a Censura tem a ver com esta elegância de explicar claramente um suicídio por motivos que dariam um romance?
Diário de Notícias, 3 de Fevereiro de 1969: vale a pena ler a história do homem que desapareceu do tabuleiro exterior da ponte D. Luís...
Comércio do Porto 29 Julho de 1970:
Um acidente de viação envolvendo crianças ( eram muitos os que assim aconteciam, nessa época) serve para uma frase que hoje seria improvável em qualquer notícia, mas não deixa de ser verdadeira: "amor de mãe" que se sacrifica pelos filhos.
Também merece destaque o julgamento de um homicida que assassinou à facada em Maio e foi julgado em Julho, tendo sido condenado em pena de prisão de 4 anos e sete meses, por se ter provado ter agido em estado de grande "exaltação" e pelo facto de ter morto o indivíduo que "estabelecera relações com a mulher do réu". Delegado do MºPº? O dr. Borges de Pinho, ilustre magistrado do MºPº, ainda vivo, e que foi durante anos inspector da corporação.
O Comércio do Porto de 30 de Julho de 1970:
Destaque para o menor que desapareceu da casa dos pais e que se presume tenha seguido na companhia de um indivíduo conhecido como "marinheiro", transportando-se na bicicleta a pedal do primeiro.
O jornal de 28 de Julho de 1970 tinha esta capa e como se pode observar a foto de um cadáver, o que hoje seria impossível de ver. Muito menos a de um chefe de Estado. Quem sabe interpretar este sinal? Quem consegue concatenar tal interpretação com o sentido das outras notícias que aqui coloquei agora e retratam um tempo que não se compadece com historietas de fassismo e merdas semelhantes que nos são contadas pelos pachecos pereiras que ainda por cima viveram este tempo?!
Jornal de Notícias 28 de Julho de 1970:
O estranho caso de um assalto a uma capoeira para furtarem uma perua e quatro galinhas mereceu prosa de algumas linhas e ao lado das notícias sobre os acidentes na estrada e o caso de um "desordeiro" em Matosinhos, reincidente e que bêbado agrediu um polícia que o queria ajudar a ir para casa. Preso na hora foi julgado e condenado pelo juiz Atáz Godinho na pena de quatro meses de prisão efectiva.
Um miúdo de cinco anos, quando apanhava ameixas ( em Julho, claro, que boas eram!) caiu da árvores sofrendo traumatismo craniano.
E o caso da "bicicleta de senhora abandonada", na edição do Primeiro de Janeiro de 28 de Julho de 1970? Só tem paralelo na notícia sobre o aumento do número de candeeiros sem luz...ou do tremendo choque de motorizada com um cão que feriu o condutor da mesma, fracturando-lhe a tíbia.
O Comércio do Porto 26 de Maio de 1972:
As notícias sobre acidentes de estrada, de "perigo na estrada" eram constantes, tais como as que envolviam acidentes com crianças, muito frequentes.
Há a notícia de agressão de duas senhoras por "familiares". Num caso o marido que partiu o braço a uma; no outro uma agressão praticada por um irmão. Tudo no mesmo enquadramento noticioso em que avultava a circunstância de os agressores serem familiares das vítimas. Como seria hoje?
E em 18 de Fevereiro de 1986, no Jornal de Notícias, ainda se noticiava que tinha aparecido uma quantia em dinheiro que se entregaria a quem provasse pertencer-lhe.
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