Fez agora 50 anos que apareceram meia dúzia de discos que foram verdadeiros marcos na mudança de estilo da música popular portuguesa apoiada pela esquerda.
Como se disse num postal anterior, a música popular de então estava dividida entre o "nacional-cançonetismo" que incluía os intérpretes mais populares e com maior divulgação no rádio e em discos, geralmente singles ou ep´s e os cantores que intervinham politicamente e protestavam contra o regime de então em músicas e discos incensados pela intelectualidade que escrevia em jornais e revistinhas de esquerda, como a única Mundo da Canção, claramente associada ao social-comunismo.
Nesta última categoria estavam estes dois intérpretes que então lançaram os seus primeiros discos que também se tornaram referências da qualidade da música popular, porque "em terra de cegos quem tem um olho é rei".
Ambos se encontravam no estrangeiro, das terras de França, fugidos ao regime e à tropa que os queria para combater no Ultramar e eles repudiavam.
Eram social-comunistas e por isso fugiram ao degredo interno e ideológico, libertando-se numa terra alheia às que praticavam o regime que os mesmos pretendiam que fosse o de cá. Paradoxal? Nem por isso, apenas exemplo de contradição e incoerência. Em vez dos países socialistas escolheram um capitalista e onde podiam usufruir de vantagens económicas que naqueloutros nem vislumbrariam. Aí tinham liberdade de expressão para cantar os males do país e lamentarem que não fosse como aqueles para onde aliás não queriam ir e se fossem nunca teriam tal liberdade...
O primeiro desses intérpretes era José Mário Branco, já veterano das "terras de França" e onde lançou estes dois discos, o primeiro no final do ano de 1971 e o segundo já em 1972.
As letras de ambos os discos apelam claramente a uma revolta contra o medo do fassismo, do capitalismo e da "exploração do homem pelo homem". Portanto, um apelo marxista, comunista até. As músicas, orquestradas e de instrumentação muito simples, com umas percussões, uns sopros e uns laivos de guitarra eléctrica mais uns naipes de som acústico e "está a andar", sendo um dos discos emblemáticos desse tempo.
As melodias são cativantes e ouviam-se muito nos tempos antes do golpe militar de 25 de Abril de 1974, em certos programas de rádio, em fm, particularmente do Rádio Clube Português e Rádio Renascença, os patrocinadores mediáticos do golpe em causa.
Ambos são panfletos da política de esquerda que pretende combater a "burguesia" para a substituir pela classe da teoria combatente. Daí a "intervenção".
Os segundos, gravados em 1971 e 1972, no mesmo sítio que aqueles, no "Chateau d´Hérouville", antes de o local ser conhecido dos eltons johns.
São os primeiros de Sérgio Godinho e versam a mesmíssima temática, tendo até canções em comum, no mesmo estilo e instrumentação. Talvez os de José Mário Branco sejam um pouco mais elaborados e aperfeiçoados tecnicamente.
Porém, deve dizer-se que em termos de som não são discos aperfeiçoados e deixam muito a desejar mesmo em termos relativos de tal época de início dos anos setenta. São medíocres em termos sonoros, tanto aqueles como estes:
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