"O parlamento português converteu-se no maior antro de tráfico de influências do país. São muitos os deputados que utilizam o cargo público para fins privados, ao serviço das empresas com que colaboram."
(...) Os campeões desta falta de vergonha são os advogados das grandes sociedades que utilizam o parlamento como filial dos seus escritórios"- Paulo Morais, no Correio da Manhã de hoje.
Paulo Morais termina o artigo escrevendo que alguns deputados, perante estas acusações genéricas, "alegam que nem todos são vigaristase portanto haveria que identificar apenas os culpados. Tentam desta forma generalizar a ideia de que todos são sérios."
Obviamente esta acusação de Paulo Morais tende a generalizar que quase todos são corruptos o que tem um efeito mediático, a la Maria José Morgado, diminuindo ispo facto o peso da denúncia, por exagero desnecessário.
Quando se escreve que "há deputados com interesses na Banca, da EDP, nos principais grupos beneficiários das medidas do programa que deveriam fiscalizar, na agricultura, onde há parlamentares que tutelam a actividade do ministério que atribui subsídios às empresas de que eles próprios são gerentes e até a comissão de avaliação das parcerias público-privadas incorpora deputados ligados ao sector imobiliário, parceiros de sector dos concessionários " tais afirmações redundam num vazio de acção porque comportam um efeito que apelido de deletério: contribuem para um clima de suspeição geral sem afectarem sequer o alvo a que se destinam, ou seja os visados em concreto com este tipo de declarações.
Para além do mais, o Parlamento não proibe o exercício cumulado da actividade de advogado com o da função parlamentar, o que seria natural. Paulo Morais deveria começar por aí: porque é que tal coisa é compatível quando se sabe que gera ou pode gerar fenómenos de tráfico de influência e corrupção?
A magistrada Maria José Morgado, entre outros, tem este mesmo tipo de discurso generalizante e ambiental. Até um João Cravinho o tinha apesar de um Garcia dos Santos o desmascarar recentemente a propósito do financiamento partidário do PS que preferiu ignorar, sob pena de castigo pessoal e profissional. Que ganham com isto?
Parece-me que nada de especial e têm um retorno perverso: o que não mata engorda, diz o povo e os verdadeiros corruptos, os que Paulo Morais e outros pretendem denunciar genericamente, riem-se disto.
Por outro lado há outro efeito perverso: este tipo de pessoas que armam em pequenas cassandras do sistema político ao denunciar genericamente correm o risco de se prenderem ao próprio discurso, como já é o caso de Maria José Morgado.
Com um ónus acrescido e escusado: o de se desacreditarem como o rapazinho que gritava ao povoado do alto do monte: acudam que é lobo!
Deverá então o fenómeno ser relegado para um olvido conveniente de acordo com esta lógica assim exposta? Nem tanto.
Se Paulo Morais fosse ou quisesse ser mais consequente e já que cita casos quase concretos, deveria indagar melhor, junto de quem sabe mais, expor a quem de direito e então partilhar os frutos da sua luta proficiente contra a corrupção. Não seria preciso apontar culpados mas apenas indicar suspeitos relevantes e concretos, o que os jornais aliás fazem com recurso a fontes abertas e fechadas, sem qualquer prurido profissional que reservam para os agentes do serviço de informações em actividade free-lancer.
Não o fazendo, dá apenas a impressão que querem arranjar assunto para crónicas. Pagas?
12 comentários:
Nunca entendi este indivíduo.
Por um lado, dá o ar de campino de paladino da denúncia, assim como o outro da AMI passava por paladino da caridade.
Por outro, também dá ar de dor de cotovelo, pois nem foi convidado para qualquer cargo neste governo.
E nunca coloca o nome aos bois. Nunca.
Não sabe quem eles são e inventa por suspeitar de alguns, ou é mesmo o vício de vender crónicas desta maneira?
Não sei. A única coisa que sei é que é jacobino até à medula.
zazie
Ninguém põe os nomes nos bois.
O José pôs e deitaram-lhe o blog abaixo!
José,
Tenho muitas reservas sobre este personagem.
No entanto, e como sabe, é muito difícil apontar casos objectivos. Não porque eles não existam, mas que, depois de conhecidos, vão chegar à conclusão que é palavra contra palavra, ou que as provas são ilegais.
Não sei se ainda se lembra: há muitos anos, fins dos anos 70 inicio de 80, um jornalista do JN (se bem me lembro - César Principe???), publicou um trabalho sobre a corrupção na CM do Porto e o resultado: as fontes de lamúria de um empreiteiro, transformaram-se em calúnias do jornalista e o caso ficou em "águas de bacalhau".
Mas temos um caso caso bem recente e que se perdeu na névoa do proteccionismo judicial.
Carlos:
Penso que não foi o tal Príncipe mas sim um grande jornalista do JN e que escrevia muito bem apesar de não ter licenciaturas em comunicação social. Aprendeu na tarimba do jornalismo antigo que era de boa cepa, apesar de vicejar no tal fassismo...
O seu nome já foi por aqui citado em tempos- neste blog e deste modo:
Já aqui citei, várias vezes, um jornalista sem peneiras e com muita classe chamado Aurélio Cunha. Porque é que o cito- já o conhecendo pessoalmente- e não me lembro de mais nenhum?
Pela simples razão de me parecer o símbolo do jornalismo que já não há. O jornalista Aurélio Cunha, chegou a investigar factos concretos de casos concretos e falava com as pessoas, procurando ligar factos a realidades e pessoas a acontecimentos. Em poucas palavras, procurava perceber o assunto sobre que ia escrever e não costumava atabalhoar notícias para colocar cachas de primeira página. Em certo sentido, estava nos antípodas do jornalismo tipo Independente de Portas, MEC, Helena S. Osório e Inês Serra Lopes. Todas estas personagens do jornalismo luso, acantonaram-se em lugares esconsos que o actual ministro Santos Silva diria da sarjeta. Desvirtuaram à sua maneira o jornalismo de qualidade, em função da pressa, da avidez de notícias e de cachas para encher papel moeda. Dizem que terão feito jornalismo de causa. Provavelmente sim, manifestamente não.
José,
Julgo que tem razão, era o Aurélio Cunha.
José,
Li agora, a sua "Carta ao Director do Público", onde lembra de facto o Aurélio Cunha.
Já sorri também, com a expectativa que criou com o jornal, começando por apnhar logo no 1º número, com uma grande entrevista ao "sósia e rival de Salazar"..ah,ah,ah!
Porra!... já não sei de lado vai chover picaretas.
História verdadeira que eu presenciei.
Uma vez numa aula de introdução aos estudos europeus a turma e professora estava a fazer um retrato dos vários países europeus.
E sobre a Itália, veio à baila a máfia. A professora disse que eram conhecidos por ter a pior máfia do mundo!
E de imediato um colega meu, não não professora a pior máfia é a portuguesa. A turma riu às gargalhadas!
E a professora, então porquê? E o meu colega, pois toda a gente sabe que ela existe mas ninguém a conhece.
E a sala gelou.
Vivendi
:-)
que dizer!!!
Caro José,
Penso que o Paulo Morais foi efectivamente ouvido pelo MP há alguns anos, logo após sair da CMP, denunciando casos concretos. Ainda há pouco tempo li algures que se queixava de não saber nada do andamento dos processos, questionando a vontade do MP em investigar.
Um abraço,
António Vaz Tomé
No Porto? Onde isso vai...
ehehehe
Apresentou um nome e a prova foi julgada nula.
O que se vê é apenas a lei que temos. Ou pelo menos a interpretação que dela fazem certos juízes.
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