Em 1969 as publicações d. quixote, editaram um pequeno "caderno d. quixote" sobre um tema da época: "URSS- 50 anos depois". O livro coligia vários textos extraídos da Foreign Affairs, The new Statesman, Unesco Courier, Le Monde Diplomatique, New Left Review, etc..
Um dos textos publicados era de Alexandre Soljenitsine, a ovelha negra do comunismo soviético e que só não foi eliminado por ter sido prémio Nobel no ano seguinte e com grande notoriedade mundial.
O que segue é uma carta de Soljenitsine ao "congresso dos escritores soviéticos", publicada no Le Monde de Maio de 1967, um ano antes da chamada Primavera de Praga entusiastica e energicamente aplaudida pelos comunistas portugueses e Álvaro Cunhal em particular. Aquando da publicação em Portugal,porém, tal já era do domínio público que os comunistas escondiam.
O tema, naturalmente, é a censura, a opressão vivida pelos escritores na URSS "há dezenas e dezenas de anos". Era uma censura "não prevista na lei e portanto ilegal", escreve Soljenitsine.
Os mesmíssimos comunistas que pregavam por cá contra o fascismo, tinham por lá, no regime que ambicionavam ver aplicado cá, em Portugal, uma censura ainda pior do que aquela que existia por aqui.
Ainda assim e sem qualquer vergonha ideológica, os comunistas portugueses, em 2000, no seu órgão de informação e propaganda O Militante, denunciavam a censura de Salazar e Caetano como qualquer coisa de hediondo e fascista. Claro, sem comparação com o que havia então na URSS...porque disso nem falavam.
Este texto que começa assim:
" A Censura constituiu, na verdade, uma peça central da estrutura orgânica
do Estado Novo, do seu aparelho repressivo, propagandístico e de
enquadramento político-ideológico da população,
de tal modo relevante para a ditadura que não nos podemos dar por satisfeitos
com o que já a seu respeito conhecemos. Com efeito, a intervenção
da Censura ultrapassava, em muito, os cortes, as suspensões e proibições
a nível da imprensa e do livro, a que habitualmente a associamos. Além
disso, a Censura abrangia, igualmente, a rádio, a televisão,
o cinema, os espectáculos, as artes plásticas, a música,
o ensino. As suas consequências, na esfera do ensino, da formação
das mentalidades, e no condicionamento político-ideológico dos
portugueses foram tão importantes que não duvidamos da necessidade
de se aprofundarem as investigações neste campo." ...torna-se por isso mesmo obsceno.
Criticar a Censura de Salazar e Caetano em nome de um regime cuja censura era bem pior significa o quê em termos de lógica política? Estupidez pura? Ou vontade deliberada de mistificar e enganar os militantes e potenciais votantes?
O que vale um partido deste género? Legitima a sua existência com estes comportamentos?
Por que razão o PCP nunca é confrontado com estas realidades e passa por ser um partido "como os outros", a quem até as impresas sic dão voz democrática e de condescendência política?